Os bispos que participam
no sínodo da família, em Roma, estão preocupados com o impacto mediático que
teve a divulgação do relatório intercalar, na segunda-feira.
Na conferência de imprensa diária, na sala de imprensa da Santa Sé, o cardeal sul-africano Wilfred Napier foi muito crítico do relatório, dizendo que os bispos nem sabiam que ele ia ser publicado. Napier teme que a sua divulgação tenha causado danos “irremediáveis”, embora o padre Federico Lombardi, presidente da sala de imprensa da Santa Sé, diga que a publicação do documento corresponde à prática normal dos sínodos.
“Uma das coisas que incomodou muito os padres sinodais é que, agora, estamos a trabalhar a partir de uma posição virtualmente irremediável, porque a mensagem já saiu: ‘Isto é o que o Sínodo está a dizer, isto é o que a Igreja católica está a dizer…’ e não é nada disso que estamos a dizer!” E agora, por muito que tentemos corrigir – e essa, infelizmente, é também a minha experiência com os media – uma vez publicado e em destaque, já não há maneira de o recuperar. Essa é a minha preocupação: a mensagem que já saiu não é a verdadeira mensagem! E o que viermos a dizer depois, será sempre visto como se houvesse uma censura, que efetivamente não existe”.
O relatório intercalar faz um resumo dos principais pontos discutidos durante a primeira semana do sínodo e serve de base para as discussões que começaram esta semana, com os bispos divididos em grupos, por língua materna.
O documento foi recebido com muita polêmica e surpresa. Mais do que uma revolução doutrinal, representa uma mudança de tom em relação a aspectos fracturantes, como a coabitação, as uniões irregulares e as relações homossexuais.
Mas o cardeal africano considera que é “questionável” se a divulgação do documento foi “oportuna”, uma vez que o seu conteúdo não reflete nem posições definidas, nem necessariamente a opinião de todos os padres conciliares. “Talvez alguma linguagem usada no relatório tenha levado as pessoas a acreditarem que este documento é o reflexo dos pontos de vista do sínodo como um todo. Só que vocês [jornalistas] receberam o documento antes de nós, por isso, nunca poderíamos tê-lo subscrito.]
A polêmica gerada pela divulgação do relatório levou mesmo a secretária-geral do sínodo a publicar um comunicado em que se lê: “A secretária-geral do sínodo, no seguimento das reações e discussão que se seguiu à publicação do relatório intercalar, e tendo em conta que lhe foi atribuída uma importância que não corresponde à sua natureza, reitera que se trata de um documento de trabalho”. O comunicado foi recebido com alguma revolta pelos jornalistas presentes, que recordaram que foi a própria Santa Sé, na conferência de imprensa de segunda-feira, que atribuiu importância ao relatório pela forma como o divulgou e comentou.