segunda-feira, 5 de março de 2012

Orientação ou confusão sexual?


O fato não obteve a divulgação que merecia, como acontece cada vez que uma notícia contraria os interesses de empresas ou instituições que controlam o poder econômico. Em abril de 2010, depois de anos de pesquisas clínicas e observações rigorosas, o Instituto “American College of Pediatricians”, dos Estados Unidos, divulgou uma série de estudos que determinam, de maneira inequívoca, que o desejo dos adolescentes de assumirem o sexo oposto constitui um estágio de desenvolvimento normal e temporário.

Em sua advertência às escolas e aos adultos responsáveis, a entidade pede que não se aproveite da indefinição que caracteriza a adolescência para estimular a confusão sexual: «A maior parte das crianças e dos adolescentes com Desordem de Identidade de Gênero perde essas tendências durante a puberdade – se este comportamento não for reforçado. Quando alguém estimula uma criança ou adolescente a se comportar ou ser tratado como se fosse de outro sexo, a confusão é reforçada e a criança fica condicionada a uma conduta dolorosa e sofrida sem necessidade».


Por sua vez, o Presidente do Instituto, Dr. Tom Benton, explica que «a adolescência é um período de agitação e efemeridade. Os adolescentes estão confusos sobre muitas coisas, começando pela orientação sexual e pela identidade de gênero, demonstrando-se particularmente vulneráveis às influencias do ambiente que os cerca».

Se tudo isso for verdade, pode-se imaginar a calamidade que é o assim denominado “kit-gay”, encomendado pelo Ministério da Educação para ser distribuído em todas as escolas públicas do país. Preparados e incentivados por entidades GLS (gays, lésbicas e simpatizantes), os vídeos e a cartilha são uma aberração destinada a minar os fundamentos da ética e da moral. Por detrás de uma fachada anti-homofóbica, o kit tenta incutir nas crianças e adolescentes a noção de que ser gay, lésbica e bissexual não é apenas perfeitamente normal, mas até mesmo “chique”. Pela oposição levantada por dezenas de instituições, o kit não chegou a ser distribuído, mas revela a força que as organizações gays adquiriram nestes últimos anos no Brasil e no mundo.

O pluralismo cultural e o relativismo ético solapam os alicerces da sociedade ao incentivar os adolescentes e os jovens a seguirem a orientação sexual que quiserem, sem se importar com normas e tradições legadas pela própria constituição espiritual, psíquica e biológica do ser humano. Mas, de acordo com esse princípio, nada impede que, num futuro próximo, até mesmo a pedofilia e a zoofilia sejam acolhidas como uma simples opção individual. Cada um é livre de fazer o que quiser, contanto que encontre aceitação e concordância da parte do parceiro...

A Igreja – “perita em humanidade”, como foi definida pelo Papa Paulo VI – não pode concordar com nada que avilte a dignidade humana. Mas, não se contenta em proibir e condenar, como atesta o “Catecismo da Igreja Católica”, publicado em 1997: «Um número não negligenciável de homens e de mulheres apresenta tendências homossexuais profundamente enraizadas. Esta inclinação objetivamente desordenada constitui, para a maioria, uma provação. Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á para com eles todo sinal de discriminação injusta. Estas pessoas são chamadas a realizar a vontade de Deus em sua vida e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as dificuldades que podem encontrar por causa de sua condição».

Frei Antônio Moser em seu volume “Casado ou solteiro, você pode ser feliz”, publicado em 2006, vai um pouco mais além e lembra que «a busca da identidade e o empenho na organização pessoal de acordo com esta identidade constituem um desafio ético primordial. Não é a tendência nem a orientação sexual que determinam a condição ética de uma pessoa, e sim o seu empenho em conhecer a própria identidade e organizar-se espiritual e afetivamente da melhor maneira possível. Isso vale tanto para as pessoas hétero quanto para os homossexuais. Ser hétero ou homo é adjetivo: ser pessoa humana, com vocação divina, é substantivo».

Assim – parafraseando o título de seu livro – todos podem ser felizes... se colocarem a sexualidade a serviço do amor, de acordo com o projeto de Deus.

Dom Redovino Rizzardo
Bispo de Dourados (MS)

sexta-feira, 2 de março de 2012

5º Encontro com os jornalistas das Dioceses, Regionais e Organismos da CNBB


A Assessoria de Imprensa da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou ontem, 29 de fevereiro, a ficha de inscrição para o 5º Encontro com os Jornalistas das Dioceses, Regionais e Organismos Vinculados à CNBB.

Promotora do evento, a Assessoria de Imprensa já começou a receber as primeiras inscrições. Para dirimir algumas dúvidas mais frequentes dos participantes, este setor da CNBB resolveu divulgar algumas questões:


Valores

Não há taxas de inscrições para o Encontro. A hospedagem, transporte e alimentação correrão por conta do participante ou de quem o envia (Diocese, Regional ou Organismo). O valor total de hospedagem na Casa de Retiros Assunção é de 170 reais, referentes a duas (2) diárias completas, sexta/sábado e sábado/domingo até meio dia. As diárias completas contam com café da manhã, lanches, todas as refeições e pernoite. O pagamento deve ser feito diretamente ao responsável da Casa de Retiros Assunção. Os profissionais da Assessoria de Imprensa da CNBB, ou qualquer pessoa ligada a Conferência dos Bispos não receberá qualquer valor referente às despesas dos participantes.

Vagas

As vagas são limitadas para 50 pessoas. Os quartos da Casa de Retiros Assunção são duplos, ou seja, acomodações para duas pessoas em cada quarto. Não há a necessidade levar roupa de cama, pois será fornecida pela Casa de Retiros.

Autorização

O ponto indispensável a ser obedecido é que no envio da inscrição, o participante deve enviar também a autorização assinada por um bispo, autorizando sua inscrição. Sem essa autorização, o candidato não será considerado inscrito.

Ficha de Inscrição

Na ficha de inscrição, na categoria “Veículo”, o participante deve preencher o local em que trabalha: se é um jornal, revista, site, programa de TV, de rádio, relações públicas e assessoria de imprensa.
A ficha de inscrição segue no site da CNBB para download e deverá ser enviada, juntamente com a autorização do bispo, por fax ou e-mail aos cuidados de Janiery Alves – E-mail: imprensa5@cnbb.org.br - Fax (61) 2103-8303.

O encontro

O encontro acontecerá nos dias 23 a 25 de março de 2012, em Brasília e debaterá o tema: “Jornalismo em Rede: um desafio para a Igreja”. O tema mostra a necessidade de desenvolver um sistema de correspondentes, espalhados pelo país, produzindo notícias para veiculação nacional, no site e boletins da CNBB.

Palestrantes

Um dos palestrantes será o jornalista da Globo News, Sidney Rezende, um dos fundadores da Central Brasileira de Notícias (CBN) e primeiro editor-executivo desta rádio. O segundo palestrante convidado é o jornalista, professor de Web Jornalismo e Consultor de Comunicação em tempo integral, Antônio Danin Júnior.

O encontro terá início às 18h do dia 23/03 e término às 12h do dia 25/03.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

A Caminho da Páscoa


Com o Primeiro Domingo da Quaresma, entramos plenamente no período de conversão que nos conduzirá à Páscoa, ao encontro com Cristo Crucificado, Morto e Ressuscitado. Todos nós que percorremos a via quaresmal devemos passar por esse drama da existência humana, onde sofrimento purificador e restauração estão intrinsecamente vinculados. A passagem do evangelho de São Marcos, que a liturgia deste domingo nos oferece, mostra claramente essa realidade.

É um trecho breve: apresenta Cristo sendo “impelido para o deserto” e travando a batalha espiritual com o demônio, que culminará em sua vitória sobre o maligno e, também, o anúncio evangelizador através da pregação: “Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo; fazei penitência e crede no Evangelho.” (Mc 1, 15).

Na Primeira Leitura (Gn 9,8-15), estão as belíssimas palavras de Deus, que renova sua aliança com Noé e, através desse, com toda a humanidade: “Ponho o meu arco nas nuvens, para que ele seja o sinal da aliança entre mim e a terra.” (Gn 9, 13)

Deus faz uma aliança com Noé. Mas, ao lado das promessas de salvação, Ele, conhecendo a fragilidade humana, toma para si nossas dores. Será Seu filho a ser crucificado para resgatar de modo definitivo toda a humanidade. Deus se compraz de cada um de nós, conhece nossas fraquezas e nos resgata. Estabelece conosco a nova e eterna aliança em seu Filho, a ser contemplado no alto da Cruz. Agora, já não são as cores do arco-íris que vemos, mas água e sangue que jorram de seu peito transpassado. Eucaristia e batismo. Igreja e sacramento. Grão que morre para dar vida.

A água do dilúvio é uma prefiguração da água do Batismo. Esse sacramento nos transforma em filhos de Deus, nos faz Igreja. Somos da realeza divina, não para mandar, mas para servir e conduzir todas as criaturas a Deus. Assim, como nos indica São Pedro na Segunda Leitura (1Pd 3,18-22): “Também Cristo morreu uma vez pelos nossos pecados – o Justo pelos injustos – para nos conduzir a Deus.” (1 Pd 3, 18).

A aliança do Batismo é plena e, em Cristo, constitui a Igreja Peregrina. Ele nos dá seu Corpo, a Santa Eucaristia, para caminhar pelo deserto da vida. Ler a passagem que a liturgia nos oferece hoje, através do apóstolo Pedro, é realizar um verdadeiro mergulho na história. Mas uma imersão que nos permite renovar o presente. Estamos diante de um Hino Cristológico, uma catequese dedicada aos que estavam sendo introduzidos na fé.

Assim como Cristo foi lançado ao deserto após seu encontro com o Batista no Jordão, também nós, batizados, somos chamados a viver estes quarentas dias com Cristo no deserto, com a certeza de que sairemos vitoriosos. O objetivo desta batalha é renovar nossa aliança batismal, que o faremos liturgicamente na Vigília Pascal.

Só é possível transmitir aquilo que cremos, experimentamos, possuímos. E como nossa fé é fruto de um encontro, de ouvir a pregação, de acolher o dom do Espírito Santo, só poderemos ser luzes se deixarmos que Cristo transforme nossas vidas.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Pastoral da Sobriedade: Lixo Humano


O dependente de crack tem só uma vontade: fumar o tempo todo; enquanto ele definha, sua família e o Estado nada podem fazer, pois não há pena prevista. O projeto anticrack lançado pelo Governo Federal foi feito para ser descumprido, até porque as obras e serviços dos centros estão em desacordo com os recursos e prazos anunciados pelo governo, divergindo do que preceitua a ANVISA. A tradição do governo é não investir sequer as migalhas propagadas. O ex-presidente Lula garantiu R$ 124 milhões ao setor em 2010. Repassou apenas R$ 5,3 milhões. Para este ano, o governo reservou R$ 33,6 milhões e, até agora havia investido pouco mais de R$ 4 milhões. O montante prometido é mil vezes maior: R$ 4 bilhões, valor que reacende a vigilância dos atentos e aguça a ganância dos aliados. Em um aspecto, no entanto, o plano é plausível, ao tratar da internação sem consentimento do doente. Mas essa é exatamente a parte que vem sendo muito criticada por alguns juristas e uma parte da sociedade, por considerar o “tratamento na marra”. Com esse título, uma internação representaria um retrocesso de décadas, "perigoso" e inconstitucional. 


Na verdade, é o contrário. O dominado pelo vício tem uma única vontade: fumar pedras dia e noite. Para conseguir isso, ele gasta tudo, vende os bens que tem em casa, passa ao furto e ao tráfico. Enquanto definha, família e autoridades nada podem fazer, pois não há pena prevista na Lei de Drogas nem na da reforma psiquiátrica, a 10.216/01. Para quem defende a decisão da vítima, o Estado não deve se intrometer se ela vai do tratamento diretamente para a boca de fumo encher o cachimbo. É a política do "se quiser morrer, que morra" ou do "resolveu entrar, resolva parar". Claro que quanto menor a interferência do Estado no dia a dia das pessoas, melhor. Mas a cracolândia é o oposto de qualquer símbolo de iniciativa própria. O poder público falha ao controlar a entrada das drogas e a sua circulação. Depois, em vez de sanar o erro, usufrui dele dizendo que se omite para assegurar ao craqueiro o direito de se matar. A existência das cracolândias em quase todas as cidades brasileiras, é uma negação das liberdades, conviver com ela é afirmar a vitória do banditismo, aceitá-la é sinônimo de covardia e incompetência. Em nome dessa liberdade sociológica, o paciente só fica na clínica se quiser. Mas ele não quer, pois a dependência é avassaladora. Tratar exige acompanhamento por tempo indefinido. Deixar o dependente se exaurir nas calçadas ou desistir dele em 72 horas é, sobretudo, desumano. A vida é o maior bem jurídico tutelado e a única coisa que viciados têm além da ânsia pelo crack, e que é cada vez maior e estimulada pela ausência do Estado; aquela, um fiapo envolto em molambos esquecidos para os quais o mesmo Estado diz "dane-se".

Brasil dá pena! Não pela beleza exuberante e cheia de sol tropical. Mas dá pena como trata seu povo de forma escusa e desigual. Minha ânsia é mostrar ao povo do desse País, que temos leis, mas não são aplicadas. Temos políticos, mas não têm ética. Temos cara e estigma de País de Primeiro Mundo, mas não sabemos administrar. Nossa constituição tem que ser modificada, ajustada para um mundo moderno, com leis que preservem em especial a nossa vida, a nossa cidadania e a segurança dessa nação e dessa população sofrida. Abramos os olhos!
Uma colaboração da Pastoral da Sobriedade – São Luis/MA
________________________________________
Fonte: http://www.arquidiocesedesaoluis.com.br/

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Programação do Lançamento da Campanha da Fraternidade 2012 e do Ano Jubilar


Acontece neste fim de semana (25/02) o Lançamento da Campanha da Fraternidade 2012, abertura do Ano Jubilar e Lançamento do Selo por ocasião dos 400 anos de Anúncio do Evangelho em Terras Maranhenses.




ROTEIRO PARA SOLENIDADE
Data: 25 de Fevereiro de 2012

14h30 – Animação e acolhida- Hasteamento da Bandeira e Hino Nacional
15h – Teatro
15h30 - Palavra do profissional de saúde
15h45 – Palavra de Dom Belisário
16h - Lançamento do selo (abertura do ano jubilar) – Diretor dos Correios e Telégrafos
16h15 – Coral 400 vozes
Hino de São Luís
Hino dos 400 anos
Musica popular
16h30 – Santa Missa


Lembramos também que a abertura da Campanha da Fraternidade Paroquial, será neste domingo, 26 de fevereiro, às 17h na Igreja Matriz. Não haverá missa à tarde nas comunidades N. S. Graças (forquilha) e N. S. Guadalupe (Recanto Stos. Dumont).

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

O sentido do Jejum na Quaresma


Embora o jejum seja uma prática muito antiga que faz parte da cultura religiosa de vários povos e o jejum praticado pelos cristãos tenha suas raízes na experiência do povo de Deus, muitas pessoas ainda tem dúvidas em relação a prática cristã. Para ajudar os leitores a entender o jejum, comum na Quaresma, a Voz de Nazaré conversou com Agostinho Filho. Confira:

Por que é importante para o cristão fazer Jejum durante a Quaresma?

Uma vez que se considerando a dignidade do homem e da condição decaída da humanidade, a mortificação corporal é encarada e aceita como um meio livremente escolhido para conseguir manter a sujeição das tendências naturais do homem aos interesses superiores do espírito. Entre essas mortificações corporais, encontra-se o jejum. É uma prática que remonta a experiência bíblica. O motivo espiritual do jejum também deve ser ressaltado, pois, “para uma vida de verdadeira glorificação de Deus os interesses do espírito devem ser antepostos aos interesses da natureza humana. Devido à tendência da natureza humana “decaída”, tal intento não se concretizará se o homem não tiver aprendido, através da força da graça redentora de Cristo, a vencer-se a si mesmo. Ora, um desses meios de mortificação é precisamente o jejum. Eis a exortação de São Pedro Crisólogo, bispo (Séc. IV): “homem a Deus a tua alma, oferece a oblação do jejum, para que seja uma oferenda pura, um sacrifício santo, uma vítima viva que ao mesmo tempo permanece em ti e é oferecida a Deus. Quem não dá isto a Deus não tem desculpa, porque todos podem se oferecer a si mesmos”, exorta-nos o bispo São Pedro Crisólogo (séc. IV). Além de que, a Igreja não recomenda somente o jejum neste tempo quaresmal; fazem parte da vida de mortificação e penitência dos cristãos a oração e a esmola (caridade feita a outro) (cf. Tb 12, 8; Mt 6, 1-18), que exprimem a conversão com relação a si mesmo, a Deus e aos outros. 

Por que a Igreja orienta a abstinência de carne às quartas e sextas-feiras da Quaresma?

Os mandamentos da Igreja situam-se nesta linha de uma vida moral ligada à vida litúrgica e que dela se alimenta[5]. O quarto mandamento que a Santa Igreja dispõe aos seus filhos que peregrinam na fé, é o de “Jejuar e abster-se de carne”. Este preceito “determina os tempos de ascese e penitência que nos preparam para as festas litúrgicas; contribuem para nos fazer adquirir o domínio sobre os nossos instintos e a liberdade de coração[6]. Para a Igreja, não somente na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira da Paixão do Senhor é que se deve jejuar, mas toda sexta-feira deve-se buscar a abstinência de carne, segundo as orientações da Igreja no Brasil[7]. O tempo da Quaresma e cada sexta-feira em memória da Paixão e Morte de Nosso Senhor, são momentos singulares para que os fiéis pratiquem a penitência[8]; é um tempo de graça favorável para crescer no amor a Deus e melhorar sua vida espiritual com “apropriados exercícios espirituais, liturgias penitenciais, peregrinações em sinal de penitência, via sacras, privações voluntárias como o jejum e a esmola, à partilha fraterna”[9]

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

O Tempo da Quaresma


Aqui resolvemos abordar a questão sobre o Tempo da Quaresma: aspectos litúrgicos, orientações e significado simbólico e real. Esperamos que a leitura deste texto nos ajude a vivenciar uma quaresma melhor nas casas e nas comunidades religiosas. Que sirva também de orientação para as equipes de liturgia.

1. Um tempo com características próprias.

A Quaresma é o tempo que precede e dispõe à celebração da Páscoa. Tempo de escuta da Palavra de Deus e de conversão, de preparação e de memória do Batismo, de reconciliação com Deus e com os irmãos, de recurso mais freqüente às “armas da penitência cristã”: a oração, o jejum e a esmola (ver MT 6,1-6.16-18).

De maneira semelhante como o antigo povo de Israel partiu durante quarenta anos pelo deserto para ingressar na terra prometida, a Igreja, o novo povo de Deus, prepara-se durante quarenta dias para celebrar a Páscoa do Senhor. Embora seja um tempo penitencial, não é um tempo triste e depressivo. Trata-se de um tempo especial de purificação e de renovação da vida cristã para poder participar com maior plenitude e gozo do mistério pascal do Senhor.

A Quaresma é um tempo privilegiado para intensificar o caminho da própria conversão. Este caminho supõe cooperar com a graça, para dar morte ao homem velho que atua em nós. Trata-se de romper com o pecado que habita em nossos corações, nos afastar de todo aquilo que nos separa do Plano de Deus, e por conseguinte, de nossa felicidade e realização pessoal.
A Quaresma é um dos quatro tempos fortes do ano litúrgico e isso deve ver-se refletido com intensidade em cada um dos detalhes de sua celebração. Quanto mais forem acentuadas suas particularidades, mais frutuosamente poderemos viver toda sua riqueza espiritual.

Portanto é preciso se esforçar, entre outras coisas:

- Para que se capte que neste tempo são distintos tanto o enfoque das leituras bíblicas (na Santa missa praticamente não há leitura contínua), como o dos textos eucológicos (próprios e determinados quase sempre de modo obrigatório para cada uma das celebrações).

- Para que os cantos, sejam totalmente distintos dos habituais e reflitam a espiritualidade penitencial, própria deste tempo.

- Por obter uma ambientação sóbria e austera que reflita o caráter de penitencia da Quaresma.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Redescobrir a oração


A oração é um exercício fundamental na busca pela qualidade de vida. Nas indicações que não podem faltar, especialmente para a vida cristã, estão a prática e o cultivo disciplinado da oração. É um exercício que tem força incomparável em relação às diversas abordagens de autoajuda, como livros e DVDs, muito comuns na atualidade.

A crise existencial contemporânea, em particular na cultura ocidental, precisa redescobrir o caminho da oração para uma vida de qualidade. Equivocado é o entendimento que pensa a oração como prática exclusiva de devotos. A oração guarda uma dimensão essencial da vida cristã. Cultivar essa prática é um segredo fundamental para reconquistar a inteireza da própria vida e fecundar o sentido que a sustenta.

É muito oportuno incluir entre as diversificadas opiniões, junto aos variados assuntos discutidos cotidianamente, o que significa e o que se pode alcançar pelo caminho da oração. Perdê-la como força e não adotá-la como prática diária é abrir mão de uma alavanca com força para mover mundos. A fé cristã, por meio da teologia, tem por tradição abordar a importância da oração ao analisar a sua estrutura fundamental, seus elementos constitutivos, suas formas e os modos de sua experiência. Trata-se de uma importante ciência e de uma prática rica para fecundar a fé.


A oração tem propriedades para qualificar a vida pessoal, familiar, social e comunitária. Muitos podem desconhecer, mas a oração pode ser um laço irrenunciável com o compromisso ético. É prática dos devotos, mas também um estímulo à cidadania. Ao contrário de ser fuga das dificuldades, é clarividência e sabedoria, tão necessários no enfrentamento dos problemas. Na verdade, a oração faz brotar uma fonte interior de decisões, baseadas em valores com força qualitativa.

A oração como prática e como inquestionável demanda, no entanto, passa, por razões socioculturais, por uma crise. Aliás, uma crise numa cultura ocidental que nunca foi radicalmente orante. O secularismo e a mentalidade racionalista se confrontam com aspectos importantes da vida oracional, como a intercessão e a contemplação. Diante desse cenário, é importante sublinhar: paga-se um preço muito alto quando se configura o caminho existencial distante da dimensão transcendente. O distanciamento, o desconhecimento e a tendência de banir o divino como referencial produzem vazios que atingem frontalmente a existência.

É longo o caminho para acertar a compreensão e fazer com que todos percebam o horizonte rico e indispensável da oração. Faz falta a clareza de que existem situações e problemas que a política, a ciência e a técnica não podem oferecer soluções, como o sentido da vida e a experiência de uma felicidade duradoura. A oração é caminho singular. É, pois, indispensável aprender a orar e cultivar a disciplina diária da oração. Tratar-se de um caminhar em direção às raízes e ao essencial. Nesse caminho está um remédio indispensável para o mundo atual, que proporciona mais fraternidade e experiências de solidariedade.

A lógica dominante da sociedade contemporânea está na contramão dessa busca. Os mecanismos que regem o consumismo e a autossuficiência humana provocam mortes. Sozinho, o progresso tecnológico, tão necessário e admirável, produz ambiguidades fatais e inúmeras contradições. Orar desperta uma consciência própria de autenticidade. Impulsiona à experiência humilde do próprio limite e inspira a conversão. É recomendação cristã determinante dos rumos da vida e de sua qualidade. A Igreja Católica tem verdadeiros tesouros, na forma de tratados, de estudos, de reflexões, e de indicações para o cultivo da oração, que remetem à origem do cristianismo, quando os próprios discípulos pediram a Jesus: “Ensina-nos a orar”. É uma tarefa missionária essencial na fé, uma aprendizagem necessária, um cultivo para novas respostas na qualificação pessoal e do tecido cultural sustentador da vida em sociedade.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo

Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte - MG