sábado, 13 de maio de 2017

O significado de mãe nos santos padres


Ainda que seja uma festa de origem da mitologia grega, a comunidade cristã fará uma comemoração do dia das mães no segundo domingo de maio. Será sempre um motivo de alegria pela pessoa que é a mãe de todos nós, filhos e filhas. Ora este sentido já fora falado na Sagrada Escritura onde Deus, se assim o ser humano pudesse afirmar como mãe, cuida de todos nós, filhos e filhas (cfr. Is 49,15). O profeta Jeremias falou que antes de nós entrarmos no seio da mãe, Ele já nos conhecia (cfr. Jr 1,5). Vemos Deus que ama a todos nós antes mesmo do seio materno. Ora a tradição patrística falou também da importância da mãe, como ser que gera outros seres, mas sobretudo como pessoa que possui muito amor a ser dado porque Deus é amor, criou-nos para a vida presente e um dia a eterna.

A vida é uma viagem

São Basílio Magno, Bispo do século IV, teve presentes não tanto o significado de ser mãe, mas a pessoa que nos gerou para a vida. Neste sentido afirmou que a vida é uma viagem curta para alguns e longa para outros, desde o seio materno até a sepultura, para um dia ocorrer a ressurreição. Assim como alguns, empreendem uma viagem, movem continuamente um pé diante do outro, para que o movimento se torne veloz de modo que alcançam facilmente o fim de um percurso. Da mesma forma, aqueles e aquelas que pelo Criador foram introduzidos na vida, deixam atrás de si, como último aquilo que estava em primeiro lugar, para alcançar o fim da sua vida. Também a vida presente está subdivida em diversas etapas. É sem dúvida uma viagem que desde o início para todos, apresenta a missão da mãe que nos gerou para a vida, e com o tempo vamos ao encontro da morte terrena para viver com Deus, para sempre. Assim devemos nos alegrar se andamos para frente, porque saídos do ventre da mãe, avançamos em idade e nos alegramos como que alguém seja um ganhador extraordinário. Julgamos bem-aventurado quando passamos da etapa de criança para adulto, pessoa idosa e aos poucos a nossa vida vai se desgastando, e quando realizamos o bem nos consumamos mais para os outros e para Deus.

A consolação de uma mãe cristã

São Basílio teve presente seja a mãe que está bem, aquela que vive junto com o seu marido, filhos e filhas de modo que tudo concorre para o bom andamento da família, seja a mãe que perdeu o seu filho prematuramente, por doenças, que na época, os recursos medicinais eram poucos. Hoje poderíamos dizer que muitas mães choram a morte de seus filhos pela violência, doenças, balas perdidas, perseguições, ou por assassinatos.

O Bispo diz que conheceu uma mãe, e ainda que ela tivesse um coração manso e bom, não sabia medir a dor nas circunstâncias presentes ao não ter mais o filho vivo por causa da doença. Perdeu um filho que quando era vivo todas as mães estimavam bem-aventurado desejando que o seu filho fosse como a mãe própria, forte, alegre e vigorosa. Mas como veio a morte improvisada, tudo mudou, porque algo mais forte ocorreu para o filho presente que os recursos medicinais não conseguiram controlar a doença. Neste sentido algumas pessoas se revoltam pelas coisas ocorridas, os acontecimentos, fato não ocorrido para aquela mãe. Por isso São Basílio teve presente para a comunidade a ação de não acusar o reto juízo de Deus, que quer sempre o bem de seus filhos e de suas filhas. O bispo colocou ainda em seu argumento a mãe que ela se tornando mãe, olhou para o seu filho e agradeceu imensamente a Deus; no entanto ela sabia também que ela como mulher mortal, gerou um homem mortal. Aquilo que assustou foi que o filho morreu assim tão logo. Mas São Basílio afirmou a relatividade das coisas. Tudo passa. O que permanece é o amor do Senhor na vida da gente, a caridade. Por isso ele rezava ao Senhor para que essa mãe encontrasse um modo de receber o consolo no Deus mesmo, porque Ele é a fonte de alegria e de amor para aqueles e aquelas que esperam nele e dos que choram a morte prematura de seus filhos e filhas. 

A causa primeira de todas as coisas

São Agostinho, Bispo dos séculos IV e V, valorizou o fato de nós nascermos no ventre de uma mãe de modo que compreendeu que a causa primeira de todas as coisas é o próprio Criador. Ele criou as coisas e os seres humanos a partir do nada. Deus criou o mundo sem nenhum mundo. Dessa forma cumpre-se a Palavra do Senhor que diz que a sua presença enche o céu e a terra (cfr. Jr 23,24). Ela falou do amor misericordioso do Senhor que nos quer bem antes mesmo da formação de nosso ser no ventre materno (cfr. Jr 1,5). Ele quis dizer que Deus é a causa primeira de todas as coisas, formando-nos um dia termos a existência terrena. Para isso é importante a presença nossa no ventre materno na qual fomos modelados com carne e sangue para desta forma termos uma existência terrena e um dia participarmos da divina.

No entanto é no Livro das Confissões, que Santo Agostinho reconheceu a missão de Mônica, sua mãe a qual representava a Igreja e era considerada por ele, como servidora do Senhor. Disse: “Minha mãe era a serva de todos os teus servos. Todos os que a conheciam louvavam, honravam e amavam profundamente a Ti, por nela sentirem a tua presença, comprovada pelos frutos de uma vida santa” (IX, 22). A sua morte é elogiada pelas obras boas, possuindo a certeza de sua unidade com o Senhor Jesus Cristo: “É verdade que ela, regenerada em Cristo, ainda antes de ser libertada da carne, vivia de tal modo, que o teu nome era glorificado na sua fé e nos seus bons costumes” (IX, 34). Fez uma prece pedindo ao Senhor misericórdia: “Perdoa-lhe também as suas faltas, se algumas cometeu em tantos anos de vida, depois do batismo. Perdoa, Senhor, perdoa, eu te suplico, e ‘não chames a juízo a tua serva'(Sl 142,2). Que a misericórdia triunfe sobre a justiça. Tuas palavras são verdadeiras, e prometeste misericórdia aos misericordiosos; Cf. Mt 5,7(IX, 35)”.

Conclusão

O dia das mães é um momento especial de louvor e agradecimento a Deus pela presença materna de Deus na vida de nossas mães. Elas colaboram com Deus no poder de gerar pessoas para as suas famílias e para o mundo. Vivam rodeadas de carinho e de amor dos seus filhos, filhas e marido, sejam as jovens como as idosas, sejam aquelas que estão bem de saúde e aquelas acamadas. O Senhor as acompanhe na caminhada. Obrigado Senhor por ter-nos dado uma mãe: obrigado Senhor por Maria ser a Mãe de vosso Filho encarnado e por sermos seus filhos e filhas. Deus Uno e Trino seja glorificado pela vida de nossas mães.


Dom Vital Corbellini

Bispo de Marabá – PA.

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