segunda-feira, 31 de julho de 2017

A figueira amaldiçoada (Mt 21,18-22): justiça


São Lucas, o evangelista da misericórdia, não trata da figueira amaldiçoada, mas São Mateus (21,18-22) e São Marcos (11,12-14.20-24) sim. Fazem-no de forma concisa e forte, de modo que é oportuno observar a lição que essa passagem nos traz.

Trata-se do seguinte: O Senhor Jesus, ao voltar para Jerusalém, de manhã, sentiu fome e dirigiu-se a uma figueira cheia de folhas. Como, porém, ela não tinha frutos (não era época, diz São Marcos 11,13), Cristo amaldiçoou a planta e ela secou de repente. Os discípulos se espantaram com a eficácia das palavras do Mestre, mas Ele nada comentou sobre o feito. Disse apenas que a fé remove montanhas e pela oração tudo se alcança.

Como entender esse trecho bíblico muito rico em simbolismos e lições? – Cinco pontos vêm ao caso:

a) o Senhor sente fome… Fome de almas para Deus.

b) a figueira é frondosa (cheia de folhas), mas nada produz. Em outras palavras: só tem aparência ou vistosidade, mas não oferece o principal que são os frutos. Assim são os hipócritas aqui retratados: vivem da aparência, mas sem eficiência.

c) não era tempo de fruto, pois devia ser mês de abril, antes da Páscoa, época em que não há figos; portanto, a simples árvore não tem culpa. No entanto, o que o Evangelho deseja ensinar é que Israel se acha estéril ante a mensagem divina. Isso, contudo, não diz respeito só àquele povo, mas, sim, a todos nós, negligentes ante a Palavra de Deus e sua mensagem nos dias de hoje.

d) a maldição é enfática e típica das sentenças fortes dos judeus (cf. Mt 21,19), mas não se aplica a todo o povo de Israel, e, sim, aos escribas e fariseus mentores da massa. Israel não é nação maldita. Ela foi escolhida por Deus e há de cumprir o seu papel no reino messiânico (cf. Rm 9,11).

e) ante o susto dos Apóstolos, o Senhor evita comentar a questão da figueira seca em si, mas lhes incute o valor da oração. Ela é muito poderosa quando feita com fé ardente (cf. Mt 17,19), e é atendida não conforme os nossos caprichos, mas, sim, segundo a vontade de Deus: Ele, por exemplo, não afasta o cálice de Cristo – a Paixão – como Este pede (cf. Mc 14,36-37), mas Lhe dá algo muito maior: O faz vencedor da morte e – mais que isso – Senhor dos vivos e dos mortos (cf. Hb 5,7; Ap 2,8).

domingo, 30 de julho de 2017

Como interpretar a frase “Seja feita a vossa vontade”?


Sempre achei que a frase do Pai-Nosso “Seja feita a vossa vontade” fosse um convite a aceitar a vontade de Deus; de fato, em momentos difíceis da minha vida, sempre foi muito útil refletir sobre estas palavras que dizemos com frequência na oração. Recentemente, durante um encontro, um padre nos convidou a ler esta frase como um convite a agir, a trabalhar para que a vontade de Deus seja feita no mundo: uma exortação ao compromisso dos cristãos na construção de uma sociedade segundo o que Deus quer. Qual seria, então, a interpretação mais correta, para a Igreja? Ou será que as duas leituras são corretas e podem ser integradas?
  
Para entender o Pai-Nosso, é preciso olhar para Aquele que nos ensinou esta oração. É a sua oração que se torna nossa. Não existe oração mais santa, mais exata, mais verdadeira que esta, porque ela surge da própria relação que Jesus tem com o Pai no Espírito Santo. Ele não nos passou uma formulação, e sim nos transmitiu o conteúdo do seu diálogo com o Pai. Por isso, a graça destas palavras é imensa, e a riqueza do seu significado, como de cada palavra que sai da boca de Deus, é inesgotável.

Por este motivo, inclusive sua interpretação ao longo da história até o dia de hoje não deixou de interpelar teólogos, exegetas e santos escritores (recordemos os mais antigos e famosos, como Tertuliano, Orígenes, Cipriano, Agostinho, Tomás de Aquino), bem como indivíduos fiéis e pastores. E é bom que seja assim, para que estas palavras não se atrofiem em uma fórmula estereotipada.

A pergunta, portanto, é pertinente, e a resposta se encontra dentro da sua formulação. De fato, não se pode separar a disposição interior do cristão de sua prática efetiva. Dessa maneira, não se pode simplesmente concordar com o coração e a vontade à vontade divina sem que esta disposição interior tenha uma correspondência em nossa maneira de agir e atuar nas diversas situações da vida.

O problema que a pergunta traz implicitamente me parece ser outro, ou seja, uma concepção estática, determinista do que é a vontade divina, à qual o homem deveria, inevitavelmente e muitas vezes de má vontade, ceder. De fato, esta é a impressão que frequentemente temos da vontade de Deus, ou seja, como se ela fosse algo inamovível e que não corresponde à nossa vontade. Daí o esforço em aceitá-la. 

São Leopoldo Mandic


São Leopoldo Mandic foi um herói dos confessionários. Nasceu em Castelnovo de Cátaro, na Dalmácia (ex-Iugoslávia) em 12 de maio de 1866 e foi batizado como Adeodato Mandic. Os pais, profundamente religiosos, educaram-no nos mais elevados sentimentos em relação a Deus e aos homens.

Com 16 anos, ingressou na Ordem dos Capuchinos, em Bassano del Grappa, em 1884 e em 1890 já era Sacerdote, quando tomou o nome de Leopoldo.

Em 20 de Setembro de 1890 foi ordenado sacerdote em Veneza. Convencido que o Senhor o chamava a um grande ideal, pediu, com insistência, aos seus Superiores que o deixassem partir para o Oriente a fim de poder dedicar a sua vida à reunificação na Igreja Católica dos cristãos ortodoxos. Porém, as suas precárias condições de saúde não lho permitiram e teve, assim, de se submeter à vontade dos seus Superiores e passou então por diversos Conventos, entregando-se ao ministério das confissões até que, em 1909, foi destinado ao Convento de Santa Cruz, em Pádua, na Itália, com o encargo de atender de forma estável o sacramento da Reconciliação. Ali permaneceu até a morte.

Chegou aos 76 anos. Um tumor no esôfago prostrou-o na manhã de 30 de Julho de 1942, no momento em que se preparava para celebrar a Eucaristia. Naquela manhã, ele mesmo se converteu em vítima sobre o altar do Senhor. As suas últimas palavras foram uma invocação a Nossa Senhora da qual tinha sido sempre devoto.


As vozes e a convicção de todos era que tinha morrido naquele momento um santo. Começaram a invocá-lo para obterem conforto e graças do Céu. O seu corpo, sepultado numa capela junto ao seu confessionário, foi encontrado incorrupto.

Em 2 de Maio de 1976, durante o Sínodo da Evangelização, o Papa Paulo VI beatificou-o, em São Pedro, afirmando, nessa altura: “Que o nosso Beato saiba chamar ao sacramento da Penitência, a este, certamente, severo tribunal, mas não menos amável refúgio de conforto, de verdade, de ressurreição para a graça e de exercício para a autenticidade cristã, muitas almas para lhes fazer experimentar as secretas e renovadas alegrias do Evangelho no colóquio com o pai, no encontro com Cristo, na consolação do Espírito Santo”.

O papa João Paulo II o incluiu no catálogo dos santos em 1983, declarando-o herói do confessionário e “apóstolo da união dos cristãos”, modelo para os que se dedicam ao ministério da reconciliação.

Ele tornou-se santo principalmente por trazer a paz e o perdão. Sua vida lembra aos padres a importância do Sacramento da Reconciliação, o seu bem incomparável e a poderosa ajuda da penitência.



Deus de bondade infinita e sumo bem, que fizestes de São Leopoldo um instrumento da Vossa misericórdia para com os pecadores e um fervoroso promotor da unidade entre os cristãos, concedei-nos por sua intercessão, a graça de nos renovarmos cada vez mais para podermos levar a todos os homens o Vosso amor, e cooperar eficazmente na união de todos os crentes mediante o vínculo da paz. Por nosso Senhor, amém.

sábado, 29 de julho de 2017

7 fatos sobre a vida dos leigos nos primeiros séculos do cristianismo


Apesar de costumeiramente não receber uma descrição melhor do que “o leigo é aquele que não é padre nem religioso”, é da vida leiga que a Igreja é principalmente composta. O ministério ordenado, como sabemos, não é um fim em si mesmo. Bispos, padres e diáconos estão a serviço do crescimento na fé, na esperança e no amor daquela multidão de homens e mulheres que fecundam com o Espírito de Deus a vida do mundo.

O protagonismo do leigo na vida da Igreja é um tema que foi retomado com mais força em tempos recentes pelo Concílio Vaticano II, sobretudo nas constituições Lumen Gentium e Gaudium et Spes e no decreto Apostolicam Actuositatem. Por “vida da Igreja”, entenda-se tanto a sua participação na sociedade realizada a partir do Evangelho e, assim, como presença de Cristo no mundo, quanto a sua colaboração, ao lado de clérigos e religiosos, na missão evangelizadora da Igreja, assumindo serviços pastorais.

Desde o Concílio, leigos têm lentamente assumido postos na Cúria Romana e nas dioceses. São mais numerosas – mas ainda tímidas – as beatificações e canonizações de leigos. Os leigos passaram a poder estudar teologia e lecionar nessa área. Mas como vivia o laicato nos primórdios da Igreja? Confira aqui sete fatos sobre como era a vida dos leigos nos primeiros séculos do cristianismo.

Laikós

A palavra “leigo” – do grego λαϊκός (“laikós”), que vem de λαός (“laós”), “povo” – não aparece no Novo Testamento. Seu primeiro registro em contexto cristão está na carta de Clemente aos coríntios, no final do século I.

Eles anunciam, ensinam e participam

Mas é claro que leigos e leigas estão presentes na Igreja nascente: eles participam da eleição de Matias para a vaga que surgiu entre os doze apóstolos com a morte de Judas (cf. At 1, 23), bem como da escolha dos sete primeiros diáconos (cf. At 6, 1-6). Anunciam o Evangelho, até aproveitando as dispersões que as perseguições ocasionam (cf. At 8,4; 11,19), e assumem ministérios como o de didáscalos (mestre, doutor), como o casal Áquila e Priscila, que dá uma formação mais aprofundada da fé a Apolo (cf. At 18,26).

“Já enchemos tudo”

Estava claríssimo que a missão evangelizadora da Igreja era responsabilidade tanto dos ministros ordenados quanto dos leigos. Era nas conversas do dia-a-dia, nas cidades e nos campos, que o nome de Jesus era anunciado. Tertuliano, no final do século II, louvava diante dos pagãos os frutos do testemunho cristão no meio do mundo: “Nós somos de ontem e já enchemos tudo que é vosso: cidades, ilhas, fortalezas, prefeituras, aldeias, os próprios campos, tribos, decúrias, palácio, senado, fórum; deixamo-vos apenas os templos…”

sexta-feira, 28 de julho de 2017

Se Deus é imutável, ele não sente alegria, tristeza ou raiva?


Deus é imutável? Sim. Vejamos alguns textos bíblicos:

– “Eu sou aquele que sou” (Ex 3,14).

– “Recebi ordem de abençoar; ele abençoou: nada posso mudar” (Nm 23, 20).

– “Mas os planos do Senhor permanecem para sempre, os propósitos do seu coração são para todas as gerações” (Sal 33,11).

– “Porque eu sou o Senhor e não mudo; e vós, ó filhos de Jacó, não sois ainda um povo extinto” (M 3,6).

– “Tu os envolvas como uma capa, e serão mudados. Tu, ao contrário, és sempre o mesmo e os teus anos não acabarão” (Hb 1, 12).

Deus é imutável, mas é preciso entender em que consiste essa imutabilidade ou inalterabilidade. Quando dizemos que Deus não muda, não estamos falando de sentimentos humanos, menos ainda de indiferença a respeito do que acontece com o ser humano, mas que Deus eternamente será o mesmo, ontem, hoje e sempre (Hb 13, 8).

“”Deus não é homem para mentir, nem alguém para se arrepender. Alguma vez prometeu sem cumprir? Por acaso falou e não executou?” (Nm 23, 19)

Em Deus não há nenhuma mudança, transformação, variação ou algo assim. Deus é imutável em sua essência, em seus atributos e em seus propósitos.
Ele, sendo três vezes santo, não pode se desviar do que é mal nem ser a causa da escuridão, porque “”Deus é inacessível ao mal e não tenta a ninguém.”  A Bíblia é clara: Deus não muda sua forma de ser, de pensar, nem vontade ou natureza.

quinta-feira, 27 de julho de 2017

4 razões práticas pelas quais muitos sacerdotes jovens voltaram a usar batinas


A batina já foi a forma mais comum dos sacerdotes se vestirem no ambiente paroquial, mas a partir do final dos anos 1960 foi quase universalmente abandonada. Entretanto, atualmente vários sacerdotes jovens começaram a usá-la.

O sacerdote católico Charles Pope escreveu um artigo no ‘National Catholic Register’, intitulado “Why Traditional Priestly Cassocks are Making a Comeback”, no qual explica algumas razões pelas quais os sacerdotes jovens preferem a batina, roupa qualificada como “distintiva e eminentemente sacerdotal”.

“As pessoas me agradecem por usar a batina, mas ninguém nunca me agradeceu por usar uma roupa. Isso me diz que a batina tem um significado especial para o povo de Deus”, indicou.

A seguir, confira as razões pelas quais a batina voltou a estar na moda, de acordo com Mons. Pope:

1. É fresca

De acordo com Mons. Pope, muitas pessoas se surpreendem quando garante que a sua “batina é mais fresca do que o habitual terno clerical”.

“Sem proporcionar muita informação, basta dizer que não preciso usar a minha roupa completa por baixo da batina. No verão, umas calças curtas largas com uma cintura elástica confortável, uma camiseta de algodão e meias são suficientes”, assinalou.

Do mesmo modo, disse que usa “batinas de verão”, feitas com “um material leve e transpirável” e que é “agradavelmente fresca comparado com um terno”.

2. É larga

“Nunca foi um fã de roupas apertadas que atualmente estão na moda. A batina, quando está desgastada ??sem a fáscia (um cinto largo), fica larga no corpo”, assegurou o sacerdote.

Além disso, disseque pode esconder o excesso de peso, “ao contrário das calças apertadas ou do cinto”, que “constantemente mostram este problema”.

São Pantaleão


O santo de hoje viveu no séc. III e IV da era cristã, durante um período de intensa perseguição aos cristãos que não podiam professar a própria fé, pois o que predominava naquela época era o culto aos deuses pagãos.

Pantaleão era filho de Eustóquio, gentio e de Êubola, cristã. Sua mãe encaminhou-o na fé cristã. Após o falecimento de sua mãe, Pantaleão foi aplicado pelo pai aos estudos de retórica, filosofia e medicina.

Durante a perseguição, travou amizade com um sacerdote, exemplo de virtude, Hermolau, que o persuadiu de Nosso Senhor Jesus Cristo ser o autor da vida e o senhor da verdadeira saúde.

Um dia que se viu diante de uma criança morta por uma víbora, disse para consigo: “Agora verei se é verdade o que Hermolau me diz”. E, segundo isto, diz ao menino: “Em nome de Jesus Cristo, levanta-te; e tu, animal peçonhento, sofre o mal que fizeste”. Levantou-se a criança e a víbora ficou morta; em vista disso, Pantaleão converteu-se e recebeu logo o santo batismo.

Acabou sendo convocado pelo imperador Maximiano como seu médico pessoal. As milagrosas curas que em nome de Jesus Cristo realizava, suscitaram a inveja de outros médicos, que o acusaram de cristão perante o imperador que, por sua vez, o mandou ser amarrado a uma árvore e degolado. Desta forma, assumindo a coroa do martírio, São Pantaleão passou desta vida para a vida eterna.


Senhor, fazei que não se apague em nossos corações a lembrança da Vossa bondade infinita. Concedei-nos sentir o poder de intercessão, que outorgastes ao Vosso Santo Mártir, S. Pantaleão, a fim de que ele nos socorra em dó das as circunstâncias de nossa existência, quando recorremos aos seus méritos para obtermos a Vossa Graça. Assim seja.



S. Pantaleão, refúgio certo de todos que Vos invocam, rogai por nós.

quarta-feira, 26 de julho de 2017

Por que há 700 anos existe a tradição de tatuar cristãos em Jerusalém?


Em Jerusalém vive uma família que há mais de 700 anos faz tatuagens nos cristãos coptos e nos peregrinos do mundo todo que visitam a Terra Santa.

A família Razzouk tem seu estúdio de tatuagem na cidade de Jerusalém. Atualmente, o responsável pelo negócio é Wassim Razzouk. Em declaração a CNA – agência em inglês do Grupo ACI –, o homem de 43 anos contou a origem e a importância desta tradição.

“Somos coptos, viemos do Egito e, no Egito, existe uma tradição de tatuar os cristãos. Meus antepassados foram alguns dos que tatuavam os cristãos coptos”, expressou.


A primeira evidência das tatuagens cristãs remete aos séculos VI e VII na Terra Santa e no Egito. Com o tempo, esta prática começou a ser replicada nas comunidades cristãos das igrejas etíopes, armênias, sírias e maronitas.

Atualmente, em algumas igrejas coptas, a tatuagem serve para identificar os cristãos e estes devem mostra-la quando querem ingressar em algum templo.

Com o início das Cruzadas no ano 1095, o costume de tatuar os que concluíam sua peregrinação à terra Santa foi adotado pelos visitantes europeus. Também existem registros históricos que revelam que, por volta do ano 1600, os peregrinos continuavam realizando esta prática e este costume permaneceu até a atualidade.