segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

''A reforma da Igreja terá um alto custo. Preparemo-nos!''.


Eu não posso esquecer que uma das minhas primeiras intervenções públicas, com uma certa ressonância, ocorreu durante um congresso organizado pelo padre Balduccie pelo padre Turoldo em Florença, no primeiro pós-Concílio, e se tornou depois um artigo publicado na revista Rocca. Era a temporada do entusiasmo, devido à primavera inaugurada pelo Papa João XXIII e pelo Vaticano II: temporada da "vitória" de um novo modo de viver a Igreja e de edificá-la por parte de todos os cristãos; temporada de "reforma" marcada por uma atmosfera de fervor e de impaciência; temporada em que eu senti, porém, muita presunção acerca dos desenvolvimentos possíveis daquela extraordinária reviravolta.

Surpreendendo muito os amigos com os quais se dialogava intensamente sobre reforma litúrgica, à época ainda em estudo, sobre vida eclesial em estado de conversão para uma conformidade mais profunda para a Igreja como o Senhor a quis e de diálogo na mansidão e na pobreza dos meios com a humanidade contemporânea, eu adverti contra um fácil otimismo. Se realmente tivesse sido tomado o caminho da reforma evangélica da Igreja e do seu ordenamento (papado, episcopado, laicato) – eu disse –, teríamos ido ao encontro de um tempo em que todo triunfalismo seria marcado por fadiga, por sofrimento e até por dilacerações porque há uma necessitas passionis da Igreja que se deve à necessitas passionis vivida pelo seu Senhor Jesus Cristo.

Aconteceria para a Igreja o que aconteceu com Jesus: as potências postas contra o muro pela "lógica da cruz" (1Cor 1, 18) se desencadeariam e haveria também um "choque" com o mundo, já que, na vida eclesial, muitos teriam que sofrer (sim, é preciso dizer, penar!). Se de fato a conversão pessoal requer renúncia, fadiga, separações e, portanto, sofrimento, mais ainda a conversão das comunidades e das Igrejas.

Acima de tudo, se viveria uma dupla tentação. Ou render-se ao mundo, mundanizando-se, não mostrando mais a diferença cristã, esvaziando a cruz, diluindo o Evangelho, curvando-se às exigências do mundo; ou enfrentar o mundo com intransigência e munir-se das suas próprias armas: presença gritada, vontade de contar e de ser contado, atitude de grupo de pressão, assunção de tarefas não atribuídas pelo Senhor. Em todo o caso, continuava sendo mais difícil o caminho de "uma Igreja pobre e de pobres", de uma Igreja que contasse apenas com o Senhor e não com os "poderosos deste mundo" (1Cor 2, 6.8; cf. Mt. 20, 25), de uma Igreja dialogante com os homens na mansidão e na liberdade, sem medo e sem a obsessão de ter que se defender e viver como fortaleza sitiada.


As Igrejas são diferentes, e é possível dizer que todas essas escolhas foram feitas, ora aqui, ora acolá, e de forma diferente nas diversas Igrejas. Sabemos bem o que a Igreja italiana escolheu, esquecendo que a sua liberdade não pode ser vivida como as outras liberdades de que o mundo fala, porque a Igreja nunca é tão livre como quando o mundo a contradiz e a humilha. Sim, para a Igreja, há uma paz que é mais maléfica do que toda guerra, "pax gravior omni bello"!

Hoje, está novamente em curso, para a Igreja, uma primavera, inaugurada pelo Papa Francisco. O entusiasmo é muito: certamente eu não quero apagá-lo, mas, mais uma vez, sinto o dever de alertar a mim mesmo e os meus irmãos e irmãs na fé. Estamos dispostos a beber o cálice que Jesus bebeu (cf. Mc 10, 38; Mt 20, 22)? Toda reforma da Igreja, se for evangélica, tem um alto custo: para todos e também para o sucessor de Pedro, que não poderá esperar, ao menos de dentro da Igreja, dos seus, da sua casa, um fácil reconhecimento e uma fácil obediência. Será mais fácil que "publicanos e prostitutas" (cf. Mt 21, 2; Lc 7, 34, 15, 1), "samaritanos e estrangeiros" (cf. Lc 17, 38; Jo 4, 39-40) o escutem – como aconteceu com João Batista e Jesus.

Essas hipóteses perturbam, e não queremos ouvi-las. Porém, se aconteceu com Jesus, com o Senhor, há talvez um discípulo que seja maior do que o seu mestre (cf. Mt 10, 24; Lc 6, 40; Jo 15, 20)? Ou um sucessor de Pedro que não conheça a paixão e a tentação de fugir dela, renegando o Senhor e o Evangelho? Agora, mais do que nunca, é hora de rezar por Pedro, não por uma glória mundana que nunca pode ser sua, mas porque, consolado pelo seu Senhor, ele permaneça firme e possa confirmar a nós, seus irmãos (cf. Lc 22, 31-32), no árduo caminho rumo ao Reino.
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Autor: Enzo Bianchi
Tradução: Moisés Sbardelotto.

Disponível em: Instituto Humanitas Unisinos

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