quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Defender o casamento está virando crime?


Boa parte dos defensores da “redefinição” do conceito de casamento costuma apelar para valores como “tolerância”, “compreensão” e “aceitação das diferenças” a fim de “ampliar” o significado do termo e embutir nele todo tipo de união romântica ou sexual entre duas (ou mais) pessoas de qualquer sexo. Isso inclui modalidades de união que nada têm a ver com a formação de um núcleo de pai, mãe e filhos, mas que, ainda assim, não apenas “podem” como até “devem” ser chamadas de “casamento”.

Não poderiam usar outra palavra? Poderiam, é claro. Mas alguém resolveu que tudo é “casamento”, de maneira que aquilo que todo mundo entende por casamento seja cada vez menos entendido como o que é.

Um exemplo significativo e “ligeiramente extremo” é a tendência (crescente?) a se considerar até certa forma de poligamia como uma das “modalidades” do “casamento”, nem que, para isto, ela tenha de ser rebatizada com o pomposo nome “técnico” de “poliamor” (veja mais sobre o assunto neste artigo recomendado).

Pretende-se, enfim, que toda uma ampla variedade de uniões instáveis e fugazes seja equiparável ao compromisso matrimonial definitivo, natural e aberto à vida – e que se finja que não decorrerá nenhuma consequência socialmente prejudicial de tamanha indiferenciação forçada, na qual tudo deveria ser visto como simplesmente “a mesma coisa”.

Por outro lado, as alardeadas virtudes da “tolerância”, da “compreensão” e da “aceitação das diferenças” se revelaram uma via de mão única, inacessível para as pessoas que discordam das “mudanças” ideológicas (e jurídicas) no conceito de casamento.

É o que vão descobrindo os cidadãos de países que estão “mexendo” nessa definição ou que já “mexeram”, como a França. 

Já em março de 2013, aquele país testemunhou as suas maiores manifestações sociais desde maio de 1968: no dia 24, cerca de 1 milhão de cidadãos protestaram pedindo que a união entre pessoas do mesmo sexo não fosse equiparada ao matrimônio entre um homem e uma mulher, dadas as notórias e naturais diferenças entre uma realidade e a outra. Foram tachados de intolerantes.

Um relatório do Centro Europeu de Lei e Justiça denunciou, na época, o uso excessivo da força por parte das autoridades para reprimir esses manifestantes: “Ninguém se salvou: mulheres, crianças, idosos, deficientes. Os manifestantes foram pisoteados e agredidos”.

O famoso jornal francês Le Figaro publicou que, em 26 de maio do mesmo ano, houve mil prisões e quinhentas detenções de pessoas que manifestaram a sua opinião contra a equiparação da união entre pessoas do mesmo sexo ao casamento.

Ainda na mesma época, denúncias da organização norte-americana C-FAM (sigla abreviada para o Instituto da Família Católica e dos Direitos Humanos) registraram que os manifestantes pró-família foram tratados pelas autoridades socialistas francesas como “uma ameaça pública” e submetidos a “verificações de identidade, prisões e detenções arbitrárias, brutalidade policial, agressões físicas e uso de gás lacrimogêneo”.

O C-FAM, aliás, fez uma significativa comparação: naquele mês de maio, cerca de 300 pessoas foram detidas porque participaram de manifestações em defesa do matrimônio tradicional na França. No mesmo mês, durante uma briga violenta e generalizada que se seguiu a um jogo de futebol em Paris, só 11 pessoas foram detidas.

O instituto norte-americano também apontou vários vídeos, gravados durante os protestos, nos quais a polícia francesa aparece atacando até manifestantes pacíficos com gás lacrimogêneo, o que incluía famílias com crianças, idosos e pessoas com deficiências físicas.

Para o Centro Europeu de Lei e Justiça, houve clara “evidência de brutalidade contra o movimento social em defesa da família”.

A gravidade dos fatos foi tamanha que a Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa chegou a organizar uma audiência sobre os protestos e sua repressão. Os resultados não foram nada claros e os franceses continuam correndo o risco de ser processados caso se manifestem em defesa do casamento natural, já que podem ser acusados de “crime de ódio”.

Da França para o mundo, a tendência é, cada vez mais, a mesma – disfarçada, sempre, de “tolerância”, “compreensão” e “aceitação das diferenças”.

O que está em discussão, aqui, não é o direito individual de um cidadão adulto de tomar decisões a respeito da própria vida particular, mas sim a forma como vem se tentando impor artificialmente uma redefinição conceitual que ignora diferenças objetivas entre tipos naturalmente diferentes de relacionamento, que não podem ser confundidos com “a mesma coisa” – simplesmente porque não são “a mesma coisa”.

Entre as primeiras consequências dessa “redefinição indefinida”, a “tolerância” e a “repressão” é que passaram a ser “a mesma coisa” na prática – só que para alvos diferentes, como ocorre em todo regime ditatorial disfarçado de “igualitarismo”.

Bem disse Millôr Fernandes: “Democracia é quando eu mando em você. Ditadura é quando você manda em mim”.


Francisco Vêneto
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Aleteia

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