domingo, 23 de julho de 2017

Homilética: Transfiguração do Senhor - Ano A: "A Glória do Pai na face de Cristo".


Esta festa do Senhor é celebrada desde os começos, nesta mesma data, em muitos lugares do Ocidente e do Oriente. No século XV, o Papa Calixto lll estendeu-a  a  toda a Igreja. O milagre da Transfiguração é recordado mais de uma vez, durante o ano: no segundo domingo da Quaresma, para afirmar a divindade de Cristo, pouco antes da Paixão; e hoje, para festejar a exaltação de Cristo na sua glória. A Transfiguração do Senhor é, além disso, uma antecipação do que será a glória do Céu, onde veremos a Deus face a face; em virtude da graça, participamos já nesta terra dessa promessa da vida eterna.

A caminho de Jerusalém, Jesus faz o primeiro anúncio da Paixão. Disse que iria sofrer e padecer em Jerusalém, e que morreria às mãos dos príncipes dos sacerdotes, dos anciãos e dos escribas. Os apóstolos tinham ficado aflitos e tristes com a notícia. O caminho da salvação esperado pelos discípulos é bem diferente! Para fortalecer o ânimo profundamente abalado dos discípulos, Jesus toma consigo Pedro, Tiago e João e leva-os a um lugar à parte para orar. Aí, no Monte Tabor, revela-lhes a glória da divindade. “Enquanto orava, o seu rosto transformou-se e as suas vestes tornaram-se resplandecentes” (Lc 9, 29; Mt 17, 1 – 9 ).

São Leão Magno diz que “a finalidade principal da Transfiguração foi desterrar das almas dos discípulos o escândalo da Cruz.”

Pela Transfiguração, Deus demonstra que uma existência feita dom não é fracassada, mesmo quando termina na Cruz. Também nos revela que Jesus é “o Filho amado do Pai” e nos convida a escutar o que Ele diz.

A Transfiguração do Senhor antecipa a Ressurreição e anuncia a divinização do homem. Conduz-nos a um alto Monte para acolher de novo, em Cristo, como filhos do Filho, o dom da Graça de Deus: “Este é o meu Filho amado: Escutai-O.”

O Senhor, momentaneamente, permitiu que os três discípulos pudessem entrever a sua divindade, e eles ficaram fora de si, cheios de uma imensa felicidade. “A Transfiguração revela – lhes um Cristo que não se mostrava na vida cotidiana. Está diante deles como Alguém no qual se cumpre a Antiga Aliança, e sobretudo como o Filho eleito do Pai Eterno,  a quem é preciso prestar  fé absoluta e obediência total” ( São João Paulo ll, Homilia ),  a quem devemos buscar ao longo da nossa existência aqui na terra.

A Transfiguração foi uma centelha de glória divina que inundou os apóstolos de uma felicidade tão grande que fez Pedro exclamar: “Senhor, é bom ficarmos aqui. Se queres, vou fazer aqui três tendas…” (Mt 17, 4). Pedro quer prolongar aquele momento. Mas, Pedro não sabia o que dizia; pois o que é bom, o que importa, não é estar aqui ou ali, mas estar sempre com Cristo, em qualquer parte, e vê-lo por trás das circunstâncias em que nos encontramos. Se estamos com Ele, tanto faz que estejamos rodeados dos maiores consolos do mundo ou prostrados no leito de um hospital, padecendo dores terríveis. O que importa é somente isto: vê-lo e viver sempre com Ele! Esta é a única coisa verdadeiramente boa e importante na vida presente e na outra. Desejo ver-te, Senhor, e procurarei o teu rosto nas circunstâncias habituais da minha vida!

A nossa vida é um caminho para o Céu. Mas é uma via que passa pela Cruz e pelo sacrifício. Até o último momento, teremos que lutar contra a corrente, e é possível que também passemos pela tentação de querer tornar compatível a entrega que o Senhor nos pede com uma vida fácil e talvez aburguesada, como a de tantos que vivem com o pensamento posto exclusivamente nas coisas materiais. “Não sentimos frequentemente a tentação de pensar que chegou o momento de converter o cristianismo em algo fácil, de torná – lo confortável, sem sacrifício algum; de fazê – lo conformar – se com as maneiras cômodas, elegantes e comuns dos outros e com o modo de vida mundano? Mas não é assim!… O cristianismo não pode dispensar a Cruz: a vida cristã é inviável sem o peso forte e grande do dever… Se procurássemos tirá – lo da nossa vida, criaríamos ilusões e debilitaríamos o cristianismo; transformaríamos o cristianismo numa interpretação branda e cômoda da vida” ( Beato Paulo Vl ). Não é esse o caminho que o Senhor indicou.

O pensamento da glória que nos espera deve animar-nos na nossa luta diária. Nada vale tanto como ganhar o Céu. Ensina Santa Teresa: “E se fordes sempre avante com essa determinação de antes morrer do que desistir de chegar ao termo da jornada, o Senhor, mesmo que vos mantenha com alguma sede nesta vida, na outra, que durará para sempre, vos dará de beber com toda abundância e sem perigo de que vos venha a faltar.”

“Este é o meu Filho amado: ouvi-O”. Deus Pai fala através de Jesus Cristo a todos os homens, de todos os tempos. Ensina São João Paulo II: “procura continuamente as vias para tornar próximo do gênero humano o mistério do seu Mestre e Senhor: próximo dos povos, das nações, das gerações que se sucedem e de cada um dos homens em particular” (Encíclica Redemptor Hominis, 7). A sua voz faz-se ouvir em todas as épocas, sobretudo através dos ensinamentos da Igreja.

O significado concreto de tudo isso, hoje como então, é este: nossa vida de cristãos está permeada de provações; o sofrimento nos acompanha. Muitas vezes, é tanta a escuridão que não se consegue mais   divisar   o Céu; o horizonte da fé parece desaparecer ao longe. Vemos somente a realidade presente que se mostra com toda sua aspereza. É nesta hora   que a dor nos cerca com   seu espetáculo: dor de gerações passadas, dor atual, dor dos pecadores e dor dos justos…  Aos lábios aflora espontânea a pergunta: Por que tudo isto? Por que se Deus é bom, se Deus é Pai? São Pedro nos afirma que também alguns dos primeiros cristãos estavam tentados a dizer: Onde está a promessa de sua vinda? Desde que nossos pais morreram, tudo continua como desde o princípio do mundo ( 2Pd 3,4).

Nesta prova da fé, brilha o Evangelho da Transfiguração, como penhor certíssimo de vitória. Toda esta dor irá acabar. Um dia, cada um de nós, e todo o universo, será transfigurado porque deverá ser como Jesus, deverá assumir seu modo de ser glorioso e espiritual e formar, aliás, “um só Espírito” com ele.

Jesus, como fez com Pedro, Tiago e João, aproxima – se, coloca – nos uma mão sobre o ombro e nos convida a descer do monte. Convida – nos a segui – Lo a Jerusalém, isto é, nas provas da vida cotidiana.


Nós devemos encontrar Jesus na nossa vida corrente, no meio do trabalho, na rua, nos que nos rodeiam, na oração, quando nos perdoa no Sacramento da Penitência (Confissão), e sobretudo na Eucaristia, onde se encontra verdadeira, real e substancialmente presente. Devemos aprender a descobri-Lo nas coisas ordinárias, correntes, fugindo da tentação de desejar o extraordinário.
COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS

Leituras: Dn 7,9-10. 13-14; 2 Pd 1, 16-19; Mt 17, 1-9

Caríssimos irmãos e irmãs, hoje, juntamente com o Apóstolo São Pedro podemos dizer: “É bom estarmos aqui” (Mt 17,4), reunidos junto do altar do Senhor para celebrarmos a Santa Eucaristia, onde encontramos com o nosso Mestre e Senhor.  E também neste domingo somos convidados a subir ao Monte Tabor, a fim de meditar acerca da sugestiva narração da transfiguração de Jesus. O texto evangélico começa dizendo que “Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e os levou a um lugar à parte, sobre uma alta montanha. E foi transfigurado diante deles” (Mt 17,1s).

Na Sagrada Escritura, a montanha representa o lugar de proximidade e comunhão com Deus e de um encontro íntimo com ele pela oração.  Recordemos também que, em um outro monte, o Sinai, Moisés recebeu os dez mandamentos.

O texto evangélico ressalta que se trata de uma nuvem luminosa que teria envolvido os discípulos com a sua sombra e dessa nuvem dizia uma voz: “Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo meu agrado. Escutai-o!” (v.5).  A nuvem sagrada é o sinal da presença de Deus. Algo semelhante pode-se constatar no momento do batismo de Jesus, quando também uma voz, a partir do interior da nuvem, proclamou Jesus como Filho: “Eis meu Filho muito amado em quem ponho minha afeição” (v. 17). Mas a esta solene proclamação da filiação acrescenta-se agora uma ordem: a Ele devemos escutar (v. 5).

Este premente apelo a escutar o Cristo é um convite a deixar que a luz de Cristo ilumine a nossa vida e nos conceda a força para anunciarmos e testemunharmos o evangelho a todos. É um empenho que comporta, às vezes, não poucas dificuldades e sofrimentos.

Escutar é uma palavra que vem do latim “auscultare” e significa ouvir com atenção. É o mesmo que aguçar o ouvido. É estar consciente do que se ouve.   Na Sagrada Escritura, com frequência, somos exortados a “prestarmos ouvido”. A parábola do Bom Pastor (cf. Jo 10,1-18) mostra a relação entre escutar, crer e obedecer.  As ovelhas escutam a voz do Bom Pastor e fazem mais, seguem-no, o que supõe intimidade.

Escutar, seguir e conhecer Cristo é acreditar. Conhecer a voz de Cristo é identificar-se com a sua mensagem, senti-la como própria.  Existe ainda um texto importante para compreender as exigências do escutar, que se encontra em 1Sm 3,10: “Fala, Senhor, teu servo escuta”.  Esta resposta do jovem Samuel contém em si a atitude da completa atenção, atitude de obediência total à palavra de Deus (cf. Sl 33,12; 94,7-10; Mt 7, 24-27; Ap 2,7.11.17.29; 3,6; Pr 4,20. 5,1; 7.1).

Para São Bento a oração é, em primeiro lugar, um ato de escuta (cf. RB Pról. 9-11), que depois se deve traduzir em ação concreta, seguindo o caminho traçado pelo Cristo humilde e obediente (cf. RB 5,13), ao amor do qual ele nada deve antepor (RB 4,21; 72,11).  Ouvir Cristo e obedecer a sua voz: este é o caminho real, o único, que conduz à plenitude da alegria e do amor.

O texto narrado por São Lucas ressalta: “Enquanto Ele rezava, o aspecto do seu rosto alterou-se e as suas vestes tornaram-se de uma brancura fulgurante” (Lc 9,29).   Nisto, podemos dizer que a transfiguração é também um momento de oração, pois acontece um diálogo de Jesus com o Pai: a mais íntima unidade do seu ser com Deus, que se torna pura luz.  Na sua unidade de ser com o Pai, o próprio Jesus é luz da luz, o ser de Jesus na luz de Deus, a luminosidade própria da sua condição de ser Filho.

Mas devemos também observar que a oração não exige o isolamento do mundo, como alguns podem imaginar, mas consiste, na verdade, em um contínuo subir ao monte do encontro com Deus, para depois voltar a descer trazendo o amor e a força que disto derivam, de modo a servir os nossos irmãos, conforme aprendemos no Evangelho.

As vestes brancas de luz, no livro do Apocalipse, indicam os vestes dos seres celestes, dos anjos e dos eleitos (cf. Ap 7,9). As vestes dos eleitos são brancas, porque foram lavadas no sangue do cordeiro (cf. Ap 7,14), porque, pelo batismo foram ligadas com a paixão de Jesus, e a sua paixão é a purificação que restitui a veste original, que perdemos pelo pecado (Lc 15,22).  Por meio do batismo somos revestidos com Jesus na luz e passamos a ser também luz, por já estarmos iluminados por Deus, em virtude do batismo (cf. BENTO XVI, Jesus de Nazaré, São Paulo, 2007, p. 264).

Na transfiguração é Deus que se revela em Jesus Cristo. Portanto, quem quer conhecer Deus, deve contemplar o rosto de Jesus, o seu rosto transfigurado. Jesus é a revelação perfeita da santidade e da misericórdia do Pai.  Podemos também dizer ainda que a transfiguração é uma revelação da pessoa de Jesus, da sua profunda realidade.

A finalidade desta transfiguração foi encorajar os discípulos para que não se deixassem vencer pelas provações que viriam em breve, com a paixão e morte de Cristo, por isto, a transfiguração de Jesus ocupa, nos evangelhos, lugar de especial importância, pois prepara os apóstolos para enfrentarem os dramáticos eventos do calvário, apresentando-lhes, com antecipação, aquela que será a plena e definitiva revelação da glória do Senhor no mistério pascal. Por isto, mediante este acontecimento, os discípulos são preparados para superar a terrível prova da paixão e compreender o mistério pascal de Cristo.

Ao meditarmos sobre esta página evangélica, preparamo-nos para reviver, também nós, os eventos decisivos da morte e ressurreição do Senhor, seguindo-o no caminho da cruz para chegarmos à luz e à glória.  Possamos todos nós subir ao Monte Tabor para, com os discípulos de Jesus dirigir também o nosso olhar para o rosto radiante do Filho de Deus, a fim de sermos por ele iluminados.

E agora, ao celebrar a Eucaristia, Jesus nos dá o seu corpo e o seu sangue, para que, de certa forma, possamos saborear já aqui na terra a situação final, quando os nossos corpos mortais forem transfigurados à imagem do corpo glorioso de Cristo.


Peçamos a intercessão da Virgem Mãe de Deus, para que possamos reconhecer em Jesus o Filho amado de Deus e o Senhor da nossa vida. Que ela interceda por cada um de nós, para que possamos ser os discípulos fiéis de Cristo, escutando e colocando em prática todos os seus ensinamentos. Assim seja.

PARA REFLETIR


Na liturgia católica, 6 de agosto é Festa da Transfiguração do Senhor. Por cair num domingo, neste ano, a Festa transforma-se em Solenidade, pois é uma das festas do Senhor.

Eis-nos, portanto, caríssimos, com Pedro, Tiago e João, ante o Senhor nosso Jesus Cristo, envolvido pela Nuvem luminosa, que O envolve (cf. Lc 9,31) e cobre os discípulos com sua sombra, como cobriu a Virgem Maria na Anunciação; eis o Senhor Jesus totalmente transfigurado, com vestes brilhantes e alvas “como nenhuma lavadeira sobre a terra poderia alvejar”; eis Jesus ladeado por Moisés e Elias... Que significa, caríssimos, este belíssimo Mistério?

Como o Deus Santo de Israel, sobre o Monte Sinai, que revelou Sua Glória a Moisés e depois a Elias, assim também hoje, no Monte Tabor, Jesus revela a Sua Glória, a Glória de Filho de Deus, a Glória divina que é Sua, mas que se escondia na Sua pobre condição humana de Servo, por Ele assumida para nos salvar: “O Verbo Se fez carne e habitou entre nós e nós vimos a Sua Glória, Glória que Ele tem junto ao Pai com Filho único, cheio de graça e de verdade” (Jo 1,14).

Hoje, caríssimos, o Pai, envolvendo o Filho Amado com a Nuvem, símbolo do Santo Espírito, nos revela antecipadamente a Glória que Jesus, na Sua natureza humana igual à nossa, teria depois da Ressurreição: “Efetivamente, Ele recebeu honra e glória da parte de Deus Pai, quando do seio da esplêndida Glória se fez ouvir aquela voz que dizia: ‘Este é o Meu Filho bem-amado, no qual ponho o Meu bem-querer’”.

Olhemos para Jesus: Ele é divino, Ele é o Filho amado, igual ao Pai em glória; Ele é o nosso Deus Salvador! Se Moisés e Elias sobre o Monte não puderam ver o Rosto de Deus, agora, no Tabor, eles contemplam, com o rosto descoberto, a Glória fulgurante de Deus que se manifesta na Face de Cristo! Eis, meus caros irmãos: em Cristo, Deus Se revelou a nós, em Cristo, Deus veio ao nosso encontro. Ele Se fez um de nós, assumiu nossa pobreza humana para nos enriquecer com a glória da Sua divindade. E essa Glória, Ele no-la mostra hoje sobre o Tabor; essa Glória é o nosso destino, é a nossa herança! Na Ceia derradeira, pensando no Espírito de Glória que derramaria sobre Seus discípulos de todos os tempos nos sacramentos da Igreja, o Senhor nosso diria: “Eu lhes dei a Glória que Tu me deste” (Jo,17,21).

Mas, atenção! Nos três evangelhos que narram a Transfiguração, está dito que esta manifestação gloriosa do Senhor aconteceu pouco depois do primeiro anúncio da Sua Paixão. O que isso quer dizer? Duas coisas importantíssimas:

Primeiro, que a Paixão não é um fim, a Paixão não é derrota, mas o modo que Deus tem de vencer; a Paixão é caminho para a Glória.

E aqui, precisamente, a segunda lição: não se pode entrar na Glória de Cristo sem passar pela Cruz do Senhor; como dizia São João da Cruz: “Quem não ama a Cruz de Cristo, não verá a Glória de Cristo!” Glória de Cristo sem cruz, sem conversão, sem combate, sem sair de nós e de nossas medidas, simplesmente não é possível! Não é por acaso que Jesus proíbe os discípulos de contar o que eles viram sobre o Monte “até que o Filho do Homem tivesse ressuscitado dos mortos”. É que jamais se poderá compreender a Glória de Cristo sem antes se ter participado do mistério de Sua Cruz.

Uma glória sem a experiência da cruz seria triunfalista, anti-evangélica, idolátrica, mundana. Somente a Glória que brota do amor da Cruz é divina, verdadeira, libertadora, humanizadora, reveladora do Coração do Pai! Do mesmo modo, não é por acaso que Pedro, Tiago e João, que estiveram com Jesus no Tabor, deveriam também estar com Ele no Monte dasOliverias, convidados a fazer-Lhe companhia no momento em que Ele “começou a apavorar-Se e a angustiar-Se” (Mc 14,33). Infelizmente, aqueles lá - como nós tantas vezes -, no Tabor queriam armar tendas e ficar ali; nas Oliveiras, dormiram e deixaram Jesus sozinho...

Eis, caríssimos, o sentido do Mistério de hoje! Cristo feito homem é Deus verdadeiro, vivo e perfeito, é o Deus de Israel com rosto e coração humanos. Cristo, como aparece hoje no Tabor, já nos mostra a Glória que o transfiguraria para sempre. Cristo, envolvendo Moisés e Elias com a Sua Glória, revela que é Nele que a Lei e os profetas encontram a luz e chegam à plenitude. Cristo, inundando de luz a Seus discípulos, envolve-os na Sua Glória, revelando qual o nosso destino: participar da luz da Sua Glória por toda a eternidade! Mas, tudo isso, passando pelo mistério da cruz!

Hoje, estamos nós aqui, celebrando a Santa Eucaristia, sacrifício do Cordeiro morto e glorificado... Hoje, o Tabor é aqui; hoje, é aqui, nos sinais eucarísticos, que se manifesta a Glória do Senhor Jesus porque nos é dado o Espírito do Senhor, que eucaristiza, que transfigura, que transubstancia o pão e o vinho, elementos deste mundo, como a natureza humana de Jesus, em Corpo e Sangue do Cristo Senhor imolado e ressuscitado, pleno de Espírito de Glória! Comungando no Seu Corpo e no Seu Sangue é Sua Glória que nos inunda, é Sua graça que nos fortalece, é Sua Vida eterna e divina que nos revigora.

Mas, nunca esqueçamos: como o Cristo do Tabor era Aquele que haveria de morrer e ressuscitar, o Cristo da Eucaristia é o Cordeiro vivo mas quebrado, partido em Eucaristia, a nós dado na Sua amorosa imolação! É este mistério, irmãos amados, que devemos viver na nossa vida: trazer em nós continuamente a participação na paixão e morte do Senhor para que a Sua Glória e a Sua Vida vão nos inundando, vão transfigurando a nossa existência, as nossas experiências, até o Dia eterno, no Tabor eterno da Glória sem fim! Este é o caminho de Cristo, o único que é segundo o Evangelho! Por isso mesmo, o Pai nos adverte: “Este é o Meu Filho amado. Escutai o que Ele diz!” Diz com a palavra, diz com os gestos, diz com a vida, diz com Sua Morte e Ressurreição. Então, escutar Jesus é se predispor a participar do Seu caminho, do Seu destino de cruz e de glória, de morte e ressurreição. Não sejamos amigos do Tabor e inimigos do Horto das Oliveiras! Não seríamos discípulos, não seríamos cristãos! Sustentemos os combates da vida com os olhos fixos em Cristo e, nas escuridões desta nossa humana peregrinação, tenhamos diante dos olhos a esperança da Glória de Cristo, “como lâmpada que brilha em lugar escuro, até clarear o Dia e levantar-se a Estrela da manhã”. Mas, que Estrela é essa, de que fala a segunda leitura. O Apocalipse responde, com as palavras do próprio Cristo glorioso: “Eu Sou o Rebento da estirpe de Davi, a brilhante Estrela da manhã” (Ap 22,16). Eis, portanto: os tempos são maus, a confusão é grande, os inimigos da fé de dentro, solapando a verdade do Evangelho! Suportemos, unidos a Cristo, o combate, sabendo que “quando Cristo nossa Vida aparecer, seremos semelhantes a Ele, pois o veremos como Ele é” (1Jo 3,2). A Ele a glória, pelos séculos dos séculos. Amém.

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