sexta-feira, 29 de maio de 2015

Se Cristo deu o seu corpo a Judas.


O segundo discute-se assim. — Parece que Cristo não deu o seu corpo a Judas.

1. — Pois, como lemos no Evangelho, depois de ter o Senhor dado o seu corpo e o seu sangue aos discípulos, disse-lhes: Não beberei mais deste fruto da vida até àquele dia em que o be­berei de novo convosco no reino de meu Pai. Donde se conclui que aqueles a quem deu o seu corpo e o seu sangue de novo haviam de beber com ele. Ora, Cristo não o bebeu de novo com ele. Logo, não recebeu com os outros discípulos o corpo e o sangue de Cristo.

2. Demais. — O Senhor cumpriu o que mandou, segundo aquilo da Escritura: Começou Je­sus a fazer e a ensinar. Mas ele próprio orde­nou: Não deis aos cães o que é santo. Logo, sabendo que Judas era pecador, parece que não lhe deu o seu corpo nem o seu sangue.

3. Demais. — O Evangelho narra em particular, que Cristo deu a Judas o pão molhado. Se, portanto, deu-lhe o seu corpo, parece que lh'o deu como um bocado. Tanto mais quanto lemos no mesmo lugar que atrás do bocado en­trou nele Satanás. Ao que diz Agostinho: Daqui aprendamos o quanto devemos nos acautelar de receber mal o bem. Se, pois é condenado quem não distingue, isto é, não discerne dos outros ali­mentos o corpo de Cristo, como não o será quem, fingindo-se-lhe amigo, achega-se-lhe à mesa como inimigo? Ora, com o bocado molhado não recebeu o corpo de Cristo, conforme adverte Agostinho, comentando aquilo do Evangelho: ­Tendo molhado o pão, deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes: Mas então Judas não recebeu o corpo de Cristo, como o pensam certos, que lêem desatentamente. Logo, parece que Judas não recebeu o corpo de Cristo.

Mas, em contrário, diz Crisóstomo: Judas, sendo participante dos mistérios, não se conver­teu. Por isso mais monstruoso se lhe tornou o crime, tanto por se ter achegado ao sacramento, cheio já do seu mau propósito, como por não se ter tornado melhor, achegando-se a ele, nem pelo medo, nem pelo beneficia nem pela honra. 

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Se Cristo tomou o seu próprio corpo e sangue.


O primeiro discute-se assim — Parece que Cristo não tomou o seu próprio corpo e sangue.

1. — Pois, não devemos afirmar dos atos e ditos de Cristo senão o que não nos transmitiu a autoridade da Sagrada Escritura. Ora, os Evangelhos não referem ter Cristo comido, o seu corpo nem bebido o seu sangue. Logo, também nós não podemos afirmá-la.

2. Demais. — Nenhum ser pode estar em si mesmo, salvo talvez em razão das partes, isto é, enquanto uma parte está em outra, como o en­sina Aristóteles. Ora, o que é comido e bebido está em quem come e bebe. Logo, estando Cris­to totalmente sob ambas as espécies do sacra­mento, parece impossível que ele próprio rece­besse este sacramento.

3. Demais. — De dois modos podemos re­ceber este sacramento — o espiritual e sacra­mental. Ora, recebê-lo espiritualmente não ca­bia a Cristo, pois, nenhuma graça tinha a rece­ber deste sacramento. E por conseqüência nem o modo sacramental, que sem o espiritual é imperfeito, como se estabeleceu. Logo, Cristo de nenhum modo recebeu este sacramento.

Mas, em contrário, diz Jerônimo: Nosso Senhor Jesus Cristo foi ao mesmo tempo conviva e o banquete, ele próprio a si mesmo se comeu. 

quarta-feira, 27 de maio de 2015

A confusão mental dos seguidores de Olavo de Carvalho


Há alguns meses publiquei neste blog dois textos sobre um jornalista que se auto-intitula filósofo chamado Olavo de Carvalho. Para minha surpresa, nos últimos dias tenho recebido um enxurrada de comentários raivosos, de pessoas que vêm aqui xingando e descarregando todo tipo de insanidades contra essas duas postagens. Só aprovei aqueles comentários de pessoas que falam com o mínimo de civilidade. Pois bem: todas essas pessoas são seguidoras e admiradoras do tal Olavo de Carvalho.

A questão é que acompanhei durante alguns meses as postagens de textos e vídeos do site do qual Olavo é dono: o Mídia sem Máscara. Como já falei em outras postagens, o site é exclusivamente voltado a falar mal (nem posso dizer que são análises porque não há análises sérias ali, apenas esculachos) da esquerda, do marxismo, do PT, do MST, de Lula, da Dilma, de tudo o que não seja de extrema direita e que não esteja vinculada a uma visão de mundo conservadora, fascista e cristã.

Mas os colunistas são uma verdadeira piada: há um tal de Julio Severo, um protestante homofóbico; Graça Salgueiro, uma senhora que vive desejando golpes militares de direita na América Latina (uma característica desses colunistas: golpes militares podem, desde que sejam de direita e mesmo que sejam contra governos de esquerda eleitos democraticamente); Nivaldo Cordeiro, que praticamente repete as mesmas asneiras ditas e escritas por Olavo de Carvalho, entre vários outros.

Entre um desses admiradores de Olavo está um tal de Leonardo Bruno, que edita um blog chamado Conde Loppeux de La Villanueva e também escreve para o Mídia sem Máscara, mas em quem eu nunca tinha prestado atenção até ele vir aqui me anunciar uma postagem que ele fez respondendo à minha “Olavo de Carvalho e a pieguice intelectual brasileira”. Leonardo é um blogueiro de orientação fascista que xinga a todos os que não estão alinhados a suas ideias. Em um desses comentários, me falou que não interessa que eu tenha publicado artigos e livros porque a universidade brasileira é tão insignificante quanto eu. Agora vejam só: um homem que considera a universidade insignificante apenas porque ela não é a imagem e semelhança do que ele acha que tem que ser. O sujeito é tão ignorante que não entende nada de linguística e antropologia (segundo ele próprio) e fala que essas duas áreas do conhecimento servem apenas para empregar pessoas. Mas pessoas de orientação fascista não suportam a universidade enquanto centro de livre discussão de ideias; ela só é útil pra eles se estiver livre de qualquer oposição e rigidamente controlada por um Estado de extrema direita. Ora, a academia ainda é um dos poucos espaços na sociedade onde convivem ideias pluralistas, há intelectuais de direita, de esquerda, outros que estabelecem diálogos com ambos sem necessariamente aderir a um lado ou a outro. 

Trinitarismo na mídia


Assustou-me ouvir um pregador católico terminar, para milhares de pessoas, a sua pregação com estas palavras: Em nome do Deus Pai, em nome do Deus Filho e em nome do Deus Espírito Santo. Estranho, porque, falando ele a milhões de católicos que acreditam na palavra do seu pregador, ensinou doutrina contrária ao catecismo católico. Certamente não o fez com má intenção, mas errou e alguém deveria fraternalmente corrigi-lo. Imagino que ele terá suas explicações a dar.

O trinitarismo foi uma heresia que, ao afirmar excessivamente a individualidade das três pessoas da Santíssima Trindade, acabou por afirmar a existência de três deuses iguais e não de um só Deus. Ao invés de serem cristãos monoteístas trinitários, os adeptos desta doutrina desembocaram no triteismo. Anunciavam não um, mas três deuses iguais. O Dogma dos cristãos católicos, ortodoxos e evangélicos afirma que no Deus único, vivo e verdadeiro há três pessoas co-eternas e co-iguais, mas Deus é um só, o mesmo em substância, distinto em existências. 

terça-feira, 26 de maio de 2015

Nota da Diocese de Pesqueira e Decreto de suspensão do uso de ordens do pe. Severino de Melo


Homilética: Santíssima Trindade - Ano B: "União com Cristo e o Pai no Espírito".



Depois de ter celebrado os mistérios da Salvação, desde o nascimento de Cristo (Natal) até a vinda do Espírito Santo (Pentecostes), a liturgia propõe-nos o mistério central de nossa fé, a fonte de tudo e à qual tudo deve voltar: a Trindade. 

A fé da Igreja nos ensina que há um só Deus em três pessoas: Pai e Filho e Espírito Santo. Nós queremos dizer hoje com a liturgia da Igreja: “Sede bendita, ó Trindade indivisível, agora e sempre e eternamente pelos séculos, vós que criais e governais todas as coisas” (Ant.do Cântico evangélico de Laudes). E pedimos: “Fazei que, professando a verdadeira fé, reconheçamos a glória da Trindade e adoremos a Unidade onipotente” (oração coleta da Missa).

Toda a vida da Igreja está impregnada pelo Mistério da Santíssima Trindade. E quando falamos aqui de mistério, não pensemos no incompreensível, mais na realidade mais profunda que atinge o núcleo do nosso ser e do nosso agir.

A revelação da Trindade é, portanto, uma cascata de amor: é o gesto supremo da condescendência divina para com o homem. Os gregos diziam: “ Nenhum Deus pode se misturar com o homem” ( Platão). Nosso Deus, em vez disso, se misturou com o homem; tramou sua vida com a do homem preparando-o para a comunhão eterna com ele.

Mas é Cristo quem nos revela a intimidade do mistério trinitário e o convite para que participemos dele. “Ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mt, 11, 27). Ele revelou-nos também a existência do Espírito Santo junto com o Pai e enviou-o à Igreja para que a santificasse até o fim dos tempos; e revelou-nos a perfeitíssima Unidade de vida entre as Pessoas divinas (Cf. Jo16, 12-15).

O mistério da Santíssima Trindade é o ponto de partida de toda a verdade revelada e a fonte de que procede a vida sobrenatural e para a qual nos encaminhamos: somos filhos do Pai, irmãos e co-herdeiros do Filho, santificados continuamente pelo Espírito Santo para nos assemelharmos cada vez mais a Cristo.

Por ser o mistério central da vida da Igreja, a Santíssima Trindade é continuamente invocada em toda a liturgia. Fomos batizados em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, e em seu nome perdoam-se os pecados; ao começarmos e ao terminarmos muitas orações, dirigimo-nos ao Pai, por mediação de Jesus Cristo, na unidade do Espírito Santo. Muitas vezes ao longo do dia, nós, os cristãos repetimos: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.

Três Pessoas que são um só Deus, porque o Pai é amor, o Filho é amor e o Espírito Santo é amor. Deus é tudo e somente amor, amor puríssimo, infinito e eterno. Não vive numa solidão maravilhosa, mas é sobretudo fonte inesgotável de vida que se doa e se comunica incessantemente.

Desde que o homem é chamado a participar da própria vida divina pela graça recebida no Batismo, está destinado a participar cada vez mais dessa Vida. É um caminho que é preciso percorrer continuamente.

A Santíssima Trindade habita na nossa alma como num templo. E São Paulo faz-nos saber que o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado (Cf. Rm 5, 5). E aí, na intimidade da alma, temos de nos acostumar a relacionar-nos com Deus Pai, com Deus Filho e com Deus Espírito Santo. Dizia Santa Catarina de Sena: “Vós, Trindade eterna, sois mar profundo, no qual quanto mais penetro, mais descubro, e quanto mais descubro, mais vos procuro”.

Imensa é a alegria por termos a presença da Santíssima Trindade na nossa alma! Esta alegria é destinada a todo cristão, chamado à santidade no meio dos seus afazeres profissionais e que deseja amar a Deus com todo o seu ser; se bem que, como diz Santa Teresa, “há muitas almas que permanecem rodando o castelo (da alma), no lugar onde montam guarda as sentinelas , e nada se lhes dá de penetrar nele. Não sabem o que existe em tão preciosa mansão, nem quem mora dentro dela”. Nessa “preciosa mansão”, na alma que resplandece pela graça, está Deus conosco: o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

Desde pequenos, aprendemos de nossos pais a fazer o sinal da cruz e chamar a Deus: de Pai, Filho e Espírito Santo.

Assim com toda a naturalidade, estávamos invocando o mistério mais profundo de nossa fé e da vida cristã: Santíssima Trindade que hoje celebramos.

Só Cristo nos revelou claramente essa verdade: Fala constantemente do Pai: Quando Felipe diz: “Mostra-nos o Pai…”, Jesus responde: “Felipe… quem me vê, vê o Pai” (Jo 14,8).

Jesus promete o Espírito Santo: “Quando vier o Espírito da Verdade, ele vos conduzirá à plena Verdade”.

Quando se despede, no dia da Ascensão, afirma: “Ide… e batizai em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.”

A contemplação e o louvor à Santíssima Trindade são a substância da nossa vida sobrenatural, e esse é também o nosso fim: porque no Céu, junto de Nossa Senhora , a nossa felicidade e o nosso júbilo serão um louvor eterno ao Pai, pelo Filho, no Espírito Santo. Estes vieram em nós no Batismo. Estabeleceram em nós sua habitação e nos são mais íntimos do que nós mesmos, diz Santo Agostinho. Em seu nome e no diálogo com eles desenvolve-se toda a nossa vida de fé, desde o berço até o túmulo. No limiar da existência fomos batizados “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. No ocaso dela, partiremos deste mundo ainda “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.

Em nosso coração fomos criando falsas imagens de Deus que não correspondem ao Deus que nos foi manifestado por Seu Filho Jesus Cristo. As leituras deste domingo ajudam-nos a purificar o nosso coração dessas falsas imagens.

Fazendo o sinal da Cruz, nós declaramos a cada vez, nossa vontade de pertencer à Trindade.

É verdade que a Igreja Católica não apoia a Monarquia?

 

Outro dia, conversando com um sacerdote da Igreja onde frequento, falamos sobre a Monarquia e este mostrou-se contrário a esta forma de governo, sob a alegação de que, nos tempos do Império, a Igreja teria sido "sufocada" pelos Imperadores. Corri atrás de uma resposta para este descontentamento, visto que, durante o Império, a Igreja Católica era declarada a Religião Oficial do Brasil, basta ver o "detalhe" no topo da Coroa Brasileira - a Cruz de Cristo.

Convido, antes, o leitor a ler este artigo, dando especial atenção ao subtítulo: "As Tensões entre o Estado e a Igreja".

Em uma conversa agradável com um amigo, exímio conhecedor de História, o advogado Dr. Carlos Vasconcelos, pude sanar algumas destas questões.

Dr. Vasconcelos disse que o que houve, de fato, foi a tal "Questão Religiosa" em que D. Pedro II se envolveu e que, talvez, o tenha estigmatizado um pouco - por isso, acusado de favorecer os maçons em detrimento da Igreja.

A Questão Religiosa foi a seguinte:

As coroas dos imperadores
Pedro I e Pedro II.
Vigorava no Brasil o chamado "Padroado e Beneplácito". Pelo Padroado, a Igreja Católica, no Brasil, era subordinada ao Imperador.

Pelo Beneplácito e Padroado, toda ordem do Papa, para ser obedecido no Brasil, precisaria, antes, ser aprovada por D. Pedro II, ou seja, o Imperador controlava politicamente a Igreja Católica no Brasil.

Já no final do Império, por volta de 1870, veio a Questão Religiosa que foi o seguinte: os Bispos de Olinda e Belém simplesmente resolveram obedecer ao Papa antes do Beneplácito (da aprovação) de D. Pedro II. Na ocasião, o Papa mandou punir religiosos ligados à maçonaria. E os Bispos puniram mesmo. Isso, à revelia de D. Pedro II.

D. Pedro II, então, pediu aos Bispos que sobrestassem (suspendessem) as punições. Eles recusaram-se a fazê-lo. Como desobedeceram o Imperador, acabaram presos e condenados a 4 anos de cadeia.

O problema não foi a punição dos maçons - D. Pedro II não quis proteger os maçons! O problema foi que os Bispos resolveram obedecer às ordens do Papa (ordens de fora) antes de D. Pedro II dar seu Beneplácito, de terem agido à sua revelia.

Se os Bispos houvessem esperado pelo Beneplácito, dificilmente D. Pedro II iria contra a orientação da Santa Sé e a maçonaria poderia ser punida, no Brasil, pela Igreja e com o apoio do Imperador. 

segunda-feira, 25 de maio de 2015

A maioria dos católicos e dos bispos do Brasil não apoiaram a proposta de "reforma política" da Coalizão


Este capítulo da coleta de assinaturas para uma proposta de “reforma política” redigida por uma “coalizão” com entidades de esquerda, sindicais, corporativas e eclesiais parece ter sido encerrado no último dia 20 de maio. Houve a entrega do projeto de reforma política apoiado por esta Coalizão ao Congresso Nacional, com cerca de 630.000 assinaturas, entre presenciais e eletrônicas.

Não quero discutir mais os defeitos e a linha ideológica do projeto. Já o fiz diversas vezes em outros artigos publicados aqui mesmo, como este esteeste este. Como já foi dito, não se nega nem a necessidade de fazer-se, no Brasil, uma reforma política urgentemente, nem a necessidade de repensar a forma de financiamento de campanha. Mas incomoda aos católicos a adoção, por parte de uma instituição eclesial, de um determinado modelo em preferência a todos os outros, sem claras razões de fé e moral, a apontar pendores estritamente ideológicos em matéria opinável. Mas a meditação agora é outra.

Como foi possível reunir tão poucas assinaturas?

Trata-se de pensar como foi possível que uma coalizão que existe há mais de três anos, e que é composta por entidades como a OAB e a CNBB, não tenha conseguido chegar senão a pouco mais de um terço do número mínimo de assinaturas necessárias para que a proposta se transformasse em projeto de lei de iniciativa popular. É interessante proceder a esta reflexão, até por um imperativo bíblico: sempre foi critério, para reconhecer uma eventual profecia ruim, examinar os respectivos frutos.

Nem falo aqui dos descaminhos da esquerda bolivariana em toda a América Latina. Estes são por demais visíveis: falência dos respectivos países em que se instalou, aumento da violência e da miséria, destruição dos respectivos regimes democráticos e instauração de ditaduras que se proclamam “populares e libertadoras”, mas cujos frutos estão bem claros para quem os quiser enxergar. Devemos lutar para que esta situação jamais se instale no Brasil.