terça-feira, 15 de outubro de 2019

Presidente da CNBB se encontra com o vice-presidente Mourão em Roma


Na manhã desta terça-feira, dia 15 de outubro, o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e arcebispo de Belo Horizonte (MG), dom Walmor Oliveira de Azevedo, encontrou-se com o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, em Roma.

Dom Walmor agradeceu a vinda do vice-presidente à canonização de Irmã Dulce, realizada no último domingo, dia 13 de outubro. Já o vice-presidente agradeceu pela abertura cada vez maior de diálogo entre a Igreja e o governo brasileiro. “Saiba que o canal de comunicação estará sempre aberto à CNBB”, afirmou Mourão. Em resposta, dom Walmor disse: “estamos próximos na oração, no apoio e no diálogo”.

O presidente da CNBB também falou sobre o Sínodo para Amazônia, que está sendo realizado até o fim da próxima semana no Vaticano. “O Sínodo está caminhando de forma muito positiva. A Igreja pode contribuir bastante na Amazônia por sua capilaridade”. Mourão afirmou que sua única preocupação é em relação a discussões que interfiram na soberania do país, mas dom Walmor o tranquilizou de que as propostas do Sínodo não mexem com essa questão.

A ordenação de padres casados

 
Sem intenção de polemizar contra ninguém, retorno a esta questão já abordada por mim por ocasião da publicação do Instrumentum laboris (IL) do Sínodo. Pelo que observamos são duas as razões apresentadas pelos que defendem a ordenação de padres casados: se possibilitaria a celebração da Missa nas aldeias, hoje inviabilizada pela normativa do celibato e, por outra parte, se superaria a rejeição intrínseca ao mesmo que desde a antropologia indígena, desde a absoluta impossibilidade para uma “compreensão” da situação pelo que se refere ao caso do padre indígena solteiro na Amazônia de hoje.

A primeira razão fica invalidada pelo fato evidente de que a ausência de padre para celebrar a Eucaristia é um problema comum a toda a Igreja e não só das comunidades indígenas. Pertenceria, portanto, não ao âmbito de uma problemática a ser discutida por um Sínodo.

Queremos aqui nos debruçar sobre a questão cultural indígena que, segundo alguns, deve prevalecer de modo absoluto sobre a atual legislação, “caso os católicos queiram ter membros do clero provenientes das comunidades indígenas”.

O ar descristianizado que sopra ao longo de muitas páginas do IL se evidencia com toda a crueza por ocasião da ordenação de indígenas não vinculados pelo sagrado dom do celibato. “Não há outra possibilidade. Os povos indígenas não entendem”. Uma visão profundamente secularista tomou conta do documento. O que aqui se evidencia com a máxima clareza. Vejamos.

“A cultura não é a medida do Evangelho. É Jesus Cristo a medida de toda a cultura e de toda obra humana” (SD, DI 6).

Não é a cosmovisão indígena a que determina a evangelização e estabelece o que pode ou não ser aceito do Evangelho de Jesus Cristo. Essa cultura seria um “novo evangelho”, como inúmeras vezes se dá a entender no IL, evangelho surgido dos indígenas, das suas culturas ou de sua análise sobre as necessidades do homem também na área do celibato, das famílias, da sexualidade, realidades estas que determinam intrinsecamente a personalidade e a sua história.

A necessidade de “nascer de novo”, “ser um homem novo”, “no único Homem novo” (Ef 2, 15-16), também portanto na área da sexualidade, não seria efetivada pelo Evangelho. Seria pura salvação humana, portanto não salvação. O indígena, sua família, sua afetividade e sexualidade ficariam entregues a si mesmos, a sabedoria dos ancestrais, as cosmovisões da sua cultura, as interpretações da realidade do seu povo.

A evangelização da Amazônia não pode nascer do desejo de “agradar aos homens”, ou de “procurar o seu favor” (Gl 1, 10), nem dos Cardeais, nem tampouco do Sínodo. Ela tem que nascer da responsabilidade da Igreja pelo Dom que Deus nos faz em Cristo, aos indígenas tanto como a nós. Dom que não extingue, tampouco humilha, nem se sobrepõe a nenhuma cultura, nem nação. É “a riqueza insondável” (Ef 3, 8) que antes de tudo é o próprio Cristo, sua Pessoa, sua Igreja, porque Ele mesmo é a nossa salvação e a da Amazônia.

A Cristologia reducionista que perpassa o IL não marcará nunca “os caminhos novos para a Igreja na Amazônia, nem para uma ecologia integral”. Se assim fosse o Sínodo seria eliminado porque Jesus de Nazaré, Filho de Deus ficaria assim fora do centro (ibidem 6-7).

Por outra parte, a mensagem do Novo Testamento sobre a sexualidade humana e suas consequências, ponto de partida para a compreensão do celibato não é um empecilho intransponível para os povos indígenas. Assim como tampouco o foi para os gregos e romanos (1 Cor 6; Ef 5; Gal 5; Rm 1). Como tampouco para os judeus (Mt 19). Todos eles tiveram a mesma dificuldade de compreensão, mas ao mesmo tempo experimentaram a alegria incontida de “glorificar a Cristo no seu corpo” (sexo, genitalidade) (1 Cor 6, 20), assim como também a experiência única da libertação sexual “pelo alto preço do sangue de Cristo” (ibidem) pelo sacramento do Batismo e do sacramento do Matrimônio, mistério grande em Cristo e na Igreja (Ef 5, 32).

Não é a cultura indígena que encontra dificuldades intransponíveis na compreensão do celibato. Acontece que não houve uma verdadeira inculturação do Evangelho entre eles. Tem sido por muitas razões uma transmissão da fé “que não se fez cultura, uma fé que não foi plenamente recebida, não inteiramente pensada, não fielmente vivida” (Rm 10). Isso! Numa palavra: as dificuldades das culturas indígenas para compreender o celibato e vivenciá-lo, também no sacramento da ordem sacerdotal, não são diferentes as das culturas afroamazônicas, ribeirinhas, caboclas, nem urbanas da Amazônia. Aliás, nem as culturas ibéricas na primeira evangelização das mesmas, como a da inculturação das germânicas ou asiáticas, como qualquer cultura experimenta fundamentalmente a mesma dificuldade para compreender, vivenciar, encontrar o verdadeiro sentido da estrutura afetiva, sexual, genital e, portanto, do celibato que nasce necessariamente do Batismo e da Eucaristia (1 Cor 6, 9-11).

Sem uma autêntica inculturação do Evangelho num processo longo, complexo e difícil, não tem possibilidade nenhuma nenhum povo da Terra de compreensão, aceitação agradecida, nem de vivência fiel, nem nas culturas indígenas, nem em outras quaisquer.

O primeiro passo para a solução do problema do celibato não é abolição do mesmo. É, pelo contrário, inculturar o Evangelho com os valores profundos, aspirações vitais, raízes antropológicas (Rm, 24; At 14, 11-17; 17, 22-31) de determinada cultura. É Jesus Cristo e seu Espírito que transcende toda a cultura, mas simultaneamente se encarna nos valores e nas expressões mais profundas de cada cultura. Ele é o início, meio e fim da inculturação.

Paulo, na Carta aos Gálatas, proclama: “não anulo a graça de Deus; porque se é pela Lei que vem a justiça então Cristo morreu em vão” (2, 21). Não podemos colocar a cultura contra a Graça, nem a sabedoria indígena contra a Cruz.

O celibato no sacerdócio, por outra parte, facilita o trato assíduo com o Senhor, com um coração indiviso (1 Cor 7). Constitui uma característica específica e incomparável do kairós e da situação profética para o exercício do profetismo mais arriscado na Amazônia de nossos dias.

Ele define, proclama abertamente e com alegria a característica essencialmente escatológica do nosso tempo profético incomparável.

Vejamos agora o específico do celibato a partir do Novo Testamento. Este é incompreensível se não é trilhado o caminho de Jesus. Sua vida celibatária é o germe do qual brota necessariamente a virgindade e o celibato na Igreja. Não é de estranhar, portanto, que num documento como o IL que sequestra o Crucificado do texto preparatório do Sínodo, “não compreenda” o celibato de Jesus, nem o da Igreja .

Mateus 19, 10-12 destaca que o mesmo é incompreensível como o foi para os judeus que o insultavam com a palavra: “eunuco, impotente”. Jesus aceita o insulto e explica a sua condição de celibe: “o Reino dos Céus”. Como entre os indígenas da Amazônia o celibato também hoje é tido como impossível por não poucos homens” (PO, 16). Por isto, com tanta mais humildade e perseverança, nós presbíteros somos convidados a implorar com toda a Igreja a graça da fidelidade (ibidem). Numa cristologia e eclesiologia desprovidas da experiência da graça, o celibato não tem sentido nenhum. Assim como é evidente no IL a ausência total da alegria pascal e da autêntica esperança cristã.

Em Mateus, o celibato é tão incompreensível como o camponês do Evangelho que cheio de alegria vende tudo para comprar o único campo (Mt 13, 44ss). O celibatário, como Jesus, vivencia com entusiasmo e alegria o despojamento de tudo “pelo Reino dos Céus”. Esta é a única justificativa. Quem não estiver evangelizado, aquele a quem o Reino de Deus não foi anunciado, não compreende nada. Como os indígenas da Amazônia que pensam desde si mesmos, não desde o Evangelho, não desde o Reino dos Céus. A Igreja mateana que nasce do judaísmo acolhe, admira e acompanha grupos de pessoas que no seu seio permaneciam celibatárias imitando a Jesus.

domingo, 13 de outubro de 2019

O Círio de Nazaré como Agente de Evangelização


No início do século VIII, encontramos uma imagem de Nossa Senhora de Nazaré, cuja origem é cercada de lendas, em Portugal, no monte de São Bartolomeu. Neste lugar a imagem ficou escondida por cerca de quatro séculos, quando na manhã de 14 de setembro de 1182, Dom Fuas Roupinho, Alcaide-mor do Castelo de Porto de Moz e amigo do rei Dom Afonso Henrique, caçando um cervo que fugia em disparada, deparou-se a um abismo. Em meio ao grande perigo que estava, clamou a intercessão da Virgem de Nazaré: “Valei-me Nossa Senhora de Nazaré!”. Após a exclamação, o cavalo volteou sobre os cascos traseiros evitando a queda mortal. Após o milagre obtido pela intercessão da santíssima Virgem, Dom Fuas mandou construir uma capela naquele mesmo lugar em honra daquela por cuja intercessão sua vida tinha sido poupada. A Capela tornou-se centro de peregrinação inclusive de reis e navegadores.

Mudemos agora de tempo e lugar, estamos por volta de 1700 e o protagonista não é mais um nobre fidalgo português, mas um caboclo amazônico chamado Plácido José dos Santos. Este, em meio a suas caminhadas pela mata, que eram certamente costumeiras, já que segundo a tradição Plácido era caçador, achou entre as pedras do igarapé Murutucu uma pequena imagem, que tratou de levar para casa. No dia seguinte para a sua surpresa a Imagem não estava onde ele havia deixado, ele então correu ao local onde a havia achado e lá estava ela, após inúmeras tentativas fracassadas de mantê-la em sua casa decidiu construir uma pequena Capela naquele local. Temos aí a primeira Igreja de Nazaré.

Após o achado da imagem, a devoção popular imediatamente começou, pois lá era caminho de muitos viajantes, já que o lugar era próximo da “Estrada do Utinga”, fato que ajudou a propagar a devoção que ali se iniciava. Pouco mais de vinte anos depois, o Bispo da época Dom Bartolomeu de Pilar esteve na capela atraído pela grande devoção que ali se consolidava, na ocasião, Plácido sugeriu ao bispo a construção de uma nova igreja, cuja sugestão foi prontamente aceita, sendo erguida entre 1730 e 1744.

No ano de 1793, o governador Sousa Coutinho teve a ideia de organizar uma grande feira com produtos agrícolas e extrativistas para serem comercializados no período em que se costumava celebrar a festa (mês de agosto). Porém, em junho de 1793 este fica doente, condenado a não comparecer a festa, fez a promessa que se caso melhorasse, iria buscar a imagem, levá-la para a capela de seu palácio e depois voltaria com ela para a sítio de Nazaré. Graça alcançada, promessa cumprida. Temos então em 8 de setembro de 1793 o primeiro Círio de Nazaré.

A atual Igreja, que se seguiu a outras construídas no mesmo local daquela que o Caboclo Plácido edificou, foi construída no século XX. Em seu interior, enriquecido por belos mosaicos e vitrais, temos contada a história da Virgem Maria e da sua invocação sob o nome de Nazaré.

O termo “Círio” tem origem na palavra latina “cereus” (de cera), que significa vela grande de cera, objeto comumente usado para se pagar promessas. Em três de julho de 1793, o governador determina que no final de setembro de cada ano se organizasse festejos em honra a Nossa Senhora de Nazaré no largo de sua ermida, devendo a imagem na véspera ser levada à capela do palácio dos governadores, atual Palácio Lauro Sodré, a fim de ser transferida no dia seguinte novamente para sua ermida. Surge aí a primeira procissão do Círio de Nossa Senhora.

Após a imagem da Virgem Santíssima, é certamente a corda um nos maiores objetos de devoção dos fiéis. Sua origem remonta o ano de 1885, quando na hora da procissão, a baía do Guajará tinha transbordado, para que a berlinda (que era puxada por bois) pudesse avançar, tiveram a ideia de lhe passar uma grande corda em volta, pedindo aos fiéis que a puxassem, dessa forma a berlinda pôde vencer o atoleiro e assim constituiu-se a tradição de atrelar uma corda a berlinda. A Berlinda é o carro mais importante, e sua função é proteger a imagem e proporcionar sua melhor visualização. Além da Berlinda, temos a presença de outros carros que foram surgindo em tempos distintos, e retratam vários episódios ligados a devoção a Virgem de Nazaré, como o milagre de Dom Fuas. Há ainda os carros que retratam aspectos da fé católica, como o da Santíssima Trindade e os Anjos, além da barca dos milagres, que recolhe os objetos em cera levados pelos devotos no cumprimento de suas promessas.

José Maurício tem nervo ótico danificado e por intercessão de Irmã Dulce voltou a enxergar. Medicina não explica cura.


O maestro José Maurício Bragança Moreira, 50 anos, recebeu em 10 de dezembro de 2014, por intercessão de Irmã Dulce a graça da cura para sua cegueira em decorrência de um glaucoma diagnosticado quando tinha 23 anos, em 1992. O milagre que o fez voltar a enxegar foi o responsável por assegurar o cumprimento da última etapa da canonização da beata baiana. O Papa Francisco promulgou, em 13 de maio de 2019, o decreto que reconheceu o segundo milagre atribuído à intercessão de Irmã Dulce.

Ele conheceu Irmã Dulce quando ainda era menino. Seu pai, gerente de uma casa de materiais de construção, doava material para as obras de Irmã Dulce. A sua mãe também e seu avô ajudava com doação de roupas e armarinhos. “Eu cresci vendo Irmã Dulce naquela luta incansável para construir o hospital e dar continuidade às obras, com muita luta e sacrifício. Nós já a considerávamos santa ainda em vida”.

Ele é músico e maestro, casado e natural de Salvador, na Bahia, mas atualmente mora em Recife-PE. Tem 50 anos, é filho de Ernesto Lula Moreira e Therezinha Bragança Moreira, falecidos, também baianos e amantes da música. Dos pais, além da alegria e da vocação para a música, ele herdou uma pequena imagem de Irmã Dulce que mantém no criado mudo de sua cama.

Após perder a visão total, em 2000, ele dedicou-se a estudar o braile, método de leitura para cegos, e deu continuidade aos estudos de música com ênfase em regência iniciados ainda na juventude. O passo seguinte foi montar o seu primeiro coral de cegos em Salvador no Centro de Apoio Pedagógico na escola onde aprendeu a ler em braile. “Me transformei em maestro de coral. Tive vários corais em Salvador”, conta.

Às vésperas de uma apresentação de seu coral, ele foi acometido por um derrame nos olhos em decorrência de uma conjuntivite viral que o deixou sem dormir por quatro dias seguintes. Na madrugada do dia 10 de dezembro de 2014, já exausto e sem conseguir dormir, por volta das 4h, ele pegou a imagem de Irmã Dulce, a colocou em seus olhos e pediu que Irmã Dulce aliviasse a sua dor. “Com toda a minha fé, fiz a minha prece em silêncio”, disse.

Presidente da República, Jair Bolsonaro, visita Santuário Nacional no dia da Padroeira


O Santuário Nacional recebeu neste dia 12 de outubro, Solenidade de Nossa Senhora Aparecida, a visita do presidente da república, Jair Bolsonaro.

Esta é a primeira vez que um presidente da república participa dos festejos da Padroeira do Brasil, em Aparecida.

Jair Bolsonaro participou da Santa Missa das 16h, presidida pelo Arcebispo de Aparecida Dom Orlando Brandes e foi convidado a proclamar a primeira leitura.

O presidente chegou ao Santuário por volta das 15h10 no helicóptero presidencial, acenou aos fiéis, seguiu para a área reservada no nicho de Nossa Senhora Aparecida, na sequencia, sentou-se próximo ao Altar Central para participar da celebração eucarística.

Esta é segunda vez que Jair Bolsonaro visita o Santuário de Aparecida. A primeira foi em novembro de 2018, quando fez uma passagem rápida, após participar de um evento na Escola de Especialistas de Aeronáutica em Guaratinguetá (SP), no entanto, é a segunda vez que ele visita a região neste ano. Em junho, ele esteve em Guaratinguetá, onde visitou a Fazenda Esperança e participou da Solenidade Militar de Formatura da 248ª Turma do Curso de Formação de Sargentos da Aeronáutica. A última vez que um presidente visitou o local foi no dia 30 de maio de 1998, quando Fernando Henrique Cardoso esteve na inauguração do Centro de Apoio ao Romeiro.

Sínodo da Amazônia: “papa não é inimigo”, diz Mourão em Roma


"O governo brasileiro e a Igreja Católica andam lado a lado”, declarou durante uma coletiva aos jornalistas na embaixada do Brasil na Itália.

Mourão disse ainda que o Sínodo tem um viés político, apesar de ter sido convocado pela Igreja. “Fazemos política o tempo todo. Óbvio que a questão do Sínodo tem como pano de fundo a Amazônia e alguns dos dogmas da Igreja Católica estão em discussão. A questão da ecologia integral é a grande discussão do século 21 e é responsabilidade do governo brasileiro proteger a Amazônia, e de mais ninguém. Não queremos ser conhecidos como governo motosserra ou que não defende os direitos humanos”, acenou.

Demarcação de novos territórios indígenas

Uma das principais denúncias dos índios brasileiros durante o Sínodo da Amazônia é a paralisação na demarcação de novos territórios indígenas. Mourão afirmou que os processos seguirão parados por tempo indeterminado.

“O Brasil tem 14% de terras indígenas demarcadas, é uma quantidade expressiva. A visão do presidente Bolsonaro é que o que está demarcado tem que ser protegido. Temos muita dificuldade em proteger e controlar aquilo que nós temos, só depois disso podemos saber se é o caso de novas demarcações”, afirmou.

A agenda do vice-presidente no Vaticano conta ainda com uma audiência com o secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin, nesta segunda-feira (14). “Não recebi nenhuma determinação do presidente para convidar o papa a uma nova visita ao Brasil”, adiantou. Contudo, Mourão acenou para uma possível visita de Bolsonaro à Itália em 2020 em que o presidente poderia ser também recebido por Francisco. “É fundamental esse encontro entre o presidente e o papa”, declarou.

Bispo de Aparecida usa missa da Padroeira para fazer politicagem e diz que direita é violenta


O sermão do arcebispo de Aparecida, Dom Orlando Brandes, chamou a atenção durante a missa solene no Santuário Nacional, enquanto presidia as comemorações do dia de Nossa Senhora Aparecida. Neste sábado (12/10/2019), ele disse na homilia que a “direita é violenta e injusta”. Dom Orlando ainda criticou a corrupção, defendeu a preservação da natureza e pediu para que crianças não morram mais vítimas de bala perdida.

“Temos o dragão do tradicionalismo. A direita é violenta, é injusta, estamos fuzilando o Papa, o Sínodo, o Concílio Vaticano Segundo. Parece que não queremos vida, o Concílio Vaticano segundo, o evangelho, porque ninguém de nós duvida que está é a grande razão do sínodo, do concílio, deste santuário, a não ser a vida, como já falei”, criticou.

A celebração durante o feriado da Santa Padroeira do Brasil reúne 40 mil fiéis em Aparecida, São Paulo. O presidente Jair Bolsonaro (PSL) teve agenda na basílica às 16h e teve encontro com o arcebispo.

Cardeal Sarah: "A Igreja Católica sofre porque muitos padres perderam o sentido do sagrado"


O cardeal Robert Sarah disse que o Sínodo dos Bispos na Região Pan-Amazônica, sendo uma assembléia regional de bispos, não é o fórum para discutir o celibato sacerdotal – um assunto “insuportável” para o mundo moderno porque “alguns ocidentais não podem mais tolerar esse escândalo da cruz.”

O assunto é um dos muitos que o prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos discute nesta entrevista exclusiva de 13 de setembro com o correspondente Edward Pentin, incluindo as razões pelas quais ele decidiu escrever seu último livro,  The Day Is Now Far Spent  ( Ignatius Press ).

Ele aborda a atual crise na Igreja e na sociedade e acredita que ela é impulsionada principalmente pelo ateísmo, não colocando Deus no centro de nossas vidas, bem como o desejo predominante de impor “a opinião pessoal como verdade”. Aqueles que anunciam “revoluções e mudanças radicais”, adverte, são falsos profetas “e não estão “interessados no bem do rebanho”.

O cardeal guineense também discute os efeitos positivos e negativos da reforma litúrgica e diz que o “demônio” espera nossa “morte espiritual”, é o que faz com que alguns proíbam a missa de forma extraordinária do rito romano. “Como não podemos ficar surpresos e profundamente chocados com o fato de que, o que era regra ontem, é proibido hoje?”, ele pergunta, e pede para que “nos afastemos das narrativas que se opõem”.

Qual é a principal preocupação que você deseja transmitir aos leitores em seu livro?

Não entenda mal este livro. Não desenvolvo teses pessoais ou pesquisas acadêmicas. Este livro é o clamor do meu coração como padre e pastor.

Sofro muito ao ver a Igreja despedaçada e em grande confusão. Sofro tanto ao ver o evangelho e a doutrina católica desconsiderada, a Eucaristia ignorada ou profanada. Sofro muito ao ver os sacerdotes abandonados, desanimados e [testemunhando aqueles] cuja fé se tornou morna.

O declínio da fé na presença real de Jesus, a Eucaristia, está no centro da atual crise da Igreja e seu declínio, especialmente no Ocidente. Nós, bispos, padres e fiéis leigos, somos todos responsáveis ​​pela crise da fé, a crise da Igreja, a crise sacerdotal e a descristianização do Ocidente. Georges Bernanos escreveu antes da guerra: “Repetimos constantemente, com lágrimas de desamparo, preguiça ou orgulho, que o mundo está se tornando cristianizado. Mas o mundo não recebeu a Cristo – non pro mundo rogo – somos nós que o recebemos por ele; é de nossos corações que Deus se retira; somos nós que nos cristianizamos, miseráveis! ”( Nous Autres, Français, “ We French ”- em Scandale de la V érité , “Escândalo da Verdade”, Points / Seuil, 1984).

Queria abrir meu coração e compartilhar uma certeza: a profunda crise que a Igreja está enfrentando no mundo e principalmente no Ocidente é fruto do esquecimento de Deus.

Se a nossa primeira preocupação não é Deus, 
então todo o resto entra em colapso.

Na raiz de todas as crises, antropológicas, políticas, sociais, culturais, geopolíticas, há o esquecimento da primazia de Deus. Como o Papa Bento XVI disse durante seu encontro com o mundo da cultura no Collège des Bernardins em 12 de setembro de 2008, “o ‘ quaerere Deum’– ‘busca de Deus’, o fato de estar atento à realidade essencial de Deus é o eixo central sobre o qual toda a civilização e cultura são construídas. O que fundou a cultura da Europa – a busca de Deus e a vontade de se deixar encontrar por ele, de ouvi-lo – continua sendo hoje o fundamento de toda verdadeira cultura e a condição indispensável para a sobrevivência de nossa humanidade. Pois a recusa de Deus, ou uma total indiferença por Ele, são fatais para o homem. ”

Tentei mostrar neste livro que a raiz comum de todas as crises atuais é encontrada nesse ateísmo fluido, que, sem negar a Deus, vive na prática como se ele não existisse.

Na conclusão do meu livro, falo desse veneno do qual todos somos vítimas: ateísmo líquido. Ele se infiltra em tudo, até nossos discursos como clérigos. Consiste em admitir, juntamente com a fé, modos radicalmente pagãos e mundanos de pensar ou viver. E nos satisfazemos com esta coabitação não natural! Isso mostra que nossa fé se tornou líquida e inconsistente! A primeira reforma a ser feita está em nossos corações. Consiste em não fazer mais pacto com mentiras. A fé é o tesouro que queremos defender e a força que nos permite defendê-lo.

Esse movimento que consiste em “colocar Deus de lado”, transformando Deus em uma realidade secundária, tocou o coração de padres e bispos.

Deus não ocupa o centro de suas vidas, pensamentos e ações. A vida de oração não é mais central. Estou convencido de que os padres devem proclamar a centralidade de Deus através de suas próprias vidas. Uma igreja onde o padre não carrega mais essa mensagem é uma igreja que está doente. A vida de um padre deve proclamar ao mundo que “somente Deus basta”, que a oração, ou seja, esse relacionamento íntimo e pessoal, é o coração de sua vida. Esta é a profunda razão do celibato sacerdotal.

O esquecimento de Deus encontra sua primeira e mais séria manifestação no modo de vida secularizado dos sacerdotes. Eles são os primeiros a ter as boas novas. Se suas vidas pessoais não refletem isso, o ateísmo prático se espalhará por toda a Igreja e a sociedade.

Acredito que estamos em um ponto de virada na história da Igreja. Sim, a Igreja precisa de uma reforma profunda e radical que deve começar com uma reforma do modo de ser e do modo de vida dos padres. A Igreja é santa em si mesma. Mas impedimos que essa santidade brilhe através de nossos pecados e preocupações mundanas.

É hora de abandonar todos esses encargos e finalmente deixar a Igreja aparecer como Deus a moldou. Às vezes acredita-se que a história da Igreja é marcada por reformas estruturais. Estou certo de que são os santos que mudam a história. As estruturas seguem e perpetuam apenas as ações dos santos.

A noção de esperança é um elemento fundamental do trabalho que você faz, apesar do título sombrio do livro e das observações alarmantes que você faz sobre o estado de nossa civilização ocidental. Você ainda vê razões de esperança em nosso mundo?

O título é sombrio, mas é realista. Na verdade, vemos toda a civilização ocidental em ruínas. Em 1978, o filósofo John Senior publicou o livro A Morte da Cultura Cristã . Como os romanos do século IV, vemos os bárbaros tomarem o poder. Mas desta vez, os bárbaros não estão vindo de fora para atacar as cidades. Os bárbaros estão lá dentro. São aqueles indivíduos que recusam sua própria natureza humana, que têm vergonha de serem criaturas limitadas, que querem pensar em si mesmos como demiurgos sem pais e sem herança. Essa é a verdadeira barbárie. Pelo contrário, o homem civilizado está orgulhoso e feliz por ser um herdeiro.

Convencemos nossos contemporâneos de que, para sermos livres, não devemos depender de ninguém. Este é um erro trágico. Os ocidentais estão convencidos de que receber é contrário à dignidade da pessoa. No entanto, o homem civilizado é fundamentalmente um herdeiro; ele recebe uma história, uma religião, uma língua, uma cultura, um nome, uma família.

Recusar-se a aderir a uma rede de dependência, herança e filiação nos condena a entrar na selva pelada da competição a partir de uma economia auto-suficiente. Como ele se recusa a se aceitar como herdeiro, o homem se condena ao inferno da globalização liberal, onde os interesses individuais se chocam sem outra lei que não seja a do lucro a todo custo.

No entanto, o título do meu livro também contém a luz da esperança, porque é extraído da petição dos discípulos de Emaús no Evangelho de Lucas: “Fique conosco, Senhor, pois já é quase tarde” (24:29). Sabemos que Jesus acabará se manifestando.

Nossa primeira razão de esperança é, portanto, o próprio Deus. Ele nunca nos abandonará! Acreditamos firmemente em sua promessa. Os portões do inferno não prevalecerão contra a Santa Igreja Católica. Ela sempre será a Arca da Salvação. Sempre haverá luz suficiente para quem busca a verdade com um coração puro.

Mesmo que tudo pareça estar sendo destruído, vemos as sementes luminosas do renascimento emergindo. Gostaria de mencionar os santos ocultos que carregam a Igreja, em particular, os religiosos fiéis que colocam Deus no centro de suas vidas todos os dias. Mosteiros são ilhas de esperança. Parece que a vitalidade da Igreja se refugiou ali, como se fossem oásis no meio do deserto – mas também famílias católicas que vivem concretamente o Evangelho da vida, enquanto o mundo as despreza.

Os pais cristãos são os heróis ocultos do nosso tempo, os mártires do nosso século. Finalmente, quero prestar homenagem a tantos padres fiéis e anônimos que fizeram do sacrifício no altar o centro e o significado de suas vidas. Oferecendo diariamente o Santo Sacrifício da Missa com reverência e amor, eles carregam a Igreja sem o conhecer.