quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Uma estrela que guia


A Solenidade litúrgica da Epifania, com a qual se concluem as festas natalinas, nos apresenta a figura dos três sábios do Oriente que se põe a caminho, guiados por uma estrela, para adorar o Rei que acabara de nascer. O relato é cheio de símbolos. Fala da busca do ser humano, que percorre um caminho ao encontro da verdade, do sentido da vida, do Deus verdadeiro. Ao comentar esta passagem das narrações da infância de Jesus, o Papa Emérito Bento XVI diz que “os homens de que fala Mateus não eram apenas astrólogos; eram ‘sábios’: representam a dinâmica de ir além de si próprio, que é intrínseca à religião; uma dinâmica que é a busca da verdade, busca do verdadeiro Deus e, consequentemente, também filosofia no sentido originário da palavra.” (Bento XVI, A infância de Jesus, 2012, p.82). Estes sábios personificam todo o ser humano e, como que inauguram uma procissão que percorre toda a história da humanidade: “representam o caminho das religiões para Cristo” (Idem, p.82).

Sem dúvidas, o ser humano é um peregrino em permanente busca do sentido. Por isso, é alguém inquieto, que se interroga e se põe a caminho. Quanta alegria quando uma estrela aponta o caminho, o norte para onde ir e gastar a vida. Quanta insegurança e confusão na vida quando desaparece a estrela e falta um centro nucleador da existência, um lar acolhedor e repousante, um porto que sempre será chão firme e seguro. Santo Agostinho é o modelo típico desta busca, que deixou narrada com detalhes nas suas “Confissões”:“Fizeste-nos para ti e inquieto está nosso coração, enquanto não repousa em ti” e “Eis que habitavas dentro de mim e eu te procurava do lado de fora!”. Para isto, é preciso ter a coragem de percorrer um caminho. Para os que creem, a estrela conduz para Cristo, luz que veio ao mundo “para iluminar a todos os povos no caminho da salvação” (Prefácio da Epifania). Quem o encontra e se deixa iluminar por Ele sabe o que significa caminhar na vida na sua companhia. Na travessia da vida, a noite faz parte, mas para quem crê, mesmo na escuridão, a luz da estrela não se apaga. 

Não nos serve um Deus “segundo nossas necessidades”, que vem em auxílio de projetos individualistas, como uma mercadoria que se adquire e se consome. Este não é o Deus revelado por Jesus Cristo. O desejo dos sábios de adorá-lo indica um Deus bem maior: a criatura que se sente infinitamente amada e, em atitude de gratidão e reconhecimento degusta de sua presença amorosa que envolve todo o ser. Envolvido pelo seu amor, presta-lhe a adoração e com este mesmo amor empreende outro caminho, aquele que sai de si para ir ao encontro dos irmãos. Assim, tudo adquire sentido, pois não estamos perdidos e envolvidos por um sistema social que nos faz anônimos consumidores, endurecidos e frios por dentro, calculistas e incapazes de compreender a gratuidade e a misericórdia.

Cremos que naquele Menino, tão pequeno e humilde, “envolto em faixas e deitado numa manjedoura” (Lc 2, 12), é a profecia de Isaías que se cumpriu: “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz” (Is 9,1).


Dom Adelar Baruffi

Bispo de Cruz Alta, RS 

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