sexta-feira, 4 de outubro de 2013

O Papa disse que Deus não é católico?

 
O alvo dos falsos profetas é desconstruir a verdade do evangelho
e combater os autênticos arautos do Senhor.



Não, o Papa jamais alegou isso na entrevista exclusiva concedida ao ateu Eugenio Scalfari, do jornal italiano La Reppublica. Sites protestantes e jornais mal intencionados é que estão propalando essa farsa.

No dia 1/10/2013 essa lorota apareceu num artigo escrito por Tiago Chagas e Renato Cavallera, para o site protestante Gospel+, confira: Papa Francisco afirma que “Deus não é católico” e se prepara para fazer uma reforma histórica na Igreja Católica.

E no dia seguinte 2/10/2013, a lorota apareceu no Estadão: 'Não existe um Deus católico, mas um Deus', diz papa.

Outros sites protestantes fizeram a farra:

 


Tudo o que esses farsantes acima e outros publicaram sobre a entrevista do Papa concedida a Eugenio Scalfari ou é falso ou distorções vagabundas.

O Papa na entrevista não fala que Deus não é católico e muito menos afirma que Deus é protestante ou ateu para os amantes da mentira festejarem tanto.


A Verdade

O blog do INFormação Católica chegou a publicar a entrevistaconcedida pelo Papa ao jornalista Eugenio Scalfari, do jornal La Repubblica. Tradução do Instituto Humanitas Unisinos. Devido à confusão, que inclusive chegou a ser transmitida por alguns blogs católicos, o INFormação Católica chegou a publicar novamente a entrevista sob o título: <<Na íntegra: "O Papa: assim mudarei a Igreja".>> Onde constava a matéria supostamente completa em que havia tal frase dita pelo Papa. Porém, a contrariedade de tal afirmação nos leva a crer que a frase "Não existe um Deus Católico" foi supostamente acrescentada por blogs "evangélicos" com a intenção de causar divisões na Igreja afim de que os fieis se voltem contra o Vigário de Cristo. 

Confira agora - mais uma vez - a entrevista completa, a parte adulterada deixaremos em vermelho para o leitor ver com atenção o que foi acrescentado à entrevista do Papa ao ateu Eugenio Scalfari:


Disse-me o Papa Francisco:
 “O mais grave dos males que afligem o mundo nestes anos é o desemprego dos jovens e a solidão em que são deixados os idosos. Os idosos necessitam de cuidado e de companhia. Os jovens precisam de trabalho e de esperança, mas não têm nenhum dos dois. Diga-me: pode-se viver jogado fora do presente? Sem memória do passado e sem desejo de projetar-se no futuro construindo um projeto, um futuro, uma família? É possível continuar assim? Isto, segundo me parece, é o problema mais urgente que a Igreja tem pela frente”.

Santidade, lhe digo, é um problema sobretudo político, diz respeito aos Estados, aos governos, aos partidos, às organizações sindicais.
Sem dúvida, o senhor tem razão, mas diz respeito à Igreja, sobretudo à Igreja, porque esta situação não fere somente os corpos, mas também as almas. A Igreja deve sentir-se responsável tanto pelas almas quanto pelos corpos.


Santidade, o senhor diz que a Igreja dever ser responsável. Devo deduzir que a Igreja não está consciente deste problema e que o senhor a incita nesta direção?
Em grande medida, existe a consciência, mas não o bastante. Eu desejo que ela seja maior. Não é somente este problema que temos pela frente, mas é o mais urgente e o mais dramático.

O encontro com o Papa ocorreu na terça-feira passada, na sua residência de Santa Marta, numa pequena sala, austera, com uma mesa e cinco ou seis cadeiras, um quadro na parede. Foi precedida por um telefonema que não mais esquecerei enquanto eu estiver vivo.

Eram duas e meia da tarde. Tocou o telefone, e a voz um pouco agitada da minha secretária me disse: “O Papa está na linha e o passo imediatamente”.

Surpreso, ouço imediatamente a voz de Sua Santidade do outro lado da linha, que diz:

“Bom dia, sou Papa Francisco.”

Bom dia, Santidade – digo, e depois – estou surpreso. Não esperava que me telefonasse.

Por que surpreso? O senhor me escreveu uma carta pedindo para me conhecer pessoalmente. Eu tinha o mesmo desejo e aqui estou para agendar o encontro. Vejamos a minha agenda: quarta-feira não posso, nem segunda-feira. O senhor pode na terça?

Respondo: “Sim, está ótimo!”

O horário é um pouco incômodo. Às 15h, pode ser? Se não puder, mudamos o dia.

Santidade, o horário está ótimo.

Então, estamos de acordo: terça-feira, 24, às 15h. Em Santa Marta. O senhor deve entrar pela porta do Santo Ofício.

Não sei como concluir este telefonema e lhe digo: posso abraçá-lo pelo telefone?

Sem dúvida, lhe abraço igualmente. Depois o faremos pessoalmente. Até logo.

Agora estou eu aqui. O Papa entra e me dá a mão. Sentamos. O Papa sorri e me diz:

Alguns dos meus colaboradores que lhe conhecem me disseram que o senhor tentará me converter.

É uma anedota e lhe respondo. Também os meus amigos pensam que o senhor quer me converter. Ele sorri e responde:
 

O proselitismo é uma solene besteira (una solene sciocchezza), não tem sentido. É preciso que nos conheçamos, nos escutemos e cresçamos no conhecimento do mundo que nos circunda. Acontece comigo que, depois de um encontro, tenho vontade de fazer outro, porque nascem novas ideias e se descobrem novas necessidades. Isto é importante: conhecer-se, ouvir, ampliar o horizonte dos pensamentos. O mundo é feito de estradas que nos aproximam e distanciam, mas o importante é que nos levem para o Bem.

Santidade, existe uma visão única do Bem? E quem o estabelece?

Cada um de nós tem uma visão do Bem e também do Mal. Devemos incitar a proceder para aquilo que cada um pensa que seja o Bem.

O senhor, Santidade, já o escrevera na carta que me endereçou. A consciência é autônoma, dissera, e cada um de nós deve obedecer à própria consciência. Penso que aquela seja uma das passagens mais corajosas ditas por um papa.

E o repito. Cada um de nós tem uma ideia do Bem e do Mal e deve fazer a escolha de seguir o Bem e combater o Mal como o concebe. Isto bastaria para melhorar o mundo.

A Igreja o está fazendo?

Sim, as nossas missões têm este objetivo: individuar as necessidades materiais e imateriais das pessoas e buscar satisfazê-las da maneira como podemos. O senhor sabe o que é “ágape”?

Sim, sei.

É o amor pelos outros, como Nosso Senhor o pregou. Não é proselitismo, é amor. Amor pelo próximo, fermento que serve o bem comum.

Ama o próximo como a ti mesmo.

Exatamente assim.

Jesus na sua pregação disse que o ágape, o amor pelos outros, é o único modo de amar a Deus. Corrija-me caso esteja errado.

Não está errando. O Filho de Deus se encarnou para infundir nas almas dos homens o sentimento da fraternidade. Todos irmãos e todos filhos de Deus. Abba, como ele chamava o Pai. Eu lhes indico o caminho, dizia. Segui e encontrareis o Pai e sereis todos seus filhos e Ele terá a sua complacência em vocês.

O ágape, o amor de cada um de nós por todos os outros, do mais próximo aos mais longínquos, é, precisamente, o único modo que Jesus indicou para encontrar o caminho da salvação e das bem-aventuranças.

Contudo, a exortação de Jesus, recordamos anteriormente, é que o amor pelo próximo é igual ao que temos a nós mesmos. Portanto, o que muitos chamam de narcisismo é reconhecido como válido, positivo, na mesma medida do outro. Discutimos longamente a este respeito.

A mim – dizia o Papa – a palavra narcisismo não agrada, indica um amor desfocado para si mesmo e isto não é bom, pois pode produzir graves problemas não somente para a alma de quem é afetado, mas também na relação com os outros, com a sociedade em que vive. O verdadeiro problema é que os mais atingidos por isto, que na realidade é uma espécie de distúrbio mental, são pessoas que têm muito poder. Muitas vezes os chefes (“i Capi”, no original) são narcísicos.

Também muitos chefes da Igreja foram narcísicos.

Sabe o que penso sobre isto? Os chefes da Igreja muitas vezes foram narcísicos e excitados pelos seus cortesãos. A corte é a lepra do papado.

A lepra do papado. O senhor falou precisamente assim. Mas que corte? O senhor alude, por acaso, à Cúria?, perguntei.

Não, na Cúria há, às vezes, cortesãos. Mas a Cúria na sua complexidade é uma outra coisa. É a que nos exércitos se chama de intendência, gere os serviços que servem a Santa Sé. Mas tem um defeito: é Vaticano-cêntrica. Vê e cuida dos interesses do Vaticano, que são ainda, em grande parte, interesses temporais. Esta visão Vaticano-cêntrica descuida do mundo que nos circunda. Não compartilho com esta visão e farei tudo para mudá-la. A Igreja é e deve voltar a ser uma comunidade do povo de Deus, e os presbíteros, os párocos, os bispos estão a serviço do povo de Deus. A Igreja é isto, uma palavra, não por acaso, diferente da Santa Sé, que tem uma função importante, mas está a serviço da Igreja. Eu não teria a fé plena em Deus e no seu Filho se não fosse formado na Igreja e tive a sorte de me encontrar, na Argentina, numa comunidade sem a qual não teria consciência de mim e da minha fé.

O senhor percebeu a sua vocação desde jovem?

Não, não muito jovem. Tive que trabalhar, ganhar algum salário. Fiz a universidade. Tive uma professora que aprendi a respeitar e se tornou minha amiga, era uma fervorosa comunista. Muitas vezes lia para mim e me dava para ler textos do Partido Comunista. Assim conheci também aquela concepção muito materialista. Recordo que me fez ver o comunicado dos comunistas americanos em defesa de Rosenberg, que foram condenados à morte. A mulher de que estou falando foi presa, torturada e morta pelo regime ditatorial da Argentina.

O comunismo o seduziu?

O seu materialismo não me seduziu. Mas conhecê-lo por meio de uma pessoa corajosa e honesta me foi útil. Compreendi algumas coisas, um aspecto social, que depois encontrei na doutrina social da Igreja.

A teologia da libertação, que o papa Wojtyla excomungou, era bastante presente na América Latina.

Sim, muitos dos seus expoentes eram argentinos.

O senhor acha que foi certo que o papa os combatesse?

Sim, porque davam um seguimento político à teologia. Mas muitos deles eram crentes e com um alto conceito de humanidade.

Santidade, permita-me que lhe diga algo da minha formação cultural? Fui educado por uma mãe muito católica. Aos 12 anos venci uma disputa de alunos de catequese feita entre várias paróquias de Roma e ganhei um prêmio do Vicariato. Comungava sempre nas primeiras sextas-feiras, enfim, praticava a liturgia e acreditava. Mas tudo mudou quando entrei no liceu. Li, entre outros textos de filosofia que estudávamos, o “Discurso do Método” de Descartes e fiquei impressionado pela frase, que se tornou icônica, “Penso, logo existo”. O ‘eu’ tornou-se, assim, a base da existência humana, a sede autônoma do pensamento.

Descartes, no entanto, nunca negou a fé do Deus transcendente.

É verdade, mas tinha posto o fundamento de uma visão totalmente diferente e me encaminhou depois, corroborado por muitas outras leituras, e me levou à outra margem.

O senhor, no entanto, se entendi bem, é não crente mas não um anticlerical. São duas coisas muito diferentes.

É verdade, não sou anticlerical, mas me torno quando encontro um clerical.

O papa sorri e me diz:

Também me acontece isto. Quando encontro um clerical, me torno anticlerical de vez. O clericalismo não deveria ter nada a ver com o cristianismo. São Paulo, que foi o primeiro a falar aos Gentios, aos pagãos, aos crentes em outras religiões, foi o primeiro a nos ensinar isto.

Posso lhe pedir, Santidade, quais são os santos que estão mais próximos da sua alma e quais lhe ajudaram a formar a experiência religiosa?

São Paulo é aquele que me colocou os eixos da nossa religião e do nosso credo. Não se pode ser cristão consciente sem São Paulo. Traduziu a pregação de Cristo numa estrutura doutrinária que, apesar dos aggiornamentos de uma imensa quantidade de pensadores, de teólogos, de pastores de almas, resistiu e resiste depois de dois mil anos. E depois Agostinho, Bento e Tomás e Inácio. E, naturalmente, Francisco. Devo lhe explicar por quê?

Francisco – seja-me permitido, a esta altura, chamá-lo assim, porque é ele mesmo que o sugere pelo que fala, sorri, por suas exclamações de surpresa ou de partilha, me olha como que me encorajando a lhe fazer perguntas mais escabrosas e mais complicadas para quem guia a Igreja. Assim, lhe pergunto: De Paulo explicou a importância e o seu papel, mas gostaria de saber quais foram, entre os que foram citados, os que sente mais próximos da sua alma?

O senhor me pede uma classificação, mas estas podem ser feitas se falamos de esporte ou de coisas análogas. Poderei lhe citar os melhores jogadores de futebol da Argentina. Mas os santos...

Mas não quero evadir a sua pergunta. O senhor não me pediu uma classificação sobre a importância cultural e religiosa, mas quais santos estiveram mais próximos da minha alma. Então lhe digo: Agostinho e Francisco.

E não Inácio, ordem a qual o senhor pertence?

Inácio, por razões compreensíveis, é aquele que conheço mais do que os outros. Fundou a nossa Ordem. Recordo-lhe que desta Ordem também era Carlo Maria Martini, que me é muito caro assim como ao senhor. Os jesuítas foram e ainda são o fermento – não os únicos mas, talvez, os mais eficazes – da catolicidade; cultura, ensino, testemunho missionário, fidelidade ao Pontífice. Mas Inácio fundou a Companhia, era também um reformador e um místico. Sobretudo um místico.

E o senhor acha que os místicos são importantes para a Igreja?

Foram fundamentais. Uma religião sem místicos é uma filosofia.

O senhor tem uma vocação mística?

O que o senhor acha?

Parece-me que não.

Provavelmente, o senhor tem razão. Adoro os místicos. Também Francisco, por muitos aspectos da sua vida, foi místico, mas eu não acredito que tenho esta vocação. Mas é preciso que nos entendamos sobre o significado profundo desta palavra. O místico consegue despojar-se do fazer, dos fatos, dos objetivos e até da pastoralidade missionária e se eleva até atingir a comunhão com as Bem-aventuranças. São momentos breves, mas que preenchem a vida inteira.

Para o senhor isto nunca aconteceu?

Raramente. Por exemplo, quando o Conclave me elegeu Papa. Antes da aceitação, pedi para me retirar por alguns instantes no quarto que fica ao lado do balcão sobre a praça. A minha cabeça estava completamente vazia e uma grande ânsia me invadira. Para fazê-la passar e me relaxar, fechei os olhos e todo e qualquer pensamento desapareceu. Também aquele de recusar o encargo, como o resto do procedimento litúrgico seguinte. Fechei os olhos e não mais tive nenhuma ânsia ou emotividade. A um certo ponto, uma grande luz me invadiu. Durou um instante, mas me pareceu algo longuíssimo. Depois a luz se dissipou. Levantei-me e me dirigi até a sala em que me esperavam os cardeais e a mesa sobre a qual estava o ato de aceitação. Assinei-o, o cardeal camerlengo o assinou, e depois foi o momento do “Habemus Papam”.

Permanecemos alguns momentos em silêncio e depois disse:
 falávamos dos santos que o senhor sente mais próximos da sua alma e ficamos em Agostinho. Pode me dizer por que o sente mais próximo de si?

Também o meu predecessor tem em Agostinho o seu ponto de referência. Esse santo passou por muitos eventos na sua vida e mudou várias vezes a sua posição doutrinária. Teve também palavras muito duras no confronto com os hebreus, que eu nunca compartilhei. Escreveu muitos livros, e aquele que me parece mais revelador da sua intimidade intelectual e espiritual é “Confissões”. Elas contêm algumas manifestações de misticismo, mas ele não é, como muitos sustentam, o continuador de Paulo. Ele vê a Igreja e a fé no mundo de uma maneira profundamente diferente de Paulo, talvez porque quatro séculos os separam.

Qual é a diferença, Santidade?

Para mim, em dois aspectos substanciais. Agostinho se sente impotente de fronte à imensidade de Deus e às tarefas que um cristão e um bispo deveriam realizar. No entanto, ele não foi impotente, mas na sua alma se sentia sempre como estando abaixo do que deveria e queria fazer. E depois da graça dispensada pelo Senhor como elemento fundante da fé. Da vida. Do sentido da vida. Quem não é tocado pela graça pode ser uma pessoa sem mácula e sem medo, mas não será nunca uma pessoa tocada pela graça. Esta é a intuição de Agostinho.

O senhor se sente tocado pela graça?

Isto não se pode saber. A graça faz parte da consciência, é a quantidade de luz que temos na alma, não de sabedoria nem de razão. Também o senhor, sem o saber, poderia estar tocado pela graça.

Sem fé? Não crente?

A graça diz respeito à alma.

Eu não creio em alma.

Não crê, mas tem.

Santidade, o senhor dissera que não tinha nenhuma intenção em me converter e creio que não conseguiria.

Isto não se sabe; contudo, não tenho nenhuma intenção em lhe converter.

E Francisco?

É grandíssimo porque é tudo. Homem que quer fazer, quer construir, funda uma Ordem e as suas regras, é itinerante e missionário, é poeta e profeta, é místico. Constatou nele mesmo o mal e o superou. Ama a natureza, os animais, a erva do campo e os pássaros que voam no céu, mas sobretudo ama as pessoas, as crianças, os velhos, as mulheres. É o exemplo mais luminoso daquele ágape de que falávamos antes.

O senhor tem razão, Santidade. A descrição é perfeita. Mas por que nenhum dos seus predecessores escolheu o nome de Francisco? E, segundo me parece, nenhum outro o escolherá depois do senhor.

Isto não sabemos. Não hipotequemos o futuro. É verdade, antes nenhum o escolheu. Aqui afrontamos o problema dos problemas. O senhor quer beber algo?

Obrigado, talvez um copo d'água.

O papa se levanta, abre a porta e pede a um colaborador que estava entrando que lhe traga dois copos de água. Pede se eu quero um café. Digo que não é preciso. Chega a água. No fim da nossa conversação o meu copo está vazio, mas o dele permaneceu cheio. Molha a gargante e começa.

Francisco queria uma Ordem mendicante e também itinerante. Missionários em busca de encontrar, escutar, dialogar, ajudar, difundir a fé e o amor. Sobretudo o amor. E mirava uma Igreja pobre que assumisse o cuidado dos outros, recebesse ajuda material e a utilizasse para sustentar os outros, com nenhuma preocupação consigo mesma. Passaram 800 anos desde então, e os tempos mudaram muito, mas o ideal de uma Igreja missionária e pobre permanece mais do que válida. Esta é a Igreja que foi pregada por Jesus e pelos seus discípulos.

Vocês cristãos são, atualmente, uma minoria. Até na Itália, que era definida como o jardim do Papa, os católicos praticantes seriam, segundo algumas sondagens, entre 8 e 15%. Os católicos que dizem sê-lo mas que são de fato, são poucos, uns 20%. No mundo existe um bilhão de católicos, e também com as outras Igrejas cristãs, vocês superam um bilhão e meio. Mas o planeta é habitado por 6 a 7 bilhões de pessoas. Vocês são, é certo, muitos, especialmente na África e na América Latina, mas minorias.

Sempre fomos minoria, mas o tema, hoje, não é este. Pessoalmente penso que ser uma minoria pode ser uma força. Devemos ser uma semente de vida e de amor, e a semente é uma quantidade infinitamente menor da massa dos frutos, das flores e das árvores que nascem da semente. Parece-me que já disse que o nosso objetivo não é o proselitismo, mas a escuta das necessidades, dos desejos, das desilusões, do desespero, da esperança. Devemos voltar a dar esperança aos jovens, ajudar os idosos, abrir para o futuro, difundir o amor. Pobres entre os pobres. Devemos incluir os excluídos e pregar a paz. O Vaticano II, inspirado pelo papa João e por Paulo VI, decidiu olhar para o futuro com espírito moderno e abrir-se à cultura moderna. Os padres conciliares sabiam que abrir-se à cultura moderna significava ecumenismo religioso e diálogo com os não-crentes. Desde então foi feito muito pouco nesta direção. Tenho a humildade e a ambição de querer fazê-lo.

Também porque - me permito acrescentar - a sociedade moderna em todo o planeta atravessa um momento de crise profunda, e não somente econômica, mas social e espiritual. O senhor, no início deste nosso encontro, descreveu uma geração excluída do presente. Também nós, não-crentes, sentimos este sofrimento quase antropológico. Por isto queremos dialogar com os crentes e com quem melhor os representa.

Eu não sei se sou o melhor representante, mas a Providência me colocou como guia da Igreja e da Diocese de Pedro. Farei o que for possível para cumprir o mandato que me foi confiado.

Jesus, como o senhor recordou, disse: ama o teu próximo como a ti mesmo. Parece-lhe que isto aconteceu?

Não. O egoísmo aumentou e o amor aos outros diminuiu.

Este, então, é o objetivo que nos une: ao menos intensificar estes dois tipos de amor. A sua Igreja está pronta e preparada para esta tarefa?

O senhor, o que pensa?

Penso que o amor pelo poder temporal seja ainda muito forte entre os muros do Vaticano e na estrutura institucional de toda a Igreja. Penso que a Instituição predomina sobre a Igreja pobre e missionária que o senhor desejaria.

Realmente, as coisas estão assim e nesta matéria não se fazem milagres. Recordo-lhe que também Francisco, no seu tempo, teve que negociar com a hierarquia romana e com o Papa para que as regras da sua Ordem fossem reconhecidas. No fim obteve a aprovação, mas com profundas mudanças e compromissos.

O senhor seguirá o mesmo caminho?

Certamente não sou Francisco de Assis, e não tenho a sua força e a sua santidade. Mas sou o Bispo de Roma e o Papa da catolicidade. Como primeira coisa, decidi nomear um grupo de oito cardeais para que sejam o meu conselho. Não cortesãos, mas pessoas sábias e animadas pelos mesmos sentimentos.

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Aqui encerra a entrevista, sem qualquer menção ao Papa dizendo que “Deus não é católico” e corrigindo muita calúnia que os aleivosos publicaram distorcido. Agora, continuando a resposta da pergunta anterior, vejamos o que foi acrescentado à entrevista e que, de fato, não aconteceu:
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Esse é o início de uma Igreja com uma organização que não é apenas do alto para baixo, mas também horizontal. Quando o Cardeal Martini falou sobre enfocar nos concílios e sínodos, ele sabia do tempo e da dificuldade que implicaria caminhar nessa direção. Gentilmente, mas de maneira firme e tenaz.”

E a política?

“Por que você faz essa pergunta? Já disse que a Igreja não lidará com política.”

Mas há apenas alguns dias o senhor apelou aos católicos para se engajarem civil e politicamente.

“Não estava tratando apenas dos católicos, mas de todos os homens de boa vontade. Digo que a política é a mais importante das atividades civis e tem o seu próprio campo de ação, que não é o da religião. As instituições políticas são laicas por definição e operam em esferas independentes. Todos os meus predecessores têm dito a mesma coisa, por muitos anos ao menos, embora com acentos diferentes. Creio que os católicos envolvidos em política trazem os valores de sua religião dentro de si, mas têm a consciência madura e a experiência para implementá-las. A Igreja nunca irá além de sua tarefa de expressar e disseminar os seus valores, ao menos, pelo tempo que eu esteja aqui.”

Mas isso nem sempre aconteceu com a Igreja.

“Nem sempre aconteceu assim. Com frequência a Igreja como instituição foi dominada pela temporalidade e muitos membros e líderes católicos maiores ainda pensam assim. Mas agora deixe-me fazer-lhe uma pergunta: Você, um ateu que não acredita em Deus, em que você acredita? Você é um escritor e um homem de pensamento. Você acredita em alguma coisa, você deve ter um valor dominante. Não me responda com palavras como honestidade, busca, a visão do bem comum, todos princípios e valores importantes, não é isso que estou perguntando. Estou perguntando o que você considera ser a essência do mundo, sem dúvida, do universo. Você deve se perguntar, é claro, como todo mundo, quem somos, de onde viemos, para onde vamos. Mesmo as crianças fazem essas perguntas a si mesmas. E você?”

Agradeço essa pergunta. A resposta é esta: Acredito no Ser, que está no tecido do qual surgem as formas e o corpos.

“E eu creio em Deus, mas não em um Deus Católico, não há Deus Católico, há Deus e creio em Jesus Cristo, sua encarnação. Jesus é o meu mestre e meu pastor, mas Deus, o Pai, Abba, é a luz e o Criador. Esse é o meu Ser. Você acha que estamos muito distantes?”

Estamos distantes em nossa maneira de pensar, mas somos semelhantes como seres humanos, inconscientemente animados por nossos instintos que se transformam em impulsos, sentimentos e vontade, pensamento e razão. Nisso somos iguais.

“Mas você pode definir o que você chama de Ser?”

Ser é uma fábrica de energia. Energia caótica, mas indestrutível e caos eterno. As formas emergem da energia quando ela atinge o ponto de explosão. As formas têm as suas próprias leis, os seus campos de magnetismo, os seus elementos químicos, que combinam aleatoriamente, evoluem e eventualmente são extintos, mas a sua energia não é destruída. O homem é provavelmente o único animal dotado de pensamento, ao menos, no nosso planeta e no sistema solar. Disse que ele é guiado por instintos e desejos, mas eu acrescentaria que ele também contém dentro de si uma ressonância, um eco, uma vocação de caos.

“Está certo. Não quero que você me faça um resumo  de sua filosofia e o que você me disse é o suficiente. Do meu ponto de vista, Deus é a luz que ilumina a escuridão, mesmo se não a dissolve, e uma fagulha de luz divina está dentro de nós. Na carta que lhe escrevi, você irá lembrar que disse que as nossas espécies terminarão, mas a luz de Deus não terminará e nesse ponto ela invadirá todas as almas e estará toda em todos.”

Sim, lembro disso muito bem. O senhor disse: “Toda a luz estará em todas as almas” que – se posso dizer assim – transmite uma imagem mais de imanência do que de transcendência.

“A transcendência permanece porque essa luz, tudo em tudo, transcende o universo e as espécies em que habita nesse estágio. Mas de volta ao presente. Demos um passo à frente em nosso diálogo. Observamos que na sociedade e no mundo em que vivemos o egoísmo tem aumentado mais do que o amor pelos outros, e que os homens de boa vontade precisarão trabalhar, cada qual com os seus pontos fortes e experiência, para garantir que o amor aos outros aumente até que seja igual e possivelmente exceda o amor por si mesmo.”

Novamente, a política é invocada.

“Certamente. Pessoalmente creio que o chamado liberalismo irrestrito somente faz do forte mais forte e do fraco mais fraco e exclui os mais excluídos. Precisamos de grande liberdade, não descriminação, não demagogia e muito amor. Precisamos de regras para conduzir e também, se necessário, intervenção direta do estado para corrigir as desigualdades mais intoleráveis.”

Sua Santidade, certamente o senhor é uma pessoa de grande fé, tocada pela graça, animada pelo desejo de reviver uma igreja pastoral e missionária, que é renovada e não temporal. Mas da maneira que o senhor fala e de como compreendo, o senhor é e será um papa revolucionário. Metade jesuíta, metade franciscano, uma combinação que talvez nunca tenha sido vista antes. E então, o senhor gosta de “The Betrothed” de Manzoni, Holderlin, Leopardi, especialmente, de Dostoevsky, o filme “La Strada” e “Prova d’orchestra” de Fellini, “Open City” de Rossellini e também dos filmes de Aldo Fabrizi .

“Gosto desses porque os assisti com meus pais quando era criança.”

Aqui está. Posso recomendar dois filmes lançados recentemente? “Viva la libertà” e os filmes sobre Fellini de Ettore Scola. Estou certo de que o senhor irá gostar deles. Com relação ao poder, digo, o senhor sabe que quando eu tinha 20 anos passei um mês e meio em um retiro espiritual com os jesuítas? Os nazistas estavam em Roma e eu havia desertado do serviço militar. A deserção era passível de punição por sentença de morte. Os jesuítas nos esconderam sob a condição de que fizéssemos exercícios espirituais o tempo todo que eles nos mantivessem escondidos.

“Mas é impossível ficar um mês e meio de exercícios espirituais?” Ele pergunta, maravilhado e divertido. Eu lhe direi mais da próxima vez.

Nos abraçamos. Subimos o pequeno lance de degraus até a porta. Digo ao Papa que não é preciso me acompanhar, mas ele faz um gesto dizendo que deixe isso pra lá. “Ainda iremos discutir o papel da mulher na Igreja. Lembre-se de que a Igreja (la chiesa) é feminina.”

E se você quiser, também podemos falar sobre Pascal. Gostaria de saber o que você acha dessa grande alma.

“Transmita a todos os seus familiares as minhas bênçãos e peça-lhes para rezarem por mim. Pensem em mim, pensem em mim com frequência.”

Apertamos as mãos e ele fica de pé com dois dedos levantados em sinal de benção. Aceno para ele da janela.

Este é o Papa Francisco. Se a Igreja se tornar como ele e ficar do jeito que ele quer que ela seja, será uma mudança de época.

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Texto base: Fim da Farsa

Em Missa, Papa convida ao respeito à criação e ao ser humano


HOMILIA

Visita Pastoral a Assis
Missa na Praça São Francisco de Assis
Sexta-feira, 4 de outubro de 2013



“Eu te bendigo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondestes estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequenos” (Mt 11, 25).

Paz e bem a todos! Com esta saudação franciscana agradeço-vos por terem vindo aqui, nesta praça, cheia de história e de fé, para rezarem juntos.

Hoje também eu, como tantos peregrinos, vim aqui para bendizer o Pai por tudo aquilo que quis revelar a cada um destes “pequenos” de que fala o Evangelho: Francisco, filho de um rico comerciante de Assis. O encontro com Jesus o levou a despojar-se de uma vida confortável e despreocupada para casar-se com a “Mãe Pobreza” e viver como verdadeiro filho do Pai que está nos céus. Esta escolha, por parte de São Francisco, representava um modo radical de imitar Cristo, de revestir-se Daquele que, rico que era, fez-se pobre para enriquecer-nos por meio da sua pobreza (cfr Cor 8, 9). Em toda a vida de Francisco, o amor pelos pobres e a imitação de Cristo pobre são dois elementos unidos de modo indissociável, as duas faces de uma mesma moeda.

O que testemunha São Francisco a nós, hoje? O que nos diz, não com as palavras – isto é fácil – mas com a vida?


1.            A primeira coisa que nos diz, a realidade fundamental que nos testemunha é esta: ser cristãos é uma relação vital com a Pessoa de Jesus, é revestir-se Dele, é assimilação a Ele.

De onde parte o caminho de Francisco rumo a Cristo? Parte do olhar de Jesus na cruz. Deixar-se olhar por Ele no momento em que doa a vida por nós e nos atrai para Ele. Francisco fez esta experiência de modo particular na pequena Igreja de São Damião, rezando diante do crucifixo, que também eu pude venerar hoje. Naquele crucifixo, Jesus não aparece morto, mas vivo! O sangue escorre das feridas das mãos, dos pés e dos lados, mas aquele sangue exprime vida. Jesus não tem os olhos fechados, mas abertos, grandes: um olhar que fala ao coração. E o crucifixo não nos fala de derrota, de fracasso; paradoxalmente nos fala de uma morte que é vida, que gera vida, porque fala de amor, porque é Amor de Deus encarnado, e o Amor não morre, antes, vence o mal e a morte. Quem se deixa olhar por Jesus crucificado é re-criado, transforma-se uma “nova criatura”. Daqui parte tudo: é a experiência da Graça que transforma, o ser amado sem mérito, mesmo sendo pecadores. Por isto Francisco pode dizer, como São Paulo: “Quanto a mim, não pretendo, jamais, gloriar-me, a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo” (Gal 6,14).

Nós nos dirigimos a ti, Francisco, e te pedimos: ensina-nos a permanecer diante do Crucifixo, a deixar-nos guiar por Ele, a deixar-nos perdoar, recriar pelo seu amor.

2.            No Evangelho, escutamos estas palavras: “Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei. Tomai meu jugo sobre vós e recebei minha doutrina, porque eu sou manso e humilde de coração” (Mt 11, 28-29).

Esta é a segunda coisa que Francisco nos testemunha: quem segue Jesus, recebe a verdadeira paz, aquela que só Ele, e não o mundo, pode nos dar. São Francisco é associado por muitos à paz, e é justo, mas poucos seguem em profundidade. Qual é a paz que Francisco acolheu e viveu e nos transmite? Aquela de Cristo, passada através do amor maior, aquela da Cruz. É a paz que Jesus Ressuscitado deu aos discípulos quando apareceu em meio a eles (cfr Jo 20, 19.20).
A paz franciscana não é um sentimento “piegas”. Por favor: este São Francisco não existe! E nem é uma espécie de harmonia panteísta com as energias do cosmo… Também isto não é franciscano! Também isto não é franciscano, mas é uma ideia que alguns construíram! A paz de São Francisco é aquela de Cristo, e a encontra quem “toma sobre si o seu jugo”, isso é, o seu mandamento: Amai-vos uns aos outros como eu vos amei (cfr Gv 13,34; 15,12).  E este jugo não se pode levar com arrogância, com presunção, com soberba, mas somente se pode levar com mansidão e humildade de coração.

Dirigimo-nos a ti, Francisco, e te pedimos: ensina-nos a sermos “instrumentos da paz”, da paz que tem a sua origem em Deus, a paz que nos trouxe o Senhor Jesus.

3.            Francisco inicia o Cântico assim: “Altíssimo, onipotente, bom Senhor… Louvado sejas, com todas as criaturas” (FF, 1820). O amor por toda a criação, pela sua harmonia! O Santo de Assis testemunha o respeito por tudo aquilo que Deus criou e como Ele o criou, sem experimentar sobre a criação para destruí-la; ajudá-la a crescer, a ser mais bela e mais similar àquilo que Deus criou. E, sobretudo, São Francisco testemunha o respeito por tudo, testemunha que o homem é chamado a proteger o homem, que o homem esteja no centro da criação, no lugar onde Deus – o Criador – o quis. Não instrumento dos ídolos que nós criamos! A harmonia e a paz! Francisco foi homem de harmonia, homem de paz. Desta Cidade da Paz, repito com a força e a mansidão do amor: respeitemos a criação, não sejamos instrumentos de destruição! Respeitemos cada ser humano: cessem os conflitos armados que ensanguentam a terra, silenciem-se as armas e então o ódio dê lugar ao amor, a ofensa ao perdão e a discórdia à união. Ouçamos o grito daqueles que choram, sofrem e morrem por causa da violência, do terrorismo ou da guerra, na Terra Santa, tão amada por São Francisco, na Síria, no Oriente Médio, em todo o mundo.

Dirigimo-nos a ti, Francisco, e te pedimos: alcançai-nos de Deus o dom que neste nosso mundo nos seja harmonia, paz e respeito pela Criação!

Não posso esquecer, enfim, que hoje a Itália celebra São Francisco como seu Patrono. Eu dou as felicitações a todos os italianos, na pessoa do Chefe do governo, aqui presente. Exprime-o também o tradicional gesto da oferta do óleo para a lâmpada votiva, que este ano é da Região da Umbria. Rezemos pela nação italiana, para que cada um trabalhe sempre pelo bem comum, olhando para aquilo que une mais do que para aquilo que divide.

Faço minha a oração de São Francisco por Assis, pela Itália, pelo mundo: “Peço-te então, ó Senhor Jesus Cristo, pai das misericórdias, de não querer olhar à nossa ingratidão, mas de recordar-te sempre da superabundante piedade que [nesta cidade] mostraste, a fim de que seja sempre o lugar e a casa daqueles que verdadeiramente te conhecem e glorificam o teu nome bendito e gloriosíssimo nos séculos dos séculos. Amém” (Espelho de perfeição, 124: FF, 1824).

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Fonte: Boletim da Santa Sé

Tradução: Jéssica Marçal

Francisco diante de Francisco


Em 1209, Francisco e seu primeiro grupo de irmãos viajaram a Roma para encontrar-se com o Papa, que lhes deu sua bênção. Hoje, um Papa chamado Francisco foi ao encontro do santo que ele escolheu como tutor do seu ministério petrino.
São Francisco, no final, encontrou o que Deus queria dele e do grupo dos primeiros irmãos que se uniram a ele para viver de forma nova a vida cristã. Haviam se encontrado com Cristo e descobriram o essencial do Evangelho; os pobres e mendigos de todas as pobrezas e penúrias tocaram seus corações e eles se sentiram chamados a dar-lhes a esperança que haviam encontrado no Senhor; sua vida simples, sua oração de louvor, a liberdade que inundava suas almas de alegria e a mensagem de paz e bem que distribuíam em todos os lugares, pregando nas praças, fez com que se questionassem sobre algo sério: seriam hereges, como tantos que existiam em sua época?

Eles não hesitaram em fazer o que sabiam que tinham de fazer.Francisco se encontraria com o Papa. Isso ocorreu em 1209, em Roma. E o Papa Inocêncio III lhes confirmou em sua identidade católica e eclesial, dando-lhes sua bênção, e vendo em Francisco e seus irmãos um motivo de esperança para a renovação da Igreja inteira.

Então, no começo do franciscanismo, como em toda a história cristã, a comunhão real com a Igreja do Senhor, com o sucessor de Pedro e com os bispos em comunhão com ele, é a chave para verificar se estamos diante de um dom de Deus para o seu povo ou diante de uma genialidade que terá a medida e a pretensão de quem a propõe ou a impõe. Francisco foi ao Papa e o senhor Papa o confirmou em sua fé.

São Francisco de Assis representa uma das páginas mais comoventes da história da Igreja, porque ele acertou em como viver com enorme simplicidade e dedicada fidelidade sua condição de filho de Deus, filho da Igreja e filho da sua época. Esta tripla filiação fez dele uma pessoa que ofereceu uma verdadeira novidade naquele complexo e apaixonante ocaso medieval.
A experiência cristã, enquanto história, é um lugar no qual podemos verificar a presença de Jesus Cristo. Seu rosto resplandece de maneira especial nos santos, já que eles foram os que O aproximaram de cada geração, permitindo assim que o Espírito prometido por Jesus na Última Ceia realizasse a recordação das suas palavras e o acompanhamento rumo à verdade plena. 

Papa fala aos jovens sobre família, vocação, trabalho e missão


RESPOSTA DO PAPA ÀS PERGUNTAS DOS JOVENS
Visita Pastoral a Assis
Encontro com os jovens da Úmbria na Praça
da Basílica de Santa Maria dos Anjos
Sexta-feira, 4 de outubro de 2013



Queridos jovens da Úmbria,

Boa tarde!

Obrigado por terem vindo, obrigado por esta festa! E obrigado pelas perguntas, muito importantes.

Fico contente que a primeira pergunta tenha sido de um casal jovem. Um belo testemunho! Dois jovens que escolheram, decidiram, com alegria e coragem formar uma família. Sim, porque é verdade mesmo, é preciso coragem para formar uma família!

Sim, é preciso ter coragem, é preciso ter coragem para formar uma família!

E a pergunta de vocês, jovens casados, se une à pergunta sobre a vocação. O que é o matrimônio? É uma verdadeira e própria vocação, como o são o sacerdócio e a vida religiosa. Dois cristãos que se casam reconheceram na própria história de amor o chamado do Senhor, a vocação a formar a partir dos dois, homem e mulher, uma só carne, uma só vida. E o Sacramento do matrimônio envolve este amor com a graça de Deus, o enraíza no próprio Deus. Com este dom, com a certeza deste chamado, é possível partir seguros, não se tem medo de nada, pode se enfrentar tudo, juntos!

Pensemos em nossos pais, nossos avós ou bisavós: se casaram em condições muito mais pobres do que as nossas, alguns em tempo de guerra, ou de pós-guerra; alguns são emigrados, como os meus pais. Onde encontravam a força? A encontravam na certeza de que o Senhor estava com eles, que a família é abençoada por Deus com o Sacramento do matrimônio, e que abençoada é a missão de colocar no mundo os filhos e educá-los. Com estas certezas superaram também as provações mais duras. Eram certezas simples, mas verdadeiras, formavam colunas que sustentavam o amor deles.

Não foi fácil a vida deles. Eles tinham problemas, tantos problemas, mas estas certezas simples os ajudavam a seguir adiante. E conseguiram formar uma bela família, a dar vida, conseguiram criar os filhos.


Queridos amigos, é preciso esta base moral e espiritual para construir bem, de maneira sólida! Hoje, esta base não é mais garantida pelas famílias e pela tradição social. Ao contrário, a sociedade em que vocês nasceram privilegia os direitos individuais mais do que a família, estes direitos individuais, as relações que duram para que não surjam dificuldades, e por isso às vezes fala de relações do casal, da família e do matrimônio de modo superficial e equívoco. Bastaria olhar certos programas televisivos!

E podemos ver estes valores… Quantas vezes os párocos – eu também ouvi isso algumas vezes-, quando chega um casal que quer se casar e diz “nos amamos muito mas ficaremos juntos até que o amor acabe”. Isso é egoísmo. Quando não sinto, corto o matrimônio, e esqueço daquilo que é uma só carne, que não pode separar-se, é arriscado casar-se. O egoísmo nos ameaça. Dentro de nós temos a possibilidade de uma dupla personalidade: uma que diz o outro e outra que diz eu, meu, comigo… é egoísmo sempre, que não sabe se abrir aos outros.

A outra dificuldade é esta cultura do provisório, de não buscar nada que seja definitivo, mas o provisório, o amor enquanto dura.

Uma vez eu ouvi um seminarista muito bom que dizia: “quero ser padre por dez anos, depois vejamos”. Essa é a cultura do provisório. Mas Jesus não nos salvou de maneira provisória, nos salvou definitivamente.

Mas, o Espírito Santo suscita sempre respostas novas às novas exigências! E assim, se multiplicaram na Igreja os caminhos para os noivos, os cursos de preparação para o Matrimônio, os grupos de jovens casais nas paróquias, os movimentos familiares… São uma riqueza imensa! São pontos de referência para todos: jovens em busca, casais em crise, pais em dificuldade com os filhos e vice-versa. Mas nos ajudam todos. E há ainda as diferentes formas de acolhimento como: adoção temporária, adoção, abrigos para menores de vários tipos… A fantasia [me permita a palavra] do Espírito Santo é infinita, mas é também muito concreta! Então, gostaria de dizer para vocês não terem medo de dar passos definitivos. Não tenham medo.

Quantas vezes ouço mães que me dizem “tenho um filho de 30 anos anos que não se decide, não se casa. Ele namora, mas não casa”. Então eu digo, “senhora, não passe mais as camisas dele”. Não tenham medo de dar passos definitivos como o é o matrimônio: aprofundem o amor de vocês, respeitando o tempo e as expressões de cada um, rezem, se preparem bem, mas tenham também confiança de que o Senhor não deixa vocês sozinhos! Façam com que Ele entre na casa de vocês como alguém da família, Ele sempre sustentará vocês.

A família é a vocação que Deus escreveu na natureza do homem e da mulher, mas há uma outra vocação complementar ao matrimônio: o chamado ao celibato e à virgindade pelo Reino dos céus. É a vocação que o próprio Jesus viveu. Como reconhecê-la? Como segui-la? É a terceira pergunta que vocês me fizeram.

Alguns de vocês pode perguntar: “como esse bispo é bom, acabaram de perguntar e já tem as respostas escritas”. É que eu já respondi uns dias atrás…

E respondo para vocês com dois elementos essenciais: rezar e caminhar na Igreja. Estas duas coisas devem seguir juntas, são interligadas. Na origem de cada vocação à vida consagrada existe sempre uma experiência forte de Deus, uma experiência que não se esquece, que se recorda por toda a vida! Foi o que aconteceu com Francisco. E isso nós não podemos calcular ou programar. Deus nos surpreende sempre! É Deus que chama; porém é importante ter uma relação cotidiana com Ele, escutá-Lo em silêncio diante do Tabernáculo e no íntimo de nós mesmos, falar com Ele, aproximar-se dos Sacramentos. Ter esta relação familiar com o Senhor é como ter aberta a janela da nossa vida para que Ele nos faça ouvir sua voz, o que Ele quer de nós. Seria belo ouvir vocês, ouvir os padres aqui presentes, as freiras… Seria belíssimo, porque cada história é única, mas todas partem de um encontro que ilumina no profundo, que toca o coração e envolve toda a pessoa: afeto, intelecto, sentidos, tudo.

A relação com Deus não diz respeito somente a uma parte de nós mesmos, diz respeito a tudo. É um amor tão grande, tão belo, tão verdadeiro, que merece tudo e merece toda a nossa confiança. E uma coisa gostaria de dizer com força, especialmente hoje: a virgindade pelo Reino de Deus não é um “não”, é um “sim”! Certo, comporta a renúncia a um elo conjugal e uma própria família, mas na base está o “sim”, como resposta ao “sim” total de Cristo para conosco, e este “sim” os torna fecundos.

Mas, aqui em Assis não há necessidade de palavras! Aqui tem Francisco, tem Clara, eles falam! O carisma deles continua a falar a tantos jovens no mundo inteiro: rapazes e moças que deixam tudo para seguir Jesus no caminho do Evangelho.

E isso, Evangelho. Gostaria de tomar a palavra “Evangelho” para responder outras duas perguntas que vocês me fizeram, a segunda e a quarta. Uma diz respeito ao compromisso social, neste período de crise que ameaça a esperança; e a outra diz respeito à evangelização, o levar o anúncio de Jesus aos outros. Vocês me perguntaram: o que podemos fazer? Qual pode ser nossa contribuição?

Aqui em Assis, aqui perto da Porciúncula, parece que podemos ouvir a voz de são Francisco que nos repete: “Evangelho, Evangelho!”. O diz também a mim, melhor, primeiro a mim: Papa Francisco, seja servidor do Evangelho!

Se eu não consigo ser um servidor do Evangelho, a minha vida não vale nada. Mas, o Evangelho, queridos amigos, não diz respeito somente à religião, diz respeito ao homem, todo o homem, e diz respeito ao mundo, à sociedade, à civilização humana. O Evangelho é a mensagem de salvação de Deus pela humanidade. Mas quando dizemos “mensagem de esperança”, não é um modo de dizer, não são simples palavras ou palavras vazias como existem tantas hoje! A humanidade precisa ser salva verdadeiramente! O vemos todos os dias quando folheamos o jornal, o ouvimos nas notícias na televisão; mas o vemos também ao nosso redor, nas pessoas, nas situações…; nós o vemos em nós mesmos! Cada um de nós precisa da salvação! Sozinhos não conseguimos. Salvação do que? Do mal. O mal opera, faz seu trabalho. Mas o mal não é invencível e o cristão não se rende diante do mal. E vocês jovens, querem se render ao mal, às injustiças, às dificuldades?

Querem ou não?

O nosso segredo é que Deus é maior que o mal: E isso é verdade: Deus é maior que o mal. Deus é amor infinito, misericórdia sem limites, e este Amor venceu o amor pela raiz na morte e a ressurreição de Cristo. Este é o Evangelho, a Boa Notícia: o amor de Deus venceu! Cristo morreu na cruz pelos nossos pecados e ressuscitou. Com Ele nós podemos lutar contra o mal e vencê-lo todos os dias. Cremos nisto ou não?  SIM!

Mas este sim deve ser levado na vida. Se eu creio que Jesus venceu o mal e me salva, devo seguir o caminho de Jesus durante toda a vida.

Então, o Evangelho, esta mensagem de salvação, tem duas destinações que estão ligadas: a primeira, suscitar a fé, e esta é a evangelização; a segunda, transformar o mundo de acordo com o desígnio de Deus, e esta é a animação cristã da sociedade. Mas não são duas coisas separadas, são uma única missão: levar o Evangelho com o testemunho da nossa vida transforma o mundo! Este é o caminho! Levar o Evangelho com o testemunho da nossa vida.

Olhemos para Francisco: ele fez todas estas duas coisas, com a força do único Evangelho.

Francisco fez crescer a fé, renovou a Igreja; e ao mesmo tempo renovou a sociedade, a tornou mais fraterna, mas sempre com o Evangelho.

Sabem o que uma vez Francisco disse aos seus irmãos. Preguem sempre o Evangelho e se for necessário, também com palavras. Mas, como é possível pregar o Evangelho sem palavras: sim com o testemunho, primeiro o testemunho.

Jovens da Úmbria: façam assim vocês também! Hoje, em nome de são Francisco, digo para vocês: ouro e prata não tenho para lhes dar, mas algo muito mais precioso, o Evangelho de Jesus. Vão com coragem! Com o Evangelho no coração e nas mãos, sejam testemunhas da fé com a vida de vocês.

Levem Cristo à casa de vocês. Acolham e testemunhem nos pobres. Jovens deem à Úmbria uma mensagem de paz e esperança. Vocês podem fazer isso.
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Fonte: Boletim da Santa Sé
Tradução: Rodrigo Santos

Não existe um Deus Católico?


Confesso que fiquei perplexo lendo esta frase ontem: “Não existe um Deus católico.”

Embora a expressão “Deus católico” seja insólita, negá-la no contexto em que foi negada tem consequências desastrosas.  Realmente.

O Antigo Testamento está repleto da expressão o Deus de Israel, o Deus de Abraão, Isac e Jacó, atestando que o Deus vivo e verdadeiro se revelava ao povo eleito, depositário de suas promessas e ensinamentos, e se distinguia dos ídolos dos falsas religiões que aterrorizavam os povos pagãos.

Completando-se com a encarnação do Verbo de Deus a Revelação Divina, a qual se encerra com a morte do último apóstolo, e sendo a Igreja Católica a depositária de tal revelação, dizer que não se crê em um “Deus Católico” parece-me favorecer a heresia  monolátrica, isto é, a crença em um deus único, concebido pela mente humana, distinto do Deus Uno e Trino, que se revelou, encarnou, fundou a Igreja Católica para perpetuar sua obra de salvação do mundo.

Dizer “não existe um Deus Católico”, no ambiente atual de ecumenismo maçônico e diálogo inter-religioso sem fronteiras, só contribui para a demolição da fé católica e reforça a marcha do mundo contemporâneo rumo ao deísmo, ao panteísmo, à gnose universal. Afirmar “não existe um Deus Católico”  é um convite dirigido aos “irmãos” pedreiros livres e aos “homens de boa vontade” para trabalharem todos juntos na fundação de uma nova religião de uma nova era da humanidade, em que o homem será a sua própria lei.

A infelicidade de tal afirmação cresce ainda mais quando se tem presente que nos dias de hoje  o Deus da Metafísica, o Ser Absoluto, o primeiro Motor Imóvel, a Causa Primeira incausada, o Ato Puro dos estudiosos da Ontologia, que serve de base para uma exposição racional do mistério da Revelação Divina, desapareceu completamente da cultura contemporânea. De modo que negar o “Deus Católico” não significa ceder lugar ao Ser Absoluto na mente dos homens de hoje, mas sim ceder lugar à “energia cósmica” que alguns imaginam como um demiurgo.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Abuso litúrgico na Arquidiocese de São Luís faz cristãos refletirem: Missa ou Balada?


O que é isso? Uma missa diferente, uma missa “mais legal” para atrair os jovens… Sugere-se até que seja colocado um globo girando, luzes coloridas e espera-se que os jovens que se aproximarem encontrem Deus na missa-balada.

Contudo, não se pode permitir que o relativismo seja infiltrado na liturgia, de modo especial na missa. A razão de celebrar-se a missa não deve ser a de agradar os fiéis inventando-se missas-baladas.

Ora, um jovem não vai à igreja para encontrar uma balada. Isso se busca nos lugares apropriados. Vai-se à igreja querendo-se participar da missa da Igreja, deixada como herança pelo autor da mesma: Jesus Cristo e não da “missa” inventada por alguns padres. O mundo não pode entrar na Igreja, mas a Igreja, sim, deve influenciar positivamente o mundo. Querendo-se pura e simplesmente agradar os fiéis, acaba-se por desagradar a Deus. A liturgia não é propriedade pessoal, mas sim, da Igreja. O padre, a equipe de liturgia e de cantos são meros servidores, devem ajudar os fiéis a estarem em sintonia com Deus.

Existem comentários do tipo: “temos que transformar a liturgia em algo mais popular, a liturgia do povo, mudando um pouquinho para que ela se adapte à nossa realidade. Pra que utilizar nomes como corporal, cálice, patena? Não! Vamos utilizar coisas do dia a dia. Usemos copo, ao invés de cálice, guardanapos ao invés de corporal”.

Desse modo, a missa já não faz mais com que o fiel olhe para o céu, para Deus. Esquecendo-se da verticalidade, se permanece num puro horizontalismo. A missa não pode ser algo “comum”. Trata-se de algo que une o Céu e a Terra. É por isso que o padre veste uma roupa diferente (paramenta-se), pois ele não está vivendo algo do dia-a-dia. As pessoas também não saem de casa para ir à igreja como se estivessem indo para a balada. Na missa, acontece algo diferente, não humano, mas divino. Dessa forma, fica claro que o altar não pode ser um palco; o padre não pode ser um ator ou cantor, mas sim, como ensina a Teologia, deve agir da pessoa de Cristo.



O que se precisa talvez, hoje, seja de obediência àquilo que a Igreja pede e no geral, convencer-se de que Cristo é o protagonista da Celebração Eucarística, não o padre. Para isso, a Igreja criou aquilo que se chama “rubrica”, ou seja, normas que servem não para engessar uma celebração litúrgica, mas para que ao realizar essa ação sagrada, o padre “não roube a cena” e o principal seja o Cristo.

Muitas pessoas vão à missa do padre fulano, cicrano, pois um faz de um modo, outro faz de outro, que acaba agradando alguns e desagradando outros… Quando os padres acalmarem seu ímpeto de “aparecer”, a missa do padre “x” ou do padre “y” será a mesma, aquela querida por Jesus Cristo… Então se voltará à participação na Eucaristia por causa de Jesus e não por conta de afinidade com esse ou aquele padre!

Disse o papa Bento XVI no livro Luz do Mundo: “Não somos um centro de produção, não somos uma empresa voltada para o lucro, somos Igreja. Somos uma comunidade de pessoas que vivem na fé. Nossa tarefa não é criar um produto ou conseguir êxito nas vendas. Nossa tarefa é viver exemplarmente a fé, anunciá-la e mantermo-nos em uma relação profunda com Cristo e, assim, com o próprio Deus. Não ser um grupo utilitarista, mas uma comunidade de pessoas livres que se doam, e que atravessam nações e culturas, o tempo e o espaço”.

É importante deixar longe o catolicismo de supermercado, onde se escolhe a igreja, o padre, o tipo de cantos, esquecendo-se de que na Igreja ou se leva “pacote completo” ou não se leva nada. Ou se é cristão por inteiro ou não se pode dizer cristão.

Alguns dizem: “eu sou católico, mas penso que a Igreja deveria mudar isso, aquilo, e aquele outro…”. Pois bem, quando se professa a fé, rezando-se o Credo, ou se acredita ou não se acredita… Impossível ser membro sem concordar com aquilo que é matéria de fé. Não faz bem colocar uma máscara de católico e por dentro ser infiel à Igreja.

Cristo é a cabeça, nós somos os membros. Coloquemo-lo no trono de majestade na Igreja e no mundo.



Rafael Uliano
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Título original: Missas-Baladas

Papa diz: "Missa não é um evento social".


“Quando Deus vem e se aproxima, é sempre festa”, disse o Papa na homilia proferida na manhã desta quinta, 3, na Casa Santa Marta, concelebrando a missa com os cardeais membros do Conselho que está reunido desde dia 1º no Vaticano.

O Papa ressaltou que não se pode transformar a memória da salvação numa lembrança, num “evento costumeiro”. “A missa não é um “evento social” e sim a presença do Senhor em meio de nós”.

Francesco se inspirou na primeira leitura, do Livro de Nemias, centrando sua homilia no tema da memória “que toca o coração”:

“Isto não é importante só nos grandes momentos históricos, mas na nossa vida; todos temos memória da salvação. Mas ela está próxima de nós? Ou é uma memória distante, arcaica, uma memória de museu…? Quando a memória não é próxima, se torna uma simples recordação”.


“E esta alegria é a nossa força. A alegria da memória próxima. Ao invés, a memória domesticada, que se afasta e se torna uma simples recordação, não aquece o coração, não nos dá alegria e não nos dá força. Este encontro com a memória é um evento de salvação, é um encontro com o amor de Deus que fez história conosco e nos salvou; é um encontro de salvação. E é tão bom ser salvos que é preciso festejar”.“Quando Deus vem e se aproxima – afirmou, há sempre festa. E muitas vezes nós cristãos temos medo de festejar: esta festa simples e fraterna que é um dom da proximidade do Senhor. A vida, acrescentou o Papa, nos leva a afastar esta proximidade, e a manter somente a lembrança da salvação, não a memória que está viva”. A Igreja tem a “sua” memória, que é a Paixão de Senhor. Também conosco acontece de afastar esta memória e transformá-la numa lembrança, num evento habitual”:
 
“Toda semana vamos à igreja, ou quando alguém morre vamos ao funeral… e essa memória, muitas vezes, nos aborrece porque não é próxima. É triste, mas a missa muitas vezes se transforma num evento social e não estamos próximos da memória da Igreja, que é a presença do Senhor diante de nós.”


“Peçamos ao Senhor – concluiu o Papa – a graça de ter sempre a sua memória próxima a nós, não domesticada pelo hábito, por tantas coisas, e distanciada numa simples recordação.
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Disponível em: Filosofando Problemas

Papa Francisco precisa tomar cuidado para não ser Gorbachev da Igreja e para não competir com a imaginação de Dan Brown


O nome é Jorge Mario Bergoglio, conhecido como papa Francisco desde 13 de março de 2013, mas podem começar a chamá-lo de Mikhail Gorbachev… É uma ironia? Claro que é. Alguns entenderam de primeira. Outros terão de refletir um pouco. Um liderava uma construção humana, de vocação maligna. O outro comanda o que os crentes consideram uma construção divina, de vocação benigna. O meu gracejo, por óbvio, não nasce da diferença, mas do risco da semelhança.

Repararam, leitores? Há muito tempo um papa não chamava tanto a atenção da imprensa mundial e não recebia tantos elogios, muito especialmente daqueles, vejam que curioso!, que odeiam a Igreja Católica — e, de maneira mais genérica, o cristianismo. "Se até o papa está dizendo que a Igreja é essa porcaria, então deve ser mesmo verdade; eu sempre soube!"

Ai daquele que alimentar a vaidade de despertar a simpatia de quem o detesta!

Não gosto, e já deixei isso claro aqui, dos primeiros passos de Francisco. Fazer o quê? Chega a hora em que é preciso discordar até do papa. Então que seja. Considerei, e não mudei de ideia, um tanto atrapalhada a sua entrevista à revista jesuíta La Civiltà Cattolica. Ainda que não tenha dito a barbaridade que lhe atribuíram sobre o aborto (escrevi um post sobre a mentira), a fala não foi clara o bastante. Do pastor máximo da Igreja Católica, espera-se, como queria Paulo, que flauta soe como flauta, e cítara, como cítara.


Ao jornal "La Repubblica", chamou a Igreja de "introspectiva e vaticanocêntrica", além de classificar a Cúria romana de "lepra do papado". Nesta quarta, em audiência da Praça São Pedro, lembrou o óbvio, mas num contexto, a esta altura, já contaminado pela tentação do falastrão: "Somos uma igreja de pecadores, e nós, pecadores, somos chamados para nos renovar, santificar por Deus". E criticou: "Existiu na história a tentação daqueles que afirmavam que a Igreja é apenas dos puros, daqueles que são totalmente crentes, e os outros são afastados. [A Igreja] não é a casa de poucos, mas de todos".

Por certo é a "casa de todos", mas de todos que estejam dispostos a aceitar os fundamentos que fazem da Igreja a Igreja. Afinal, o que é realmente de todo mundo é a República, não é isso? É o estado democrático. E, ainda assim, que cabe notar: é de todos até mesmo para punir aqueles que violam as suas regras.

Alguns amigos católicos estão um tanto descontentes com a minha pressa em censurar a fala do papa. Acham que eu deveria esperar um pouco mais para ver para onde caminham as coisas. Talvez eu pudesse fazê-lo se fosse apenas católico. Como sou também jornalista, não posso deixar de analisar essa questão com os olhos e, vá lá, algum método com que vejo todo o resto.

A ironia que fiz com Gorbachev faz sentido. Eu sempre o admirei muito porque tinha a certeza, desde o primeiro momento — e quem me conhece desde aqueles tempos sabe disto — que ele aceleraria o fim da URSS. Gorbachev atuava, vamos dizer assim, no mesmo sentido em que caminhavam os meus anseios naquele particular: o desmoronamento do império soviético. Mas eu me divertia me colocando, às vezes, na pele de um comuna pró-Moscou e concluía: é uma besta ao quadrado! "Mas ele não fez um bem imenso à humanidade, pondo fim àquele horror?" Claro que sim! Ocorre que ele tinha sido escolhido para manter o império. Vivo torcendo para que apareça um "reformador" chinês, entendem? Deng Xiaoping foi esperto e maligno. Pôs fim ao comunismo chinês sem pôr fim à tirania…

Ocorre que a Igreja Católica não é um império do mal, não é? E, desta feita, não vejo graça nos primeiros passos de um candidato a Gorbachev de mitra. Não acho que Francisco vá acabar com a Igreja. Ela é um pouco mais antiga e enraizada na cultura do que era o comunismo. Mas eu o vejo, por enquanto, produzindo falas bombásticas em excesso, a maioria voltada para o público externo, muito em particular para os que veem na instituição não mais do que um amontoado de obsolescências, com o que, obviamente, não concordo.

Daqui a pouco vai haver gente achando que, nos corredores do Vaticano e na Cúria (a tal "lepra"), circulam alguns daqueles celerados da imaginação de Dan Brown, o autor do delirante "O Código Da Vinci". Seria melhor que primeiro conhecêssemos o papa por suas ações. As palavras bem que poderiam vir depois. Os jesuítas têm, é verdade, uma certa tradição falastrona, de confronto com a hierarquia, que já gerou maravilhas como Padre Vieira, por exemplo. Mas Bergoglio não é Vieira.

Eis um tipo de consideração, meus caros, que não terá como ser confrontada com os fatos amanhã, depois de amanhã, daqui a dois ou três meses, como acontece com frequência na política. É matéria de muitos anos. As primeiras afirmações de Francisco estão gerando mais calor do que luz. E, como não poderia deixar de ser, têm despertado a simpatia dos que o veem não como um reformador que vai fortalecer a Igreja Católica, mas como um crítico que, finalmente, pode desestruturá-la.


Boa parte dos não católicos que hoje aprovam Francisco o aplaude como eu aplaudia… Gorbachev: "Dessa vez aquele troço desaba!". E, felizmente, desabou.


Reinaldo Azevedo
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Fonte: Veja