segunda-feira, 28 de setembro de 2015

"Se impedimos uma pessoa de fazer objeção de consciência, negamos-lhe um direito", advertiu o Papa.


No voo de regresso a Roma, após quase nove dias de visita a Cuba e Estados Unidos, o Papa Francisco concedeu uma longa entrevista aos jornalistas. O Pontífice respondeu a 11 perguntas, durante mais de 45 minutos.

Casamento homossexual

Sobre a reforma da saúde, promovida pelo presidente norte-americano Barack Obama, que poderia obrigar instituições católicas a práticas contrárias às suas convicções sobre o aborto e o planejamento familiar, bem como sobre os casos de funcionários que se recusaram a celebrar casamentos entre pessoas do mesmo sexo, Francisco afirmou:

“A objeção de consciência é um direito. Se impedimos uma pessoa de fazer objeção de consciência, negamos-lhe um direito”, advertiu, sublinhando que isso se aplica também aos trabalhadores de qualquer Governo.

Historicamente, disse ainda, esse direito foi negado a fiéis de outras religiões que eram obrigados a escolher entre a “espada” ou o “batismo”.

Casais de segunda união

Francisco comentou sobre um dos temas mais mediatizados do próximo Sínodo sobre as Famílias: a situação dos católicos em segunda união. Segundo ele, seria simplista dizer que a solução, para estas pessoas, é a possibilidade de comungar. “Não é a única solução”, alertou.

O Pontífice enfatizou que, além destas situações, há um conjunto de novas questões, como a dos jovens que não se querem casar ou o tema da “maturidade afetiva”. “Para ordenar um padre há uma preparação de oito anos, mas para casar-se por toda a vida fazem quatro encontros de preparação matrimonial”, exemplificou.

Nulidade matrimonial

Sobre a recente notícia sobre a simplificação dos processos de nulidade matrimonial, o Santo Padre explicou que a decisão é diferente de um “divórcio católico” e destacou que a “indissolubilidade” será sempre a doutrina da Igreja.

“O divórcio católico não existe, a nulidade é reconhecida se não houve matrimônio, mas se houve, é indissolúvel. (…) Na reforma dos processos de nulidade matrimonial, fechei a porta à via administrativa, através da qual podia entrar o divórcio”, acrescentou.

Francisco explicou que a reforma jurídica visa agilizar os processos, eliminando a necessidade de uma “dupla sentença”, mas a doutrina continua a ser a do matrimônio como Sacramento “indissolúvel”. “Isto é algo que a Igreja não pode mudar, é doutrina, é um Sacramento indissolúvel. O processo judicial serve para provar que aquilo que parecia um sacramento não era sacramento”.

A este respeito, deu o exemplo dos casamentos “à pressa”, quando a noiva estava grávida, para “salvar as aparências”. “Alguns deles correram bem, mas não há liberdade”, observou. 

Crise dos refugiados

Francisco que a solução para a crise de refugiados na Europa tem de passar pelo diálogo entre todos os países em vez de barreiras e muros, que estão destinados a “cair”.

“Sabemos o que acontece a todos os muros, a todos: todos os muros caem. Hoje, amanhã, daqui a cem anos, vão cair. Não é uma solução, o muro não é uma solução”, defendeu.

Questionado sobre a chegada de milhares de pessoas à Europa, Francisco admitiu que esta é uma situação difícil, perante a qual é preciso ser “inteligente”.

“Temos de encontrar soluções, temos de encorajar o diálogo entre as várias nações, para encontrá-las. Os muros não são nunca soluções, as pontes são, sempre, sempre”, insistiu.

O Papa observou que a edificação de barreiras faz com que o problema permaneça, “com mais ódio”. Neste contexto, sublinhou que o estado de crise acontece após um “longo processo”, motivado por guerras e fome, com “interesses econômicos escondidos” por trás do sofrimento das populações.

“Em vez de explorar um continente ou uma nação, devem fazer-se investimentos lá, para que as pessoas sejam capazes de trabalhar – assim, esta crise poderia ter sido evitada. Agora é verdade, como disse no Congresso, que é uma crise de refugiados nunca vista desde a II Guerra Mundial, é a maior”, afirmou o Papa.

Francisco retomou as suas preocupações com os cristãos perseguidos mas rejeitou que a solução no Oriente Médio passe por bombardeamentos contra o autoproclamado Estado Islâmico. “Quando ouço a palavra bombardeamento, morte, sangue… repito o que disse no Congresso e na ONU, que é preciso evitar estas coisas, mas não sei, não posso julgar a situação política”, assinalou.
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Canção Nova

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