Com receita de 6,1 milhões de dólares no seu
primeiro fim de semana, o filme “Unplanned” (“Não Planejado“) conquistou o
notável sucesso de ficar em 5º lugar entre as maiores bilheterias dos Estados
Unidos na sua primeira semana de exibição nos cinemas do país, apesar da forte
campanha de boicote realizada por grupos abortistas contra esta produção
pró-vida.
quinta-feira, 11 de abril de 2019
Os primeiros 100 dias da atuação da imprensa no governo Bolsonaro
A mídia inteira avalia os primeiros 100 dias
do governo Bolsonaro através de uma lente ideológica esquerdista. Isso
significa que não importa o que Bolsonaro faça seus atos serão sempre piores do
que as atitudes de Fidel Castro ou Maduro. A mídia está seguindo o mesmo modus
operandis da imprensa americana: transformar os atos mais desprezíveis em
escândalo nacional como a notícia publicada pelo Estadão em que Bolsonaro chega
na churrascaria antes do aniversariante.
O corte de mais de 10 bilhões com publicidade
estatal, a flexibilização da posse, mais de 12 concessões aeroportuárias, a
apresentação da Reforma e do Pacote Anticrime, o novo recorde da bolsa, a
extinção de mais de 21 mil cargos públicos estão sendo completamente ignorados
por cortinas de fumaça como a polêmica de menino veste azul e menina veste
rosa.
Diante de tantos problemas, resolvemos
analisar os primeiros 100 dias da atuação da imprensa no governo Bolsonaro,
comentadas por Luciano Oliveira e André Assi Barreto, editor e colunista do
Senso Incomum.
Exposição de "virgem abortista" na Argentina completa um mês sem sanção alguma
Apesar da rejeição de milhares de cidadãos, de
grupos de advogados, do Partido Democrata Cristão e do próprio Secretário de
Culto da Argentina, Alfredo Abriani, a imagem mariana chamada "virgem
abortista" ainda está exposta em um centro cultural em Buenos Aires
(Argentina).
No dia 7 de abril completou um mês desde que a
imagem da Imaculada Conceição, pintada com um lenço verde no rosto, foi
instalada no Centro Cultural da Memória Haroldo Conti, em Buenos Aires, como
parte da "exposição feminista Para Todes, tode [Plano de luta]" de Kekena
Corvalán.
A
rejeição à imagem ofensiva foi imediata. A Corporação de Advogados Católicos
exigiu medidas administrativas contra o centro cultural e mais de 20 mil
pessoas assinaram na plataforma cidadã CitizenGo para solicitar a retirada da
"virgem abortista".
Do total de assinaturas, cerca de 17 mil foram
apresentadas pelo grupo Advogados pela Vida ao secretário de Culto da
Argentina, Alfredo Abriani.
O Diagnóstico de Bento XVI sobre a crise da Igreja e dos abusos sexuais do clero
O Papa Emérito Bento XVI escreveu recentemente um texto intitulado
"A Igreja e os abusos sexuais", no qual oferece suas reflexões sobre
a atual situação eclesial e apresenta suas propostas para enfrentar esta grave
crise.
O texto (escrito em alemão) é dividido em três partes. No primeiro
apresenta o contexto histórico a partir dos anos 1960, no segundo se refere aos
efeitos na vida dos sacerdotes e no terceiro se propõe uma resposta adequada da
Igreja.
Originalmente, o mesmo seria publicado na Semana Santa pelo Klerusblatt,
um jornal mensal para o clero de algumas dioceses bávaras da Alemanha; no
entanto, terminou sendo divulgado na quarta-feira, 10 de abril, pelo jornal New
York Post.
ACI Digital oferece uma tradução ao português do documento na íntegra,
que é, nas palavras do próprio Bento XVI, sua contribuição para "ajudar a
Igreja nesta hora tão difícil".
A seguir, o texto completo do Papa Bento XVI:
A Igreja e o Escândalo do abuso sexual
De 21 a 24 de fevereiro, a convite do Papa
Francisco, os presidentes das conferências episcopais de todo o mundo se
reuniram no Vaticano para discutir a crise da Fé e da Igreja, uma crise
palpável em todo o mundo após as estarrecedoras revelações dos abusos
perpetrado por clérigos contra menores. A extensão e a gravidade dos incidentes
relatados têm afligido profundamente tanto sacerdotes quanto leigos, e levou a
não poucas pessoas a questionarem a própria fé da Igreja. Era necessário enviar
uma mensagem forte e procurar um novo começo, com tal de tornar a Igreja
novamente verdadeiramente credível como uma luz entre os povos e como uma força
ativa contra os poderes da destruição.
Já que eu mesmo me encontrava servindo em uma
posição de responsabilidade como pastor da Igreja no momento da eclosão pública
da crise e durante seu desenvolvimento, eu tive que me perguntar – ainda que
como emérito já não seja mais diretamente responsável por essa situação - o que
eu podia fazer para contribuir com um novo começo em retrospecto. Assim,
durante o período que vai do anúncio até a realização da reunião dos
Presidentes das Conferências Episcopais, compilei algumas anotações com as
quais creio poder oferecer uma ou duas observações e ajudar a Igreja nessa hora
tão difícil. Tendo entrado em contato com o Secretário de Estado, Cardeal
[Pietro] Parolin e o Santo Padre [Papa Francisco], pareceu-me apropriado
publicar o texto resultante deste esforço no "Klerusblatt" (NdT: um
jornal mensal para o clero de algumas dioceses da Baviera).
Meu trabalho está dividido em três partes. Na primeira,
pretendo apresentar brevemente o contexto societário mais amplo da questão, sem
o qual o problema não pode ser entendido. Eu tento mostrar que na década de 60
ocorreu um evento excepcional, em uma escala sem precedentes na história.
Pode-se dizer que, nos 20 anos decorridos entre 1960 e 1980, os padrões
vinculantes relativos à sexualidade até então entraram em colapso por completo,
gerando uma ausência de normativa que já foi objeto de tentativas laboriosas de
compreensão.
Na segunda parte, pretendo destacar os efeitos
dessa situação na formação dos sacerdotes e na vida dos sacerdotes.
Finalmente, na terceira parte, gostaria de
desenvolver algumas perspectivas para uma resposta adequada por parte da
Igreja.
terça-feira, 9 de abril de 2019
Frei Damião: O capuchinho que evangelizou o nordeste brasileiro e é agora Venerável
Entre os sete decretos assinados pelo Papa Francisco que reconhecem as virtudes heroicas de novos Veneráveis está também o de Frei Damião de Bozzano, capuchinho que evangelizou o Nordeste brasileiro e dizia ser apenas um mensageiro de Deus.
Frei Damião nasceu em Bozzano, na Itália, em 5 de novembro de 1898, tendo recebido o nome de Pio Gianotti. Era o segundo dos cinco filhos do casal de camponeses Felice e Maria Giannotti, de sólida formação católica.
Ainda aos 10 anos, após ser crismado, começou a expressar os primeiros sinais de vocação e, aos 13 anos, ingressou no Seminário Seráfico de Camigliano, da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, em 17 de março de 1911.
Aos 17 anos, em julho de 1915, emitiu os primeiros votos e recebeu o nome de Frei Damião de Bozzano. Entretanto, precisou interromper os seus estudos de Filosofia após ser convocado, em setembro de 1918, para o serviço militar na Primeira Guerra Mundial.
Retornou ao Convento ao fim da Guerra e emitiu sua profissão perpétua. Em 1920, foi estudar Teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma.
Frei Damião foi ordenado sacerdote em 25 de agosto de 1923, na igreja do antigo Colégio São Lourenço de Bríndisi, em Roma. E, em 1931, foi enviado ao Brasil, onde chegou em 17 de junho, tendo se estabelecido no Convento Nossa Senhora da Penha, em Recife (PE). Após esta chegada, foram 66 anos dedicados às Santas Missões.
As Santas Missões eram vistas como “tempo forte de graça e conversão”, que costumavam durar de segunda-feira a domingo. Durante esta semana missionária, o frade proclamava a Palavra de Deus em uma cidade, por isso, afirmava ser apenas um mensageiro de Deus.
As Santas Missões contavam com sermões, catequeses, encontros específicos com homens, mulheres, jovens, crianças, visitava os doentes, os presos. Além disso, dedicava-se ao sacramento da Reconciliação, atendendo confissões por mais de 12 horas por dia, orientando os corações para Cristo.
Com os anos, adquiriu uma deformação na coluna que o deixou encurvado, provocando dificuldades na fala e na respiração. Além disso, durante muito tempo, sofre de erisipela, devido à má circulação sanguínea.
Frei Damião nasceu em Bozzano, na Itália, em 5 de novembro de 1898, tendo recebido o nome de Pio Gianotti. Era o segundo dos cinco filhos do casal de camponeses Felice e Maria Giannotti, de sólida formação católica.
Ainda aos 10 anos, após ser crismado, começou a expressar os primeiros sinais de vocação e, aos 13 anos, ingressou no Seminário Seráfico de Camigliano, da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, em 17 de março de 1911.
Aos 17 anos, em julho de 1915, emitiu os primeiros votos e recebeu o nome de Frei Damião de Bozzano. Entretanto, precisou interromper os seus estudos de Filosofia após ser convocado, em setembro de 1918, para o serviço militar na Primeira Guerra Mundial.
Retornou ao Convento ao fim da Guerra e emitiu sua profissão perpétua. Em 1920, foi estudar Teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma.
Frei Damião foi ordenado sacerdote em 25 de agosto de 1923, na igreja do antigo Colégio São Lourenço de Bríndisi, em Roma. E, em 1931, foi enviado ao Brasil, onde chegou em 17 de junho, tendo se estabelecido no Convento Nossa Senhora da Penha, em Recife (PE). Após esta chegada, foram 66 anos dedicados às Santas Missões.
As Santas Missões eram vistas como “tempo forte de graça e conversão”, que costumavam durar de segunda-feira a domingo. Durante esta semana missionária, o frade proclamava a Palavra de Deus em uma cidade, por isso, afirmava ser apenas um mensageiro de Deus.
As Santas Missões contavam com sermões, catequeses, encontros específicos com homens, mulheres, jovens, crianças, visitava os doentes, os presos. Além disso, dedicava-se ao sacramento da Reconciliação, atendendo confissões por mais de 12 horas por dia, orientando os corações para Cristo.
Com os anos, adquiriu uma deformação na coluna que o deixou encurvado, provocando dificuldades na fala e na respiração. Além disso, durante muito tempo, sofre de erisipela, devido à má circulação sanguínea.
segunda-feira, 8 de abril de 2019
Quarta pregação da Quaresma 2019: "Adorarás o Senhor teu Deus"
MEDITAÇÃO PARA A QUARESMA
"Adorarás o Senhor teu Deus"
"Adorarás o Senhor teu Deus"
Este ano celebramos o oitavo centenário do encontro
de Francisco de Assis com o Sultão do Egito al-Kamil, em 1219. Recordo-o aqui
por um detalhe que diz respeito ao tema das nossas meditações sobre o Deus
vivo.
Depois de retornar de sua viagem ao Oriente em
1219, Francisco de Assis escreveu uma carta dirigida “Aos Regentes dos
povos". Nela dizia, entre outras coisas:
Sois obrigados a dar ao Senhor tanta honra entre o
povo que vos foi confiado, que todas as tardes se anuncie, através de um
pregoeiro ou qualquer outro sinal, a obrigação de se dar o louvor e a gratidão
ao onipotente Senhor Deus de todo o povo. E, se não fizerdes isto, sabei que
tereis de prestar contas a Deus perante vosso Senhor Jesus Cristo no dia do
juízo [1].
Acredita-se amplamente que o santo tenha inspirado
esta exortação no que tinha observado na sua viagem ao Oriente, onde ouviu o
apelo vespertino à oração feita pelos muezins de cima dos minaretes. Um belo
exemplo não só de diálogo entre as diferentes religiões, mas também de
enriquecimento mútuo. Uma missionária que trabalha há muitos anos num país
africano escreveu estas palavras: "Nós somos chamados a responder a uma
necessidade fundamental dos homens, à necessidade profunda de Deus, à sede de
Absoluto, a ensinar o caminho de Deus, a ensinar a rezar. É por isso que os
muçulmanos fazem, nestas regiões, muitos prosélitos: ensinam imediatamente e de
modo simples, a adorar a Deus".
Nós, cristãos, temos uma imagem diferente de Deus -
um Deus que é amor infinito antes mesmo que poder infinito -, mas isto não deve
fazer-nos esquecer o dever primário da adoração. À provocação da mulher
samaritana: "Os nossos pais adoraram neste monte; mas vós dizeis que é em
Jerusalém que devemos adorar", Jesus responde com palavras que são a magna
carta da adoração cristã:
“Mulher, acredita-me, vem a hora em que não
adorareis o Pai, nem neste monte nem em Jerusalém. Vós adorais o que não
conheceis, nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. Mas
vem a hora, e já chegou, em que os verdadeiros adoradores hão de adorar o Pai
em espírito e verdade, e são esses adoradores que o Pai deseja. Deus é
espírito, e os seus adoradores devem adorá-lo em espírito e verdade”. (Jo
4,21-24).
Foi o Novo Testamento que elevou a palavra adoração
a esta dignidade que não tinha antes. No Antigo Testamento, além de Deus, o
culto é também dirigido em alguns casos a um anjo (cf. Nm 22,31) ou ao rei (1
Sam 24,9); pelo contrário, no Novo Testamento toda vez que se tenta adorar
alguém que não seja Deus e a pessoa de Cristo, mesmo que seja um anjo, a reação
imediata é: "Não faça isso! É Deus que deve ser
adorado"[2]. É quase como se alguém estivesse correndo, caso
contrário, um perigo mortal. É o que Jesus, no deserto, recorda
peremptoriamente ao tentador que lhe pediu que o adorasse: "Está escrito:
O Senhor, teu Deus adorarás, só a ele darás culto" (Mt 4, 10).
A Igreja retomou este ensinamento, fazendo da
adoração o ato por excelência do culto de Latria, distinto da chamada dulia
reservada aos Santos e da chamada hiperdulia reservada à Virgem. A
adoração é, pois, o único ato religioso que não pode ser oferecido a mais
ninguém, em todo o universo, nem sequer a Nossa Senhora, mas apenas a Deus.
Aqui está a sua dignidade e força única.
A adoração (proskunesis) no início indicava
o gesto material de prostrar-se ao chão diante de alguém, como sinal de
reverência e submissão. Neste sentido plástico a palavra ainda é usada nos
Evangelhos e no Apocalipse. Neles a pessoa diante da qual se prostrar, na terra
é Jesus Cristo e na liturgia celestial o Cordeiro imolado ou o Onipotente. Só
no diálogo com a samaritana e em 1 Cor 14,25 é que aparece agora dissolvida do
seu significado exterior e indica uma disposição interior da alma para com
Deus. Este se tornará cada vez mais o sentido ordinário do termo e, neste
sentido, no credo, dizemos do Espírito Santo que "adorado e
glorificado" com o Pai e o Filho.
Para indicar a atitude externa correspondente à
adoração, prefere-se o gesto de dobrar os joelhos, a genuflexão. Este último
gesto também é reservado exclusivamente para a divindade. Podemos estar de
joelhos diante da imagem de Nossa Senhora, mas não fazemos genuflexão diante dela,
como fazemos diante do Santíssimo Sacramento ou do Crucifixo.
O que significa adorar
Mas, mais do que o significado e o desenvolvimento
do termo, estamos interessados em saber em que consiste e como podemos praticar
a adoração. A adoração pode ser preparada por uma longa reflexão, mas termina
com uma intuição e, como qualquer intuição, ela não dura muito tempo. É como um
clarão de luz na noite. Mas de uma luz especial: não tanto a luz da verdade,
mas a luz da realidade. É a percepção da grandeza, da majestade, da beleza e,
ao mesmo tempo, da bondade de Deus e da sua presença que tira o fôlego. É uma
espécie de naufrágio no oceano sem costas e sem fundo da majestade de Deus.
Adorar, segundo a expressão de Santa Ângela de Foligno mencionada no início, significa
"recolher-se em unidade e mergulhar no abismo infinito de Deus".
Uma expressão de adoração, mais eficaz que qualquer
palavra, é o silêncio. Na verdade, ele diz por si mesmo que a realidade está
muito além de qualquer palavra. Na Bíblia, a insinuação ressoa alto:
"Toda a terra está em silêncio diante dele! (Hab 2,20) e: "Silêncio
na presença do Senhor Deus!" (Sof 1, 7). Quando "os sentidos estão
envoltos em silêncio sem limites e as memórias envelhecem com a ajuda do
silêncio", disse um Padre do deserto, então tudo o que resta é adorar.
Foi um gesto de adoração o de Jó, quando, tendo
vindo ver face a face o Onipotente no final da sua história, exclama: "
"“Leviano como sou, que posso responder-te? Ponho a minha mão sobre a
boca." (Jó 40,4). Neste sentido, o versículo de um salmo, mais tarde
retomado pela liturgia, no texto hebraico, dizia: "Por ti o silêncio é
louvor", Tibi silentium laus! (cf. Sl 65,2, texto Massorético).
Adorar - segundo a estupenda expressão de São Gregório de Nazianzeno -
significa elevar a Deus um "hino de silêncio"[3]. À medida que o ar
se torna mais rarefeito ao se subir uma alta montanha, da mesma forma ao se
aproximar de Deus a palavra deve tornar-se mais curta, até que se torne, no
final, completamente silenciosa e se una em silêncio com aquele que é o
inefável[4].
Se precisamente se busca "parar" a mente
e impedi-la de vaguear sobre outros objetos, convém fazê-lo com a palavra mais
curta que existe: Amém, Sim. Adorar, de fato, é consentir. É deixar Deus
ser Deus. É dizer sim a Deus como Deus e a si mesmo como criaturas de
Deus. Neste sentido, Jesus é definido no Apocalipse como o Amém, o Sim que se
fez pessoa (cf. Ap 3,14), ou seja, repetir incessantemente com os Serafins:
"Qadosh, qadosh, qadosh: Santo! Santo! Santo!
A adoração requer, portanto, que nos curvemos e
fiquemos em silêncio. Mas será que tal ato é digno do homem? Não o
humilha, derrogando a sua dignidade? Na verdade, isso é realmente digno de
Deus? Que Deus é esse que precisa que as suas criaturas se inclinem à terra
diante dele e se calem? É, Deus, como um daqueles soberanos orientais que
inventaram a adoração para si próprios? É inútil negá-lo, a adoração implica
para as criaturas também um aspecto de humilhação radical, de se tornarem
pequenas, de se entregarem e de se submeterem. A adoração envolve sempre um
aspecto de sacrifício, uma imolação de algo. Precisamente assim ela atesta que
Deus é Deus e que nada nem ninguém tem direito de existir diante dele, senão na
sua graça. Com a adoração se imola e se sacrifica o próprio eu, a própria
glória, a própria autossuficiência. Mas esta é uma glória falsa e
inconsistente, e é uma libertação para o homem se livrar dela.
Adorando, a pessoa "liberta a verdade que era
prisioneira da injustiça". A pessoa torna-se "autêntica" no
sentido mais profundo da palavra. Na adoração já se antecipa o retorno de todas
as coisas a Deus. Há um abandono ao significado e ao fluxo do ser. Assim
como a água encontra a sua paz ao fluir em direção ao mar e o pássaro sua
alegria ao seguir o curso do vento, assim também o adorador ao adorar. Adorar a
Deus não é, portanto, tanto um dever, uma obrigação, mas um privilégio, uma
necessidade. O homem precisa de algo majestoso para amar e adorar! Foi feito
para isto.
Portanto, não é Deus que precisa ser adorado, mas o
homem que precisa adorar. Um prefácio da Missa diz: "Tu não precisas do
nosso louvor, mas por um dom do teu amor nos chamas a dar-te graças; os nossos
hinos de bênção não aumentam a tua grandeza, mas obtêm para nós a graça que nos
salva, por Cristo nosso Senhor"[5]. F. Nietzsche estava completamente fora
do caminho quando definiu o Deus da Bíblia como "aquele oriental
ganancioso por honras em seu assento celestial"[6].
A adoração deve, no entanto, ser livre. O que torna
a adoração digna de Deus e ao mesmo tempo digna do homem é a liberdade,
entendida não só negativamente como ausência de coação, mas também
positivamente como um alegre impulso, dom espontâneo da criatura que assim
exprime a sua alegria de não ser ele próprio Deus, para poder ter um Deus acima
de si para adorar, admirar, celebrar.
Segunda pregação da Quaresma 2019: "Retorne a si mesmo"
MEDITAÇÃO PARA A QUARESMA
"Retorne a si mesmo"
"Retorne a si mesmo"
Santo Agostinho lançou
um apelo que, muitos séculos depois, manteve intacta a sua relevância: "In
te ipsum redi. In interiore homine habitat veritas"[1]: "Retorne a si
mesmo. A verdade habita no homem interior". Em um discurso ao povo, com
insistência ainda maior, ele exorta:
"Entrai de novo em
vosso coração! Onde quereis ir para longe de vós? Ao ir longe, vos perdereis.
Por que vos dirigis a estradas desertas? Retornai do vosso deambular que vos
levastes para fora da estrada; voltai para o Senhor. Ele está pronto. Em
primeiro lugar, retornai ao vosso coração, vós que vos tornastes estranhos a
vós mesmos, vagando lá fora: não vos conheceis a vós mesmos, e procurais aquele
que vos criou! Voltai, retornai ao coração, desprendei-vos do vosso corpo...
Retornai ao coração: ali examinai o que se pode perceber de Deus, porque ali se
encontra a imagem de Deus; na interioridade do homem mora Cristo, na vossa
interioridade vos renovais segundo a imagem de Deus"[2].
Continuando o comentário
iniciado no Advento sobre o versículo do Salmo "A minha alma tem sede do
Deus vivo", refletimos sobre o "lugar" onde cada um de nós entra
em contato com o Deus vivo. No sentido universal e sacramental este
"lugar" é a Igreja, mas no sentido pessoal e existencial é o nosso
coração, o que a Escritura chama "o homem interior", "o homem
escondido no coração"[3]. Esta escolha é impulsionada também pelo tempo
litúrgico em que nos encontramos. Jesus nestes quarenta dias está no
deserto, e é aí que devemos chegar até ele. Nem todos podem ir para um deserto
exterior; mas todos podemos nos refugiar no deserto interior que é o nosso
coração. "Cristo habita na interioridade do homem", disse-nos
Agostinho.
Se quisermos uma imagem
plástica ou um símbolo que nos ajude a realizar esta conversão interior, o
Evangelho oferece-nos com o episódio de Zaqueu. Zaqueu é o homem que quer
conhecer Jesus e, para isso, sai de casa, entra na multidão, sobe a uma
árvore... Procura-o fora. Mas, eis que, quando Jesus passou, viu-o e disse-lhe:
"Zaqueu, desce imediatamente, porque hoje tenho de entrar em tua
casa" (Lc 19, 5). Jesus traz Zaqueu de volta à sua casa e ali, no segredo,
sem testemunhas, acontece o milagre: Ele conhece verdadeiramente quem é Jesus e
encontra a salvação.
Nós nos parecemos muito
com Zaqueu. Procuramos Jesus e o procuramos fora, nas ruas, na multidão. E é o
próprio Jesus quem nos convida a voltar à nossa casa em nossos corações, onde
Ele deseja encontrar-se conosco.
Interioridade, um valor em crise
A interioridade é um
valor em crise. A "vida interior" que antes era quase sinônimo de
vida espiritual, agora tende a ser vista com desconfiança. Há dicionários de
espiritualidade que omitem completamente as vozes "interioridade" e
"recolhimento" e outros que as trazem, mas não sem expressar algumas
reservas. Por exemplo, nota-se que, afinal, não há nenhum termo bíblico que
corresponda exatamente a estas palavras; que poderia ter havido, neste ponto,
uma influência decisiva da filosofia platônica; que poderia favorecer o
subjetivismo e assim por diante.
Um sintoma revelador
deste declínio do gosto e da estima pela interioridade é o destino da Imitação
de Cristo, que é uma espécie de manual para a introdução à vida interior.
De livro mais amado entre os cristãos, depois da Bíblia, ele passou, em poucas
décadas, a ser um livro esquecido.
Algumas das causas desta
crise são antigas e inerentes à nossa própria natureza. A nossa
"composição", isto é, o nosso ser feito de carne e espírito, nos faz
como um plano inclinado, mas inclinado para o exterior, o visível e o múltiplo.
Assim como o universo, após a explosão inicial (o famoso Big Bang), também nós
estamos em fase de expansão e de afastamento do centro. "O olho não para
de olhar, nem o ouvido se cansa de ouvir", diz as Escrituras (Ec 1, 8).
Estamos perpetuamente "saindo" por aquelas cinco portas ou janelas
que são nossos sentidos.
Outras causas são mais
específicas e atuais. Uma delas é a emergência do "social" que é
certamente um valor positivo do nosso tempo, mas que, se não for reequilibrado,
pode acentuar a projeção ao exterior e a despersonalização do homem. Na cultura
secularizada e leiga dos nossos tempos o papel que desempenhava a interioridade
cristã foi assumido pela psicologia e pela psicanálise, que, no entanto, se
detêm no inconsciente do homem e, em todo caso, na sua subjetividade,
independentemente da sua íntima ligação com Deus.
No campo eclesial, a
afirmação, com o Concílio, da ideia de uma "Igreja para o mundo" fez
com que o antigo ideal de fugir do mundo fosse por vezes substituído
pelo ideal de fugir para o mundo. O abandono da interioridade e a
projeção para o exterior é um aspecto - e entre os mais perigosos - do fenômeno
do secularismo. Houve até mesmo uma tentativa de justificar teologicamente esta
nova orientação que tomou o nome de teologia da morte de Deus, ou da cidade
secular. Deus - se fala - deu-nos, ele próprio, um exemplo. Encarnando-se,
esvaziou-se, saiu de si mesmo, da interioridade trinitária,
"mundanizou-se", isto é, dispersou-se no profano. Tornou-se um Deus
"fora de si mesmo".
Primeira pregação da Quaresma 2019: "Bem-aventurados os puros de coração pois verão a Deus"
MEDITAÇÃO PARA A QUARESMA
"Bem-aventurados os puros de coração pois verão a Deus"
"Bem-aventurados os puros de coração pois verão a Deus"
Continuando a reflexão
iniciada no Advento sobre o versículo do salmo: "A minha alma tem sede do
Deus vivo" (Sl 42, 2), nesta primeira pregação quaresmal gostaria de
meditar convosco sobre a condição essencial para "ver" a Deus.
Segundo Jesus, é a pureza de coração: "Bem-aventurados os puros de
coração, porque verão a Deus" (Mt 5, 8), diz ele em uma de suas
bem-aventuranças.
Sabemos que puro e
pureza têm na Bíblia, assim como na linguagem comum, uma grande variedade de
significados. O Evangelho insiste em duas áreas em particular: a retidão de
intenções e a pureza dos costumes. A pureza das intenções é contraposta pela
hipocrisia, a pureza dos costumes pelo abuso da sexualidade.
Na esfera moral, a
palavra "pureza" comumente se refere a um certo comportamento na
esfera da sexualidade, marcado pelo respeito à vontade do Criador e à
finalidade intrínseca da própria sexualidade. Não podemos entrar em contato com
Deus, que é espírito, a não ser através do nosso espírito. Mas a desordem ou,
pior ainda, as aberrações neste campo têm o efeito constatado por todos de
obscurecer a mente. É como balançar os pés em um charco: a lama, do fundo, se
eleva e enlameia toda a água. Deus é luz e uma tal pessoa "odeia a
luz".
O pecado impuro não
deixa ver o rosto de Deus, ou, se o mostra, mostra-o todo deformado. Faz dele,
não o amigo, o aliado e o pai, mas o antagonista, o inimigo. O homem carnal está
cheio de concupiscências, deseja as coisas dos outros e a mulher dos outros.
Nesta situação, Deus aparece para ele como aquele que bloqueia o caminho para
os seus maus desejos por meio das suas ordens "Tu deves!", "Tu
não deves!". O pecado desperta no coração do homem um ressentimento surdo
contra Deus, a ponto de que, se dependesse dele, ele desejaria que Deus não
existisse.
Nesta ocasião, porém,
mais do que na pureza dos costumes, gostaria de insistir no outro sentido da
expressão "puros de coração", isto é, na pureza ou retidão das
intenções, na prática, na virtude contrária à hipocrisia. O tempo litúrgico em
que vivemos também nos orienta neste sentido. Começamos a Quaresma, a
quarta-feira de cinzas, ouvindo novamente as admoestações esmagadoras de Jesus:
["Quando derdes esmolas, não
toqueis trombeta diante de vós, como os hipócritas... Quando orardes, não
sejais como os hipócritas... E quando jejuardes, não vos torneis tão
melancólicos como os hipócritas" (Mt 6, 1-18).]
É surpreendente o quanto
o pecado da hipocrisia - o mais denunciado por Jesus nos evangelhos - pouco
entre em nossos exames ordinários de consciência. Não tendo encontrado em
nenhum deles a pergunta: "Fui hipócrita?", tive que colocá-la por
minha conta, e raramente passei incólume para a próxima pergunta. O maior ato
de hipocrisia seria esconder a própria hipocrisia. Escondê-la de si mesmo e dos
outros, porque não é possível de Deus. A hipocrisia é amplamente superada no
momento em que é reconhecida. E é isso que nos propomos fazer nesta meditação:
reconhecer a parte de hipocrisia, mais ou menos consciente, que está em nossas
ações.
O homem - escreveu
Pascal - tem duas vidas: uma é a vida verdadeira, a outra é a vida imaginária
que vive na opinião, sua ou do povo. Trabalhamos incansavelmente para embelezar
e preservar o nosso ser imaginário e negligenciamos o verdadeiro. Se possuímos
alguma virtude ou mérito, temos o cuidado de torná-la conhecida, de uma forma
ou de outra, para enriquecer nosso ser imaginário com essa virtude ou mérito,
dispostos até mesmo a prescindir dela, para acrescentar algo a ele, a ponto de
consentir, às vezes, de sermos covardes, com tal de parecermos valentes e a dar
também a vida, desde que as pessoas falem sobre isso[1].
Vamos tentar descobrir a
origem e o significado do termo hipocrisia. A palavra vem da linguagem teatral.
No início significava simplesmente recitar, representar no palco. Aos antigos
não escapava o elemento intrínseco de mentira que existe em cada representação
cênica, apesar do elevado valor moral e artístico que lhe é reconhecido. Daí o
julgamento negativo que pesava sobre a profissão de ator, reservado, em certos
momentos, aos escravos e até mesmo proibido pelos apologistas cristãos. A dor e
a alegria representadas e enfatizadas não são verdadeira dor e verdadeira
alegria, mas aparência, afetação. A realidade íntima dos sentimentos não
corresponde às palavras e atitudes externas. O que se vê no rosto não é o que
está no coração.
Usamos a palavra ficção
num sentido neutro ou até mesmo positivo (é um gênero literário e de
entretenimento muito em voga hoje em dia!); os antigos deram-lhe o sentido que
ela realmente tem: o do fingimento. O que havia de negativo no fingimento
cênico passou para a palavra hipocrisia. De uma palavra originalmente neutra,
tornou-se uma palavra exclusivamente negativa, uma das poucas palavras com
todos, e apenas, os significados negativos. Há quem se vanglorie de ser
orgulhoso ou libertino, ninguém de ser hipócrita.
A origem do termo nos
coloca na trilha para descobrir a natureza da hipocrisia. É fazer da vida um
teatro em que se atua para um público; é usar uma máscara, deixar de ser uma
pessoa para se tornar um personagem. O personagem nada mais é do que a
corrupção da pessoa. A pessoa é um rosto, o personagem é uma máscara. A pessoa
é nudez radical, o personagem é todo vestuário. A pessoa ama a autenticidade e
a essencialidade, o personagem vive de fingimentos e de artifícios. A pessoa
obedece às próprias convicções, o personagem obedece a um guião. A pessoa é
humilde e leve, o personagem é pesado e volumoso.
Essa tendência inata do
homem é grandemente aumentada pela cultura atual, dominada pela imagem. Cinema,
televisão, internet: agora tudo é baseado principalmente na imagem, disse
Descartes: "Cogito ergo sum", penso logo sou; mas hoje nós
tendemos a substituí-lo por "apareço, portanto, sou". Um famoso
moralista definiu a hipocrisia como "o tributo que o vício presta à
virtude"[2]. Ameaça acima de tudo pessoas piedosas e religiosas. Um rabino
do tempo de Cristo disse que 90% da hipocrisia do mundo estava em Jerusalém[3].
A razão é simples: quanto mais forte for a estima pelos valores do espírito, da
piedade e da virtude, mais forte será também a tentação de cortá-los para não
se parecer privado deles.
Um perigo vem também da
multidão de ritos que as pessoas piedosas estão acostumadas a realizar e das
prescrições que se comprometem a observar. Se não forem acompanhadas por um
esforço contínuo de colocar uma alma neles, através do amor a Deus e ao
próximo, tornam-se cascas vazias. "Estas coisas - diz São Paulo falando de
certos ritos e prescrições exteriores - têm uma aparência de sabedoria, com sua
afetada religiosidade e humildade e austeridade em relação ao corpo, mas na
realidade servem apenas para satisfazer a carne" (Cl 2,23). Neste caso, as
pessoas guardam, diz o Apóstolo, "a aparência de piedade, enquanto negam a
sua força interior" (2 Tm 3, 5).
Quando a hipocrisia se
torna crônica, cria, no matrimônio e na vida consagrada, a situação de
"vida dupla": uma pública, evidente, outra oculta; muitas vezes uma
diurna, outra noturna. É o estado espiritual mais perigoso para a alma, do qual
se torna muito difícil sair, a menos que algo interfira de fora para romper o
muro dentro do qual se está trancado. É a etapa que Jesus descreve com a imagem
dos sepulcros caiados:
"Ai de vós,
escribas e fariseus hipócritas, que pareceis túmulos caiados de branco: por
fora estão lindos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e de toda
podridão. Assim também vós: por fora pareceis justos diante dos homens, mas por
dentro estais cheios de hipocrisia e de iniquidade" (Mt 23, 27-28).
Se nos perguntarmos por
que a hipocrisia é tão abominável diante de Deus", a resposta é clara. A
hipocrisia é mentira. É esconder a verdade. Além disso, na hipocrisia o homem
deve rebaixar a Deus, colocá-lo em segundo lugar, colocando as criaturas, o
público, em primeiro lugar. É como se, na presença do rei, alguém virasse as
costas para ele para se concentrar apenas nos servos. "O homem olha para a
aparência, o Senhor olha para o coração" (1 Sam 16,7): cultivar a
aparência mais do que o coração, significa automaticamente dar mais importância
ao homem do que a Deus.
A hipocrisia é,
portanto, essencialmente uma falta de fé, uma forma de idolatria, na medida em
que coloca as criaturas no lugar do Criador. Jesus faz derivar dela a
incapacidade dos seus inimigos de acreditarem n'Ele: "Como podeis crer,
vós que vos gloriais uns aos outros, e não buscais a glória que vem somente de
Deus? (Jo 5, 44). A hipocrisia falta também a caridade para com o próximo,
porque tende a reduzir os outros a admiradores. Não lhes reconhece uma própria
dignidade, mas os vê apenas em função da sua própria imagem. Números da audiência
e nada mais.
Uma forma derivada da
hipocrisia é a duplicidade ou insinceridade. Com a hipocrisia se procura mentir
a Deus; com a duplicidade no pensar e no falar se procura mentir aos homens.
Duplicidade é dizer uma coisa e pensar outra; falar bem de uma pessoa em sua
presença e falar mal assim que ela vira as costas.
O juízo de Cristo sobre
a hipocrisia é como uma espada flamejante: "Receperunt mercedem suam":
"receberam a sua recompensa". Eles assinaram um recibo, não podem
esperar outra coisa. Uma recompensa, além disso, ilusória e contraproducente
também a nível humano, porque é muito verdadeiro o ditado que diz que "a
glória foge de quem a persegue e persegue quem foge dela".
É evidente que a nossa
vitória sobre a hipocrisia nunca será uma vitória à primeira vista. A menos que
tenhamos atingido um nível muito elevado de perfeição, não podemos evitar
instintivamente sentir o desejo de aparecer em boa luz, de causar boa
impressão, de agradar aos outros. A nossa arma é a retidão de intenção. A reta
intenção é alcançada através da constante e diária retificação de nossa
intenção. A intenção da vontade, não o sentimento natural, é o que faz a
diferença aos olhos de Deus.
Se a hipocrisia consiste
em mostrar também o bem que não se faz, um remédio eficaz para contrariar esta
tendência é esconder também o bem que se faz. Privilegiar aqueles gestos
escondidos que não serão desperdiçados por nenhum olhar terreno e que
conservarão todo o seu perfume para Deus. "A Deus, diz São João da Cruz, é
mais agradável uma ação, ainda que pequena, feita em segredo e sem o desejo de
ser conhecida, do que mil outras feitas com o desejo de serem vistas pelos
homens". E ainda: "Uma ação feita inteiramente e puramente por Deus,
com coração puro, cria um reino inteiro para aqueles que a fazem"[4].
Jesus insiste neste
exercício: "Orai em segredo, jejuai em segredo, dai esmolas em segredo e
vosso Pai, que vê no segredo, vos recompensará". (cf. Mt 6,4-18). São
iguarias para Deus que tonificam a alma. Não se trata de fazer disto uma regra
fixa. Jesus também diz: "Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens,
para que vejam as vossas boas obras e dêem glória ao vosso Pai que está nos
céus" (Mt 5, 16). É uma questão de distinguir quando é bom para os outros
verem e quando é melhor para eles não verem.
O pior que se pode
fazer, no final de uma descrição da hipocrisia, é usá-la para julgar os outros,
para denunciar a hipocrisia que existe à nossa volta. É precisamente a eles que
Jesus aplica o título de hipócritas: "Hipócritas, tirai primeiro a trave
do vosso olho e depois vereis bem para tirar o cisco do olho do vosso irmão!
(Mt 7,5). Aqui é verdadeiramente oportuno dizer: "Aquele dentre vós que
não tem pecado, atire a primeira pedra" (Jo 8, 7). Quem pode dizer que
está completamente livre de qualquer forma de hipocrisia? De não ser um pouco,
também ele, um sepulcro caiado, diferente por dentro do que aparece por fora?
Talvez só Jesus e Nossa Senhora tenham estado isentos, de forma estável e
absoluta, de todas as formas de hipocrisia. O fato consolador é que, assim que
se diz: "Fui hipócrita", sua hipocrisia é superada.
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