quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Polêmica no Sínodo: Mensagem do relatório intercalar “não corresponde à verdade”, diz bispo.




Os bispos que participam no sínodo da família, em Roma, estão preocupados com o impacto mediático que teve a divulgação do relatório intercalar, na segunda-feira. 


Na conferência de imprensa diária, na sala de imprensa da Santa Sé, o cardeal sul-africano Wilfred Napier foi muito crítico do relatório, dizendo que os bispos nem sabiam que ele ia ser publicado. Napier teme que a sua divulgação tenha causado danos “irremediáveis”, embora o padre Federico Lombardi, presidente da sala de imprensa da Santa Sé, diga que a publicação do documento corresponde à prática normal dos sínodos.


“Uma das coisas que incomodou muito os padres sinodais é que, agora, estamos a trabalhar a partir de uma posição virtualmente irremediável, porque a mensagem já saiu: ‘Isto é o que o Sínodo está a dizer, isto é o que a Igreja católica está a dizer…’ e não é nada disso que estamos a dizer!” E agora, por muito que tentemos corrigir – e essa, infelizmente, é também a minha experiência com os media – uma vez publicado e em destaque, já não há maneira de o recuperar. Essa é a minha preocupação: a mensagem que já saiu não é a verdadeira mensagem! E o que viermos a dizer depois, será sempre visto como se houvesse uma censura, que efetivamente não existe”.


relatório intercalar faz um resumo dos principais pontos discutidos durante a primeira semana do sínodo e serve de base para as discussões que começaram esta semana, com os bispos divididos em grupos, por língua materna. 


O documento foi recebido com muita polêmica e surpresa. Mais do que uma revolução doutrinal, representa uma mudança de tom em relação a aspectos fracturantes, como a coabitação, as uniões irregulares e as relações homossexuais. 


Mas o cardeal africano considera que é “questionável” se a divulgação do documento foi “oportuna”, uma vez que o seu conteúdo não reflete nem posições definidas, nem necessariamente a opinião de todos os padres conciliares. “Talvez alguma linguagem usada no relatório tenha levado as pessoas a acreditarem que este documento é o reflexo dos pontos de vista do sínodo como um todo. Só que vocês [jornalistas] receberam o documento antes de nós, por isso, nunca poderíamos tê-lo subscrito.] 


A polêmica gerada pela divulgação do relatório levou mesmo a secretária-geral do sínodo a publicar um comunicado em que se lê: “A secretária-geral do sínodo, no seguimento das reações e discussão que se seguiu à publicação do relatório intercalar, e tendo em conta que lhe foi atribuída uma importância que não corresponde à sua natureza, reitera que se trata de um documento de trabalho”. O comunicado foi recebido com alguma revolta pelos jornalistas presentes, que recordaram que foi a própria Santa Sé, na conferência de imprensa de segunda-feira, que atribuiu importância ao relatório pela forma como o divulgou e comentou.

“Irremediável”?


Considerando que há coisas no documento que “não ajudam” ao debate das questões da família, o bispo diz que o texto dá ainda a entender que há acordo sobre vários aspectos, quando a realidade não é essa. 


A divulgação do documento pode mesmo ter condicionado os trabalhos do sínodo, lamenta. “Agora estamos a trabalhar de uma posição virtualmente irremediável”, diz Napier, concluindo que qualquer decisão que não reflita o documento possa ser visto como um retrocesso por parte dos bispos, quando a realidade é que nunca houve acordo.


Questionado sobre se estava-se a distanciar totalmente do documento, contudo, o cardeal respondeu que não, mas que era um documento sobre o qual se está ainda a trabalhar e referiu mesmo que, enquanto não houver uma versão final, votada pelos bispos, o relatório não pode ser visto como sendo do sínodo mas sim do cardeal Erdö, que o redigiu.


“Surpresa” e “perplexidade”


O cardeal Filoni, que também esteve na conferência de imprensa desta tarde, disse mesmo que a publicação e o conteúdo do relatório intercalar foram recebidos no seu grupo com “surpresa” e a reação mediática com “perplexidade”. 


A conferência de imprensa tinha começado com o cardeal Baldisseri, que é secretário do sínodo, a dizer que o documento não tinha sido bem compreendido pelo público em geral, uma vez que se trata apenas de um instrumento de trabalho. 


Os trabalhos no sínodo continuam a decorrer até ao fim desta semana. Na quinta-feira devem ser divulgados resumos dos trabalhos dos grupos. Este sínodo terminará no dia 19 de Outubro e dele deve resultar um relatório que também não será final, mas que servirá de base para o sínodo de 2015, também sobre a família. 
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Disponível: Fides Press

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