sexta-feira, 7 de julho de 2017

Homilética: 16º Domingo do Tempo Comum - Ano A: "Por que Deus permite tanto mal no campo do mundo?"


A essa pergunta nos responde a primeira leitura de hoje: “Ao pecador lhe dás tempo para que se arrependa”. E para isso, Deus nos manda o seu Espírito que nos ajuda na nossa debilidade (segunda leitura). Mas também temos que colocar a nossa parte: vigilância, porque o inimigo da nossa alma não dorme e quer semear o seu joio nos momentos de sonolência e distração da nossa parte (evangelho).

A Palavra de Deus, em Mt 13, 24-43, nos apresenta três parábolas: O trigo e o joio, o grão de mostarda e o fermento na massa. Na volta da Missão, nota-se a impaciência dos Apóstolos para com aqueles que não os acolheram: “Queres que mandemos que desça o fogo do céu para destruí-los?” Jesus critica a pressa dos Apóstolos contando as três parábolas citadas. As parábolas evangélicas são breves narrações que Jesus utilizava para anunciar os mistérios do Reino dos Céus. Utilizando imagens e situações da vida cotidiana, o Senhor “deseja indicar-nos o verdadeiro fundamento de todas as coisas. Ele mostra-nos o Deus que age, que entra na nossa vida e quer guiar-nos pela mão” ( Bento XVl, Jesus de Nazaré, 2007). Com este tipo de discursos, o Mestre divino convida a reconhecer antes de tudo a primazia de Deus Pai: onde Ele não está, nada pode ser bom. Trata-se de uma prioridade decisiva para tudo. Reino dos Céus significa, precisamente, Senhorio de Deus, e isto quer dizer que a sua Vontade deve ser assumida como o critério-guia da nossa existência.

O tema contido no texto do Evangelho (Mt 13, 24 – 43) é precisamente o Reino dos Céus. O “Céu” não deve ser entendido unicamente no sentido da altura que nos ultrapassa, porque tal espaço infinito possui também a forma da interioridade do homem. Jesus compara o Reino dos Céus com um campo de trigo, para nos levar a compreender que dentro de nós foi semeado algo de pequeno e escondido que, no entanto, possui uma força vital insuprimível. Não obstante todos os obstáculos, a semente desenvolver-se-á e o fruto amadurecerá. Este fruto só será bom, se o terreno da vida for cultivado em conformidade com a vontade divina. Por isso, na parábola do trigo bom e do joio, Jesus admoesta-nos que, depois da sementeira realizada pelo dono, “enquanto todos dormiam”, interveio “o seu inimigo”, que semeou a erva daninha. Isto significa que devemos estar prontos para conservar a graça recebida desde o dia do Batismo, continuando a alimentar a fé no Senhor, a qual impede que o mal ganhe raízes. Santo Agostinho, comentando esta parábola, observa que “muitos, primeiro são joio e depois tornam-se trigo bom”, e acrescenta: “Se eles, quando são malvados, não fossem tolerados com paciência, não chegariam à mudança louvável” ( Quest. Sobre Ev. Mateus, 12, 4 ).

A Igreja Católica, sendo Santa, sempre fugiu dos diversos puritanismos, rigorismos e da mentalidade de seita, ou seja, duma visão estreita e separatista. Ela deseja que os seus filhos estejam no meio do mundo, convivendo com os seus iguais, como o bom trigo, e no mesmo campo que o joio. No entanto, o trigo não se sente mal, não se sente estranho no seu próprio ambiente. Se tivesse consciência, o trigo saberia que aquele é o seu lugar natural, deve estar aí, nem deseja que o plantem nos ares, aí não sobreviveria. Ainda que o joio, esta planta que engloba os vegetais e cresce às suas custas, lhe subtraia algumas energias, deve continuar aí no mesmo lugar.

A parábola (do trigo e do joio) nos revela duas atitudes: a impaciência dos homens: “Senhor, queres que arranquemos o joio?” – A paciência de Deus: “Deixai crescer junto até a colheita…” A paciência de Deus não é simples paciência, isto é, ficar aguardando o dia do juízo para depois punir com maior satisfação. Esta é, muitas vezes, a falsa paciência do homem. A de Deus é longanimidade, é misericórdia, é vontade de salvar. Ou desprezas as riquezas da sua bondade, tolerância e longanimidade, desconhecendo que a bondade de Deus te convida ao arrependimento? (Rm 2, 4 ). Ele é, de verdade, como cantou o salmo 85(86), um Deus de piedade, cheio de compaixão, lento para a cólera e cheio de amor, um Deus fiel.

O mundo é o campo em que o Senhor semeia continuamente a semente da sua graça: semente divina que, ao arraigar nas almas, produz frutos de santidade. Com que amor Jesus nos dá a sua graça! Para Ele, cada homem é único, e, para redimi-lo, não vacilou em assumir a nossa natureza humana.

O campo é, sim, o mundo, mas é também a Igreja: lugar em que há espaço para crescer, converter-se e, sobretudo, para imitar a paciência de Deus. “Os maus existem no mundo ou para que se convertam, ou para que por eles os bons exercitem a paciência” (Santo Agostinho).

A parábola não perdeu atualidade: muitos cristãos dormiram e permitiram que o inimigo semeasse a má semente na mais completa impunidade; surgiram erros sobre quase todas as verdades da fé e da moral. “Está claro: o campo é fértil e a semente é boa; o Senhor do campo lançou às mãos cheias a semente no momento propício e com arte consumada; além disso, preparou toda uma vigilância para proteger a recente sementeira. Se depois apareceu o joio, é porque não houve correspondência, já que os homens – os cristãos especialmente – adormeceram e permitiram que o inimigo se aproximasse” (São Josemaria Escrivá, Cristo que passa, 123 ).

É necessário que vigiemos dia e noite, e não nos deixemos surpreender; que vigiemos para podermos ser fiéis a todas as exigências da vocação cristã, para não deixarmos prosperar o erro, que leva rapidamente à esterilidade e ao afastamento de Deus. É necessário que vigiemos sobretudo o nosso coração, sem falsas desculpas de idade ou de experiência, pois “ o coração é um traidor, e tem que estar fechado a sete chaves” (Caminho, 188).

Diz Jesus: “o joio são os filhos do Maligno, e o inimigo, que o semeou, é o demônio” (Mt 13, 39). O inimigo de Deus e das almas sempre lançou mão de todos os meios humanos possíveis. Vemos, por exemplo, que ora se desfiguram umas notícias, ora se silenciam outras; ora se propagam ideias demolidoras sobre o casamento, por meio dos seriados de televisão de grande alcance, ora se ridiculariza o valor da castidade e do celibato; defende-se o aborto ou a eutanásia, ou semeia-se a desconfiança em relação aos sacramentos e se dá uma visão pagã da vida, como se Cristo não tivesse vindo redimir-nos e lembrar-nos que o Céu nos espera. E tudo isto com uma constância e um empenho incríveis. O inimigo não descansa!

A parábola constitui, pois, um convite universal à vigilância, a não deixar passar em vão a hora da graça e a estar preparados para a ceifa, porque tal como o joio é apanhado e queimado no fogo, assim será no fim do mundo”. Então, “todos os que fazem outros pecar e os que praticam o mal, serão lançados na fornalha de fogo, enquanto os justos brilharão como o sol no Reino de Seu Pai” (Mt 13, 40-43).

A abundância do joio só pode ser enfrentada com maior abundância de boa doutrina: vencer o mal com o bem (Rm 12, 21), com o exemplo da vida e a coerência da conduta. O Senhor nos chama para que procuremos a santidade no meio do mundo, no cumprimento dos deveres cotidianos.

O joio e o trigo estão presentes em toda parte: Mesmo em nossas comunidades cristãs vemos presente tanto joio de desunião, de inveja, de fofocas…

Fiquemos atentos pois, dentro de cada um de nós, há trigo e joio! Peçamos ao Senhor para que sejamos trigo de amor, dedicação e colaboração. Que seja afastado de nós o joio do ódio, da discórdia, da calúnia, da vontade de ser grande, das disputas, do ciúme, da falta de oração. De onde vem esse joio? O Senhor nos alerta que veio do inimigo. O inimigo é o pai da mentira, da separação, da discórdia. São em momentos assim que precisamos “voltar ao primeiro amor”, recordar o nosso primeiro chamado, aquele chamado simples e confiante em Deus.

Existe o bem e o mal dentro de cada um, de cada coração dividido. Separar então o joio é um movimento cirúrgico, pois se trata de tirar de cada coração humano aquilo que é mentira, que é orgulho, para que fique só a Cristo. Deus tem sido paciente conosco, sejamos também com o próximo, até que todo joio seja extirpado nas nossas vidas.

Que elementos de “joio” encontro em mim? Tenho sido um instrumento paciente para ajudar na separação do joio e do trigo?

É preciso saber valorizar a semente de trigo presente no coração de cada pessoa; cultivá-la com paciência e profundo respeito. Respeitar o processo de amadurecimento de cada pessoa, usando de paciência.

Procuremos ser a semente de mostarda, pequena, insignificante, mas que cresce até aninhar os pássaros em seus ramos. Devemos ser o fermento, que leveda toda a massa da farinha, o mundo em que vivemos…

O fermento é também figura do cristão! Vivendo no meio do mundo, sem se desnaturalizar, o cristão conquista com o seu exemplo e com a sua palavra as almas para o Senhor.  “A nossa vocação de filhos de Deus, no meio do mundo, exige-nos que não procuremos apenas a nossa santidade pessoal, mas que vamos pelos caminhos da Terra, para convertê-los em atalhos que, através dos obstáculos, levem as almas ao Senhor; que participemos, como cidadãos normais e correntes, em todas as atividades temporais, para sermos levedura que há de fermentar toda a massa” (Cristo que passa, nº 120).

Somos convidados a imitar a misericórdia do Pai celeste, aceitando pacientemente as dificuldades provenientes da convivência com os inimigos do bem e tratá-los com bondade fraterna na esperança de que, vencidos pelo amor, mudem de comportamento. Deve-se recorrer também à oração, para que o Senhor defenda os seus filhos de serem contagiados. “Que o Espírito Santo venha em auxílio de nossa fraqueza, pois não sabemos o que pedir… É que o Espírito intercede pelos cristãos de acordo com a vontade de Deus” (Rm 8, 26-27). Há que deixar em Suas mãos a causa do bem!


Diz o Livro da Sabedoria: “Não há fora de Vós um Deus que se ocupa de tudo… Porque a vossa força é o fundamento da vossa justiça e o fato de serdes Senhor de todos torna-vos indulgente para com todos” (Sb 12, 13.16); e o Salmo 85 confirma-o: “Porque Vós sois clemente e bom, Senhor, cheio de misericórdia para com aqueles que Vos invocam” (v. 5). Portanto, se somos filhos de um Pai tão grande e bom, procuremos assemelhar-nos a Ele! Esta era a finalidade que Jesus se propunha com a sua pregação; com efeito, a quantos O ouviam, Ele dizia: “Sede perfeitos, como o vosso Pai que está nos Céus é perfeito” (Mt 5, 48). Dirijamo-nos com confiança a Maria, que no dia 16 pudemos invocar com o título de Nossa Senhora do Carmo, a fim de que nos ajude a seguir fielmente Jesus e, deste modo, a viver como verdadeiros filhos de Deus. 

COMENTÁRIOS DOS TEXTOS BÍBLICOS

Leituras: Sab 12, 13.16-19; Rm 8, 26-27; Mt 13, 24-43

Caros irmãos e irmãs, as leituras bíblicas que compõem a Liturgia da Palavra deste domingo nos convidam a refletir sobre a paciência e a misericórdia de Deus. A primeira leitura (cf. Sb 12,13.16-19), nos fala de um Deus que, apesar da sua força e onipotência, é indulgente e misericordioso para com todos, mesmo quando os homens praticam o mal. Agindo dessa forma, Deus convida os seus filhos a terem um coração misericordioso e também indulgente, semelhante ao seu próprio coração. Sequenciando este mesmo tema está também a segunda leitura, que sublinha a bondade e a misericórdia do Senhor.

No Evangelho deste domingo continuamos a escutar o Senhor que, sentado na barca, prossegue nos falando do Reino dos Céus. Assim como aquela multidão estava à beira do mar a ouvir o Senhor, estejamos também nós atentos aos seus ensinamentos.

O texto evangélico nos apresenta três parábolas contadas por Jesus: O trigo e o joio, o grão de mostarda e o fermento na massa. Jesus pregava usando a imagem rica e expressiva das parábolas, breves narrações utilizadas para anunciar os mistérios do reino dos céus.  A partir das  imagens e situações da vida quotidiana, o Senhor nos indica o verdadeiro fundamento de todas as coisas. Ele nos mostra o Deus que entra na nossa vida e quer nos guiar pelo caminho do amor, do bem e da salvação.

O joio queimado no fogo, a fornalha ardente, o choro e o ranger de dentes são os símbolos utilizados para impressionar os crentes, obrigá-los a repensar os seus esquemas de vida e a voltar à fidelidade a Deus. Portanto, o evangelista apresenta um convite urgente à conversão.

A primeira parábola que nos é proposta é a parábola do trigo e do joio (vv. 24-30). Trata-se de um quadro da vida quotidiana: há um senhor que semeia a boa semente no seu campo, mas um inimigo, visando prejudica-lo semeia também o joio, uma erva da família dos gramíneos, cujas espécies são conhecidas pelos frutos infestados por fungos, que prejudicam as plantações.  A ordem do senhor é para deixar crescer o trigo e o joio lado a lado, a separação do bem e do mal será feita apenas no momento da colheita.

Essa parábola deve ser entendida no contexto do ministério de Jesus. Ele conviveu com os pecadores, com os marginais, com os que levavam vidas moralmente condenáveis. Sentou-se à mesa com gente desclassificada, deixou-se tocar por pecadoras públicas, convidou Mateus, um publicano, para fazer parte do seu grupo de discípulos. Com esse comportamento, Jesus quis dizer que todos são convidados a fazer parte da sua família.

Os fariseus consideravam inaceitável esta atitude de Jesus. Para eles, quem não cumpria a Lei era excluído do Povo de Deus.  Nesta parábola, Jesus mostra que o pensamento dos homens é diferente do pensamento de Deus.  O agir de Deus tem como base a paciência e a misericórdia; e oferece sempre ao homem todas as oportunidades para refazer a sua existência e integrar plenamente à comunhão com o seu Criador, que tem um plano de salvação a todos: bons e maus. No tempo oportuno, serão identificados os maus e os bons; e então irá ocorrer a separação.  Segundo o texto bíblico o trigo e o joio podem crescer juntos, mas no Juízo Final irá ocorrer a divisão dos bons e dos maus. São Mateus insiste que o “dia da colheita”, imagem utilizada pelos profetas, se identifica com o dia do “juízo de Deus” sobre os homens e o mundo, os bons receberão a recompensa e os maus receberão o castigo.

Na parábola do trigo e do joio encontramos duas atitudes: Por um lado, a impaciência dos homens que querem a destruição: “Queres que arranquemos o joio?” (v. 28); e, por outro lado, a paciência de Deus: “Deixai crescer um e outro até a colheita!” (v. 30).  Certamente nós gostaríamos que Deus se mostrasse mais forte, que vencesse imediatamente o mal e fizesse o bem prosperar, para termos um mundo melhor. Muitas vezes sofremos com a paciência de Deus, mas esquecemos que também nós temos necessidade dessa paciência. Esquecemos que também nós erramos e precisamos sempre do seu perdão e da sua misericórdia.

Jesus explica no Evangelho: “O inimigo que semeou o joio é o diabo” (v. 39). O inimigo de Deus e das almas sempre lançou mão de todos os meios humanos possíveis para instabilizar a vida do homem e a sua unidade com a importância da família estavelmente constituída, a unidade e a indissolubilidade do matrimônio, e a vida humana respeitada e protegida desde o momento da concepção.

Jesus compara o Reino dos céus a um campo de trigo, para nos levar a compreender que dentro de nós foi semeado algo de pequeno e escondido que, no entanto, possui uma força vital e perene. Mesmo com os eventuais obstáculos, a semente irá se desenvolver e o fruto amadurecerá. Este fruto só será bom, se o terreno da vida for cultivado em conformidade com a vontade divina. Isto significa que devemos estar prontos para conservar a graça recebida desde o dia do Batismo, continuando a alimentar a fé no Senhor; isto nos fortalece e impede que o mal ganhe raízes em nós.

Deus é sempre paciente com cada um de nós, os pecadores. A paciência de Deus com o joio nos convida a rejeitar toda atitude de rigidez, intolerância, incompreensão e vingança nas nossas relações com os outros. O senhor da parábola não aceita a intolerância, a impaciência e o radicalismo dos seus servos que pretendem cortar o mal pela raiz e arrancá-lo, correndo o risco de serem injustos, de se enganarem, colocando o mal e o bem no mesmo ambiente. Às vezes, somos demasiados ligeiros em julgar e condenar. A Palavra de Deus nos convida a moderar a nossa dureza, a nossa intolerância, a nossa intransigência e a contemplar os irmãos, com as suas falhas, defeitos, diferenças e comportamentos. Saibamos olhar as pessoas com os olhos benevolentes, compreensivos e pacientes de Deus.

Para que possamos transformar o joio em trigo, devemos ser a semente de mostarda, pequena, insignificante, mas que cresce até aninhar os pássaros em seus ramos. Devemos ser o fermento, que leveda toda a massa da farinha, o mundo em que vivemos.  O fermento é também a figura de cada um de nós. Vivendo no meio do mundo devemos conquistar com o nosso exemplo e com a nossa palavra novas almas para o Senhor.  O joio e o trigo estão presentes em toda parte. Frequentemente nos deparamos com o joio da desunião, da inveja, das fofocas. Fiquemos atentos pois, dentro de cada um de nós, há trigo e joio.

Que o Senhor nos faça ser o trigo do amor, da dedicação e da colaboração. Que seja afastado de nós o joio do ódio, da discórdia, da calúnia… É preciso saber valorizar a semente de trigo presente no coração de cada pessoa; cultivá-la com paciência e amor. Respeitar o processo de amadurecimento de cada pessoa, sendo paciente e misericordioso.   A Palavra de Deus nos convida, contudo, a não perder a confiança e a esperança.

Peçamos a intercessão da Virgem Maria, para que ela nos ajude a seguir sempre o Senhor Jesus, na oração e na caridade, colocando em prática os seus ensinamentos e semeando em todos os lugares a semente da unidade, do bem e da paz.  Assim seja. 

PARA REFLETIR


Hoje, o Senhor nos apresenta três parábolas: a do trigo e do joio semeados no campo do mundo e do nosso coração, a do grão de mostarda que cresce a abriga as aves dos céus e, finalmente, a do tiquinho de fermento que leveda toda a massa… É assim o Reino dos Céus!

As três parábolas mostram a fraqueza do Reino, sua fragilidade escandalosa, mas também sua força invencível, seu poder, sua capacidade de tudo impregnar e transformar, até chegar à vitória final. Só que para compreender isso – os mistérios do Reino -, é necessário ter a paciência, a sabedoria que nos dá a capacidade de acolher os tempos e modos de Deus! Mas, vamos às parábolas.

Primeiro, a do trigo e do joio. Que nos ensina aqui o Senhor? Que lições nos quer dar? Em primeiro lugar: Deus não é inativo, indiferente ao mundo, à nossa vida de cada dia. No seu Filho, semeou o trigo do Reino no campo deste mundo e no campo do nosso coração. Como diz o Livro da Sabedoria, na primeira leitura de hoje: “Não há, além de ti, outro Deus que cuide de todas as coisas!” Sim: nosso Deus é um Deus presente, um Deus atuante, um Deus que cuida de nós com amor e com amor vela por suas criaturas! Não duvidemos, não percamos de vista esta realidade: num mundo de cimento armado e homens bombas, fome, mortes e mensalões, Deus está presente, Deus cuida de nós! Uma segunda lição desta parábola: no mundo e no coração de cada um de nós infelizmente há o mal, o pecado, a treva. Por favor, não mascaremos o mal do mundo nem o mal do nosso interior! É preciso desmascará-lo, é preciso chamá-lo pelo nome! Não mascare, irmão, irmã, o mal da sua vida, do seu coração, da sua consciência! Esse mal não vem de Deus; vem do Antigo Inimigo, do Diabo que, mais esperto que nós, tantas vezes faz o mal nos parecer bem e até achar que nós mesmos estamos acima do bem e do mal! O Diabo é assim: semeia o mal e faz com que ele se confunda com o bem, como o trigo e o joio. E nós, tolos, confundimos tudo e pensamos ser bem ao que é mal – mal semeado pelo Maligno! Por favor, olhe o seu coração: não se engane, não finja, não mascare, não minta pra você mesmo! Chame o mal de mal e o bem de bem! Numa terceira lição, a parábola de Jesus nos ensina a paciência, sobretudo com o mal que vemos no mundo e nos outros! Somos impacientes, caríssimos, e até julgamos Deus e o seu modo de agir no mundo. O querido Bento XVI, na sua homilia de início de pontificado, falava da paciência de Deus que salva e da impaciência nossa que coloca a perder… Jesus nos pede que confiemos em Deus, que acreditemos na sua ação e nos seus desígnios, tempos e modos: Não há, além de ti, outro Deus que cuide de todas as coisas e a quem devas mostrar que teu julgamento não foi injusto. A tua força é princípio da tua justiça e o teu domínio sobre todos te faz para com todos indulgente. Dominando tua própria força, julgas com clemência e nos governas com grande moderação; e a teus filhos deste a confortadora esperança de que concedes o perdão aos pecadores”.

Escutemos ainda um pouco o Senhor; aprendamos com as parábolas do grão de mostarda e do fermento que leveda a massa. Precisamente porque o modo de pensar e agir de Deus não é como o nosso, o Reino dos Céus aparece tão frágil, tão inseguro, tão precário… pequenino como um grão de mostarda, pouquinho como uma pitada de fermento! E, no entanto, será grande, será forte, será vitorioso e abrigará as aves dos céus! Será eficaz, forte, e penetrará toda a massa deste mundo! Mas, quando, Senhor? Por que demoras? Por que parece que estás longe? Por que pareces dormir? Observem, irmãos, que em todas as parábolas do Reino, Jesus deixa claro que, ao fim, haverá um julgamento de cada um de nós e o Reino triunfará!

Mas, para não descrer, para não desesperar, para não ver e sentir simplesmente na nossa medida e com nossas forças, supliquemos que o Espírito do Ressuscitado venha nos socorrer, “pois não sabemos o que pedir, nem como pedir!” Só o Espírito do Cristo, o Semeador do Reino, pode nos fazer perceber os sinais do Reino, os sinais de Deus no mundo e na vida. Só o Espírito nos sustenta, fazendo-nos caminhar sem desfalecer, de esperança em esperança… Só o Espírito nos ensina as coisas do Reino: ele torna o Reino presente porque torna Jesus presente. Por isso mesmo, em vários antigos manuscritos do Evangelho de São Lucas, na oração do Pai-nosso, onde tem “Venha o teu Reino” aparece “Venha o teu Espírito”! É o Espírito de Cristo que torna o Reino presente em nós e no mundo. Deixemo-nos, portanto, guiar por ele, pois “o Reino de Deus é paz e alegria no Espírito Santo!”

Eis, caríssimos! Aprendamos do Senhor, vigiemos e acolhamos sua palavra. Se formos fiéis e perseverarmos até o fim, escutaremos cheios de esperança sua promessa, que encerra o Evangelho de hoje: “… então, os justos brilharão como o sol no Reino do seu Pai!” Que assim seja! Amém!

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