sábado, 29 de julho de 2017

7 fatos sobre a vida dos leigos nos primeiros séculos do cristianismo


Apesar de costumeiramente não receber uma descrição melhor do que “o leigo é aquele que não é padre nem religioso”, é da vida leiga que a Igreja é principalmente composta. O ministério ordenado, como sabemos, não é um fim em si mesmo. Bispos, padres e diáconos estão a serviço do crescimento na fé, na esperança e no amor daquela multidão de homens e mulheres que fecundam com o Espírito de Deus a vida do mundo.

O protagonismo do leigo na vida da Igreja é um tema que foi retomado com mais força em tempos recentes pelo Concílio Vaticano II, sobretudo nas constituições Lumen Gentium e Gaudium et Spes e no decreto Apostolicam Actuositatem. Por “vida da Igreja”, entenda-se tanto a sua participação na sociedade realizada a partir do Evangelho e, assim, como presença de Cristo no mundo, quanto a sua colaboração, ao lado de clérigos e religiosos, na missão evangelizadora da Igreja, assumindo serviços pastorais.

Desde o Concílio, leigos têm lentamente assumido postos na Cúria Romana e nas dioceses. São mais numerosas – mas ainda tímidas – as beatificações e canonizações de leigos. Os leigos passaram a poder estudar teologia e lecionar nessa área. Mas como vivia o laicato nos primórdios da Igreja? Confira aqui sete fatos sobre como era a vida dos leigos nos primeiros séculos do cristianismo.

Laikós

A palavra “leigo” – do grego λαϊκός (“laikós”), que vem de λαός (“laós”), “povo” – não aparece no Novo Testamento. Seu primeiro registro em contexto cristão está na carta de Clemente aos coríntios, no final do século I.

Eles anunciam, ensinam e participam

Mas é claro que leigos e leigas estão presentes na Igreja nascente: eles participam da eleição de Matias para a vaga que surgiu entre os doze apóstolos com a morte de Judas (cf. At 1, 23), bem como da escolha dos sete primeiros diáconos (cf. At 6, 1-6). Anunciam o Evangelho, até aproveitando as dispersões que as perseguições ocasionam (cf. At 8,4; 11,19), e assumem ministérios como o de didáscalos (mestre, doutor), como o casal Áquila e Priscila, que dá uma formação mais aprofundada da fé a Apolo (cf. At 18,26).

“Já enchemos tudo”

Estava claríssimo que a missão evangelizadora da Igreja era responsabilidade tanto dos ministros ordenados quanto dos leigos. Era nas conversas do dia-a-dia, nas cidades e nos campos, que o nome de Jesus era anunciado. Tertuliano, no final do século II, louvava diante dos pagãos os frutos do testemunho cristão no meio do mundo: “Nós somos de ontem e já enchemos tudo que é vosso: cidades, ilhas, fortalezas, prefeituras, aldeias, os próprios campos, tribos, decúrias, palácio, senado, fórum; deixamo-vos apenas os templos…”

Trindade

O teólogo africano Tertuliano (+220), aliás, era um dos grandes escritores da Igreja dos primeiros séculos – foi ele quem registrou pela primeira vez o termo “Trindade” e quem fez a mais antiga exposição formal sobre a teologia trinitária. E era um leigo.

Apologetas

O filósofo e mártir Justino (+165) também era leigo, bem como Minúcio Félix, Lactâncio e outros escritores cristãos. Outro personagem fundamental da Igreja dos primeiros séculos, Orígenes (+ 254), já era um teólogo renomado e estava na ativa há mais de vinte anos quando foi ordenado presbítero.

Pregação

Até o século III, não era raro ver leigos pregando em público nas assembleias, de forma oficial. “Onde se encontram homens em condição de ajudar os irmãos, eles são convidados pelos santos bispos a pregar para o povo”, escrevem Teoctisto de Cesareia e Alexandre de Jerusalém, bispos, em uma carta defendendo o ministério de Orígenes como pregador, na qual citam outros diversos casos. A epístola é reproduzida por Eusébio em sua História eclesiástica.

A eleição dos bispos

É só no decorrer dos séculos III e IV que começam a aparecer escritos que criam um abismo entre ministros ordenados e leigos, como a Didascália e as Constituições Apostólicas. Há uma função da qual os leigos participam que, porém, é mantida religiosamente ainda por muito tempo: a eleição dos bispos. A praxe é considerar a participação de todo o povo cristão na escolha do seu bispo como uma regra indispensável. Tanto é assim que Santo Agostinho – uma exceção, pois foi apontado como bispo pelo seu antecessor, Valério –, bem como o primaz da Numídia, Megalio de Calama, que presidiu sua ordenação, se desculparam posteriormente pela eleição episcopal realizada sem a participação do povo.


Felipe Koller 
Teólogo, com mestrado pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. É catequista há 12 anos e prega em retiros de jovens. Pela Editora Apostolado da Divina Misericórdia, lançou uma série de livros infantis.
________________________
Aleteia/ Sempre Família.

Nenhum comentário:

Postar um comentário