segunda-feira, 27 de julho de 2015

Liturgia, entre o sagrado e o profano


O que é o sagrado dentro do contexto pós-moderno que vivemos? Qual o espaço que ele ocupa dentro do profano da vida? Estas distinções são traiçoeiras e muitas vezes, corre-se o risco de pecar por serem rasas.

O sagrado é Deus em si; pois Ele é o criador. De Deus viemos e para Ele retornaremos. Isto é, tudo lhe pertence. “Cristo  ontem e hoje... Princípio e fim ... Alfa e ômega... A Ele o tempo e a eternidade...A glória e o poder... Pelos séculos sem fim. Amém”. Nós, seres humanos, somos criaturas. Reconhecer esta condição é propiciar que sejamos capazes de crescer e estabelecer com Deus um relacionamento marcado pela intimidade.

Recorda-nos São Paulo, “não somos filhos de uma escrava, mas filhos de uma mulher livre. Cristo nos libertou para que fossemos realmente livres.” (Gl 4, 31 – 5,1). Resgatados para uma condição de filhos de Deus tornamo-nos Povo Régio e Sacerdotal.  “Vós, porém, constituís uma geração escolhida, um sacerdócio régio, uma gente santa, um poço conquistado, a fim de proclamar as grandezas daquele que das trevas vos chamou para a sua luz admirável. Outrora não éreis objeto de misericórdia. Agora sim, sois objeto de misericórdia” ( 1Pe 2, 9-10). Nas vicissitudes da história e da vida cada cristão é convidado a reconhecer a gratuidade do amor. Se assim caminha passa-se a elevar a Deus um “cântico novo” (Sl 33,3) que brota dos lábios como expressão de louvor ao Criador.

A liturgia que em grego leit (de ‘laós’, povo) e urgia (de érgon, ação, obra). Assim a liturgia é uma ação, obra que se realiza em favor do povo, da comunidade, da vida das pessoas. Para os cristãos, é atualização da entrega de Cristo para a salvação. A liturgia faz o memorial da entrega redentora de Cristo na cruz. Através da ação litúrgica se é inserido nas realidades da salvação. Dessa forma, percebe-se claramente a raiz cristológica da liturgia. Cristo rompe um simples ritualismo e faz a liturgia um “culto agradável e perfeito” ( Rm 12, 1-2). Porém, a liturgia não se restringe a uma realidade de espaço e tempo determinado, mas prolonga-se como experiência vital. E mesma a liturgia conduzida pelo ritual advém de uma experiência transcendental dos antepassados e dos contemporâneos. Ela é meio do qual Deus se utiliza para expressar plenificamente todo o realismo de Sua Palavra e de Sua carne. Por isso, é preciso educar-se para aprender dEle a bem viver e nos alimentar dEle. 

domingo, 26 de julho de 2015

Iniciação e perseverança


Estimados Diocesanos! A missão primeira da Igreja é evangelizar, levar a todos o Evangelho de Jesus Cristo, apresentando o senhor Jesus como o Messias anunciado, esperado e enviado pelo Pai na plenitude dos tempos.

Como discípulos e missionários do Senhor Jesus, não podemos nos acomodar, achando que tê-lo conhecido é o suficiente para alimentar a nossa vida de fé. Em cada tempo e em cada lugar, devemos ter a ousadia de viver a dimensão missionária da nossa fé anunciando Jesus Cristo às pessoas. O encontro com o mestre Jesus proporciona ao discípulo não só admiração, mas uma resposta, uma adesão a uma caminhada de fé que se alimenta do pão da Palavra e do pão da Eucaristia em comunidade.

A família e a comunidade foram os lugares que favoreceram ao longo da história o processo de iniciação à vida cristã e de transmissão de valores. Nos últimos anos, a família passou por um grande processo de transformação, perdendo em algumas realidades sua capacidade de ser o lugar ideal e privilegiado da iniciação cristã das crianças e dos jovens, onde o testemunho de fé dos pais contagiava os corações dos filhos.

A comunidade, lugar de celebração da fé, passou e continua passando por um grande processo de transformação social e religioso. No entanto, para manter sua identidade de comunidade cristã, as pessoas que dela fazem parte, devem continuamente colocar-se na escuta de Deus como discípulas, para poderem anunciar Jesus como missionárias pelo testemunho e pela palavra. 

sábado, 25 de julho de 2015

Um mundo onde não cabem nem “Bergoglios” e nem “Ratzingers”.


"Tu és Petrus et super hanc petram aedificabo Ecclesiam meam"

O discurso contemporâneo tenta colocar a figura de Jesus Cristo como figura subversiva que, atualizada a nossos tempos, acabaria por ser a favor de certas “pautas”, e irremediavelmente incomodaria aqueles que estão contra essas “pautas”.

De fato, Jesus Cristo mesmo tomado apenas como ser histórico é aquele que dá claridade e visibilidade à lei e “rompe” – seria mais correto falar de amadurecimento e perfeição da lei -, de certa forma, com a lei dada por Moisés aos homens, segundo o coração duro daqueles que estavam com ele. Mas Cristo vai muito além do que isso: Ele incomodaria a você e a mim mesmo, Ele diria coisas e colocaria diante de nós questões que nos tirariam do eixo. Jesus não esteve e nem está comprometido com uma pauta ideológica, mas sim com a verdade, e como diria Santo Agostinho, "a verdade tem poucos amigos".

Por dizer a verdade, sabemos onde Cristo foi parar, e hoje acabaria morrendo da mesma forma, não por causa de um lado conservador ou um lado progressista, não por uma direita ou uma esquerda, mas por que a verdade incomoda o ser humano, tira-o do seu eixo de estagnação. Queremos enfim, a preguiça das ideias relativas, das opiniões infundadas e das relações superficiais; Cristo quer dinâmica das verdades concretas, das opiniões cheias de sentido (significado e também DIREÇÃO) e das relações pessoais e íntimas (empatia, fraternidade, caridade, justiça).

Não seria surpresa que os dois últimos papas de nossa Igreja tenham sido ao mesmo tempo tão louvados e odiados pela maioria das pessoas. Esse misto entre admiradores e perseguidores de ambos acabou por criar um clima nada católico dentro da Igreja. Considero-a uma divisão que só existe nos olhos daqueles que insistem em criar uma profunda cisão no seio da Igreja. Bento XVI e Francisco podem ter perfis diferentes, mas, fica claro a qualquer observador atento que ambos sempre tiveram e têm o mesmo objetivo: mostrar o perigo do pensamento moderno para a fé e para a dignidade humana. 

Vovô e Vovó!


Entre outras datas importantes, o mês de julho nos reserva o Dia dos Avós. A data é comemorada em 26 de julho, quando a Igreja celebra São Joaquim e Santa Ana, os avós maternos de Jesus Cristo.

Para muitos de nós, homens e mulheres com mais de 40 anos de idade, as figuras do vovô e da vovó ficaram guardadas como símbolos de afeto e de ternura. Enquanto os pais se preocupavam em nos impor os justos limites, os avós nos mimaram com singelos regalos. Poucas vezes ouvimos deles palavras mais duras de repreensão ou desaprovação, apesar de não concordarem com muitas das coisas que nós fizemos.

As gerações mais novas já estão tendo outra relação com os avós. Muitas das crianças e jovens de hoje estão sendo educados pelos avós. Enquanto os pais trabalham ou se ocupam com outras coisas, os filhos ficam aos cuidados do vovô e da vovó. Isto é mais visível ainda quando as crianças são filhas ou filhos de mães solteiras ou pais separados. Neste caso, muitas vezes, cabe aos avós suprirem o papel da mamãe e do papai. E aí a relação dos netos com os avós se torna, praticamente, uma relação filial.

A relação entre filhos e pais ou netos e avós, costuma ser bastante tranqüila enquanto os avós (idosos) são auto-suficientes. As complicações costumam aparecer no momento em que eles necessitam de ajuda ordinária ou se tornam dependentes. Neste momento, os avós deixam de ser serviçais e se tornam “peso” para filhos e netos. E é aí que se mede, verdadeiramente, o amor filial ou o amor aos avós. 

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Exorcismo simplificado para leigos: Oração contra Satanás e os Anjos Rebeldes


Oração Contra satanás e os Anjos Rebeldes
Publicada por ordem de Sua Santidade o Papa Leão XIII


INTRODUÇÃO

O Papa, Leão XIII, anima aos fieis para que rezem esta oração tão frequentemente quanto lhes seja possível, como um exorcismo simples para limitar o poder do diabo e prevenir a sua ação maligna. Recomenda-se quando se suspeite de ações demoníacas causadas pela malicia entre os homens, tentações violentas e até tormentas e outras calamidades.

Oração a São Miguel Arcanjo*

+ Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém!

Grande e glorioso Príncipe dos exércitos celestes, São Miguel Arcanjo, defendei-nos "Porque para nós a luta não é contra a carne e o sangue, mas sim contra as potestades, contra os poderes mundanos destas trevas, contra os espíritos da maldade celeste." [Efes. 6, 12]. Vem e assiste ao homem que foi criado na sua imagem e a quem Ele redimiu da tirania do demônio a um grande preço.

O Santo Povo de Deus venera-vos como seu guardião e protetor. A ti o Senhor confiou as almas dos redimidos, para que as dirijas ao Céu. Ora, portanto, que o Deus da Paz, atire satanás para debaixo dos nossos pés, para que ele não possa manter o homem em pecado e fazer mal ao Povo de Deus. Oferece as nossas orações ao mais Alto, que sem demora elas atraiam a sua misericórdia sobre nós, que vença o dragão, "...a serpente antiga, que é o demônio, satanás, e acorrente-o por mil anos... Lançou-o, no Abismo, a fim de que não seduzisse mais as nações..." [Apoc. 20: 2-3].

Em nome de Jesus Cristo, nosso Deus e Senhor, fortalecido pela interseção da Imaculada Virgem Maria, Mãe de Deus, do Bendito Miguel Arcanjo, dos Benditos Apóstolos, Pedro e Paulo, e de todos os Santos, confiadamente nos dispomos à tarefa de repudiar os ataques e enganos do diabo. 

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Como me proteger de calúnias lançadas contra a Igreja Católica?


Olá,como vai? Bem, quero saber de vocês como me proteger de calúnias lançadas contra a Igreja Católica,contra seus sacerdotes e fiéis? Já que ainda não sou um apologista e vejo homens ditos teólogos lançando heresias contra os dogmas católicos na internet (um deles é Lucas Banzoli,o qual tem uns blogs chamados 'Heresias Católicas" e "Apologia Cristã") e isso me deixa muito desconfortável pois não tenho recursos a disposição para enfrentá-lo e quero saber o que fazer diante desse quadro. Grande abraço, Pax domini. - Artur Oliveira.

Olá Artur,

Basta verificarmos as entrelinhas dos evangelhos para sabermos que é difícil evitarmos as calúnias contra a Igreja Católica. No evangelho de Mateus 10,16-26 Jesus envia seus discípulos como “ovelhas no meio de lobos” (v.16), além do mais, ao lermos o livro dos Atos dos Apóstolos percebemos que a vida dos apóstolos e, como a história comprova, a vida dos verdadeiros discípulos de Cristo nunca foi fácil, não é um “mar de rosas” do ponto de vista humano. O apóstolo Pedro, o primeiro Papa, nos diz o seguinte em I São Pedro, 4,12-14.16-19:

Caríssimos, não vos perturbeis no fogo da provação, como se vos acontecesse alguma coisa extraordinária. Pelo contrário, alegrai-vos em ser participantes dos sofrimentos de Cristo, para que vos possais alegrar e exultar no dia em que for manifestada sua glória. Se fordes ultrajados pelo nome de Cristo, bem-aventurados sois vós, porque o Espírito de glória, o Espírito de Deus repousa sobre vós. Se, porém, padecer como cristão, não se envergonhe; pelo contrário, glorifique a Deus por ter este nome. Porque vem o momento em que se começará o julgamento pela casa de Deus. Ora, se ele começa por nós, qual será a sorte daqueles que são infiéis ao Evangelho de Deus? E, se o justo se salva com dificuldade, que será do ímpio e do pecador? Assim também aqueles que sofrem segundo a vontade de Deus encomendem as suas almas ao Criador fiel, praticando o bem.

Como observamos, as calúnias e difamações contra nós devem ser para nós motivos de alegria pois sabemos que estamos no caminho certo que é o caminho de Jesus. O reino deste mundo sempre se opôs e sempre vai se opor ao Reino de Deus. Em Mateus 5,10-12 Jesus mesmo diz nas bem-aventuranças:

Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus! Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós.

Portanto, se estamos no caminho certo é inevitável que o mundo se insurja contra nós, deste ponto de vista não há uma “proteção” no sentido de evitar que sejamos caluniados por apóstatas e até mesmo falsos cristãos. 

Quem é o bispo? Qual sua função na Igreja?


Tendo sido eleito Bispo de Santo André-SP, em minhas orações e reflexões pensei sobre o ministério episcopal, colocando por escrito esta reflexão que está sendo oferecida ao povo da Diocese, (na forma popular de pergunta e resposta), neste período preparatório para a posse canônica, que se dará dia 26 de julho às 16h00 na Catedral Nossa Senhora do Carmo. Compartilho aqui este texto que talvez possa servir aos irmãos e irmãs que o lerem.

1. Como Deus manifesta seu amor por nós?

De dois modos Deus dá prova de seu amor: a) Criando e sustentando o mundo. b) Salvando o mundo através de seu Filho Jesus Cristo, que se encarnou, morreu na cruz e ressuscitou, e de junto do Pai enviou o Espírito Santo para formar a Igreja. Ela “é o Povo reunido na unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Vat. II - LG 4). Na Igreja as pessoas podem se encontrar com Cristo, e por meio dele tornarem-se irmãos e filhos do mesmo Pai. Na Igreja, pela fé batismal, se vive a comunhão libertadora do mal, do pecado e da morte.

2. Qual é a missão da Igreja?

A Igreja é missionária por natureza. Tem a missão de anunciar o Reino de Deus como fez Jesus que é a luz dos povos (Lc 2,32). Ele confiou à Igreja a missão, o poder e a obrigação de levar a luz do Evangelho a toda criatura (Mc 16,15). A Igreja cumpre sua missão através da pregação da Palavra, testemunho de fé, vivência da caridade e celebração dos santos mistérios (sacramentos). A Igreja não é uma sociedade qualquer, ela é humano-divina, brota do Mistério da Trindade. Por isso, não deve haver separação entre Cristo, Reino e Igreja. A Igreja é comunhão de vida na fé, esperança e amor fraterno. Advogada dos pobres e defensora da vida, porque defensora dos direitos de Deus criador: “A Igreja é coluna e sustentáculo da verdade” (1Tm 3,15).

3. Como podemos saber que Jesus Cristo é a cabeça do corpo que é a Igreja?

São Paulo deixou escrito sobre Jesus: “Ele é a cabeça do corpo que é a Igreja” (Col 1,18); “Deus colocou tudo debaixo dos pés de Cristo, e o constituiu acima de tudo como Cabeça da Igreja, que é seu corpo...” (Ef 1,22); Jesus ressuscitado envia de junto do Pai o Espírito Santo (cf. At 2,23) e “neste Espírito todos fomos batizados para formar um só corpo” (1Cor,12,13), por isso, “...embora muitos, somos um só corpo em Cristo” (1 Cor 12,12). Ninguém pode dizer que ama a cabeça (Cristo), sem amar o corpo (Igreja). “Cristo amou a Igreja e se entregou por ela” (Ef 5,25).

4. Como está organizada a Igreja?

O Pai projeta a Igreja, Jesus a funda e é seu Senhor, o Espírito Santo a dirige. A Igreja Povo de Deus não é, porém, uma corrente de idéias, uma ONG, mas uma sociedade organizada a partir da fé. Organizada porque “Cristo é nossa paz!” (Ef 2,14), nosso Deus não é Deus de confusão. Na Igreja deve reinar a paz e o amor fraterno. Na Igreja existem vários carismas, ministérios, serviços, em vista do bem comum de todo o corpo da Igreja (1Cr 12, 4-11). Jesus instituiu os Apóstolos para governar a Igreja e lhes deu poder (cf. Mt 28,18). “Quem vos ouve a mim ouve, quem vos despreza, a mim despreza” (Lc 10,16). Os apóstolos, nos quais está fundada a Igreja, seguindo os passos de Cristo, pregaram a Palavra da Verdade e fundaram as comunidades, a Igreja. “É dever de seus sucessores perenizar esta obra” (Vat. II - AG 1). 

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Homilética: 17º Domingo Comum: “Dai-lhes vós mesmos de comer”.


A partir deste domingo, a liturgia interrompe a leitura do Evangelho de São Marcos e intercala um longo trecho do Evangelho de São João, que contém a narrativa da multiplicação dos pães e o discurso eucarístico de Jesus na sinagoga de Cafarnaum (cf. Jo 6).  Tudo isto tem seu motivo prático: o Evangelho de São Marcos é o mais breve de todos e não chega a preencher todo o ano litúrgico e, por isso, é integrado com o Evangelho de São João, que não é lido no ciclo dos anos litúrgicos.  O importante é que, durante quatro domingos teremos a oportunidade de desenvolver uma catequese sobre o Sacramento da Eucaristia.

Na primeira leitura, o profeta Eliseu, ao partilhar o pão que lhe foi oferecido com as pessoas que o rodeiam, testemunha a vontade de Deus em saciar a “fome” do mundo; e sugere que Deus vem ao encontro dos necessitados através dos gestos de partilha e de generosidade para com os irmãos que os “profetas” são convidados a realizar.

A Palavra de Deus, em Jo 6, 1– 15, mostra-nos Jesus num lugar afastado, junto ao lago de Genesaré, no meio de uma multidão de povos provenientes das cidades vizinhas. Eram, aproximadamente, cerca de cinco mil homens ( cf. Jo 6, 10 ). E enquanto o Senhor falava, ninguém pensou no cansaço, nem nas horas que tinham passado sem comer, nem na falta de provisões e na impossibilidade de obtê-las. As palavras de Jesus tinham cativado a todos e ninguém se lembrou da fome nem da hora de regressar. Mas Jesus compreende nossas necessidades materiais, e por isso compadeceu-se também dos corpos exaustos daqueles que o tinham seguido. E realiza o esplêndido milagre da multiplicação dos pães e dos peixes.

Depois de mandar que se sentassem na relva, Jesus, tomando os cinco pães e os dois peixes, levantando os olhos ao Céu, pronunciou a bênção e, partindo os pães os deu aos discípulos e os discípulos às multidões. Todos comeram até ficarem saciados. O Senhor cuida dos seus, dos que O seguem!

O relato do Milagre começa com as mesmas palavras e descreve os mesmos gestos com que os Evangelhos e São Paulo nos transmitem a instituição da Eucaristia (Mt 26, 26; Mc 14, 22; Lc 22, 19; 1Cor 11, 25). Esse milagre, além de ser uma manifestação da misericórdia divina de Jesus para com os necessitados, era figura da Sagrada Eucaristia, da qual o Senhor falaria pouco depois, na sinagoga de Cafarnaum ( Jo 6, 26 – 59). Assim o interpretaram muitos Padres da Igreja. O olhar orienta -se para a Eucaristia, o perpetuar- se deste dom: Cristo faz – se Pão de Vida para os homens. Santo Agostinho comenta assim: “Quem, a não ser Cristo, é o Pão do Céu? Mas para que o homem pudesse comer o Pão dos Anjos, o Senhor dos anjos fez-se homem. Se isso não se tivesse realizado, não teríamos o seu Corpo; sem termos o Corpo que lhe é próprio, não comeríamos o Pão do Altar” ( Sermão 130, 2 ). A Eucaristia é o grande encontro permanente do homem com Deus, em que o Senhor se faz nosso alimento, em que se oferece a Si próprio para nos transformar n’Ele mesmo.

O milagre daquela tarde junto do lago, manifestou o poder e o amor de Jesus pelos homens. Poder e amor que hão de possibilitar também, ao longo da história, que o Corpo de Cristo seja encontrado, sob as espécies sacramentais, pelas multidões dos fiéis que O procurarão famintas e necessitadas de consolo. Como diz São Tomás de Aquino: “… tomam-no um, tomam-no mil, tomam-no este ou aquele, mas não se esgota quando O tomam…”.

Se só repartir resolvesse, já não haveria mais fome no mundo. Se Jesus fez tantos outros milagres como a cura de cegos, surdos e tantos mais, por que não poderia multiplicar os pães? É curioso que o termo “multiplicação” não esteja presente no texto deste trecho do Evangelho. O que, em vez, está no texto é a palavra “repartiu”. Mas pelo tanto de comida que havia – poucos pães e peixes, nossa lógica nos obriga a pensar que Ele primeiro multiplicou, para depois dividir entre todos. Cristo tem o poder não só de multiplicar os pães, mas também todos os dons materiais e espirituais que achar necessário.

Vimos no relato do milagre que aquelas pessoas até se esqueceram da comida para não perderem o contato com Jesus. Peçamos a graça de sempre procurarmos o Mestre, desejar recebê-Lo na Eucaristia. Nós O encontramos na Sagrada Comunhão. Ele nos espera a cada um! Não fica na expectativa de que lhe peçamos alguma coisa: antecipa-se e cura-nos das nossas fraquezas, protege-nos contra os perigos, contra as vacilações que pretendem separar-nos dEle, e dá vida ao nosso caminhar. Cada Comunhão é uma fonte de graças, uma nova luz e um novo impulso que, às vezes sem o notarmos, nos dá fortaleza para enfrentarmos com garbo humano e sobrenatural a vida diária, a fim de que os nossos afazeres nos levem até Ele.

Peçamos ao Senhor que nos faça redescobrir a importância de nos alimentarmos não só de Pão, mas de Verdade, de Amor, de Cristo, do Corpo de Cristo, participando fielmente e com grande consciência na Eucaristia, para estarmos cada vez mais intimamente unidos a Ele. Com efeito, “não é o Alimento Eucarístico que se transforma em nós, mas somos nós que acabamos misteriosamente mudados por Ele. Cristo alimenta-nos, unindo-nos a Si; ‘atrai-nos para dentro de Si’” ( Exortação Apostólica Sacramentum Caritatis, 70 ).

Jesus, realmente presente na Sagrada Eucaristia, dá a este sacramento uma eficácia sobrenatural infinita. A Santíssima Eucaristia é a doação máxima que Jesus Cristo fez de si mesmo, revelando-nos o amor infinito de Deus por cada homem. Na Eucaristia, Jesus não dá “alguma coisa”, mas dá-se a Si mesmo; entrega o seu corpo e derrama o seu sangue. Graças à Eucaristia, a Igreja renasce sempre de novo! Quanto mais viva for a fé eucarística no povo de Deus, tanto mais profunda será a sua participação na vida eclesial por meio de uma adesão convicta à missão que Cristo confiou aos seus discípulos.

Na segunda leitura, Paulo lembra aos crentes algumas exigências da vida cristã. Recomenda-lhes, especialmente, a humildade, a mansidão e a paciência: são atitudes que não se coadunam com esquemas de egoísmo, de orgulho, de auto-suficiência, de preconceito em relação aos irmãos.

Jesus é, além de Salvador, Nosso Mestre. Além de fazer milagres, como o da multiplicação dos pães, preocupou-Se em nos ensinar a recolher e guardar os pedaços que sobraram. A lição que quis nos dar é a de que não podemos viver somente de milagres. Cristo não é um mágico a quem recorremos em cima da hora dos nossos compromissos para que Ele dê uma solução fantástica e imediata. Diante deste texto sagrado da Liturgia de hoje nós deveríamos nos perguntar se estamos tendo fé suficiente a fim de acreditarmos que Jesus, Nosso Senhor, tem poder para nos dar Seus dons em abundância e se cuidamos destes dons colocando-os a serviço da Igreja e da humanidade.

Durante cinco domingos seguidos lemos no capítulo seis de São João, onde se narra o discurso-catequese de Jesus sobre o Pão da vida. João é o teólogo da Eucaristia. A vida cristã tem o seu centro na Eucaristia. Sem a Eucaristia não podemos viver. A Eucaristia exige e nos compromete a compartilhar também os nossos diversos pães com os irmãos: “Dai-lhes vós mesmos de comer”. Sim, dar o nosso pão para o povo (1ª leitura). E dá-lo com humildade, amabilidade, compreensão (2ª leitura).