quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Padre… eu matei!


Num confessionário cabe todo o mundo. O confessionário é um lugar de missão. É como ir a terras desconhecidas e evangelizar, anunciar a redenção de Cristo, a sua misericórdia pelo homem, anunciar o Amor de Deus a quem ainda não O conhece.

Num confessionário entra muita dor, muito sofrimento, muita necessidade de ser escutado, de compartilhar situações que não podem mais ser suportadas em solidão; num confessionário entra muito desejo de ser perdoado.

É grandiosa a obra que Deus realiza nos peregrinos que chegam ao Santuário de Pompeya, em Buenos Aires.

Já ouvi a confissão de adultos que mataram. E também de jovens.

Um me disse que não tinha matado em defesa própria, mas para roubar. Ele estava arrependido pelo ato terrível que tinha cometido. Aquilo o tinha transtornado. Quando ele veio até mim, tinha nas mãos uma Bíblia. Disse que queria sair daquela situação. Que queria mudar.

Já passei por vários casos de pessoas que tinham matado. Elas achavam que Deus não podia perdoá-las. Será mesmo que Ele pode? Eu lhes respondo que sim. Digo isso com toda a alma, com força, com toda a clareza. Deus se fez homem para estar conosco. Ele veio para perdoar, para amar, para abraçar. Ele se encarnou para caminhar conosco.

O perdão de Deus é uma força de amor que nos concede a dor pelo mal que cometemos; uma dor que vai muito além do sentimento natural de desgosto pelo mal que fizemos; e também a vontade de repará-lo, de corrigir a nossa vida.

Muitas mães vieram até o meu confessionário com a dor de ter abandonado os seus filhos. Mesmo depois de já terem passado muitos anos. Por diversas razões: porque tinham perdido o trabalho e não sabiam como fazer para lhes dar de comer, ou porque o marido as tinha abandonado, ou pelas duas razões.

Há mulheres que me procuram muitos anos depois, ainda com esse peso. Não conseguem apagar o que fizeram: abandonar seus filhos pequenos que tiveram de crescer com os avós ou com os tios. Ou com estranhos.

Pedem perdão, tentam se justificar com a necessidade, mas sempre com uma grande dor, da qual não conseguem se libertar. São mães que sabem que, em vários casos, cometeram um crime – e isso amargurou a sua vida, embora deem explicações e mais explicações sobre os motivos que tiveram. 

O aborto pesa muitíssimo na vida de uma mulher. Há mulheres que vêm ao confessionário depois de muitos anos e é perceptível que não conseguem superá-lo. Quando o fizeram na juventude, me dizem: “Padre, eu não sabia o que estava fazendo. Agora eu me dou conta de que matei o meu filho”.

Com o passar dos anos, tiveram outros filhos, veem a sua beleza, os têm perto de si, os veem crescer e pensam naquele a quem não quiseram. É duro. Especialmente quando houve mais de um aborto. Eu me lembro de uma mulher que tinha feito seis. E outra, cinco.

Às vezes dá para notar que elas tentam minimizar, como se não tivesse acontecido nada de irreparável. Mas não é assim. E elas sabem muito bem dentro de si, embora a natureza humana se defenda do sofrimento tentando encapsulá-lo e lançá-lo ao passado, para que fique mais fácil de esquecer.

Na maioria das vezes, a decisão de abortar não veio delas. Muitas vezes, são os pais que as obrigam. “O que as pessoas vão dizer, o que os amigos vão pensar”… E a família começa a fazer pressão para obrigá-las a abortar. Mesmo que a jovem não queira ou tenha dúvidas, eles a pressionam até deixá-la quase sem saída.

Muitas vezes, os pais são os verdadeiros culpados pelos abortos. Ou o namorado, que paga o aborto para que ninguém saiba de nada, para que não saiba nem a sua família nem a família dela. Fazem tudo clandestino. E ele, para se livrar de um “problema”, não hesita em dar o dinheiro.

Também há muitas vezes em que a própria menina decide acabar com a gravidez, por causa da situação econômica em que se encontra, porque ficou sem trabalho, porque nenhum dos dois tem trabalho ou porque o emprego que têm é precário.

Outra razão frequente que leva uma mulher a abortar são as tensões com o companheiro, o namorado ou o marido. Ela tem certeza de que a relação não vai durar e tem medo de ficar sozinha com o filho, ou está tão ressentida com ele que não quer lhe dar o filho que até desejaria ter.

Eu as escuto, olho para elas e me dou conta de que é duro; de que, para elas, é muito doloroso o que vieram confessar. Como lidar superficialmente com o perdão de Deus?

Com essas mulheres eu falo de figuras da Bíblia a quem Jesus perdoou. Maria Madalena, a adúltera, a viúva de Naim. Ou Zaqueu, o filho pródigo, o ladrão arrependido. Eles passaram toda a vida fazendo coisas terríveis e, com apenas uma palavra de arrependimento, Jesus os perdoou. Com uma pequena fissura de fé, que se abriu no último momento, Ele não vai perdoar você?

Se você tivesse o conhecimento e a consciência que tem hoje, quando vem confessar o que fez há tanto tempo, você não o teria feito. Não se pode julgar o que você fez ontem com o critério e o sentimento cristão que você tem agora.

A elas eu também digo que Deus as abraça, que Deus as ama, que as ama e caminha com elas. Que Ele veio perdoar, não castigar; que Ele veio para estar conosco, que deixou o céu para compartilhar a nossa condição de homens que erram. Como, então, poderíamos ter medo? Eu acho quase um absurdo, uma falta de conhecimento, uma ideia equivocada sobre o nosso Deus Pai.

Graças a Deus, o confessionário também é um lugar de vida.

Sempre é, porque o perdão regenera, faz nascer algo novo, algo que antes não existia. Mas também é um lugar de vida quando uma jovem toma consciência do quanto é negativo o que ela está pensando em fazer – e, graças a isso, ela decide não fazer.

Tive casos de jovens que chegaram dizendo que queriam abortar – e depois não abortaram. Às vezes, indo contra a opinião dos pais. “Eles que pensem o que quiserem, mas eu quero ter o meu filho, eu quero ser mãe, eu quero vê-lo crescer e ajudá-lo a ser feliz! Eu o quero e quero que ele viva!”.

Há muitos homossexuais que vêm ao confessionário. Tanto homens quanto mulheres. Às vezes, eles perguntam por que se sentem perturbados com o que fazem. Muitos voltam, repetindo sempre o mesmo. É evidente que não estão tranquilos; que gostariam de mudar.

Eu os oriento a evitar as ocasiões de pecado, as circunstâncias que aumentam a fraqueza que estão reconhecendo. Não posso fazer muito mais; não tenho capacidade para ir além.

Aos pedófilos, eu convido a respeitarem a pessoa, a si mesmos e os outros. Que clamem a Deus para que os liberte dessa escravidão que fere o próximo mais indefeso. “Lute! Vá atrás da cura!”.

Há algo que sempre me deixa feliz. Algumas vezes, vem jovens que dizem: “Padre, hoje eu quero confessar uma coisa que nunca tive coragem de dizer. Tive a oportunidade, mas não disse”. Eu os encorajo: “Use todo o tempo que precisar. Eu não tenho pressa. Mas desabafe, confesse, deixe nas mãos de Deus todo o peso que você carrega nas costas! Esvazie essa bagagem diante dele e você vai ver como sai aliviado deste confessionário”. E é o que acontece.

“Tem mais alguma coisa?”.
“Não, padre”.
“E como você está se sentindo?”.
“Estou conseguindo respirar”.
Uma verdadeira experiência de libertação.

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Depoimento do padre Luis Dri, com Andrea Tornielli e Alver Metalli, em “Non aver paura di perdonare”, Rai-Eri, outubro de 2016.
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Disponível em: Aleteia 

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