terça-feira, 5 de agosto de 2014

Algumas velas e alguns equívocos

À frente do ambão, velas... vermelhas.

Vendo a celebração de pentecostes do ano passado, relembrando algumas ainda mais antigas, pude perceber dois grandes equívocos na liturgia. Aliás, dois grandes não; um grande e um tão singelo que muitos não notariam.

O primeiro deles, e maior, é o uso das sete velas na missa de pentecostes, crisma e outras celebrações em que o Espírito Santo seja particularmente lembrado. Essa prática consiste em colocar as sete velas, muitas vezes de cor vermelha, como representando os dons do Espírito Santo. Muitos podem se perguntar: "Por que isso seria errado? É uma maneira simples e bela de lembrar dos dons do Espírito Santo."

Não julgo aqueles que acabam instituindo esse símbolo a nível paroquial ou mesmo diocesano. A grande maioria, creio, o fazem com a melhor das intenções. Mas, como se diz, "de boa intenção o inferno está cheio". É necessário entender o real significado dos símbolos litúrgicos. Então, vamos à verdade, ainda que doa a alguns.

O uso dessas velas, antes de mais nada é um erro tremendo em relação às rubricas. "Sobre o altar ou perto dele, dispõem-se, em qualquer celebração, pelo menos dois castiçais com velas acesas, ou quatro ou seis, sobretudo no caso da Missa dominical ou festiva de preceito, e até sete, se for o Bispo diocesano a celebrar." IGMR, 117. Como podemos ver, as sete velas são um distintivo da missa do bispo.

Mas tal prática não é ruim só por contrariar a IGMR. A desobediência às rubricas não é a doença, é só a febre! O mal maior está em suprimir um símbolo de muitos séculos e de especial atenção ao bispo por um que não tem sustentação histórico-tradicional nenhuma e que não está previsto no Rito Romano. Aliás, é um símbolo que foi feito para ser explicado durante a celebração; talvez este artifício sirva a um encontro de catequese, mas jamais à missa.

O segundo equívoco que eu queria ressaltar é sobre o uso do círio pascal. Atualmente, pelo que se vê na liturgia no Brasil, podemos concluir que foi feita uma releitura da simbologia do círio pascal; como consequência, surgiu um simbolismo que o associa ao Espírito Santo e o desassocia de seu real significado. O círio não é visto mais como símbolo de ressurreição, da esperança pascal. Assim, desfaz-se a ligação entre o círio e o rito das exéquias ou, mais raramente, da bênção de pia batismal.


O Cerimonial dos Bispos diz, acerca do uso do círio pascal: "O círio pascal acende-se em todas as celebrações litúrgicas mais solenes deste tempo, tanto à Missa como em Laudes e Vésperas. Depois do dia de Pentecostes, o círio pascal conserva-se honorificamente no batistério, para se acender na celebração do Batismo e dele se acenderem as velas dos batizados." n. 372 e acrescenta, ainda, "Para a celebração das exéquias, deverá preparar-se: (...) d) Junto do local onde se depõe o féretro: círio pascal;" n.822


A essa altura, talvez você esteja se perguntando: "Se é assim, o que o círio pascal faz na missa da crisma?" A resposta é simples: Nada! Isso é uma consequência da visão distorcida do significado do círio. Uma visão que se espalhou de maneira extraordinariamente rápida e chegou a mudar o uso do círio pascal em várias paróquias do nosso país e precisa ser mudada com um estudo mais profundo do significado dos símbolos. Ad fontes...


Kairo Rosa Neves de Oliveira
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Fonte: Salvem a Liturgia

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