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sexta-feira, 13 de abril de 2012

NOTA DA CNBB - Sobre o aborto de Feto "Anencefálico".


Referente ao julgamento do Supremo Tribunal Federal sobre a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 54

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB lamenta profundamente a decisão do Supremo Tribunal Federal que descriminalizou o aborto de feto com anencefalia ao julgar favorável a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental n. 54. Com esta decisão, a Suprema Corte parece não ter levado em conta a prerrogativa do Congresso Nacional cuja responsabilidade última é legislar.

Os princípios da “inviolabilidade do direito à vida”, da “dignidade da pessoa humana” e da promoção do bem de todos, sem qualquer forma de discriminação (cf. art. 5°, caput; 1°, III e 3°, IV, Constituição Federal), referem-se tanto à mulher quanto aos fetos anencefálicos. Quando a vida não é respeitada, todos os outros direitos são menosprezados, e rompem-se as relações mais profundas.


Legalizar o aborto de fetos com anencefalia, erroneamente diagnosticados como mortos cerebrais, é descartar um ser humano frágil e indefeso. A ética que proíbe a eliminação de um ser humano inocente, não aceita exceções. Os fetos anencefálicos, como todos os seres inocentes e frágeis, não podem ser descartados e nem ter seus direitos fundamentais vilipendiados!

A gestação de uma criança com anencefalia é um drama para a família, especialmente para a mãe. Considerar que o aborto é a melhor opção para a mulher, além de negar o direito inviolável do nascituro, ignora as consequências psicológicas negativas para a mãe.   Estado e a sociedade devem oferecer à gestante amparo e proteção.

Ao defender o direito à vida dos anencefálicos, a Igreja se fundamenta numa visão antropológica do ser humano, baseando-se em argumentos teológicos éticos, científicos e jurídicos. Exclui-se, portanto, qualquer argumentação que afirme tratar-se de ingerência da religião no Estado laico. A participação efetiva na defesa e na promoção da dignidade e liberdade humanas deve ser legitimamente assegurada também à Igreja.

A Páscoa de Jesus que comemora a vitória da vida sobre a morte, nos inspira a reafirmar com convicção que a vida humana é sagrada e sua dignidade inviolável.

Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, nos ajude em nossa missão de fazer ecoar a Palavra de Deus: “Escolhe, pois, a vida” (Dt 30,19).

Cardeal Raymundo Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida
Presidente da CNBB

Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário Geral da CNBB

sexta-feira, 23 de março de 2012

Hoje o Crucifixo. Amanhã?


Muitas pessoas estão perplexas com os ataques à fé cristã, aos símbolos religiosos e ao próprio Deus.

Acontece que os ateus modernos e os agnósticos se organizaram para extirpar a idéia de Deus da humanidade.

Para alcançar este objetivo procuram destruir as religiões e as organizações religiosas. Por isso semeiam, especialmente nas universidades, a antipatia às Igrejas e às autoridades religiosas.

Naturalmente não faltam exemplos de pecado e de desrespeito aos direitos humanos na história das religiões. Mas ocultam a cultura e o contexto em que tudo aconteceu, fazendo crer que hoje é a mesma coisa. “Como era no princípio, agora e sempre”!

Na Alemanha, os ateus e os agnósticos se organizam na “Fundação Giordano Bruno”. No Brasil, na ATEA (Associação dos Ateus e Agnósticos).

Ensaios de ataques aos símbolos religiosos não faltam. Faz pouco tempo as autoridades da Baviera mandaram retirar os crucifixos das escolas de Munique (Alemanha). Mais de um milhão de pessoas protestaram nas ruas de Munique contra a decisão. As autoridades voltaram atrás.

Na Itália, uma senhora pediu a retirada dos crucifixos dos espaços públicos “porque isto lhe causava fastio”.

O Conselho de Ministros da Itália respondeu que o crucifixo é um símbolo da cultura da absoluta maioria do povo italiano. Aquela senhora apelou ao Parlamento Europeu. Após algumas dúvidas, Comissão de Direitos Humanos do Parlamento Europeu considerou acertada a decisão do Conselho de Ministros da Itália.

Em Porto Alegre, a pedido de duas organizações da sociedade, o Conselho de Magistratura do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul acolheu o pedido e mandou retirar o crucifixo dos espaços do judiciário gaúcho.

O que faremos? Primeiro, levar o ateísmo a sério. O Concílio Vaticano II afirmou em 1965 (GS nº 76) que “o ateísmo é um gravíssimo problema de nosso tempo”. Além do mais, “a comunidade política e a Igreja são independentes e autônomas uma da outra” cada uma no campo específico.

Por isso aconselha o diálogo, do qual ninguém fica excluído “nem aqueles que se opõem à Igreja e a perseguem de várias maneiras”.


Na Albânia, o Estado professou oficialmente o ateísmo. Fazer o sinal da cruz era proibido sob pena de morte. Mataram quase todos os padres. Um arcebispo da Albânia, ainda vivo, disse que o sinal da cruz, “só debaixo das cobertas”.

No Brasil, o Estado é laico. Isto é, o Estado não decide qual a fé que os brasileiros devem ou não devem professar. A decisão é do povo. O Estado deve respeitar a cultura do povo.

O Estado brasileiro assinou com a Santa Sé (Vaticano) um tratado internacional, no qual o Estado se compromete a respeitar e a fortalecer os símbolos religiosos católicos. O Estado vai honrar o tratado?

No Brasil, segundo o Fernando Capez, a presença do crucifixo nas repartições públicas é uma “situação consolidada”. Por quê agredir a fé da absoluta maioria do povo? Por quê favorecer a intolerância de pequenos grupos? Aonde isto tudo vai conduzir?

Talvez o diálogo pudesse levar a uma situação nova: que haja mais de um símbolo onde exista grande número de fiéis de outras religiões?

Finamente, nós cristãos, diante deste episódio, escapamos de um exame de consciência para ver a qualidade de nosso testemunho evangélico na sociedade.

Dom Sinésio Bohn
Bispo Emérito de Santa Cruz do Sul

segunda-feira, 5 de março de 2012

Orientação ou confusão sexual?


O fato não obteve a divulgação que merecia, como acontece cada vez que uma notícia contraria os interesses de empresas ou instituições que controlam o poder econômico. Em abril de 2010, depois de anos de pesquisas clínicas e observações rigorosas, o Instituto “American College of Pediatricians”, dos Estados Unidos, divulgou uma série de estudos que determinam, de maneira inequívoca, que o desejo dos adolescentes de assumirem o sexo oposto constitui um estágio de desenvolvimento normal e temporário.

Em sua advertência às escolas e aos adultos responsáveis, a entidade pede que não se aproveite da indefinição que caracteriza a adolescência para estimular a confusão sexual: «A maior parte das crianças e dos adolescentes com Desordem de Identidade de Gênero perde essas tendências durante a puberdade – se este comportamento não for reforçado. Quando alguém estimula uma criança ou adolescente a se comportar ou ser tratado como se fosse de outro sexo, a confusão é reforçada e a criança fica condicionada a uma conduta dolorosa e sofrida sem necessidade».


Por sua vez, o Presidente do Instituto, Dr. Tom Benton, explica que «a adolescência é um período de agitação e efemeridade. Os adolescentes estão confusos sobre muitas coisas, começando pela orientação sexual e pela identidade de gênero, demonstrando-se particularmente vulneráveis às influencias do ambiente que os cerca».

Se tudo isso for verdade, pode-se imaginar a calamidade que é o assim denominado “kit-gay”, encomendado pelo Ministério da Educação para ser distribuído em todas as escolas públicas do país. Preparados e incentivados por entidades GLS (gays, lésbicas e simpatizantes), os vídeos e a cartilha são uma aberração destinada a minar os fundamentos da ética e da moral. Por detrás de uma fachada anti-homofóbica, o kit tenta incutir nas crianças e adolescentes a noção de que ser gay, lésbica e bissexual não é apenas perfeitamente normal, mas até mesmo “chique”. Pela oposição levantada por dezenas de instituições, o kit não chegou a ser distribuído, mas revela a força que as organizações gays adquiriram nestes últimos anos no Brasil e no mundo.

O pluralismo cultural e o relativismo ético solapam os alicerces da sociedade ao incentivar os adolescentes e os jovens a seguirem a orientação sexual que quiserem, sem se importar com normas e tradições legadas pela própria constituição espiritual, psíquica e biológica do ser humano. Mas, de acordo com esse princípio, nada impede que, num futuro próximo, até mesmo a pedofilia e a zoofilia sejam acolhidas como uma simples opção individual. Cada um é livre de fazer o que quiser, contanto que encontre aceitação e concordância da parte do parceiro...

A Igreja – “perita em humanidade”, como foi definida pelo Papa Paulo VI – não pode concordar com nada que avilte a dignidade humana. Mas, não se contenta em proibir e condenar, como atesta o “Catecismo da Igreja Católica”, publicado em 1997: «Um número não negligenciável de homens e de mulheres apresenta tendências homossexuais profundamente enraizadas. Esta inclinação objetivamente desordenada constitui, para a maioria, uma provação. Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á para com eles todo sinal de discriminação injusta. Estas pessoas são chamadas a realizar a vontade de Deus em sua vida e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as dificuldades que podem encontrar por causa de sua condição».

Frei Antônio Moser em seu volume “Casado ou solteiro, você pode ser feliz”, publicado em 2006, vai um pouco mais além e lembra que «a busca da identidade e o empenho na organização pessoal de acordo com esta identidade constituem um desafio ético primordial. Não é a tendência nem a orientação sexual que determinam a condição ética de uma pessoa, e sim o seu empenho em conhecer a própria identidade e organizar-se espiritual e afetivamente da melhor maneira possível. Isso vale tanto para as pessoas hétero quanto para os homossexuais. Ser hétero ou homo é adjetivo: ser pessoa humana, com vocação divina, é substantivo».

Assim – parafraseando o título de seu livro – todos podem ser felizes... se colocarem a sexualidade a serviço do amor, de acordo com o projeto de Deus.

Dom Redovino Rizzardo
Bispo de Dourados (MS)

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

A Caminho da Páscoa


Com o Primeiro Domingo da Quaresma, entramos plenamente no período de conversão que nos conduzirá à Páscoa, ao encontro com Cristo Crucificado, Morto e Ressuscitado. Todos nós que percorremos a via quaresmal devemos passar por esse drama da existência humana, onde sofrimento purificador e restauração estão intrinsecamente vinculados. A passagem do evangelho de São Marcos, que a liturgia deste domingo nos oferece, mostra claramente essa realidade.

É um trecho breve: apresenta Cristo sendo “impelido para o deserto” e travando a batalha espiritual com o demônio, que culminará em sua vitória sobre o maligno e, também, o anúncio evangelizador através da pregação: “Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo; fazei penitência e crede no Evangelho.” (Mc 1, 15).

Na Primeira Leitura (Gn 9,8-15), estão as belíssimas palavras de Deus, que renova sua aliança com Noé e, através desse, com toda a humanidade: “Ponho o meu arco nas nuvens, para que ele seja o sinal da aliança entre mim e a terra.” (Gn 9, 13)

Deus faz uma aliança com Noé. Mas, ao lado das promessas de salvação, Ele, conhecendo a fragilidade humana, toma para si nossas dores. Será Seu filho a ser crucificado para resgatar de modo definitivo toda a humanidade. Deus se compraz de cada um de nós, conhece nossas fraquezas e nos resgata. Estabelece conosco a nova e eterna aliança em seu Filho, a ser contemplado no alto da Cruz. Agora, já não são as cores do arco-íris que vemos, mas água e sangue que jorram de seu peito transpassado. Eucaristia e batismo. Igreja e sacramento. Grão que morre para dar vida.

A água do dilúvio é uma prefiguração da água do Batismo. Esse sacramento nos transforma em filhos de Deus, nos faz Igreja. Somos da realeza divina, não para mandar, mas para servir e conduzir todas as criaturas a Deus. Assim, como nos indica São Pedro na Segunda Leitura (1Pd 3,18-22): “Também Cristo morreu uma vez pelos nossos pecados – o Justo pelos injustos – para nos conduzir a Deus.” (1 Pd 3, 18).

A aliança do Batismo é plena e, em Cristo, constitui a Igreja Peregrina. Ele nos dá seu Corpo, a Santa Eucaristia, para caminhar pelo deserto da vida. Ler a passagem que a liturgia nos oferece hoje, através do apóstolo Pedro, é realizar um verdadeiro mergulho na história. Mas uma imersão que nos permite renovar o presente. Estamos diante de um Hino Cristológico, uma catequese dedicada aos que estavam sendo introduzidos na fé.

Assim como Cristo foi lançado ao deserto após seu encontro com o Batista no Jordão, também nós, batizados, somos chamados a viver estes quarentas dias com Cristo no deserto, com a certeza de que sairemos vitoriosos. O objetivo desta batalha é renovar nossa aliança batismal, que o faremos liturgicamente na Vigília Pascal.

Só é possível transmitir aquilo que cremos, experimentamos, possuímos. E como nossa fé é fruto de um encontro, de ouvir a pregação, de acolher o dom do Espírito Santo, só poderemos ser luzes se deixarmos que Cristo transforme nossas vidas.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Pastoral da Sobriedade: Lixo Humano


O dependente de crack tem só uma vontade: fumar o tempo todo; enquanto ele definha, sua família e o Estado nada podem fazer, pois não há pena prevista. O projeto anticrack lançado pelo Governo Federal foi feito para ser descumprido, até porque as obras e serviços dos centros estão em desacordo com os recursos e prazos anunciados pelo governo, divergindo do que preceitua a ANVISA. A tradição do governo é não investir sequer as migalhas propagadas. O ex-presidente Lula garantiu R$ 124 milhões ao setor em 2010. Repassou apenas R$ 5,3 milhões. Para este ano, o governo reservou R$ 33,6 milhões e, até agora havia investido pouco mais de R$ 4 milhões. O montante prometido é mil vezes maior: R$ 4 bilhões, valor que reacende a vigilância dos atentos e aguça a ganância dos aliados. Em um aspecto, no entanto, o plano é plausível, ao tratar da internação sem consentimento do doente. Mas essa é exatamente a parte que vem sendo muito criticada por alguns juristas e uma parte da sociedade, por considerar o “tratamento na marra”. Com esse título, uma internação representaria um retrocesso de décadas, "perigoso" e inconstitucional. 


Na verdade, é o contrário. O dominado pelo vício tem uma única vontade: fumar pedras dia e noite. Para conseguir isso, ele gasta tudo, vende os bens que tem em casa, passa ao furto e ao tráfico. Enquanto definha, família e autoridades nada podem fazer, pois não há pena prevista na Lei de Drogas nem na da reforma psiquiátrica, a 10.216/01. Para quem defende a decisão da vítima, o Estado não deve se intrometer se ela vai do tratamento diretamente para a boca de fumo encher o cachimbo. É a política do "se quiser morrer, que morra" ou do "resolveu entrar, resolva parar". Claro que quanto menor a interferência do Estado no dia a dia das pessoas, melhor. Mas a cracolândia é o oposto de qualquer símbolo de iniciativa própria. O poder público falha ao controlar a entrada das drogas e a sua circulação. Depois, em vez de sanar o erro, usufrui dele dizendo que se omite para assegurar ao craqueiro o direito de se matar. A existência das cracolândias em quase todas as cidades brasileiras, é uma negação das liberdades, conviver com ela é afirmar a vitória do banditismo, aceitá-la é sinônimo de covardia e incompetência. Em nome dessa liberdade sociológica, o paciente só fica na clínica se quiser. Mas ele não quer, pois a dependência é avassaladora. Tratar exige acompanhamento por tempo indefinido. Deixar o dependente se exaurir nas calçadas ou desistir dele em 72 horas é, sobretudo, desumano. A vida é o maior bem jurídico tutelado e a única coisa que viciados têm além da ânsia pelo crack, e que é cada vez maior e estimulada pela ausência do Estado; aquela, um fiapo envolto em molambos esquecidos para os quais o mesmo Estado diz "dane-se".

Brasil dá pena! Não pela beleza exuberante e cheia de sol tropical. Mas dá pena como trata seu povo de forma escusa e desigual. Minha ânsia é mostrar ao povo do desse País, que temos leis, mas não são aplicadas. Temos políticos, mas não têm ética. Temos cara e estigma de País de Primeiro Mundo, mas não sabemos administrar. Nossa constituição tem que ser modificada, ajustada para um mundo moderno, com leis que preservem em especial a nossa vida, a nossa cidadania e a segurança dessa nação e dessa população sofrida. Abramos os olhos!
Uma colaboração da Pastoral da Sobriedade – São Luis/MA
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Fonte: http://www.arquidiocesedesaoluis.com.br/

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Redescobrir a oração


A oração é um exercício fundamental na busca pela qualidade de vida. Nas indicações que não podem faltar, especialmente para a vida cristã, estão a prática e o cultivo disciplinado da oração. É um exercício que tem força incomparável em relação às diversas abordagens de autoajuda, como livros e DVDs, muito comuns na atualidade.

A crise existencial contemporânea, em particular na cultura ocidental, precisa redescobrir o caminho da oração para uma vida de qualidade. Equivocado é o entendimento que pensa a oração como prática exclusiva de devotos. A oração guarda uma dimensão essencial da vida cristã. Cultivar essa prática é um segredo fundamental para reconquistar a inteireza da própria vida e fecundar o sentido que a sustenta.

É muito oportuno incluir entre as diversificadas opiniões, junto aos variados assuntos discutidos cotidianamente, o que significa e o que se pode alcançar pelo caminho da oração. Perdê-la como força e não adotá-la como prática diária é abrir mão de uma alavanca com força para mover mundos. A fé cristã, por meio da teologia, tem por tradição abordar a importância da oração ao analisar a sua estrutura fundamental, seus elementos constitutivos, suas formas e os modos de sua experiência. Trata-se de uma importante ciência e de uma prática rica para fecundar a fé.


A oração tem propriedades para qualificar a vida pessoal, familiar, social e comunitária. Muitos podem desconhecer, mas a oração pode ser um laço irrenunciável com o compromisso ético. É prática dos devotos, mas também um estímulo à cidadania. Ao contrário de ser fuga das dificuldades, é clarividência e sabedoria, tão necessários no enfrentamento dos problemas. Na verdade, a oração faz brotar uma fonte interior de decisões, baseadas em valores com força qualitativa.

A oração como prática e como inquestionável demanda, no entanto, passa, por razões socioculturais, por uma crise. Aliás, uma crise numa cultura ocidental que nunca foi radicalmente orante. O secularismo e a mentalidade racionalista se confrontam com aspectos importantes da vida oracional, como a intercessão e a contemplação. Diante desse cenário, é importante sublinhar: paga-se um preço muito alto quando se configura o caminho existencial distante da dimensão transcendente. O distanciamento, o desconhecimento e a tendência de banir o divino como referencial produzem vazios que atingem frontalmente a existência.

É longo o caminho para acertar a compreensão e fazer com que todos percebam o horizonte rico e indispensável da oração. Faz falta a clareza de que existem situações e problemas que a política, a ciência e a técnica não podem oferecer soluções, como o sentido da vida e a experiência de uma felicidade duradoura. A oração é caminho singular. É, pois, indispensável aprender a orar e cultivar a disciplina diária da oração. Tratar-se de um caminhar em direção às raízes e ao essencial. Nesse caminho está um remédio indispensável para o mundo atual, que proporciona mais fraternidade e experiências de solidariedade.

A lógica dominante da sociedade contemporânea está na contramão dessa busca. Os mecanismos que regem o consumismo e a autossuficiência humana provocam mortes. Sozinho, o progresso tecnológico, tão necessário e admirável, produz ambiguidades fatais e inúmeras contradições. Orar desperta uma consciência própria de autenticidade. Impulsiona à experiência humilde do próprio limite e inspira a conversão. É recomendação cristã determinante dos rumos da vida e de sua qualidade. A Igreja Católica tem verdadeiros tesouros, na forma de tratados, de estudos, de reflexões, e de indicações para o cultivo da oração, que remetem à origem do cristianismo, quando os próprios discípulos pediram a Jesus: “Ensina-nos a orar”. É uma tarefa missionária essencial na fé, uma aprendizagem necessária, um cultivo para novas respostas na qualificação pessoal e do tecido cultural sustentador da vida em sociedade.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo

Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte - MG


terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Cardeal Willian Levada diz que Igreja combate a pedofilia


O Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, abrindo o simpósio internacional para bispos e superiores religiosos sobre o abuso sexual, esclareceu que existe o máximo empenho por parte do Papa, da Santa Sé e das Conferências episcopais para "encontrar as melhores maneiras para ajudar as vítimas, proteger os menores e formar os sacerdotes de hoje e de amanhã para que estejam conscientes desta chega e seja eliminada do sacerdócio".

Texto publicado pela Agência de notícias da Conferência Episcopal Italiana divulgado nesta terça, 7 de fevereiro, expressa que a Congregação para a Doutrina da Fé, também "sob a constante orientação do card. Joseph Ratzinger", assistiu a "um dramático aumento" do número de casos criminosos de abusos sexuais contra menores por parte de clérigos, também por causa da cobertura da mídia que estes escândalos tiveram no mundo todo. Nos últimos dez anos, chegaram até a Congregação vaticana mais de 4 mil casos de abusos sexuais contra menores e estes casos "revelaram, por um lado, uma resposta inadequada do Código de Direito Canônico a esta tragédia em por outro, a necessidade de uma resposta mais abrangente".


Em sua conferência, o Prefeito também lembrou o que o Papa fez neste setor, a partir d escândalo dos abusos sexuais que estourou nos EUA nos anos 2001 e 2002. "Quero expressar - disse dom Levada - a minha pessoal gratidão ao Papa Bento, que como prefeito, foi determinante" na aplicação de "novas normas para o bem da Igreja". "Mas o Papa - acrescentou - enfrentou duros ataques na mídia nos últimos anos em várias parte do mundo, quando, no entanto, deveria ter recebido a gratidão de todos nós, na Igreja e fora". Após este esclarecimento, o cardeal continuou sua intervenção abordando vários temas: desde a necessidade das vítimas de serem ouvidas à obrigação para a Igreja de ouvir e compreender "a gravidade daquilo que a vítimas sofreram". Desde a "proteção dos menores" nos vários setores da Igreja à formação dos candidatos ao sacerdócio, que devem ser submetidos a "um maior escrutínio".

Ainda na conferência, o Prefeito afirmou: "a colaboração da Igreja com as autoridades civis nestes casos reconhece a verdade fundamental que o abuso sexual contra os menores não é só um crime no direito canônico, mas também um crime que viola as leis penais na maior parte das jurisdições civis". No fina, porém, de sua relação, o cardeal quis terminar com uma observação: "É bom repetir. Aqueles que abusaram são uma pequena minoria de fiéis e leigos comprometidos. No entanto, esta pequena minoria provocou um grave dano às vítimas e à missão da Igreja".
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Fonte: http://www.cnbb.org.br/site/imprensa/noticias/8631-cardeal-willian-levada-diz-que-igreja-combate-a-pedofilia

Papa manda mensagem ao arcebispo do Rio de Janeiro sobre desabamento dos prédios


O recém-nomeado secretário da Congregação para os Bispos, dom Lorenzo Baldisseri, em correspondência enviada à arquidiocese do Rio de Janeiro, garante suas orações e transmite um telegrama enviado pela Santa Sé com uma mensagem do Santo Padre, o papa Bento XVI, à arquidiocese e a todo povo carioca pelo desabamento dos prédios do Centro da Cidade.

Leia a íntegra da mensagem do papa Bento XVI:


"Exmo Revmo Dom Orani João Tempesta, Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro.


Profundamente amargurado com trágicas consequências do desabamento de três edifícios nessa cidade que enlutou muitas famílias do querido povo carioca, Sua Santidade Papa Bento XVI quer afirmar-se espiritualmente presente nesta hora de prova assegurando preces de sufrágio pelos falecidos ao mesmo tempo que pede ao Senhor conforto e apoio para feridos e todos provados pela tragédia, sem esquecer pessoas que participam na obra de socorro e assistência, ao enviar-lhes uma propiciadora bênção apostólica.

Cardeal Tarcísio Bertone,
Secretário de Estado de Sua Santidade"

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Pagãos x Cristãos


No início do ano, nas semanas imediatas ao Natal do Senhor, refletimos as marcas dos primórdios do cristianismo. Aí detectando os enunciados do paganismo e do cristianismo. Não que sejam contrários, mas a passagem de um para o outro.

O nascimento de Jesus Cristo em Belém, num povoado quase desconhecido naquele tempo, trouxe impacto para o mundo pagão. O rei da Palestina, Herodes, ficou alarmado. Ele sentiu-se abalado em suas estruturas com a vinda de um novo rei.

Celebrar a Epifania (a manifestação) do Senhor é confrontar realidades totalmente diversas. De um lado, o poderoso e pagão Herodes; de outro, a visita de reis magos sensíveis ao que estava acontecendo; e ainda, Jesus é visto por Herodes como ameaça.

Houve o sinal de uma estrela que caminha e paira em Belém. Ali era o centro do mundo naquele momento. Ela não foi para Roma, capital do Império. Não foi para Jerusalém de Herodes, o centro de toda a Palestina. Belém representa a simplicidade.

O mundo pagão recebe a luz da estrela-guia para dizer que a verdadeira luz é Jesus Cristo. Apesar das atitudes do rei Herodes, com ações totalmente contra Jesus, inclusive mandando matar todas as crianças para eliminá-Lo, Jerusalém também recebeu a luz.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Natal: tristeza ou esperança?


Como todos lembram, em 2010, a solenidade do Natal foi celebrada num sábado. Portanto, dois dias seguidos de festas. E o que é que chamou a atenção de um site de Dourados, que acessei no final do dia 25? Eis as manchetes mais incisivas: “Véspera de natal termina com 47 mortos nas rodovias federais”. “Condutor embriagado é aprendido”. “Casal é vítima de tentativa de homicídio”. “Indígena é encontrada morta em aldeia”. “Homem assassina sogra e fere sogro”. “Mulher-bomba mata ao menos 41 em ataque no Paquistão”.

Por isso, talvez ninguém se admirou ou espantou ao se deparar, na segunda-feira, dia 27 de dezembro, com a manchete que um jornal da cidade encontrou para falar dos dois dias de festa: “Violência marca Natal em Dourados: polícia registrou seis tentativas de homicídio e o corpo de um jovem morto a tiros foi encontrado na Vila Valderez”.


No dia 12 de maio de 2007, Bento XVI visitou, em Guaratinguetá, a Fazenda da Esperança, uma organização presente em dezenas de países do mundo, a serviço da recuperação de dependentes químicos. Tocado pelo clima de serenidade e alegria que irradiava do rosto de milhares de jovens que se sentiam sanados pela comunhão fraterna que caracteriza as “Fazendas”, ele não hesitou em defini-los “embaixadores da esperança” num mundo que parece tê-la perdido. Significativo é que o Papa se dirige a pessoas que tinham acabado no fundo do poço. Mas, por acreditarem no amor de um Deus que é capaz de «mudar as pedras em filhos de Abraão» (Lc 3,8), eles se transformavam em embaixadores de uma esperança que não falha, porque alicerçada na «rocha, que é Cristo» (1Cor 10,4).

No dia anterior, durante o encontro com os bispos do Brasil na catedral de São Paulo, o Papa ressaltou a ligação profunda que existe entre a fé em Deus e a libertação humana: «Onde Deus e a sua vontade não são reconhecidos, onde não existe a fé em Jesus Cristo e na sua presença, falta também o essencial para a solução dos urgentes problemas sociais e políticos». Assim falando, ele repisava o que escrevera na Encíclica “A Caridade na Verdade”, em 2009: «O ser humano se desenvolve quando cresce no espírito, quando sua alma se conhece a si mesma e aprende as verdades que Deus nela imprimiu em gérmen, quando dialoga consigo mesma e com o seu Criador. Longe de Deus, o homem é inquieto e doente. Não há desenvolvimento pleno nem bem comum universal sem o bem espiritual e moral das pessoas, consideradas na sua totalidade de alma e corpo».

Distanciando-se de Deus, o homem também se distancia da felicidade pessoal e do desenvolvimento social e econômico da sociedade. Não terá sido por isso que o mesmo site douradense, entre as manchetes do dia 25 de dezembro, afirmava que “o sentimento de tristeza no Natal não é algo fora da normalidade”?

Contudo, verdade seja dita, tristeza no Natal é algo fora da normalidade, sim! Se ela existe, é porque, não poucas vezes, a festa se reduz a compras, viagens, farras e comilanças, onde o amor e o serviço aos irmãos nada significam: «Quem ama o seu irmão está na luz e não corre perigo de tropeçar; mas quem deixa seu irmão de lado caminha nas trevas e não sabe para onde vai» (1Jo 2, 10-11).

Não se pode negar: para que sejamos sustentados pela esperança, pela paz e pela alegria, precisamos viver em “estado de conversão” permanente. Foi o que lembrou Bento XVI, no dia 23 de maio de 2010, solenidade de Pentecostes: «A chama do Espírito Santo deve consumir as escórias que dificultam e corrompem o homem em suas relações com Deus e com o próximo. Este fogo divino, porém, nos assusta: com medo do fogo, preferimos permanecer no estado em que estamos. Isso acontece porque, muitas vezes, a nossa vida é governada pela lógica do ter e do possuir, ao invés do doar-se. Há pessoas que creem em Deus e admiram a figura de Jesus Cristo, mas quando se pede que abandonem algo de si mesmas, o medo das exigências da fé as faz recuar. Temem ter que renunciar a algo de bonito, ao que estão apegadas; temem que, seguindo a Cristo, se privem da liberdade, de certas experiências, de uma parte de si mesmas. Querem ficar com Jesus e segui-lo de perto, mas têm medo das conseqüências que o fato comporta».

                                                                      Dom Redovino Rizzardo, cs

Bispo de Dourados - MS


quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Padre Pietro Messa explica as razões do nascimento do Menino Jesus



O nascimento do Menino Jesus realmente mudou a história da humanidade? É verdade que os potentes e o povo entenderam imediatamente a importância daquele nascimento? Por que contamos os dias desde aquele nascimento? Que sentido tem na vida de cada um fazer o presépio?

 ***
Qual é o significado na história e no presépio feito por São Francisco, da figura do Menino Jesus?

Pe. Pietro Messa: Sabemos que os primeiros cristãos, sendo todos de religião hebraica, guardavam o sábado, mas o dia seguinte, ou seja, o atual domingo, se reuniam para lembrar a Ressurreição. Então, a primeira festa celebrada e aquela por excelência é a Páscoa. Sucessivamente, começaram a celebrar outros acontecimentos da vida de Jesus, como o seu nascimento no dia 25 de dezembro, isto é, o dia em que anteriormente celebravam o Sol invictus, ou seja, que não foram vencidos pelas trevas; visto que passado o solstício de inverno, os dias começam a ser mais longos e a luz toma conta da escuridão da noite. Da celebração passamos para as representações e a peregrinação a Belém, cidade do rei Davi de cuja linhagem nasceu Jesus.

As peregrinações - ao mesmo tempo, expressão e incentivo de ligação com os lugares da vida terrena de Jesus - foram motivos propulsores para a narração e representação da humanidade de Jesus. Neste contexto está o desejo de frei Francisco de Assis manifestado ao povo de Greccio em 1223,  de ver "com os olhos do corpo", como o Menino Jesus estava deitado na manjedoura entre o boi e o jumento. E assim, na noite de Natal sobre a manjedoura onde estavam os dois tradicionais animais, foi celebrada a Eucaristia para que pudéssemos ver "com os olhos do corpo", o pão e o vinho consagrados, e acreditar, graças ao espírito Santo, na presença do Corpo e Sangue de Cristo (para aprofundar cfr U.Occhialini-P.Messa, O primeiro presépio do mundo, Ed.Porziuncula, Assis 2011).

Em um âmbito secularizado como este moderno, o nascimento de Jesus Menino é banalizado e colocado no contexto de um "mito" que apenas as crianças podem acreditar. Por que, segundo os cristãos, aquele nascimento mudou o mundo?

Pe.Pietro Messa: Mas talvez a pior desmistificação do Natal não seja a de acreditar em um mito, mas o reducionismo do mesmo para a festa de bondade, do altruísmo, de ajuda aos necessitados. Não que essas coisas não sejam importantes ou presentes no Evangelho, mas o centro é o fato de que Jesus vem a nós porque fez a opção pela nossa pobreza. Ele estende sua mão até o momento em que seu braço é estendido na cruz. Como nos disse a Clarissa, irmã Clara Tarcisia do Promnastero de Santa Clara de Assis nos últimos meses de sua existência: "O importante na vida é amar, e, sobretudo deixar-se amar!". E o Natal é o tempo propicio para deixar-se amar e isso não gera passividade porque Jesus nos ama como somos; mas não nos deixa como somos, ao contrário, nos transforma em capacidade de amar de modo criativo e eficaz. Desta forma, o encontro com a sua Presença muda e dá início a uma nova humanidade.

Os cristãos falam de Jesus como o Salvador, por quê?

Pe.Pietro Messa: Jesus de Nazaré - uma cidade que, de acordo com alguns, não poderia vir nada de bom - passou pela Palestina e, como para outras pessoas, também sobre ele perguntavam quem era. As respostas a essa pergunta foram as mais variadas, mas quem não se fecha em seus próprios esquemas, nota que toda resposta é inadequada, ou melhor, inesgotável. E assim, devagar, cada vez mais se reconhece a sua realidade de Messias, ou seja, ungido pelo Altíssimo e então o Salvador. Mas sobre a pessoa de Jesus, ainda que obtenhamos algumas certezas definidas pelos dogmas, questões ainda se abrem e, como nos mostram os santos, há sempre algo a se maravilhar, isto é, para parar e olhar com estupor para Ele.

sábado, 12 de novembro de 2011

Os Talentos a nós confiados


Mais um ano litúrgico está terminando e celebramos neste final de semana o penúltimo domingo – o XXXIII - do Tempo Comum. Os textos da Palavra de Deus desta época nos levam ao tema das últimas coisas e nos fazem pensar sobre a parusia. E o apóstolo São Paulo nos traz de volta à realidade da nossa vida e de nossa existência aguardando a vinda do Senhor. No trecho da segunda leitura, tirada da primeira Carta aos Tessalonicenses (1Ts 5,1-6), fala-nos exatamente do dia do Senhor.

Há no texto um convite claro para a vigilância na espera desse encontro com o Senhor. Existem muitos que discursam sobre o final dos tempos marcando falaciosamente datas. Porém, para nós, o convite nos é dirigido para estarmos preparados cada dia. No início do mês celebramos a comemoração dos fiéis defuntos e rezamos nessa intenção. No domingo passado recordarmos com alegria os nossos irmãos que se encontram na visão beatífica, os santos, e nos alegramos com seus exemplos e intercessão. Porém, é fato também que existe uma cultura que tem causado violências e mortes em nossa sociedade e que nos questiona sobre o sentido que damos às nossas vidas. Essas celebrações e ocorrências nos ajudam a olhar com mais profundidade os nossos caminhos. Nestas terras da Jornada Mundial da Juventude, chamam a nossa atenção  algumas mortes precoces de jovens por causa da violência em nosso país, como por exemplo: pela violência oriunda da contravenção, as que ocorrem pelos acidentes de trânsito, as causadas pelos motoristas bêbados, e tantas outras em circunstâncias e detalhes que enchem as páginas de alguns jornais. Com a campanha “contra o extermínio de jovens”, somos chamados a pensar sobre nosso compromisso com a vida e com uma sociedade mais justa. É doloroso ver os nossos jovens enveredados por tantos caminhos que só levam à infelicidade e morte. Porém, diante de tantas ocorrências somos chamados a refletir sobre o último ato da nossa vida. Nossa vida de fé deve ser uma vida ativa e dinâmica, no sentido de que não podemos adormecer sobre a nossa condição, às vezes sem expressão clara da verdadeira fé.


O Evangelho deste domingo (cf. Mt 25,14-30) nos ajuda a examinar nossos caminhos porque fala dos frutos dos talentos recebidos. Deus nos deu uma importante missão, que devemos levar adiante e que identificamos como talentos. Temos o dever de trabalhar para a conquista do Reino de Deus e a sua propagação entre nós. Isso nos foi confiado pelo Senhor. A parábola dos talentos ajuda-nos a assumir um comportamento mais responsável sobre a fé, para vivê-la e repassá-la não somente pela palavra, mas, sobretudo, pelo exemplo de vida. Isso deve ser claro, especialmente para aqueles que vivem sobre o legado do passado, sobre os bens já feitos e executados imaginando que nada mais é necessário hoje. Devemos, porém, estar sempre vigilantes e ativos.

Deus vê o coração, a generosidade, o empenho, a dedicação, a vigilância, o compromisso de cada um de nós. Nessa perspectiva, é muito eficaz o que lemos na primeira leitura deste domingo (cf. Pr 31,10-13.19-20.30-31): o texto é retirado do livro de Provérbios, um dos livros sapienciais do Antigo Testamento, cheio de razões espirituais e morais. É claro que o padrão das mulheres fortes e trabalhadoras, honestas e generosas, que cuidam de sua beleza interior é um exemplo de vida para todos que se preocupam com o destino de sua felicidade terrena e eterna.

A leitura do Evangelho deste domingo mais uma vez insiste na vigilância ativa e sobre a responsabilidade corajosa que devem distinguir quem acolheu a mensagem da salvação. A parábola não deixa de ter um aspecto polêmico: Mateus, obviamente, estava pensando numa comunidade não muito comprometida, que adormece sobre os louros. O servo que se contentou em esconder o seu talento, servilmente fazendo o que ele pensa ser a tarefa do mestre, é chamado de "mau e preguiçoso".

A parábola vai bem além dos padrões morais que encontramos na primeira leitura. Não se trata apenas de valorizar os dons recebidos: o capital que o Senhor nos confiou é, antes de tudo, a Sua Palavra, que abre horizontes infinitos para as nossas vidas. É também a missão de evangelização, que se refere ao futuro da Igreja e do reino.

O homem da parábola representa o próprio Cristo, os servos são os discípulos e os talentos são os dons que Jesus lhes confia. Por isso, tais dons, além das qualidades naturais, representam as riquezas que o Senhor Jesus nos deixou em herança, para que as multipliquemos. E, em consequência, toda a transformação da sociedade na civilização do amor. Em síntese: o Reino de Deus, que é Ele mesmo, presente e vivo no meio de nós.

A parábola insiste na atitude interior com que acolher e valorizar este dom. A atitude errada é a do receio: o servo que tem medo do seu Senhor e teme o seu retorno, esconde a moeda debaixo da terra e ela não produz qualquer fruto. Isto acontece, por exemplo, com quem, tendo recebido o Batismo, a Comunhão e a Crisma, depois enterra tais dons debaixo de uma camada de preconceitos, sob uma falsa imagem de Deus, que paralisa a fé e as obras a ponto de atraiçoar as expectativas do Senhor.

A realidade salta aos nossos olhos: Sim, o que Cristo nos concedeu multiplica-se quando é doado! Cristo nos oferece, generosamente, um tesouro feito para ser despendido, investido, compartilhado com todos. A mensagem central da liturgia deste domingo diz respeito ao espírito de responsabilidade com que devemos acolher o Reino de Deus – responsabilidade em relação a Deus e à humanidade. Encarna perfeitamente esta atitude do coração a Virgem Maria que, recebendo o mais precioso dos dons, o próprio Jesus, ofereceu-O ao mundo com imenso amor. A Maria Santíssima peçamos que nos ajude a ser "servos bons e fiéis" para que possamos um dia, com júbilo, entrar e participar "na alegria do nosso Senhor, o Cristo Redentor".

Dom Orani João Tempesta, O. Cist.

Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro - RJ


sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Enfoque deslocado


Na mente de muitas pessoas ainda existe aquela convicção de que remédio bom tem que ser amargo. Este, sim, teria efeito garantido. O mesmo se diga sobre o uso legítimo do prazer do corpo.  Muitos acham que a busca do prazer físico, tem embutido em si um ressaibo pecaminoso. Esta maneira de pensar cria muitos culpados imaginários. Leva àquela falsa idéia do “eu não presto”.  Jesus, ao contrário, além de ter uma vida disciplinada, também aceitava participar de momentos de boas refeições e tomar bons vinhos. Isso não dava, no entanto, o direito aos seus inimigos de acusá-lo: “O Filho do Homem é um comilão e beberrão, amigo dos pecadores” (Lc 7, 34). Trata-se dos prazeres legítimos que Deus colocou à nossa disposição. O mundo civil, nos dias atuais, está muito bem equipado com ofertas de prazer.  Oferece abundância de comidas sofisticadas, até em linha popular; roupas de grande beleza; jóias variadíssimas;  remédios em abundância; drogas para esquecer as agruras da vida; festas para todos os gostos; exacerbação sexual. Parece que se está fixando o princípio de vida, comentado por São Paulo: “Comamos e bebamos, porque amanhã morreremos” (1 Cor 15, 32).
 
Mas não nos iludamos. Tudo na vida deve ter limites, que não podem ser ultrapassados: comida, festas, vida sexual, esportes. Estamos na civilização da abundância, onde as pessoas buscam sempre mais prazer. Mas as coisas boas precisam estar acompanhadas de disciplina, e até de sacrifício. Basta vermos o concurso que foi realizado, de Miss Universo. Procurou-se a “mulher mais linda do mundo”. Mas que enorme sacrifício que tiveram de enfrentar: pouca comida, muito exercício, concentração de várias semanas, obediência – sem discussão - aos organizadores... Tudo por um título efêmero. Podemos viver tranquilamente os prazeres legítimos da vida, sem traumas. Mas atenção! O salmista ensina: “Deus é o meu bem”  (Sl  16, 2).

Dom Aloísio Roque Oppermann scj

Arcebispo de Uberaba - MG


segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A Igreja e as Estatísticas

Dias atrás, quando fomos informados pelo Papa Bento XVI que a próxima Jornada Mundial da Juventude será realizada no Brasil, em 2013, a mídia, com base em pesquisa de 2009, divulgou notícia a respeito do aumento numérico de outros seguimentos religiosos não católicos, inclusive dos que optam por não ter nenhuma religião ou que preferem o ateísmo.

As jornadas mundiais da juventude têm demonstrado a ansiedade das novas gerações na busca de Jesus Cristo, reunindo milhões de rapazes e moças do mundo inteiro, formando, por uma semana, imensa comunidade juvenil sem limites geográficos, reunida ao redor do chefe visível da Igreja, pronta para ouvir a sua palavra e motivada a celebrar os Mistérios da fé, com entusiasmo e ao mesmo tempo com sensível espírito de concentração, silêncio sagrado, como ficou evidente em Madri.

As estatísticas brasileiras a respeito da mobilização religiosa são colocadas aos católicos como um desafio, provocando pergunta inevitável: quais têm sido as razões para este efeito?


Num primeiro momento, os dados colhidos em pesquisa não deixam de causar preocupação, uma vez que despertam a interrogação sobre as possíveis lacunas nos métodos evangelizadores. Porém, análise mais madura e serena provoca tranqüilidade. Levando-se em consideração que o método das pesquisas de 2009 foi questionável, o que gerou, na ocasião, abalizado artigo de protesto do Cardeal Dom Odilo Sherer, é curioso observar como as pesquisas não revelam o crescimento das comunidades católicas que tem provocado a criação de novas paróquias por todo o Brasil, novas comunidades e o crescimento inexplicável de movimentos eclesiais católicos que cada vez mais arrebanham pessoas desanimadas ou desiludias não só religiosamente, mas também com a situação existencial, para não falar das que perderam a fé nas correntes políticas no país. Influenciada pela mentalidade mercantilista de concorrência, muito própria dos regimes capitalistas, causando impressão que somente o critério da maioria é que vale, ou pela mentalidade totalitarista que imprime a crença na força do poder e a desastrosa crença que os fins justificam os meios, gerando violência para impor regimes políticos, as estatísticas pecam contra a verdade enquanto revelam apenas parte da situação.  O prejuízo fica ainda maior, se por trás das pesquisas houvesse interesses ideológicos contrários à religião ou a grupos que incomodem. A Igreja católica, já afirmou o Papa Bento XVI em Aparecida, cresce não por proselitismo, mas por atração. Ela, com sua experiência de dois mil anos de história, já aprendeu a não se assustar com as estatísticas e nem com as interpretações ingênuas. Ela também já aprendeu a reconhecer erros das pessoas humanas que fazem parte de sua comunidade e sabe fazer exame de consciência; sabe inclusive pedir perdão pelas falhas humanas, coisa que não se tem visto em outros grupos religiosos ou não, certamente conscientes que errar não é característica de um só grupo, mas do ser humano como tal. Há os que afoitamente e ingenuamente caem na tentação de prognosticar o fim da Igreja católica, como se fenômenos sociológicos fossem a última palavra em tudo. A história não dá saltos. Ela ensina aos que são mais aptos a realizar análises maduras.

Aos católicos tranqüilizo, recordando que esta situação estatística não é a pior pela qual já passamos. Dou um exemplo: no fim do século XVIII, Napoleão Bonaparte prognosticou o fim da Igreja, quando prendeu injustamente o Papa Pio VI, levando-o como se fosse um criminoso para a França, jogando-o literalmente numa masmorra e gritando como vitorioso: Pio VI e último. Conseguiram os anticlericais franceses da revolução que muitos que professavam a fé católica e inclusive alguns eclesiásticos abjurassem a fé cristã o que provocou profunda dor à Igreja. Mas a história andou por outros caminhos. Sendo eleito o Papa Pio VII em lugar de Pio VI que morreu na masmorra de Napoleão, foi o novo Papa também aprisionado pelo imperialista francês de forma humilhante e desumana. Contudo, em 1814, quando Napoleão perde a credibilidade e a força política, sendo extraditado da Franca, o Papa é liberto e volta para Roma, aclamado em todas as cidades e povoados por onde passava em viagem, glorioso, mas sem se prevalecer de sentimentos de revolta ou de argumentos políticos. A Igreja não se envolve com paixões políticas ou por espírito de disputa, mas age para divulgar a única verdade que vale a pena ser assumida de corpo e alma: Jesus Cristo e sua missão salvadora. Eis o que sempre ensinou a Igreja. Eis o que os jovens têm recebido nas Jornadas Mundiais da Juventude.

Dom Gil Antônio Moreira

Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora - MG


sábado, 10 de setembro de 2011

O 11 de Setembro

 
Em 2001 tivemos o triste fato da destruição das Torres Gêmeas nos Estados Unidos, ocasionando pânico em todo o mundo. Foi a expressão que revelou até que ponto chega a violência entre as pessoas. Como consequência, tivemos a ceifa de tantas vidas.

Diante de um acontecimento como esse, a sensação natural é de vingança. Parece até que não cabe aí a palavra “perdão”. A morte de Bin Laden foi consequência disto. No coração de muita gente brotou um sintoma de alívio, de corte do mal pela raiz.

Não só esse fato, mas sofremos tantos atos de violência todos os dias sejam nos assaltos, nos lares, no trânsito, na ação das quadrilhas defendendo pontos de venda de drogas etc. É sinal de que todos nós estamos na vulnerabilidade.

Fomos criados para a vida e a morte natural. Na verdade, a pessoa humana é patrimônio da humanidade. Não existe para ser objeto de violência e de vingança. Nos ensinamentos de Jesus Cristo, a felicidade passa pelo perdão, “até setenta vezes sete”.


Num mundo de violência e vingança, não é fácil entender o Mistério do Amor de Deus. É o Mistério do Perdão como gesto profundo de gratuidade. Não é a vingança por vingança, que causa cada vez mais violência, deixando o povo sem esperança.

O rancor e a raiva são coisas detestáveis, que prejudicam o relacionamento humano. O perdão é sempre mais forte do que a vingança. Conseguimos usufruir da vida se for na liberdade e no respeito mútuos, no saber entender a diversidade.

Só a justiça é capaz de construir relações novas e um mundo novo. Ela leva ao perdão de qualidade, a gestos de nobreza e de bênçãos de Deus. É a superação do “olho por olho e dente por dente”. Aquilo que as nações não têm conseguido fazer.

A morte e a destruição nos nivelam a todos. Só aí vão cessar o rancor e a raiva. O ensinamento de Deus se apóia na misericórdia e na capacidade do perdão em todas as circunstâncias.

Dom Paulo Mendes Peixoto

Bispo de São José do Rio Preto - SP


domingo, 21 de agosto de 2011

Jornada Mundial da Juventude (JMJ): DE MADRID PARA O RIO DE JANEIRO


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MADRI - Eram 11:39h (6:39h de Brasília) quando o papa Bento XVI, finalmente, anunciou o que todos os brasileiros esperavam: o Rio de Janeiro será sede da próxima Jornada Mundial da Juventude, em 2013. Assim que o papa fez o anúncio, os brasileiros, agitaram suas bandeiras e gritaram o nome “Brasil, Brasil”, que ecoou em meio aos quase dois milhões de pessoas que se reuniram para a missa de encerramento da 26ª JMJ no aeródromo Quatro Ventos, em Madri.
Um grupo de jovens brasileiros recebeu dos madrilenhos a Cruz e o ícone da Jornada, que percorrerão as dioceses de todo o Brasil. A chegada dos símbolos será em São Paulo, no próximo dia 18 de setembro.

Bento XVI chegou a Quatro Ventos ás 8:45h (hora local) e percorreu todo o aeródromo de papamóvel, sendo saudado pela multidão, que não se cansava de gritar seu nome e dizer: “Esta é a juventude do papa”. Cansado, mas feliz, o papa saudava a multidão que passou a noite no local em vigília, iniciada ontem pelo papa. A missa começou por volta das 9:30h.

Em sua homilia, o papa disse aos jovens que “não se pode seguir a Jesus sozinho”. “Quem cede à tentação de ir por sua conta ou de viver a fé segundo a mentalidade individualista, que predomina na sociedade, corre o risco de não de não encontrar nunca a Jesus Cristo, ou de seguir uma imagem falsa dele”, afirmou Bento XVI.



O papa pediu aos jovens que amem a Igreja e os incentivou a participarem nas paróquias, comunidades e movimentos e a participarem da missa aos domingos e se confessarem regularmente, além de uma assídua vida de oração. Ele lembrou que a Igreja não é uma "simples instituição humana, como outra qualquer, mas está "estreitamente unida a Deus".

Bento XVI pediu, ainda, que os jovens deem testemunho de sua fé no mundo. “O mundo necessita do testemunho de vossa fé, necessita certamente de Deus”. Ele os exortou a serem discípulos missionários de Jesus Cristo em outros países “onde há multidão de jovens que aspiram a coisas maiores”.

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O papa foi saudado, no final da missa, pelo presidente do Pontifício Conselho para os Leigos que repetiu o lema que mais se ouviu pelas ruas de Madri nesta Jornada: “Esta é a juventude do papa”, ao que os jovens responderam com longo aplauso.

Bento XVI fez também benzeu o crucifixo, que todos receberam em suas mochilas no início da Jornada. Ele entregou o crucifixo a cinco jovens e fez o envio de todos. Ao se despedir, reforçou o pedido para que os jovens sejam missionários. "Convido-vos a dar um testemuno destemido de vida cristã diante dos outros. Assim sereis fermento de novos cristãos e fareis com que a Igreja se levante robusta no coraçao de muitos", destacou.

Antes do embarque para Roma hoje, o papa tem breve encontro com os voluntários que trabalharam na jornada às 17:30h (hora local).  O embarque para a Itália está previsto para as 18:30h.


Fonte: http://www.cnbb.org.br/site/comissoes-episcopais/juventude/7394-jmj-de-madri-para-o-rio-de-janeiro