quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Papa: "Diante da dor, palavras de coração, silêncio, gestos e carinho".


CATEQUESE
Sala Paulo VI – Vaticano
Quarta-feira, 4 de janeiro de 2016

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Na catequese de hoje, gostaria de contemplar com vocês uma figura de mulher que nos fala da esperança vivida no pranto. A esperança vivida no pranto. Trata-se de Raquel, a esposa de Jacó e a mãe de José e Benjamin, aquela que, como conta o Livro do Gênesis, morre ao dar à luz ao seu segundo filho, isso é, Benjamin.

O profeta Jeremias faz referência a Raquel dirigindo-se aos israelitas no exílio para consolá-los, com palavras cheias de emoção e de poesia; isso é, toma o pranto de Raquel mas dá esperança:

“Eis o que diz o Senhor:
ouve-se em Ramá uma voz,
lamentos e amargos soluços.
É Raquel que chora os filhos,
recusando ser consolada, porque já não existem”
(Jer 31,15).

Nestes versículos, Jeremias apresenta esta mulher do seu povo, a grande matriarca da sua tribo, em uma realidade de dor e pranto, mas junto com uma perspectiva de vida impensada. Raquel, que no relato do Gênesis morreu no parto e tinha assumido aquela morte para que o filho pudesse viver, agora, em vez disso, representada pelo profeta como viva em Ramá, ali onde se reuniam os deportados, chora pelos filhos que em um certo sentido são mortos indo ao exílio; filhos que, como ela mesma disse, “já não existem mais”, desapareceram para sempre.

E por isso Raquel não quer ser consolada. Esta recusa exprime a profundidade da sua dor e a amargura do seu pranto. Diante da tragédia da perda dos filhos, uma mãe não pode aceitar palavras ou gestos de consolo, que são sempre inadequadas, nunca capazes de aliviar a dor de uma ferida que não pode e não quer ser curada. Uma dor proporcional ao amor.

Toda mãe sabe tudo isso; e são tantas, também hoje, as mães que choram, que não se conformam com a perda de um filho, inconsoláveis diante de uma morte impossível de aceitar. Raquel personifica em si a dor de todas as mães do mundo, de todo tempo, e das lágrimas de todo ser humano que chora perdas irreparáveis.

Esta recusa de Raquel que não quer ser consolada nos ensina também quanta delicadeza nos é pedida diante da dor dos outros. Para falar de esperança a quem está desesperado, é preciso partilhar o seu desespero; para enxugar uma lágrima da face de quem sofre, é preciso unir ao seu o nosso pranto. Só assim as nossas palavras podem ser realmente capazes de dar um pouco de esperança. E se não posso dizer palavras assim, com o pranto, com a dor, melhor o silêncio; o carinho, o gesto e nada de palavras.

E Deus, com a sua delicadeza e o seu amor, responde ao pranto de Raquel com palavras verdadeiras, não falsas; assim prossegue o texto de Jeremias:

“Eis o que diz o Senhor:
Cessa de gemer, enxuga tuas lágrimas!
Tuas penas terão a recompensa – oráculo do Senhor.
Voltarão (teus filhos) da terra inimiga.
Desponta em teu futuro a esperança – oráculo do Senhor.
Teus filhos voltarão à sua terra”. (Jer 31,16-17).

Justamente pelo choro da mãe, há ainda esperança para os filhos, que voltarão a viver. Esta mulher, que tinha aceitado morrer, no momento do parto, para que o filho pudesse viver, com o seu pranto é agora princípio de vida nova para os filhos exilados, prisioneiros, distantes da pátria. À dor e ao pranto amargo de Raquel, o Senhor responde com uma promessa que agora pode ser para ela motivo de verdadeiro consolo: o povo poderá voltar do exílio e viver na fé, livre, a própria relação com Deus. As lágrimas geraram esperança. E isso não é fácil de entender, mas é verdade. Tantas vezes, na nossa vida, as lágrimas semeiam esperança, são sementes de esperança.

Como sabemos, este texto de Jeremias é depois retomado pelo evangelista Mateus e aplicado ao massacre dos inocentes (cfr 2, 16-18). Um texto que nos coloca diante da tragédia do assassinato de seres humanos indefesos, do horror do poder que despreza e suprime a vida. As crianças de Belém morrem por causa de Jesus. E Ele, cordeiro inocente, seria depois morto, por sua vez, por todos nós. O Filho de Deus entrou na dor dos homens. Não se pode esquecer isso. Quando alguém se dirige a mim e me faz perguntas difíceis, por exemplo: “Diga-me, padre, por que as crianças sofrem?”, realmente, eu não sei o que responder. Somente digo: “Olha para o crucifixo: Deus nos deu o seu Filho, Ele sofreu, e talvez ali encontrarás uma resposta”. Mas respostas daqui [mostra a sua cabeça] não há. Somente olhando para o amor de Deus que dá seu Filho que oferece a sua vida por nós, pode indicar qualquer caminho de consolação. E por isso dizemos que o Filho de Deus entrou na dor dos homens; partilhou e acolheu a morte; a sua Palavra é definitivamente palavra de consolo, porque nasce do pranto.

E na cruz será Jesus, o Filho que irá morrer, a dar uma nova fecundidade à sua mãe, confiando-a ao discípulo João e tornando-a mãe do povo crente. A morte foi vencida e alcançou, assim, o cumprimento da profecia de Jeremias. Também as lágrimas de Maria, como aquela de Raquel, geraram esperança e vida nova. Obrigado. 

Uma estrela que guia


A Solenidade litúrgica da Epifania, com a qual se concluem as festas natalinas, nos apresenta a figura dos três sábios do Oriente que se põe a caminho, guiados por uma estrela, para adorar o Rei que acabara de nascer. O relato é cheio de símbolos. Fala da busca do ser humano, que percorre um caminho ao encontro da verdade, do sentido da vida, do Deus verdadeiro. Ao comentar esta passagem das narrações da infância de Jesus, o Papa Emérito Bento XVI diz que “os homens de que fala Mateus não eram apenas astrólogos; eram ‘sábios’: representam a dinâmica de ir além de si próprio, que é intrínseca à religião; uma dinâmica que é a busca da verdade, busca do verdadeiro Deus e, consequentemente, também filosofia no sentido originário da palavra.” (Bento XVI, A infância de Jesus, 2012, p.82). Estes sábios personificam todo o ser humano e, como que inauguram uma procissão que percorre toda a história da humanidade: “representam o caminho das religiões para Cristo” (Idem, p.82).

Sem dúvidas, o ser humano é um peregrino em permanente busca do sentido. Por isso, é alguém inquieto, que se interroga e se põe a caminho. Quanta alegria quando uma estrela aponta o caminho, o norte para onde ir e gastar a vida. Quanta insegurança e confusão na vida quando desaparece a estrela e falta um centro nucleador da existência, um lar acolhedor e repousante, um porto que sempre será chão firme e seguro. Santo Agostinho é o modelo típico desta busca, que deixou narrada com detalhes nas suas “Confissões”:“Fizeste-nos para ti e inquieto está nosso coração, enquanto não repousa em ti” e “Eis que habitavas dentro de mim e eu te procurava do lado de fora!”. Para isto, é preciso ter a coragem de percorrer um caminho. Para os que creem, a estrela conduz para Cristo, luz que veio ao mundo “para iluminar a todos os povos no caminho da salvação” (Prefácio da Epifania). Quem o encontra e se deixa iluminar por Ele sabe o que significa caminhar na vida na sua companhia. Na travessia da vida, a noite faz parte, mas para quem crê, mesmo na escuridão, a luz da estrela não se apaga. 

Aquele que por nós quis nascer não quis ser por nós ignorado


Embora no mesmo mistério da Encarnação do Senhor os sinais da sua divindade tenham sido sempre claros, também a solenidade que celebramos manifesta e revela de muitas formas que Deus assumiu um corpo humano, para que a nossa natureza mortal, sempre envolvida por tantas obscuridades, não perca por ignorância o que por graça mereceu receber e possuir. 

Com efeito, Aquele que por nós quis nascer não quis ser por nós ignorado; e por isso Se manifestou deste modo, para que o grande mistério da sua bondade não fosse ocasião de grande erro. 

Hoje os Magos, que O buscavam resplandecente nas estrelas, encontram-n’O chorando no berço. Hoje os Magos vêem claramente envolvido em panos Aquele que há tanto tempo procuravam de modo obscuro nos astros. 

Hoje os Magos consideram com profunda admiração o que vêem no presépio: o Céu na terra, a terra no Céu, o homem em Deus, Deus no homem, e Aquele a quem todo o universo não pode conter incluído num pequenino corpo de criança. Vêem, crêem e não discutem, como o demonstram os seus dons simbólicos: com o incenso reconhecem-n’O como Deus, com o ouro aceitam-n’O como Rei, com a mirra exprimem a fé n’Aquele que havia de morrer. 

Assim, os gentios, que eram os últimos, passaram a ser os primeiros: graças à fé dos Magos foi consagrada a crença de toda a gentilidade. 

Hoje entra Cristo nas águas do rio Jordão para lavar o pecado do mundo. Para isso veio ao mundo, como dá testemunho o mesmo João: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. Hoje o servo recebe o Senhor; o homem recebe a Deus; João recebe a Cristo; recebe-O para obter o perdão, não para o dar. 

Hoje, como anuncia o Profeta, a voz do Senhor ressoa sobre as águas. Que voz? Este é o meu Filho amado em quem pus toda a minha complacência. 

Hoje o Espírito Santo paira sobre as águas em forma de pomba, para que, assim como a pomba de Noé anunciou o fim do dilúvio, assim esta fosse sinal de haver cessado o perpétuo naufrágio do mundo; não trouxe, porém, como aquela, apenas um pequeno ramo da velha oliveira, mas derramou a plenitude do crisma sobre a cabeça do novo Progenitor, cumprindo-se assim o que o Profeta anunciou: Por isso, o Senhor teu Deus te ungiu com o óleo da alegria, de preferência a todos os teus companheiros. 

Hoje Cristo dá início aos sinais celestes, convertendo a água em vinho. Mas a água havia de converter-se no sacramento do Sangue, para que Cristo oferecesse aos que têm sede o cálice puro da sua graça em plenitude, como diz o Profeta: O meu precioso cálice transborda.



Dos Sermões de São Pedro Crisólogo, bispo (Sermo 160: PL 52, 620-622) (Sec. V)

Por que os protestantes blasfemam contra Deus chamando os santos de ídolos?


Chamar os santos do céu de ídolos, divindades ou entidades é uma difamação prevista nas Sagradas Escrituras. Está escrito que a besta difamaria os habitantes do céu!

Ap 13,6: “Ela abriu a boca para blasfemar contra Deus e amaldiçoar o seu nome e o seu tabernáculo, os que habitam no céu”.

Para que a Besta tenha uma boca para blasfemar, algum corpo tem que servi-lhe de templo, senão ela não teria como proferir tais insultos. As Escrituras Sagradas apontam essa moradia da besta justamente nos falsos pastores:

Judas 1,8: “Da mesma forma, estes sonhadores contaminam seus próprios corpos, rejeitam as autoridades e difamam os seres celestias”.

Vemos na primeira epístola de São Pedro um capítulo inteiro falando sobre esses falsos mestres e vários versículos os identificam com os lideres protestantes:

Pregam prosperidade impondo o dízimo e seduzindo os fiéis: 2Pd 2,14 "[...] Iludem os instáveis e têm o coração exercitado na ganância”.

Inventam testemunhos de bênçãos materiais para pedir dinheiro: 2Pd 2,3 “Em sua cobiça, tais mestres os explorarão com historias que inventaram”.

Rejeitam o Papado e o magistério: 2Pd 2,10 “[...] desprezam a autoridade”.

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Mapa astral, Tarô, Búzios… I say NO, NO, NO!


Ano Novo, vida nova e… velhas ilusões. Especialmente na época de virada do ano, as pessoas acorrem a cartomantes, astrólogos, médiuns e outros supostos videntes do futuro. O que motiva essa busca? A fé? Não, justamente o contrário: a FALTA DE FÉ. Por não confiarem nos desígnios e na Providência de Deus, muitos – até mesmo cristãos – tentam resolver suas inseguranças e incertezas por meio de previsões.

É bem verdade que há católicos que buscam essas coisas por ingenuidade, por não terem sido devidamente iluminados com a doutrina da Igreja, e assim imaginam não há nada de mau. Outros, mesmo tendo recebido da devida catequese, agem deliberadamente como pagãos. A uns e a outros, fica o aviso: Deus ABOMINA essas práticas.

Não é que Deus não curte, não acha legal, não aprecia… não! Ele ABOMINA!

“Não se achará no meio de ti (…) nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro, nem encantador, nem quem consulte um espírito adivinhador, nem mágico, nem quem consulte os mortos; pois todo aquele que faz estas coisas é abominável ao Senhor.” (Deut 18,10-12)



Quando vamos entender – e crer – que Deus é Pai? Ele não abandona Seus filhos na confusão e no engano. Se temos dúvidas sobre decisões a tomar, se tememos o futuro, o caminho é simples: peçamos a Jesus, em oração, que dê rumo à nossa vida, e busquemos entre o povo de Deus homens sábios que possam nos servir como guias. É o que diz a Bíblia:

“Se alguém de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus – que a todos dá liberalmente, com simplicidade e sem recriminação – e ser-lhe-á dada.” (Tiago 1,5)

“O Senhor, teu Deus, te suscitará dentre os teus irmãos um profeta como eu: é a ele que devereis ouvir”. (Deut 18,15)

Alguém pode questionar: mas essa condenação à astrologia e adivinhação não seria mais uma daquelas leis caducas do antigo Testamento? De modo algum! O Novo Testamento renovou e reafirmou esse ensinamento. Momentos antes de morrer apedrejado, Santo Estêvão disse:

“Mas Deus afastou-se e os abandonou ao culto dos astros do céu…” (Atos 7, 42)

As chamadas “previsões” – seja por meio de mapa astral, búzios, cartas, leitura de mãos etc. – nada mais são do que o que a Bíblia chama de “adivinhações”. Quando uma pessoa busca essas coisas, ela está deixando claro que Deus não lhe basta.

Não basta ouvir da boca do próprio Cristo que nada devemos temer, pois até os fios de cabelo da nossa cabeça estão contados (Lc 12,7)…

Não basta saber que Ele prometeu estar conosco até o fim dos tempos (Mt 28,20)…

Não! O Deus Todo-Poderoso não basta! É preciso consultar astrólogos, adivinhos, macumbeiros… Talvez neles esteja a salvação, não é mesmo? A solução dos nossos problemas! Aham…

Especificamente em relação à astrologia, muitos encomendam aos astrólogos o mapa astral de cada ano, com a desculpa de que não buscam meramente previsões, mas sim o autoconhecimento. Se é assim, não seria mais lógico buscar no rico tesouro da Tradição da Igreja os instrumentos para se conhecer melhor, em vez de recorrer ao paganismo? Eis alguns meios católicos:

Aborto: Deputados estudam rever decisão do STF que desafiou o Parlamento e a sociedade julgando contra a lei penal e a Constituição


O entendimento do ministro Luís Roberto Barroso de que o aborto nos três primeiros meses de gravidez não é crime — vitorioso numa das turmas do Supremo Tribunal Federal (STF) — está com os dias contados. Ao menos numa comissão instalada na Câmara dos Deputados. Com discursos em defesa da família, de que o aborto é crime e de que assim deseja a sociedade, parlamentares ligados a setores católicos e evangélicos prevalecem, com amplíssima maioria, na comissão especial que vai votar uma mudança constitucional no sentido contrário à decisão da primeira turma do STF, do final de novembro. Esse grupo domina todos os principais cargos desse colegiado: presidência, três vices e a relatoria.

A comissão foi instalada no último dia 7, e, dos 34 integrantes, 29 já foram indicados. Destes, 25 parlamentares, pelo menos, querem derrubar o entendimento do tribunal. São contrários ao aborto. Essa comissão, que conta com só três parlamentares do sexo feminino, foi criada pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), no calor da decisão do STF e na madrugada da sessão, em novembro, que desfigurou as dez medidas de combate à corrupção. Naquela noite, o presidente da Câmara foi pressionado por parte desses deputados, que usaram seus discursos para atacar o Supremo.

Para viabilizar o contra-ataque ao tribunal, e como precisavam de uma medida que tenha poder de alterar a Constituição, usaram como pretexto uma proposta de mudança constitucional que estende a licença-maternidade em caso de nascimento prematuro à quantidade de dias que o recém-nascido passar internado. Esse projeto foi apresentado em 2011, pelo deputado Doutor Jorge Silva (PDT-ES). Mas, no debate, esses deputados vão incluir no texto que aborto, em qualquer período da gravidez, é crime. E, assim, pretendem desfazer a decisão do STF.

O deputado Evandro Gussi (PV-SP) vai presidir. Ele foi o relator de projeto do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ ) que restringia os casos de aborto e acrescentou no seu relatório a exigência de boletim de ocorrência para que vítimas de estupro fossem atendidas nos hospitais. O relator será Jorge Tadeu Mudalen (DEM-SP), que disse ser preciso estar atento para “o que as ruas estão falando, olhando para a vida”. Na sessão, os deputados já entravam no mérito.

— O STF, todos respeitamos. Mas, quando decidiu pela legalidade da interrupção da gravidez até o 3º mês, transformou-se, em vez de guardião da Constituição, em um algoz e um inimigo da Constituição — afirmou Gussi.

João Campos (PRB-GO), coordenador da Frente Parlamentar Evangélica, esteve no comando dessa mobilização. Foi ele quem procurou Rodrigo Maia e “cobrou” que a Câmara desse uma resposta ao STF.

— O Supremo mais uma vez toma uma atitude de ativismo judicial exacerbado. Ele usurpa o papel dessa Casa, altera a Constituição e contraria a sociedade brasileira. Foi infeliz essa decisão — destacou Campos.

Integrante da mesa que comandará a comissão, a deputada Geovânia de Sá (PSDB-SC), segunda vice-presidente, já antecipou ser contra a decisão do STF.

— Todos nós, um dia, tivemos três meses na barriga da nossa mãe. E tivemos o direito de vir à vida. E que todas as crianças tenham esse direito garantido. Se perguntarmos a um bebê que está na barriga... Todos querem — disse Geovânia. 

Arcebispo critica sistema prisional e anuncia missa em memória aos 60 detentos mortos na rebelião em Manaus


Uma rebelião no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus (AM), com duração de 17 horas deixou 60 mortos, sendo considerado o maior massacre prisional do Estado. Para o Bispo auxiliar de Manaus, Dom José Albuquerque de Araújo, “esta situação nos traz muita tristeza e apreensão” e, frente a tal realidade, todos são convocados a se unir em oração.

O motim teve início na tarde de domingo, 1º de janeiro, quando seis detentos foram decapitados e seus corpos foram jogados para fora da unidade. Segundo o secretário de Segurança Pública do Amazonas, Sérgio Fontes, o motim se deu devido a uma briga interna entre as facções Família do Norte (FDN) e o Primeiro Comando da Capital (PCC).

De acordo com informações, os mortos são integrantes da facção PCC e presos por estupro. Houve ainda a fuga de alguns detentos, mas não foram divulgados os números oficiais.


Em entrevista à Rádio Vaticano, o Bispo auxiliar, Dom José Albuquerque de Araújo, expressou que “a voz da Igreja que está em Manaus é de grande lamento e profunda tristeza; estamos todos unidos em oração: padres, diáconos, agentes de pastoral, nós bispos, os agentes de pastoral carcerária”.

“Todo mundo está se mobilizando em oração e pedindo para que esta situação se resolva o quanto antes. Sabemos dos grandes desafios dos cárceres no Brasil, e aqui em Manaus não é diferente”, manifestou o Prelado, sublinhando que “a cidade toda está em alerta” e que todos estão “acompanhando as notícias locais”.

Dom José Albuquerque informou que todos na Arquidiocese estão rezando e lembrando as palavras do Papa Francisco em sua mensagem para o Dia Mundial da Paz, celebrado também no domingo, 1º de janeiro, cujo tema foi “A não violência: estilo de uma política para a paz”.

“Em todas as comunidades aqui de nossa Arquidiocese elas foram lidas, refletidas e rezadas e de fato, esta é uma situação muito triste e que nos lança um grande desafio, de tratar a situação em nossos presídios com serenidade e muita justiça, respeitando os direitos humanos e procurando fazer com que a paz aconteça nos cárceres, o que não está acontecendo aqui em Manaus e em nosso país”, ressaltou.

O Bispo recordou ainda que esta rebelião, segundo as notícias, “aconteceu justamente em relação ao domínio do tráfico de drogas em Manaus e na região metropolitana”. “As informações que chegam até nós são de que facções criminosas estão organizadas e de que seus líderes estão presos. Mas, nos presídios, eles conseguem uma articulação que impressiona”.

Além disso, lembrou que já “uma situação muito difícil no que diz respeito à realidade dos presos”. Ele divulgou uma nota no início da noite desta segunda-feira, na qual critica ainda a terceirização da gestão e penitenciária e disse "o sistema não recupera o cidadão". 

Dom Sérgio se referiu aos trabalhos realizados pela Pastoral Carcerária, que trabalha diretamente com os detentos, desenvolvendo atividades ligadas à igreja católica, bem como ações sociais. "A Pastoral Carcerária visita o Sistema Prisional há 40 anos, por isso afirma que o Sistema Prisional não recupera o cidadão, pelo contrário oportuniza escola de crime, em vez de oferecer atividades ocupacionais aos internos".

Para o religioso, falta uma gestão humana no sistema penitenciário. "A terceirização também fragiliza o sistema, onde o preso representa apenas valor econômico". 

Dom Sérgio afirmou ainda que a Igreja Católica fará uma missa em memória aos detentos assassinados, mas ressaltou que o foco agora será em dar consolo aos familiares das vítimas. “Queremos acompanhar de perto, prestar apoio, estar junto dessas pessoas. Somos todos irmãos perante Deus”.

O Complexo Penitenciário Anísio Jobim possui capacidade para abrigar 454 presos, mas está com superlotação, abrigando 1224 pessoas.

Esta foi a segunda rebelião com o maior número de mortos no Brasil, ficando atrás apenas do ocorrido em 1992 no Carandiru, em São Paulo, quando 111 presos foram mortos.

Confira a nota na íntegra:  

O duplo preceito da caridade


Veio o Senhor, mestre da caridade, cheio de caridade, para cumprir a palavra sobre a terra, como d’Ele foi anunciado, e sintetizou a Lei e os Profetas nos dois preceitos da caridade. 

Recordai comigo, irmãos, quais são aqueles dois preceitos. Deveis conhecê-los profundamente, de tal modo que não vos venham à mente só quando vo-los recordamos, mas os conserveis sempre bem gravados no vosso coração.Lembrai-vos em todo o momento de que devemos amar a Deus e ao próximo: a Deus, com todo o coração, com toda a alma, com toda a mente; e ao próximo como a nós mesmos. 

Isto continuamente se há de pensar, meditar, recordar, praticar, cumprir. O amor de Deus é o primeiro mandamento na hierarquia da obrigação, mas o amor do próximo é o primeiro na ordem da ação. Aquele que te deu o mandamento do amor nestes dois preceitos, não podia preceituar o amor do próximo de preferência ao amor de Deus; mas primeiramente preceituou o amor de Deus e depois o do próximo. 

Entretanto, tu que ainda não vês a Deus, merecerás contemplá-lo, se amas o próximo; com o amor do próximo purificas o teu olhar, para que os teus olhos possam contemplar a Deus, como afirma claramente São João: Se não amas a teu irmão que vês, como poderás amar a Deus que não vês? 

Eis que te é dito: Ama a Deus. Se me dizes tu: «Mostra-me quem eu devo amar», que te hei de responder senão o que diz o mesmo São João: a Deus ninguém jamais O viu? E para que te não julgues totalmente alheio à visão de Deus, diz também: Deus é amor e quem permanece no amor permanece em Deus. Portanto, ama o próximo e encontrarás dentro de ti a origem deste amor; aí verás a Deus, quanto agora te é possível. 

Começa, portanto, a amar o próximo. Reparte o teu pão com o faminto e dá pousada ao pobre sem abrigo, leva roupa ao que não tem que vestir e não voltes as costas ao teu seme­lhante. 

Que conseguirás, praticando tudo isto? Então a tua luz brilhará como a aurora. A tua luz é o teu Deus; Ele é a aurora que despontará sobre ti depois da noite deste mundo. Esta luz não nasce nem tem ocaso, porque permanece para sempre. 

Amando o próximo e cuidando dele, vais percorrendo o teu caminho. E para onde caminhas senão para o Senhor Deus, para Aquele que devemos amar com todo o nosso coração, com toda a nossa alma, com toda a nossa mente? É certo que ainda não chegamos até junto do Senhor; mas já temos conosco o próximo. Ajuda, portanto, aquele que tens ao lado, enquanto caminhas neste mundo, e chegarás até junto d’Aquele com quem desejas permanecer eternamente.


Dos Tratados de Santo Agostinho, bispo, 
sobre o Evangelho de São João

(Tract. 17, 7-9: CCL 36, 174-175) (Sec. V)