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segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Orientações da Igreja Católica para as eleições de outubro



A cartilha da CNBB, Regional Sul II, afirma que “O Brasil evoluiu bastante, nos últimos anos, na vida democrática. Os meios de comunicação mudaram completamente o panorama da propaganda política.

O voto eletrônico é seguro e rápido. Mas é incrível que tudo isso não foi suficiente para estancar os constantes escândalos da vida política, envolvendo dinheiro público, a cumplicidade entre políticos e criminosos, um mundo de fraudes, operações suspeitas, com muitos envolvidos e poucos punidos”.

A CNBB lembra a todos que “devemos saudar como grande avanço duas leis que foram aprovadas com assinaturas de milhões de brasileiros e que tivera o apoio da Igreja Católica”. Entre outras iniciativas é necessário lembrar como “por exemplo” a Lei 9840 contra a corrupção eleitoral, já que “a compra de votos já era qualificada como crime pelo Código Eleitoral, mas essa forma de corrupção quase sempre ficava impune, uma vez os políticos condenados eram punidos com a pena de prisão e multa, mas não eram declarados inelegíveis por falha da Legislação Eleitoral, o que gerava a indignação dos católicos”, ressalta a cartilha.


Seguindo a Doutrina social da Igreja, a CNBB faz uma leitura sociológica, onde ressalta que “em alguns lugares, sobretudo na área rurais, é comum os eleitores pedirem benefícios aos candidatos, quase como se isso fizesse parte da campanha eleitoral. Uma vez tendo recebido algo, os eleitores se sentem obrigados a “fazer aparecer” os votos nas urnas”.

Esse modo de proceder – segundo a cartilha de orientação – abre espaço para o abuso do poder econômico e falseia os resultados eleitorais. Além disso, essa prática é perversa: para aqueles que se elegem “comprando” votos.

Esse modo de proceder abre espaço para o abuso do poder econômico e falseia os resultados eleitorais. Uma grande parte da população brasileira tem pouco conhecimento da politica e das suas implicações; a quantidade de votos que podem ser “comprados” juntos a essa parcela da população pode ser decisiva numa eleição.

Para a CNBB, falando da compra de votos, afirma que “essa prática é perversa: para aqueles que se elegem “comprando” votos, torna-se distante o comprometimento com a realidade de miséria do povo e, por sua vez, tenderão a defender os interesses dos poderosos que patrocinam a sua campanha eleitoral.

Esse problema é mais grave ainda nas eleições em pequenos municípios onde para se eleger um vereador é necessária conquista de pouco eleitores, o que o torna “barato” para o político a “compra de votos” através, principalmente, de distribuição de cestas básicas e de combustível”, ressalta a nota.

Com a sanção da Lei 9840 o candidato ou candidata que oferecer dinheiro ou qualquer coisa em troca de voto, e o político que utilizar a estrutura da administração pública, como carros, salas ou prédios públicos, publicidade, espaços em eventos oficiais e verbas públicas também para conseguir voto, fica impedido de concorrer ou, se eleito, impedido de ocupar o cargo ou sujeito a cassação do mandato. Esta foi uma vitória na luta contra a corrupção.


** Este artigo tem como texto Base a Cartilha de Orientação Politica da CNBB, para as eleições municipais de 2012.
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*Por Daniel Baez Brizueña*

Em quem você vai votar?



Com os programas eleitorais pelo rádio e a TV, inicia a fase decisiva na campanha eleitoral para as eleições municipais de 2012. É a hora de conhecer melhor os candidatos, os programas e propostas de seus partidos e de fazer o discernimento para a escolha dos candidatos.
Estas eleições são importantes e merecem toda a atenção, pois nos municípios está a base da vida política nacional: ali está o povo que vota; vereadores e prefeitos darão, depois, o apoio aos candidatos a deputados estaduais, federais e governadores e à própria escolha do mandatário supremo do país. Sua importância maior, porém, está na gestão do poder local: escolher bem o prefeito e os vereadores é fundamental para a comunidade municipal.
Os candidatos farão a sua parte, nessas próximas semanas, para se apresentarem aos eleitores e para obter o seu voto. Também os eleitores deverão fazer a sua parte; vale a pena recordar alguns critérios para acompanhar a campanha eleitoral e para discernir sobre as escolhas a fazer. Abster-se de toda informação, votando em branco, ou escolhendo apenas na última hora não seria a coisa mais aconselhável.

É fundamental o conhecimento dos candidatos, sua história pessoal e seu preparo para assumir o cargo que pretendem exercer. E é necessário conhecer suas propostas e as de seus partidos, para avaliar se elas levam em conta as reais necessidades da população e do município. O Legislativo e Executivo municipal devem estar atentos às grandes questões que interessam à vida da cidade: educação, saúde, segurança pública, transporte, habitação, cuidado do meio ambiente, limpeza pública, saneamento básico; atenção especial merecem os pobres e as camadas sociais mais vulneráveis da cidade. Propostas com soluções mirabolantes e irreais devem receber a desconfiança do eleitor.
Infelizmente, a campanha eleitoral tem mostrado, com frequência, maior preocupação dos candidatos em “demolir” os adversários do que em apresentar aos eleitores propostas de governo dignas de fé e adequadas para o exercício do mandato pretendido. Os eleitores têm o direito de cobrar propostas dos candidatos e de esperar que eles estejam atentos às necessidades das comunidades locais.
Os bons políticos não podem estar atrelados apenas ao interesse de algum grupo, mas comprometidos com a promoção do bem comum. É necessário desconfiar de quem pede o voto, mas, depois de eleito, nunca mais se interessa pelas necessidades da população, em geral, e fica apenas a serviço de algum grupo de interesse. Nesse particular, vale a pena avaliar o desempenho político de quem pede para ser reeleito.
A corrupção na vida política é um grande mal e deve merecer uma atenção especial dos eleitores; a eleição é a grande chance de manter longe do poder quem não tem “ficha limpa”, ou já esteve envolvido em desonestidade, ou tem histórias pouco claras na gestão do poder público. Mais uma vez, é preciso conhecer os candidatos e conferir: ficha limpa e “cheia” de credibilidade...
A corrupção política pode começar na própria campanha eleitoral, quando há o abuso do poder econômico, ou se o candidato tenta “comprar” o voto dos eleitores, em troca de pequenos benefícios. Mas também os eleitores não devem “vender” seu voto, nem trocá-lo por favores, mas votar com liberdade e responsabilidade; o voto representa a dignidade pessoal, que nenhum preço paga. A compra de votos e outras formas de pressão sobre o eleitor devem ser denunciadas, com base na lei 9.840, como “crimes eleitorais”, cuja pena pode levar à perda do mandato.
Religião e política devem ficar distantes? Depende. O critério religioso não deve ser o mais importante; trata-se de escolher pessoas honestas e dignas, capazes de governar e legislar. Mas é bom verificar, se os candidatos respeitam a liberdade de consciência, as convicções religiosas e morais dos cidadãos, seus símbolos religiosos e a livre manifestação da fé; não vote em quem vai criar depois, de alguma forma, problemas para esses direitos. E apoie candidatos que protejam e amparem a família diante das ameaças à sua identidade e missão natural. A cidade que descuida ou abandona a família herdará muitos problemas.

Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo (SP)

sábado, 30 de junho de 2012

Pedro e Paulo, apóstolos


O dia 29 de junho é o dia da solenidade dos apóstolos São Pedro e São Paulo, colunas da Igreja, que no Brasil é transferida para o domingo seguinte, quando esse dia ocorrer durante a semana, para que todos possam participar da celebração eucarística. O domingo é “Dia do Senhor ressuscitado”, do qual os apóstolos foram testemunhas qualificadas da ressurreição de Jesus Cristo; domingo também é dia de ouvir a Palavra de Deus e de celebrar a Eucaristia, transmitidas a todos pelos apóstolos, e de professar a fé que nos reúne na mesma Igreja fundada sobre o testemunho apostólico. Nesta solenidade, somos convidados a louvar a Deus pela vida e a missão de São Pedro e São Paulo. Duas figuras tão diferentes, que, no entanto se uniram no testemunho de Cristo até a morte. Pedro, o homem volúvel e frágil, mas ao mesmo tempo decidido, recebe uma atenção especial de Cristo. Homem corajoso, que confessa sua fé em Cristo, disposto a acompanhá-lo em sua paixão, caminha sobre as águas, quer defender o seu Mestre, mas ao mesmo tempo tão frágil a ponto de trair o seu Mestre, negando conhecê-lo, por três vezes.


Mas é sobre esta fragilidade fundamentada na fé que Cristo edifica sua Igreja. Paulo, homem zeloso, que passou de perseguidor da Igreja a apóstolo totalmente dedicado à pregação do Evangelho. Temperamento forte e difícil, mas cresce no amor de Cristo, a ponto de poder dizer: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim”. A Solenidade de Pedro e Paulo nos dá ocasião para aprofundar o nosso amor à Igreja e a nossa missão aos povos. Em ambos vemos a nossa missão de discípulos missionários. Eles se doam totalmente à causa da Igreja. A esta mesma vocação somos todos chamados. Importa confiar no Senhor, buscando n’Ele a sua força. Então ainda hoje Deus há de intervir e guiar a Igreja. A nossa fé em Jesus Cristo passa pelos Apóstolos, passa pela Igreja. Cremos numa Igreja una, santa, católica e apostólica. Se Pedro é a coluna da unidade da Igreja e da comunhão na mesma fé, Paulo representa a dimensão missionária da Igreja, enviada para o meio dos povos para lhes comunicar sem cessar o Evangelho. “Ai de mim, se eu não evangelizar!”. Por ocasião desta Solenidade, celebramos o Dia do Papa. Unidos ao atual Sucessor de Pedro, o Papa Bento XVI, a exemplo dos primeiros cristãos que estavam unidos a Pedro, em oração, de modo especial, no momento em que ele mais sofria. “A Igreja rezava continuamente a Deus por ele” (At 12,5).

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Pedro e Paulo


Numa única festa celebramos a vida dos apóstolos Pedro e Paulo, porque os dois perseguiram um mesmo objetivo, o seguimento de Jesus Cristo, terminando no martírio. Pedro era muito ligado ao povo judeu, e Paulo, numa visão bem missionária, vai às demais nações de seu tempo. Além da força das suas palavras, eles foram verdadeiras testemunhas de fé e compromisso com Jesus Cristo.

Na convivência com o Mestre, esses dois apóstolos contribuíram na construção de uma consciência coletiva sobre a identidade da vivência cristã. Mas era preciso compreender quem era Jesus Cristo e qual o verdadeiro sentido de sua mensagem. Só a partir daí foi possível dar solidez ao projeto da construção do Reino.


Em Pedro e Paulo está assentada a Igreja, sendo eles as principais colunas de sua sustentação. É uma construção feita no meio das forças do antirreino, no mundo da maldade e de tudo que é desconstrução do bem e da vida das pessoas. É um processo que continua na história, enfrentando o mal da cultura moderna.
Ambos fizeram o caminho da libertação, tendo como fim, a condenação. Na dimensão do Reino de Deus, só consegue libertar quem é capaz de dar a vida por aquele que vive em situação de indignidade. Pedro morreu crucificado de cabeça para baixo, e Paulo, degolado, coincidente e curiosamente, em Roma, onde foram sepultados e tidos como marcos da Igreja.

Devemos entender que o martírio, por causa do Evangelho, é valorizado pela Igreja como autêntica oferta ou sacrifício. Fruto de um longo combate na fé e, ao mesmo tempo, confirma uma situação de vitória, por ser uma doação feita em nome de Deus. É consequência de um projeto assumido em vista do bem.

Não é fácil ter fidelidade em relação à vida, principalmente quando temos que enfrentar críticas e perseguições. Não conseguimos vencer por dizer muitas palavras, mas por ter uma vida marcada pelo testemunho de autenticidade na prática da fé e da vida cristã. O testemunho supõe determinação e coragem no que é assumido.

Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba (MG)

domingo, 24 de junho de 2012

Roubar de Padre é pecado?



Quando estou em casa, após a oração matinal, tenho o costume de acessar a internet e folhear os jornais para me inteirar das notícias que alimentam – ou destroem – a esperança e a vida das pessoas. Na segunda-feira, dia 30 de abril, chamaram-me particularmente a atenção três fatos relacionados com a religião.
Em São Paulo, quatro meliantes (dentre eles, duas menores) foram presos depois de obrigarem uma mãe e sua filha a acompanhá-los, durante três horas, enquanto faziam saques em diversas caixas eletrônicas. Ao mesmo tempo, talvez para não perder tempo (!), aproveitaram para assaltar pedestres e motoristas que encontravam pelo caminho. Um deles era padre. Mas, «foi poupado – transcrevo as palavras utilizadas pela imprensa – porque os criminosos acharam que, roubar de padre, é pecado».
No mesmo domingo, outro grupo de bandidos interrompeu um culto religioso numa igreja da Assembleia de Deus, em Caxias do Sul. Mataram um casal e feriram uma jovem. De acordo com a polícia, os criminosos invadiram o templo e ordenaram aos fiéis que deitassem no chão. Em seguida, atiraram contra o homem e a mulher, ambos com 46 anos e, aparentemente, sem nenhum antecedente criminal.
Por fim, no município piauiense de Coivaras, a 68 km de Teresina, uma professora aposentada conseguiu uma vaga na Câmara Municipal, após o Tribunal Regional Eleitoral do Piauí cassar o mandato de outra vereadora. Evangélica convicta, ao tomar posse, ela garantiu que chegou ao posto por “um chamado de Deus”.  Detalhe: nas eleições de 2008, ela obtivera um único voto, o seu...
Escrevi acima que os “três fatos estão relacionados com a religião”. Será verdade?


No primeiro caso, os assaltantes não roubam do padre porque é pecado. Se assim pensam, talvez sejam “cristãos”. Ou melhor, batizados, mas não evangelizados. Roubar é sempre pecado, independente da pessoa que é afetada. Provavelmente, para eles – somente para eles?! – o pecado esteja confinado ao sagrado: faltar à missa, tomar o nome de Deus em vão, não cumprir uma promessa, violar a lei do jejum, etc. Esquecem que, no Juízo Final, Jesus os julgará a partir do social, ou seja, do que fizeram – ou deixaram de fazer – aos irmãos necessitados, independentemente da religião, raça ou condição social de cada um. Com isso, não estou menosprezando os pecados que se cometem diretamente contra Deus, sem passar pelo irmão. Mas, existem esses pecados?!
No segundo episódio, o crime é cometido num templo. Diferentemente dos bandidos de São Paulo, os de Caxias do Sul não fazem nenhuma distinção entre sagrado e profano. Para quem é dominado pelo ódio, pela vingança ou pela ambição, pouco ou nada significam o lugar ou a pessoa em que satisfazem seus instintos. Que o digam os leitores que já passaram por suas mãos: são tratados como animais. Aliás, há seres humanos que superam de longe a ferocidade dos brutos. Obcecados pelo vício, eles nada buscam senão o seu prazer.
O terceiro fato – a da mulher que se diz vereadora por um chamado de Deus – me lembra os jogadores de futebol que, ao vencerem um jogo, exclamam: “Graças a Deus!”. Em caso de derrota, a quem atribuiriam a culpa? Quando uma pessoa recupera a saúde, agradece a Deus. Mas, quando não sara, a culpa é de Deus? Não sou masoquista, mas estou certo que amadurecemos muito mais lutando nas dificuldades do que acomodados no bem-estar: é nelas que aprendemos a solidariedade, a paciência e a misericórdia. Tinha razão Jó quando dizia à esposa: «Se aceitamos de Deus os bens, não devemos aceitar também os males?» (2,10). Infelizmente, não é o que acontece em algumas igrejas ditas “cristãs”: renegando as bem-aventuranças proclamadas por Jesus, apresentam um deus que debandou para o lado de quem está por cima.
«O Reino de Deus é justiça, paz e alegria no Espírito Santo», ensina São Paulo (Rm 14,17). É o trinômio que cria a sociedade sonhada por Deus e pelas pessoas de boa vontade. Mas, para «construir o Reino de Deus, é preciso enfrentar muitas tribulações» (At 14,22). Eis, então, o papel da religião: oferecer ao ser humano que, por natureza, «é corrupto e bebe a iniquidade como água» (Jó 15,16), os meios de que necessita para se transformar em protagonista dos «novos céus e da nova terra» (2Pd 3,13) que todos almejamos.
Dom Redovino Rizzardo
Bispo de Dourados (MS)

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Mandar Dizer



Entre dizer o que pensamos e dizer aquilo de que nos foi  incumbido pode haver a diferença no efeito do que se comunica. Por isso é que o profetismo só tem efeito transformador quando exercido com a missão ou o envio  outorgado por Deus. Hoje vemos, na comunicação, uma pluralidade imensa de propostas ou até condicionamentos para o enquadramento das pessoas, que podem tornar-se “cordeiros” ou realizadores do que é comunicado. Os efeitos podem ser danosos, principalmente no que tange a valores que podem ser massacrados em troca de atrativos pouco consistentes na realização de um projeto de vida autenticamente humano. O discernimento, com o adequado espírito crítico, ajuda as pessoas a não se deixarem levar por propostas ou condicionamentos que não as deixem optar por valores maiores.

O nascimento do grande profeta, João Batista,  precursor de Jesus, traz o realce do profetismo como vocação de anúncio do que vem de Deus: “E há de caminhar à frente deles, com o espírito e o poder de Elias, a fim de converter os corações dos pais aos filhos e os rebeldes à sabedoria dos justos, preparando para o Senhor um povo bem-disposto” (Lucas 1,17). As palavras de Jeremias já preanunciavam: “E tudo que eu te mandar dizer, dirás... Eis que ponho minhas palavras em tua boca” (Jeremias 1,7.9). João incitou o povo à mudança de vida para se adequar à nova vida trazida pelo Messias. Quem quiser aceitá-lo deve ter postura diferente do paganismo e do egoísmo. Não vale o “toma lá dá cá” ou o “cada um para si”. É preciso haver a nova atitude do amor, do interesse em executar a vontade de Deus. Ele quer uma vida digna para todos. O cuidado com o planeta terra deve ser uma constante de todos. O convívio fraterno, na justiça, na promoção do bem comum, no altruísmo, na doação de si pelo semelhante, na renúncia aos interesses mesquinhos de uns que abarcam para si o que seria de benefício de todos, na política de bons prestadores de serviço ao povo, na profissão exercida para o melhor serviço à coletividade, na família assumida como valor, vocação e missão de dar base de sustentação ao amor humano e à boa convivência de pais e filhos com o ideal inerente à sua boa formação... tudo deve ser encaminhado na nova prática do profetismo que leve as pessoas a superarem o puro consumismo e materialismo.
Dizer ou propor valores inerentes à natureza criada por Deus e ao revelado explicitamente por Ele é coerente com o ser autenticamente humano e cristão. Trair essa missão leva as pessoas e até grupos de interesse a falsear a verdade de valores fundamentais inerentes à natureza dos seres, enganando os menos cautos e propondo palavras e ações que não vão cumprir. É o profetismo às avessas. Costuma aparecer muito na época de eleições e durante certos mandatos e mesmo através de certos canais de comunicações, manuseados por interesses econômicos e de grupos partidários.
A Bíblia nos diz sobre a felicidadade de quem tem Deus como Senhor. Anunciá-lo, porém, exige o bom profetismo para se dizer a verdade de Deus e não a falsa verdade de alguns, que até usam o nome de Deus. Estes não apresentam todo o conteúdo da verdade dEle  para ajudar a sociedade a não ir atrás só de certas curas sem a cura da alma para a aceitação e a realização de todo o projeto do Criador.

Dom José Alberto Moura
Arcebispo de Montes Claros (MG)

quarta-feira, 20 de junho de 2012

São João Batista


A Festa do Nascimento do profeta João Batista acontece no dia 24 de junho. O momento é de lembrança e de memória da vida desse santo, aliás muito popular, na vida do cristianismo e na tradição do Brasil. Foi um nascimento testemunhado nos primeiros tempos da Igreja e conservado pela história nos escritos da Sagrada Escritura.
Os pais de João Batista, Zacarias e Isabel, eram já idosos, mas Deus, numa visão, prometeu-lhes um filho, o filho da velhice. João seria aquele que deveria prepara o caminho para a realização da Aliança de Deus, em Jesus Cristo. Isto se deu nos arredores de Jerusalém, tendo João Batista relação com o ministério de Jesus.
O mesmo fato misterioso aconteceu na vida de Maria, uma jovem da Galileia, temente a Deus, que tinha feito um voto de esterilidade. Mas Deus lhe fez conceber e dar à luz um filho, concretizando a Aliança feita com Abraão e agora finalizando com a nova humanidade, com o nascimento de Jesus Cristo.

Na mentalidade do tempo, ser estéril era visto como desonra e castigo de Deus, uma vergonha (Gn 30, 23). Todas as mulheres deveriam ser como a terra, aquela que faz germinar a semente. Zacarias e Isabel entendem que o filho era um dom de Deus, um verdadeiro presente, que nasce com uma missão em Israel.

Senti vergonha e me escondi



Na história da criação o primeiro homem e a primeira mulher foram colocados no “Éden”, que significa “Paraíso das Delícias”. Ambos caminhavam felizes de um lado para outro e contemplavam aquela beleza sem perceber que ali estava toda felicidade; não precisavam fazer nada.
Porém, o Criador colocou duas árvores no meio daquelas maravilhas, ambas com deliciosos frutos, sendo que uma era do bem e a outra do mal. Como seres humanos, não se contentaram em viver na obediência e submissos à vontade do Criador.
Foi então que a serpente astuta e traiçoeira, personificação do mal, levou aquelas ingênuas criaturas a pensarem diferente, a saírem da rotina paradisíaca para serem eles os donos, os proprietários de tudo aquilo, com um simples ato de desobediência. “Vocês podem ser como Deus”! Eis então que cedem à voz da víbora e se apercebem diferentes.


O texto bíblico relata que começaram a sentir medo, estavam nus, surgiu a vergonha um do outro, do próprio Deus e se esconderam. “Ouvi a tua voz no Jardim, fiquei com medo, porque estava nu, e me escondi” (Gn3,10). O medo e a vergonha aparecem como consequência da ganância e do orgulho de decidir sobre o que é bom e o que é mal. Eles mesmos se tornam o critério para decidir, ou seja, acham que podem fazer o que bem entendem. Numa atitude de total egoísmo acabam com a felicidade, a paz interior, e são colocados para fora do Paraíso. A serpente rastejando-se no pó da terra para sempre e o homem e a mulher enfrentando a dureza da vida, sujeitos a todo tipo de fragilidades. Terão lugar no paraíso sim, porém não mais como antes.
Quando a sociedade moderna vai entender que o paraíso começa aqui! Sem batalhas e exploração, sem poder e opressão dos poderosos, sem privilégios e artimanhas para dominar e tirar vantagens de todo tipo sem importar de quem seja. O paraíso terrestre é para todos! O Paraíso Celeste é para os que souberem entrar pela porta estreita do amor solidário, da justiça social, da humanização do homem e da mulher, da dignidade de seres criados a imagem e semelhança de Deus, por amor e para amar.
Somente aqueles que não se deixam levar pela serpente da manipulação do bem comum, para tirar benefício próprio, terão lugar no Paraíso Celeste.  “Largo é o caminho da perdição”, diz o Senhor Jesus em Mateus sete versículo 13; e são muitos os que entram por ele.
Você não precisa sentir vergonha, nem medo, não precisa se esconder, se esquivando do rosto amoroso de Deus, quando as tuas mãos e a tua boca se mancharem comendo o fruto proibido. Como teve a coragem de ser injusto, corrupto, malvado, enganador, trapaceiro, sujando as mãos e a consciência, tenha a mesma coragem e saia de trás dos esconderijos humanos, das máscaras de proteção, do farisaísmo hipócrita de puras aparências.
Que ao menos sinta o desejo de voltar e, nos braços Daquele que te criou, encontrar a paz e as delícias do paraíso perdido. Não se esconda. Não precisa ficar nu e sentir vergonha para ter direito e lugar na sociedade. Viva a vida sem preconceitos, sem querer ser o que você não é. Seja você mesmo. Busque não só os teus desejos, olhe ao seu redor e ame a cada um. Ame a todos, ame sempre, porque o paraíso começa aqui.
Dom Anuar Battisti
Arcebispo de Maringá (PR)

terça-feira, 8 de maio de 2012

Amor de Mãe


No Dia das Mães, falar de mãe leva-nos a pensar no amor fraterno, divino, maternal e solidário. Falar de um amor que só pode existir em função do outro. Foi o que aconteceu com Jesus Cristo, tendo um amor não só pelos judeus, mas também pelos pagãos. O amor não pode ser abstrato, mas uma experiência concreta de vida.

Numa visão propriamente de fé, a mãe é aquela que personaliza, em si, a figura criadora, a educadora e a amorosa de Deus. Ela consome sua vida para dar vida feliz aos filhos. A verdadeira mãe não minimiza seus esforços para educar bem, acompanhando os filhos, encaminhando-os para uma vida digna e saudável.


A centralidade da vida e da convivência de uma família, de uma comunidade ou de um grupo de pessoas, deve ser o amor. Foi este o grande anúncio de Jesus Cristo, mostrando aos seus apóstolos e às primeiras comunidades cristãs o que deve ser a sua identidade. Convive bem quem ama de verdade e reconhece o valor do outro.

A expressão “meu amor” não pode se transformar em “meu pesadelo”, porque amar é um bem precioso e não pode ser banalizado. Ele possibilita uma relação justa entre as pessoas e leva a uma atitude de libertação, porque ninguém deve ser escravo de ninguém. Não fomos criados para uma submissão arbitrária.

Mãe é sinal de amor. Deus é Pai e Mãe de todos nós. Sem amor, sem Deus e sem mãe, ninguém de nós existiria. Somos frutos de uma experiência de amor, de uma doação certamente sem limites, inclusive com enfrentamento de sacrifícios e sofrimentos. É uma experiência que dignifica e dá sentido de viver às pessoas.

A vida de comunidade, com desafios e diversidades, deve ser a convergência de expressões e práticas concretas de amor. Ela não é diferente de uma vida familiar, onde todos dever perseguir o bem de seus membros. Aqui podemos até fazer uma correlação existente entre o amor de Deus, o da comunidade e o de mãe.

Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba

segunda-feira, 9 de abril de 2012

CNBB convoca para Vigília de Oração pela Vida


Na próxima quarta-feira, dia 11/04, o Supremo Tribunal Federal (STF) realiza o julgamento sobre a descriminalização do aborto de anencéfalos – casos em que o feto tem má formação no cérebro. A presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) enviou nesta Sexta-feira Santa, 06/04, uma carta a todos os bispos do país, convocando para uma Vigília de Oração pela Vida às vésperas do julgamento.

Em agosto de 2008, por ocasião do primeiro julgamento do caso, a CNBB publicou uma nota que explicita a sua posição. “A vida deve ser acolhida como dom e compromisso, mesmo que seu percurso natural seja, presumivelmente, breve. (...)Todos têm direito à vida. Nenhuma legislação jamais poderá tornar lícito um ato que é intrinsecamente ilícito. Portanto, diante da ética que proíbe a eliminação de um ser humano inocente, não se pode aceitar exceções. Os fetos anencefálicos não são descartáveis.  O aborto de feto com anencefalia é uma pena de morte decretada contra um ser humano frágil e indefeso. A Igreja, seguindo a lei natural e fiel aos ensinamentos de Jesus Cristo, que veio “para que todos tenham vida e vida em abundância” (Jo 10,10), insistentemente, pede,  que a vida seja respeitada e que se promovam políticas públicas voltadas para a eficaz prevenção dos males relativos à anencefalia e se dê o devido apoio às famílias que convivem com esta realidade”.

A seguir, a íntegra da carta da presidência da CNBB, bem como o texto completo da nota sobre o assunto.

Brasília, 06 de abril de 2012
P - Nº 0328/12

Exmos. e Revmos. Srs.

Cardeais, Arcebispos e Bispos
Em própria sede
ASSUNTO: Vigília de Oração pela Vida, às vésperas do dia 11/04/12, quarta feira.
DGAE/2011-2015: Igreja a serviço da vida plena para todos (nn. 65-72)
“Para que TODOS tenham vida” (Jo 10,10).
CF 2008: “Escolhe, pois, a vida” (Dt 30,19).
CF 2012: “Que a saúde se difunda sobre a terra” (Eclo 38,8). 
Irmãos no Episcopado,

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil jamais deixou de se manifestar como voz autorizada do episcopado brasileiro sobre temas em discussão na sociedade, especialmente para iluminá-la com a luz da fé em Jesus Cristo Ressuscitado, “Caminho, Verdade e Vida”.
Reafirmando a NOTA DA CNBB (P – 0706/08, de 21 de agosto de 2008) SOBRE ABORTO DE FETO “ANENCEFÁLICO” REFERENTE À ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL Nº 54 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, a presidência solicita aos irmãos no episcopado:
  • Promoverem, em suas arqui/dioceses, uma VIGÍLIA DE ORAÇÃO PELA VIDA, às vésperas do julgamento pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a possibilidade legal do “aborto de fetos com meroanencefalia (meros = parte), comumente denominados anencefálicos” (CNBB, nota P-0706/08).
Informa-se que a data do julgamento da ADPF Nº 54/2004 será DIA 11 DE ABRIL DE 2012, quarta feira da 1ª Semana da Páscoa, em sessão extraordinária, a partir das 09 horas.

Com renovada estima em Jesus Cristo, nosso Mestre Vencedor da morte, agradecemos aos irmãos de ministério em favor dos mais frágeis e indefesos,

Cardeal Raymundo Damasceno Assis          Dom José Belisário da Silva          Dom Leonardo Steiner
Arcebispo de Aparecida                               Arcebispo de São Luiz               Bispo Auxiliar de Brasília
Presidente da CNBB                                  Vice Presidente da CNBB                 Secretário Geral da CNBB

Nota da CNBB sobre Aborto de Feto “Anencefálico

Referente à Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental n. 54 do Supremo Tribunal Federal

O Conselho Episcopal Pastoral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, em reunião ordinária, vem manifestar-se sobre a Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF n° 54/2004), em andamento no Supremo Tribunal Federal, que tem por objetivo legalizar o aborto de fetos com meroanencefalia (meros = parte), comumente denominados “anencefálicos”, que não têm em maior ou menor grau, as partes superiores do encéfalo e que erroneamente, têm sido interpretados como não possuindo todo o encéfalo, situação que seria totalmente incompatível com a vida, até mesmo pela incapacidade de respirar. Tais circunstâncias, todavia, não diminuem a dignidade da vida humana em gestação.

Recordamos que no dia 1° de agosto de 2008, no interior do Estado de São Paulo, faleceu, com um ano e oito meses, a menina Marcela de Jesus Galante Ferreira, diagnosticada com anencefalia. Quando Marcela ainda estava viva, sua pediatra afirmou: “a menina é muito ativa, distingue a sua mãe e chora quando não está em seus braços.” Marcela é um exemplo claro de que uma criança, mesmo com tão malformação, é um ser humano, e como tal, merecedor de atenção e respeito. Embora a Anencefalia esteja no rol das doenças congênitas letais, cursando com baixo tempo de vida, os fetos portadores destas afecções devem ter seus direitos respeitados.

Entendemos que os princípios da “inviolabilidade do direito à vida”, da “dignidade da pessoa humana” e da promoção do bem de todos, sem qualquer forma de discriminação, (cf. art. 5°, caput; 1°, III e 3°, IV, da Constituição Federal) referem-se também aos fetos anencefálicos. Quando a vida não é respeitada todos os outros direitos são menosprezados. Uma “sociedade livre, justa e solidária” (art. 3°, I, da Constituição Federal) não se constrói com violências contra doentes e indefesos. As pretensões de desqualificação da pessoa humana ferem sua dignidade intrínseca e inviolável.

A vida deve ser acolhida como dom e compromisso, mesmo que seu percurso natural seja, presumivelmente, breve. Há uma enorme diferença ética, moral e espiritual entre a morte natural e a morte provocada. Aplica-se aqui, o mandamento: “Não matarás” (Ex 20,13).

Todos têm direito à vida. Nenhuma legislação jamais poderá tornar lícito um ato que é intrinsecamente ilícito. Portanto, diante da ética que proíbe a eliminação de um ser humano inocente, não se pode aceitar exceções. Os fetos anencefálicos não são descartáveis.  O aborto de feto com anencefalia é uma pena de morte decretada contra um ser humano frágil e indefeso.

A Igreja, seguindo a lei natural e fiel aos ensinamentos de Jesus Cristo, que veio “para que todos tenham vida e vida em abundância” (Jo 10,10), insistentemente, pede,  que a vida seja respeitada e que se promovam políticas públicas voltadas para a eficaz prevenção dos males relativos à anencefalia e se dê o devido apoio às famílias que convivem com esta realidade.

Com toda convicção reafirmamos que a vida humana é sagrada e possui dignidade inviolável. Fazendo, ainda, ecoar a Palavra de Deus que serviu de lema para a Campanha da Fraternidade, deste ano, repetimos: “Escolhe, pois, a vida” (Dt 30,19).

Dom Geraldo Lyrio Rocha - Arcebispo de Mariana - Presidente da CNBB
Dom Luiz Soares Vieira Arcebispo de Manaus – Vice Presidente da CNBB
Dom Dimas Lara Barbosa - Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro - Secretário Geral da CNBB

sábado, 7 de abril de 2012

Mensagem de Páscoa aos leigos do Brasil


O presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o Laicato da CNBB, dom Severino Clasen, enviou uma mensagem de Páscoa para todos os leigos da Igreja no Brasil. No texto, ele destaca a missão de cada cristão de anunciar o Cristo Ressuscitado a todas as pessoas. Confira a íntegra da mensagem a seguir:

Cristo ressuscitou, eis a nossa grande alegria!

Estimadas leigas e leigos, bispos, padres, diáconos, religiosas e religiosos, leigas consagradas, CEBs, Conselho dos Leigos, CEFEP, associações laicais e novas comunidades, enfim, todas as formas de chamados à vida cristã.

Tomados pela grande esperança e iluminados pela penitência quaresmal, chegou a hora de celebrar solenemente o anúncio da ressurreição de Cristo, “Ele está no meio de nós”. Eis agora a nossa missão, anunciar o Cristo ressuscitado a todas as pessoas.  Pelo dom do batismo, temos essa missão. A nossa satisfação na vida consiste em viver e deixar-se conduzir pelos mesmos sentimentos de nosso Senhor Jesus Cristo, morto na cruz e ressuscitado no primeiro dia da semana.

Comemorando os 50 anos do Concílio Vaticano II, eis um dentre tantos outros frutos produzidos, num dos seus documentos sobre o apostolado dos leigos e leigas, Apostolicam Actuositatem: “Sendo Cristo, enviado pelo Pai, fonte e origem de todo o apostolado da Igreja, é evidente que a fecundidade do apostolado da Igreja depende da sua união vital com Cristo, como diz o  Senhor: “aquele que permanece em mim e eu nele produz muito fruto; porque, sem mim, nada podeis fazer” (Jo 15,5) [...] Desta forma é necessário que os leigos, com prontidão e alegria de espírito, progridam na santidade, esforçando-se por superar as dificuldades, com prudência e paciência. Nem os cuidados familiares nem os outros negócios seculares devem ser estranhos à orientação espiritual da vida, segundo a palavra do Apóstolo: “tudo o que fizerdes de palavra ou ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, por ele dando graças a Deus Pai” (Cl 3,17). Tal vida exige contínuo exercício da fé, da esperança e da caridade. Só pela luz da fé e meditação da palavra de Deus é possível, sempre e em toda a parte, reconhecer Deus no qual “vivemos, nos movemos e somos” (At 17,28), procurar a sua vontade em todo o acontecimento, ver Cristo em todos os homens, quer próximos, quer afastados, ter um conceito do verdadeiro significado e do valor das coisas temporais, em si mesmas e em ordem ao fim do homem.

Os que possuem esta fé vivem na esperança da revelação dos filhos de Deus, lembrados da cruz e da ressurreição do Senhor” (A.A. 4).

Com essa belíssima mensagem, a Comissão Pastoral Episcopal para o Laicato, quer desejar a todos e a todas as redobradas bênçãos e verdadeiros sentimentos de alegria pela festa da Páscoa do Senhor. Sejamos os verdadeiros e alegres testemunhas da ressurreição do Senhor com nossas vidas e contagiemos toda a sociedade com a sincera vida digna, justa e fiel ao Senhor. Que o nosso apostolado dentro da Igreja e dentro da sociedade traga frutos de profundas mudanças, reconquistando a justiça, a fidelidade, a honestidade e a sensibilidade fraterna entre todos nós, seres humanos, em harmonia com toda a criação. Façamos a bela experiência de Maria em receber em nossas vidas a verdade e certeza de que Cristo ressuscitou e agora está no meio de nós.
 
Feliz Páscoa!
 
Dom Frei Severino Clasen, OFM
Bispo de Caçador - SC
Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o Laicato

quarta-feira, 4 de abril de 2012

As Chagas de Cristo

 
Estamos já às vésperas da celebração do Mistério da Morte e Ressurreição do Senhor, a celebração da Páscoa do Ressuscitado! Durante os 40 dias da Quaresma, fomos vivenciando as lições de desprendimento, de liberdade interior e de fidelidade ao Pai, que Jesus nos deixou nos Evangelhos, através da oração, da esmola e do jejum. À medida que chegamos próximos à Páscoa, vamos nos tornando mais sensíveis aos que hoje prolongam a Paixão de Cristo em suas vidas, submetidos ao peso da Cruz.

A Campanha da Fraternidade nos faz olhar para a realidade da Saúde Pública em nosso país, que exige recursos do Estado (SUS 100% publico e estatal) e, ao mesmo tempo, uma maior conscientização por parte da população para que haja novos equipamentos, controle social e participação nos conselhos, atendimento de qualidade e a garantia do direito à saúde digna para todo cidadão, preconizado pela Constituição Federal de 1988.

Além dessa realidade, outra situação é da mobilidade humana. A cada ano, o Serviço Pastoral dos Migrantes (SPM) vê aumentar o número dos imigrantes e refugiados que procuram abrigo e refúgio no Brasil. Só em 2011, a Casa do Migrante em São Paulo acolheu pessoas vindas de 56 nacionalidades: a maioria delas da América Latina, da África e do Leste Europeu.

É uma realidade que se agravou, nestes últimos dois anos com a chegada dos haitianos. Vítimas do terremoto de janeiro de 2010, muitos deles são obrigados a deixar sua Pátria, suas famílias, e virem ao Brasil, em busca da sobrevivência para si e para suas famílias, em condições precárias de vida, sem apoio humanitário e perspectiva de melhores condições de vida.

Em 2011, o Centro de Acolhimento aos Refugiados, projeto executado pela Cáritas Arquidiocesana de São Paulo, recebeu 145 solicitações de refúgio de cidadãos haitianos em situação bastante precária. Desses, 44 obtiveram visto de permanência concedido pelo CNIg (Conselho Nacional de Imigração), sendo que 101 ainda aguardam decisão do governo brasileiro.

Nos dois primeiros meses de 2012, já são 148 solicitações de refúgio, ou seja, 102% a mais que todo o ano passado. Eles chegam a esta Capital à espera de regulamentarem sua permanência no país e encontrarem trabalho que lhes permitam ajudar seus familiares, que ficaram no país de origem, a espera de ajuda e proteção.

As condições que enfrentam para chegar a terras brasileiras são muito difíceis. Muitos deles são vítimas do "tráfico humano", ou seja, entregam tudo o que tem aos "coiotes" que cobram grandes quantias, prometendo-lhes transporte, estadia e condições de trabalho em solo brasileiro. Enganados, muitos desses se veem expostos às humilhações, ao roubo, a chantagem emocional, e por isso procuram no Estado e na Igreja a defesa dos seus direitos e a segurança para suas vidas.

A Cáritas da Arquidiocese de São Paulo tem, a partir do convênio com o ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados), oferecido a muitos imigrantes, entre eles os haitianos, a assistência necessária para obter o visto de permanência no Brasil (refúgio), executando os Programas de: Proteção - acompanhamento jurídico; Assistência social - que prevê encaminhamento para abrigamento temporário, documentação, cuidados de saúde; Integração local; Saúde mental; e Assistência religiosa; procurando assim diminuir os impactos que a imigração provoca na vida de refugiados e migrantes na Pátria estrangeira.

A triste realidade dos haitianos, peruanos, bolivianos, africanos, que buscam acolhida no Brasil merece de nossa parte, às vésperas da celebração da Páscoa, uma atenção especial; pois, neles as chagas de Cristo continuam expostas, e infelizmente não deixam de sangrar. Quando olhamos o trabalho humanitário realizado pela Casa do Migrante em São Paulo, pelo Serviço da Pastoral do Migrante (SPM), e a Cáritas, bem como outros organismos, nos damos conta de que não faltam generosidade e disponibilidade em acolher estas irmãs e estes irmãos. Mas, não é suficiente!

Hoje os órgãos que tratam de perto a realidade da mobilidade humana estimam que o número de refugiados e estrangeiros no Brasil tende a aumentar sobremaneira atraídos pela propaganda da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016. Não podemos ignorar que no cenário mundial países como o Brasil, em acelerado crescimento econômico, surgem para muitas nações como o "paraíso prometido", onde seria possível garantir a sobrevivência e realizar o sonho de bem estar e perspectivas melhores de vida.

Assistimos uma mudança no cenário mundial: nações que outrora gozavam de estabilidade financeira e melhores condições sociais podendo abrigar e acolher estrangeiros - hoje, veem seus cidadãos partirem em busca de trabalho e qualificação profissional naquelas nações que outrora socorreram e que hoje estão em condições de oferecer acolhimento aos que no passado acolhiam seus cidadãos. As chagas de Cristo estão expostas e sangram em tantas vidas hoje vítimas da mobilidade humana, vítimas da degradação social e necessitadas do socorro humano.

Somos tentados a ignorar a sorte desses milhares de mulheres e homens que entram em nosso país em situação de tamanha fragilidade. O Menino nascido em Belém viveu isso de perto, também Ele obrigado pelo "recenseamento" se viu obrigado a nascer num estábulo, por não encontrar lugar nas hospedarias da cidade; e para fugir à ira do rei iníquo, foi obrigado com sua família a viver como migrante no Egito, à semelhança dos seus antepassados, que tiveram que suportar o peso da migração e da exploração em terra estrangeira.

Na tarde daquela Sexta-feira, 14 de Nisan, carregando o madeiro sob os seus ombros, cruzou as ruas de Jerusalém, considerado como criminoso, não só por se dizer Filho de Deus, mas porque era galileu, um "estranho" aos olhares dos habitantes da metrópole. Hoje, em tantas vidas ameaçadas e obrigadas a deixar sua terra e sua família, está o Filho de Deus a bater à nossa porta, pedindo nossa acolhida. Lembrando as suas palavras é importante que chegará o dia em que será Ele a dizer: "Era migrante e me acolheste!".

Mais uma vez, o Senhor nos desafia na sua condição de peregrino, exilado ou migrante. Ele espera que curvados sobre as suas chagas, o tratemos com o óleo e o vinho da acolhida e da ternura, fazendo de nossas comunidades e de nossas casas a hospedaria que acolhe o ferido da parábola (cf. Lc 10, 29-37), sem medo de acolher e servir, pois o próprio Jesus nos garante que ao retornar haverá de restituir o dobro que dispensamos aqueles que acolhemos.

Nossa Páscoa será verdadeira se abrirmos nossos corações não só ao Cristo que vem no Mistério celebrado, mas também ao Cristo vivo no irmão migrante e refugiado que precisa de nossa acolhida e espera pelo nosso amor!

A todos vocês, uma Abençoada Páscoa do Senhor!
 
Dom Milton Kenan Junior
Bispo Auxiliar de São Paulo

terça-feira, 3 de abril de 2012

A Graça de Deus retorna?

 
Não há nenhum dogma cristão tão estranho à mentalidade moderna do que o da graça. Esta significa a presença do Criador no mundo e na história. Já os antigos pensadores romanos, que chegaram a vislumbrar a necessidade de haver um Deus único, não acreditavam que Ele se interessasse pelas ninharias humanas. Diziam: “Deus sublunaria non curat”. Isto é, Deus não se interessa pelas insignificâncias que ficam abaixo da lua. O ensinamento cristão, ao contrário, mostra que o Criador tem constante canal de comunicação com sua criatura preferida. Criou nela uma perene capacidade de comunicação. A graça é o encontro real entre duas liberdades. É a encruzilhada de dois amores.
 
É uma gratuidade inesperada, superabundante, e disponível para a ajuda. É o prolongamento de sua presença nas realidades humanas. Muitos homens “modernos” se julgam além da graça. Não precisam de ajuda, nem a querem. Pois acham-se capazes de resolver, por conta própria, qualquer desafio. Santo Agostinho, que tinha uma fina sensibilidade espiritual, estava com seu coração sempre aberto para qualquer vontade de Cristo, que é a graça em pessoa. Ele achava que a graça divina se apresenta a nós, esperando resposta de vida. É o que ele via ter acontecido entre Jesus e os seus contemporâneos judeus. “Jerusalém, matas os profetas e apedrejas os que te são enviados”  (Mt 23, 37).
 
Está suposto que a Cidade não teria sido destruída se seus habitantes tivessem ouvido sua voz. O grande doutor da graça quis ensinar que a graça divina, após vários fracassos, se cala e se ausenta. Pode não mais retornar.”Timeo Jesum praetereuntem et non redeuntem”. (Tenho medo de que Jesus passe alguma vez e depois não retorne). Será que não foi o caso do Brasil? Durante décadas Cristo convidou os pais cristãos a enviarem seus filhos à Catequese (1ª Eucaristia, Crisma). Mas a imensa maioria não tomou conhecimento.  O que está acontecendo? Quem nada aprendeu sobre sua fé, nada conhece das riquezas da Igreja de Jesus Cristo, agora sucumbe às ciladas dos membros das seitas. Do dia para a noite abandonam sua fé. “Não existe outro evangelho, diferente daquele que vos anunciamos”  (Gal 1, 7 e 8) mostra S.Paulo.
 
Dom Aloísio Roque Oppermann
Arcebispo Administrador Apostólico de Uberaba/MG
 

quarta-feira, 21 de março de 2012

A Depressão


Cada época da História tem características próprias, que a identificam. Seria a depressão uma das características de nossa época? Afinal, em nossos tempos é significativo o número de pessoas que vivem naquela situação que o dicionário Aurélio define como “distúrbio mental caracterizado por adinamia [estado de prostração física e/ou moral; falta de forças], desânimo, sensação de cansaço, e cujo quadro muitas vezes inclui, também, ansiedade, em grau maior ou menor”. Para os laboratórios e as farmácias, a depressão é uma das principais fontes de lucro.
Segundo alguns estudiosos, há dois grandes tipos de depressão: aquela que pode ser padecida por uma pessoa, sem que ela tenha enfrentado algum grande problema, e a que tem origem na perda de um bem, na ameaça de um mal ou na incapacidade de assumir a realidade que a envolve. Nos dois casos, o que caracteriza seu estado é a tristeza. A pessoa fica triste pela consciência de ser privada de um bem ou pelo medo de perdê-lo.


Em nossos dias, uma das causas da depressão é o medo. Muitos se sentem inseguros, por causa das exigências no mundo do trabalho (medo de perder o emprego), na família (as brigas dos pais fazem nascer no coração dos filhos perguntas do tipo: “Será que eles vão se separar? O que acontecerá comigo?”), na sociedade (leia-se: problemas econômicos), diante do futuro (“O que me espera?”, “Como será minha velhice?”) etc. A insegurança faz nascer a angústia; essa pode fazer nascer obsessões, fobias, depressão...

Nas últimas décadas, psiquiatras têm percebido que por baixo da depressão há, muitas vezes, a falta de um sentido para a vida. Curioso, faz quase dezesseis séculos, alguém já havia observado: “Criaste-nos para ti, Senhor, e inquieto está o nosso coração enquanto não repousa em ti” (Santo Agostinho). O bispo de Hipona havia percebido que o homem é um ser transcendente,  isto é, sente necessidade de relacionar-se com Deus e com os outros, e quando essa dimensão é ignorada, ele não se realiza como ser humano.

Para Freud, muitas neuroses teriam como causa a repressão sexual. A cura se obteria pela liberação dos instintos. Vivesse em nossos dias, o pai da psicanálise constataria que, apesar da liberdade sexual de nossa época, os transtornos psíquicos só aumentaram. Freud fez descobertas importantes no campo da psiquiatria, mas errou ao assumir como absolutas algumas dessas descobertas, reduzindo o homem a um conjunto de instintos.

Depois de Freud veio Alfred Adler, para quem os complexos humanos têm sua origem no desejo de poder. Não conseguindo o que quer, a pessoa sente-se inferiorizada, triste. Mais uma vez, estamos diante de uma visão parcial da realidade. Parcial, também, foi a resposta de Jung: julgava que a tendência fundamental do ser humano é a vontade de autorrealização.
Posteriormente, Viktor Frankl estudou as intuições de seus predecessores e deu sua própria explicação: o ser humano não é só dominado pelo instinto do prazer, nem pela vontade de dominar. É um ser livre e responsável, condicionado, mas nunca determinado: age buscando encontrar um sentido para a própria vida.

Pode-se errar na busca de um sentido para a vida. Dou um exemplo extremo: há pessoas que amarram uma bomba em si próprias e a ativam quando estão no meio de uma multidão de pessoas inocentes. Antes de fazerem isso, gravam um depoimento, gloriando-se de seu ato. Morrem, e matam inocentes, considerando-se heróis.

Alguém já disse que a porta da felicidade se abre para fora, e quem procura abri-la para dentro acaba por fechá-la hermeticamente. Criados para Deus e para os outros, não nos realizamos no egoísmo, na busca do poder e na satisfação dos instintos. Segundo a fé cristã, só nos realizamos no dom de nós mesmos. Ou, dito isso na linguagem do Salmista: “...tende confiança no Senhor. Muitos dizem: ‘Quem nos fará provar o bem?’ Levanta sobre nós, Senhor, a lua da tua face. Deste mais alegria ao meu coração do que àqueles que têm muito trigo e vinho. Em paz, logo que me deito, adormeço, pois só tu,Senhor, me fazes descansar com segurança” (Sl 4,6-9).

Dom Murilo Krieger
Arcebispo de São Salvador da Bahia / Primaz do Brasil

sexta-feira, 2 de março de 2012

5º Encontro com os jornalistas das Dioceses, Regionais e Organismos da CNBB


A Assessoria de Imprensa da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou ontem, 29 de fevereiro, a ficha de inscrição para o 5º Encontro com os Jornalistas das Dioceses, Regionais e Organismos Vinculados à CNBB.

Promotora do evento, a Assessoria de Imprensa já começou a receber as primeiras inscrições. Para dirimir algumas dúvidas mais frequentes dos participantes, este setor da CNBB resolveu divulgar algumas questões:


Valores

Não há taxas de inscrições para o Encontro. A hospedagem, transporte e alimentação correrão por conta do participante ou de quem o envia (Diocese, Regional ou Organismo). O valor total de hospedagem na Casa de Retiros Assunção é de 170 reais, referentes a duas (2) diárias completas, sexta/sábado e sábado/domingo até meio dia. As diárias completas contam com café da manhã, lanches, todas as refeições e pernoite. O pagamento deve ser feito diretamente ao responsável da Casa de Retiros Assunção. Os profissionais da Assessoria de Imprensa da CNBB, ou qualquer pessoa ligada a Conferência dos Bispos não receberá qualquer valor referente às despesas dos participantes.

Vagas

As vagas são limitadas para 50 pessoas. Os quartos da Casa de Retiros Assunção são duplos, ou seja, acomodações para duas pessoas em cada quarto. Não há a necessidade levar roupa de cama, pois será fornecida pela Casa de Retiros.

Autorização

O ponto indispensável a ser obedecido é que no envio da inscrição, o participante deve enviar também a autorização assinada por um bispo, autorizando sua inscrição. Sem essa autorização, o candidato não será considerado inscrito.

Ficha de Inscrição

Na ficha de inscrição, na categoria “Veículo”, o participante deve preencher o local em que trabalha: se é um jornal, revista, site, programa de TV, de rádio, relações públicas e assessoria de imprensa.
A ficha de inscrição segue no site da CNBB para download e deverá ser enviada, juntamente com a autorização do bispo, por fax ou e-mail aos cuidados de Janiery Alves – E-mail: imprensa5@cnbb.org.br - Fax (61) 2103-8303.

O encontro

O encontro acontecerá nos dias 23 a 25 de março de 2012, em Brasília e debaterá o tema: “Jornalismo em Rede: um desafio para a Igreja”. O tema mostra a necessidade de desenvolver um sistema de correspondentes, espalhados pelo país, produzindo notícias para veiculação nacional, no site e boletins da CNBB.

Palestrantes

Um dos palestrantes será o jornalista da Globo News, Sidney Rezende, um dos fundadores da Central Brasileira de Notícias (CBN) e primeiro editor-executivo desta rádio. O segundo palestrante convidado é o jornalista, professor de Web Jornalismo e Consultor de Comunicação em tempo integral, Antônio Danin Júnior.

O encontro terá início às 18h do dia 23/03 e término às 12h do dia 25/03.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Nota do Arcebispo sobre o desabamento no centro do Rio de Janeiro


Juntamente com toda a comunidade arquidiocesana, manifesto a minha solidariedade e o meu pesar a todas as pessoas e familiares vítimas no desabamento dos três prédios no Centro da cidade, ocorrido na noite de quarta-feira e que resultou em mortos e feridos.
Em espírito de unidade e solidariedade, conclamo a todos que rezem pelos falecidos, pelos feridos e pelas famílias atingidas por essa dor que também é de toda a cidade do Rio.

Confiantes na misericórdia de Deus, convido parentes, amigos e autoridades para a Missa de Sétimo Dia na intenção dos falecidos, a ser realizada no próximo dia 2 de fevereiro, quinta-feira, às 10 horas, na Catedral de São Sebastião, na Avenida República do Chile.

Rio de Janeiro, 26 de janeiro de 2012.
 
Dom Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro