quarta-feira, 26 de junho de 2019

Suprema Corte dos EUA decide não separar Estado e Igreja


A “Cruz da Paz”, agora nacionalmente conhecida como a “Cruz de Bladensburg”, vai ficar onde e como está: em uma área pública, mantida pelos cofres públicos. Um tribunal de recursos de Maryland, nos EUA, entendeu que isso é inconstitucional, porque representa o endosso do governo a uma religião específica — no caso, a cristã. Mas a Suprema Corte discordou, com voto vencido da ministra Ruth Ginsburg.

A cruz de 12,2 metros de altura foi construída em granito e concreto em Bladensburg, Maryland, em 1925, por 49 famílias enlutadas pelas mortes de seus filhos na Primeira Guerra Mundial. Quando as famílias ficaram sem dinheiro para mantê-la, a American Legion assumiu a manutenção do memorial. Em 1930, a responsabilidade passou para um órgão público estadual.

A American Humanist Association, uma organização ateísta, que vem movendo ações contra monumentos religiosos mantidos com dinheiro de todos os contribuintes país afora, moveu mais essa ação contra a Cruz de Bladensburg, alegando que o memorial deveria ser transferido para propriedade particular e mantido por recursos privados.

Um tribunal federal de primeira instância decidiu a favor dos cristãos. Afirmou que a cruz está lá há décadas, sem controvérsias e com proteção de precedentes da Suprema Corte. Para a corte, o memorial tem um propósito secular, no sentido de manter a neutralidade religiosa, sem entrelaçamento excessivo entre governo e religião.

Em decisão por 2 votos a 1, o tribunal de recursos entendeu o contrário: “A exposição engrandece a cruz latina de tal maneira que diz a qualquer observador razoável que o órgão público estadual coloca o cristianismo acima das outras religiões, vendo os cristãos e os americanos em geral como uma coisa só”.

Aí veio a decisão da Suprema Corte, na quinta-feira (20/6). Por 7 votos a 2, a corte assumiu o entendimento de que a cruz se tornou secular, essencialmente. O ministro Samuel Alito, que escreveu o voto, afirmou que cruzes cristãs e estrelas de Davi ocupam fileiras e fileiras nos cemitérios onde foram enterrados os soldados que morreram nas guerras e que, na mente das pessoas, é uma maneira de homenagear os mortos. Alito escreveu:

“A cruz é indubitavelmente um símbolo cristão, mas esse fato não deve nos cegar para tudo o mais que a Cruz de Bladensburg veio a representar. Para alguns, o monumento é um lugar de descanso simbólico para os ancestrais que nunca voltaram para casa. Para outros, é um lugar onde a comunidade se reúne e homenageia todos os veteranos por seus sacrifícios pela nação. Ainda para outros, é um marco histórico. Para muitas dessas pessoas, destruir ou desfigurar a cruz, que permaneceu imperturbada por quase um século, não seria neutro e não iria promover os ideais de respeito e tolerância incorporados na Constituição”.

“A cruz se tornou um marco proeminente da comunidade e sua remoção ou alteração radical, nesse momento, seriam vistas por muitos como uma manifestação de hostilidade contra a religião, o que não tem lugar em nossas tradições da Cláusula do Estabelecimento [Establishment Clause — a cláusula da Constituição que proíbe o estabelecimento de uma religião pelo Congresso]”.

“Ao contrário das alegações dos demandados, não há prova de intenção discriminatória na seleção do design do memorial ou na decisão do órgão de Maryland de mantê-lo. A cláusula sobre a religião na Constituição objetiva promover a sociedade na qual as pessoas de todas as crenças vivem juntas em harmonia e a presença da Cruz de Bladensburg na terra onde ela está por muitos anos é totalmente consistente com esse objetivo”.

segunda-feira, 24 de junho de 2019

A Igreja não anula matrimônios: ela o declara quando eles nunca existiram

 
Gravidez indesejada antes do casamento e brevidade da convivência conjugal estão entre os casos de nulidade, confira:

“O Papa não desmontou os tribunais eclesiásticos; ele apenas quer que a Igreja ajude e escute os fiéis, e chegue à verdade com relação aos casos nos quais, desde sua raiz, nunca houve consentimento e, por conseguinte, nunca existiu um matrimônio”.

Este é o esclarecimento feito pelo Pe. Miguel Acevedo, responsável pelo tribunal da província eclesiástica de Caracas (Venezuela) e especialista no tema. Ele explica que as reformas nas causas de nulidade matrimonial não promovem o divórcio, e sim buscam aproximar os fiéis da justiça e da verdade.

O Pe. Miguel tem experiência de 24 anos como sacerdote e é doutor em Direito Canônico, com especialização em Direito Penal, pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. “A Igreja não anula matrimônios porque fazê-lo seria assimilar que aceita o divórcio; ela simplesmente declara quando o sacramento nunca existiu”, enfatiza.

O objetivo do Papa com esta reforma é oferecer o acesso à justiça de maneira mais rápida e fácil, segundo o sacerdote. As novas normas entraram em vigor no dia 8 de dezembro de 2015, tornando os processos mais breves, ao contrário do processo antigo ou ordinário.

Igreja à ONU: Solução para crise na Venezuela requer eleger um novo presidente


A Conferência Episcopal Venezuelana (CEV) se reuniu em 21 de junho com Michelle Bachelet, Alta Comissária para os Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), agradeceu-lhe por sua presença no país e explicou-lhe que a solução para a crise social e política passa por eleger um novo presidente.

Bachelet visitou a Venezuela de 19 a 21 de junho, convidada pelo regime de Nicolás Maduro. Durante sua viagem, reuniu-se com autoridades do país, assim como com vítimas de abusos dos direitos humanos e organizações que os atendem.

Em seu encontro com a Alta Comissária para os Direitos Humanos da ONU, os bispos também lhe entregaram uma carta, na qual destacam "a grave crise que o povo venezuelano está experimentando".

"A Igreja Católica na Venezuela desde 2004 vem denunciando a situação da grave crise humanitária vivida pelo nosso povo. Somos defensores da vida em todos os seus aspectos e a voz dos pastores é escutar o clamor de nosso povo", expressaram os bispos.

"Tem aumentado a diáspora massiva, a nova forma de escravidão, entre elas o tráfico de pessoas, a prostituição", disseram, assim como "o aumento da desnutrição infantil, o uso da mentira como se fosse verdade".

A CEV também lamentou "a crise elétrica em toda a Venezuela, com exceção de Caracas para dar a sensação de normalidade àqueles que visitam o país; a situação da água que não chega aos lares, devido às falhas elétricas".

Eritreia: Governo fecha hospitais administrados pela Igreja e deixa milhares sem atendimento


O governo da Eritreia interditou na última semana três hospitais, dois centros de saúde e 16 clínicas administradas pela Igreja Católica no país, deixando assim cerca de 170 mil pessoas sem atendimento.

A informação foi confirmada à Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN) por uma fonte local, segundo a qual, as pessoas correm risco de morte caso os serviços não sejam retomados rapidamente. Além disso, relatou que muitos pacientes expulsos tiveram de percorrer até 25 quilômetros para acessar outra clínica.

Diante dessa ação do governo da Eritreia, os quatro bispos do país enviaram uma carta ao ministro da Saúde, Amna Nurhusein, condenando este programa de confisco, que fechou todas as instalações do serviço de saúde da Igreja Católica, algumas delas com mais de 70 anos de atividade. Para os Prelados, este tal medida é “profundamente injusta”.

“Privar a Igreja de cuidar dessas instituições é minar sua própria existência e expor seus trabalhadores à perseguição religiosa. Declaramos que não entregaremos nossas instituições e equipamentos de livre e espontânea vontade”, afirmam os bispos na carta.

Assim, confirmam o que outra fonte local informou à ACN, ao assinalar que “a equipe de algumas das clínicas se recusou a entregar as chaves para que os soldados invadissem as mesmas”.

“Nossa mensagem ao governo é simples: deixe-nos em paz. É dever da Igreja cuidar dos doentes, dos pobres e moribundos. Ninguém, nem mesmo o governo, pode dizer à Igreja para não fazer o seu trabalho. Nossas instalações médicas estavam seguindo fielmente as diretrizes do ministério da saúde e, na maioria das vezes, os supervisores do ministério apreciavam muito o trabalho realizado”, declarou.

domingo, 23 de junho de 2019

Homilia do Papa Francisco na Solenidade de Corpus Christi


HOMILIA DO SANTO PADRE

SOLENIDADE DO SANTÍSSIMO
CORPO E SANGUE DE CRISTO
Casale Bertone (Santa Maria Consolatrice)
Roma, 23 de junho de 2019

Hoje, a Palavra de Deus ajuda-nos a descobrir dois verbos simples e essenciais para a vida de cada dia: dizer e dar.

Dizer. Na primeira leitura, Melquisedec diz: «Abençoado seja Abrão pelo Deus Altíssimo, e bendito seja o Deus Altíssimo» (Gn 14, 19-20). O dizer de Melquisedec é bendizer. Abençoa Abrão, em quem serão abençoadas todas as famílias da terra (Gn 12, 3; Gal 3, 8). Tudo parte da bênção: as palavras de bem geram uma história de bem. O mesmo acontece no Evangelho: antes de multiplicar os pães, Jesus abençoa-os: «tomou os cinco pães, ergueu os olhos ao Céu, pronunciou sobre eles a bênção, partiu-os e foi-os dando aos discípulos» (Lc 9, 16). De cinco pães, a bênção faz alimento para uma multidão: faz brotar uma cascata de bem.

Por que faz bem abençoar? Porque é transformar a palavra em dom. Quando se abençoa, não se está a fazer uma coisa para si mesmo, mas para os outros. Abençoar não é dizer palavras bonitas, nem usar palavras de circunstância; mas é dizer bem, dizer com amor. Assim fez Melquisedec: espontaneamente diz bem de Abrão, sem que este tenha dito ou feito algo por ele. Assim fez Jesus, mostrando o significado da bênção com a distribuição gratuita dos pães. Quantas vezes fomos abençoados, também nós, na igreja ou nas nossas casas! Quantas vezes recebemos palavras que nos fizeram bem, ou um sinal da cruz na fronte! Fomos abençoados no dia do Batismo e, no final de cada Missa, somos abençoados. A Eucaristia é uma escola de bênção. Deus diz bem de nós, seus filhos amados, encorajando-nos assim a continuar. E nós bendizemos a Deus nas nossas assembleias (cf. Sal 68, 27), reencontrando o gosto do louvor, que liberta e cura o coração. Vimos à Missa com a certeza de ser abençoados pelo Senhor, e saímos para, por nossa vez, abençoarmos, para sermos canais de bem no mundo.

É importante que nós, Pastores, nos lembremos de abençoar o povo de Deus. Queridos sacerdotes, não tenhais medo de abençoar! O Senhor quer dizer bem do seu povo; fica feliz em fazer-nos sentir o seu carinho por nós. E só depois de abençoados é que podemos abençoar os outros com a mesma unção de amor. Entretanto, é triste ver hoje quão facilmente se amaldiçoa, despreza, insulta. Assaltados por demasiado frenesi, não nos contemos, desafogando a raiva sobre tudo e todos. Muitas vezes, infelizmente, é quem grita mais e mais forte, é quem está mais irritado que parece ter razão e obter consensos. Não nos deixemos contagiar pela arrogância, não nos deixemos invadir pela amargura, nós que comemos o Pão que em si contém toda a doçura. O povo de Deus ama o louvor, não vive de lamentações; está feito para a bênção, não para a lamentação. Diante da Eucaristia, de Jesus que Se fez Pão, deste Pão humilde que contém a totalidade da Igreja, aprendamos a bendizer o que temos, a louvar a Deus, a abençoar e não a amaldiçoar o nosso passado, a dar boas palavras aos outros.

Papa Francisco anuncia tema da JMJ Lisboa 2022


O Papa Francisco anunciou o tema da próxima Jornada Mundial da Juventude de 2022, que acontecerá na cidade de Lisboa, Portugal: “Maria levantou-se e partiu apressadamente”.

O Santo Pare fez o anúncio neste sábado,22 de junho, durante a audiência que concedeu no Palácio Apostólico do Vaticano a jovens participantes do XI Fórum Internacional dos Jovens, que aconteceu em Roma de 19 a 22 de junho, organizado pelo Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, com o objetivo de promover a implantação do Sínodo 2018 sobre os jovens, a fé e o discernimento vocacional.

O Pontífice realizou este anúncio de surpresa. Explicou que “o caminho de preparação para o Sínodo de 2018 coincidiu em grande parte com o itinerário para a JMJ do Panamá, que aconteceu há apenas 3 meses. Em minha mensagem aos jovens de 2017, expressei a esperança de que houvesse uma grande harmonia entre estes dois caminhos”.

“Pois bem! A próxima edição internacional da JMJ será em Lisboa, em 2022. Para esta etapa de peregrinação intercontinental dos jovens, escolhi como tema: ‘Maria levantou-se e partiu apressadamente’”.

O Santo Padre convidou os jovens a meditar durante os próximos anos “sobre os versículos: ‘Jovem, eu te digo: levanta-te’ e ‘Levanta-te! Eu te constituo testemunha do que viste!’”.

“Com isso, desejo também desta vez que haja sintonia entre o itinerário para a JMJ de Lisboa e o caminho pós-sinodal. Não ignorem a voz de Deus que os impulsiona a se levantar e a seguir os caminhos que Ele preparou para vocês. Como Maria, e junto a Ela, sejam cada dia portadores de sua alegria e seu amor”.

sábado, 22 de junho de 2019

BA: Igreja é roubada pela segunda vez em menos de uma semana


Nem as hóstias ou o cálice foram poupados. Muito menos a vigília de Santo Antônio impediu que algo inédito acontecesse na Igreja da Imaculada Conceição de Maria, no bairro do Stiep. Padre, fiéis e moradores ainda tentam organizar as peças do quebra-cabeça para entender como, em uma semana, a paróquia foi invadida e roubada duas vezes. Sumiram dali cofre, ofertório, microfones e até toalhas sem nenhum sinal de arrombamento. A última ação foi percebida na última terça-feira, quando o primeiro crime ainda repercutia.

O celular do padre Raimundo de Melo tocou às 17h30 do dia 12 de junho com a notícia de que a igreja havia sido invadida. Uma das sacristãs, a única com a chave da paróquia, sentiu falta do notebook e do cofrinho com as ofertas da trezena para Santo Antônio. A pequena caixa ficava ao lado da imagem do santo, perto do altar. Como as doações seriam retiradas apenas no último dia da trezena, no dia 13 de junho, ninguém sabe quanto foi roubado. Às vésperas de um dos dias mais movimentados de igreja, viram-se de frente a um dilema.

“Mas a gente achava que seria uma coisa de uma vez, que era só um episódio. Então talvez esse tenha sido nosso erro”, acredita o padre.

Apenas seis dias depois, no mesmo horário, a sacristã voltou a ligar ao padre. Estava atordoada. A igreja tinha sido novamente saqueada. Dessa vez, nem elementos sagrados foram esquecidos. As hóstias e o cálice foram levados, assim como a chave do sacrário onde estavam guardados. Também sumiram toalhas, um projetor e três microfones. “Talvez ele fosse um pouquinho religioso”, brinca o padre.

O crime foi registrado na 9ª Delegacia (Boca do Rio), mas ainda não há nenhum indício de suspeitos. A sacristã, uma das frequentadoras mais antigas da igreja, preferiu não ser entrevistada. Por isso, a reportagem não teve acesso ao interior da paróquia.

Desde então, as missas são realizadas sem microfone. Diferentemente do que deveria ocorrer nesta quinta (20), o Tapete de Corphus Christi, feito tradicional com sal e serragem, não foi montado. Não houve clima, sequer dinheiro. “O clima está péssimo. É uma igreja frequentada por senhoras. O medo é que aconteça um assalto”, diz Sidney Haack, empresário e morador do entorno. Não há nenhuma câmera ou sistema de segurança na igreja que possam ajudar na busca.

“É uma comunidade carente, pobre. Não é como a Igreja da Vitória, Catedral Basílica”, lamenta Sidney.

Mas as grades, câmeras e alarmes já fazem parte da rotina local. Afinal, a igreja não é a única pertubada pela violência. Apenas a mais simbólica.

Sínodo da Amazônia: Igreja opressora dos índios? Uma amnésia histórica!


É evidente que não se pode pedir ao documento preparatório do Sínodo Pan-Amazônico uma história da evangelização da Amazônia, porém o breve capítulo dedicado à “memória histórica eclesial” é muito insuficiente. Não é verdade o que afirma quando se escreve que “até o século XX, as vozes em defesa dos povos indígenas eram frágeis, ainda que não ausentes”, fortalecendo-se somente depois do Concílio Vaticano II.

A Igreja não tem nenhuma dificuldade em confessar seu “mea culpa” ante os comprometimentos que ofuscaram a evangelização da América Latina com a conquista e colonização do Novo Mundo e a opressão e exploração dos povos indígenas. No entanto, ninguém pode negar, por respeito à verdade histórica, que desde a primeiríssima colonização do Novo Mundo foi uma legião de missionários quem empreendeu a primeira grande batalha profética pela justiça em defesa e proteção dos indígenas. A cruz se tornou uma autocrítica radical da espada. Os próprios bispos exibiam como lema: “defensores dos índios”. Houve mártires, violências sofridas, todo tipo de atentados e controvérsias provocadas pelos “encomenderos”, colonos e bandeirantes. Não houve até hoje na história da Igreja na América Latina um combate evangélico e profético de tal magnitude como o dos primeiros tempos fundadores.

No século XVII a Igreja começou a penetrar na Amazônia. E no dia 22 de abril de 1639, aniversário do descobrimento do Brasil, o Papa Urbano VIII promulgou um Breve, Commissum Nobis, proibindo, sob pena de excomunhão, “aprisionar […] os índios, vendê-los, comprá-los, separá-los de suas mulheres e filhos, privá-los de qualquer modo da liberdade, retê-los na servidão […]”. Este Breve papal –que está em perfeita continuidade com a bula Sublimis Deus do papa Paulo III em 1537, que foi a primeira e muito dura condenação papal da escravidão dos índios e afirmação do respeito devido à sua dignidade e a seus bens, provocou revoltas lideradas pelas Câmaras Municipais em São Paulo, Santos e Rio de Janeiro.

A partir de 1600 a presença da Igreja na Amazônia, evangelizando e defendendo os índios, foi fundamental. Numerosas aldeias e missões religiosas, principalmente por obra dos jesuítas, surgiram na Amazônia. Destacam-se a respeito as fundações de Cametá na foz do Tocantins; Airão, Carvoeiro, Moura e Barcelos no Rio Negro; Santarém na foz do Tapajós; Faro no rio Nhamundá; Borba no rio Madeira; Tefé, São Paulo de Olivença e Coari no Solimões; e no Amazonas, Itacoatiara e Silves.

Como pode-se dizer que eram vozes “frágeis” as da Companhia de Jesus e sua cadeia de “reduções” indígenas, desde o Alto Uruguai e Paraná, em combate permanente contra os bandeirantes, escravistas de índios, às de Moxos e Chiquitos na floresta boliviana e às do oriente peruano e equatoriano, até os “llanos orientales” da Colômbia (prefigurando o que seria a rodovia da floresta)?

Depois caberia agregar todo o trabalho de penetração da Amazônia dos Salesianos a partir do oriente peruano e equatoriano, criando escolas de arte e ofícios para os indígenas, assim como de outras congregações religiosas.

Os informes e escritos de Mons. Giovanni Genocchi, enviado como visitador apostólico à América Latina (1911-1913) e que visitou as terras amazônicas, são de uma dureza impressionante quando denunciam em repetidas ocasiões a escravidão que de fato sofrem os indígenas sob a caça dos seringueiros durante o «boom» da produção de borracha, assim como as dificuldades e adversidades que sofrem os responsáveis pelas primeiras prefeituras apostólicas e missões nas regiões amazônicas dependentes de “Propaganda Fidei”, cuja proteção dos indígenas é vista pelos colonos como “fumo negli occhi”. Este grave estado de coisas seria retomado e condenado com muita força por Pio X na Encíclica missionária dirigida à América Latina: Lacrimabili statu Indorum, ponto de referência para os sucessivos pontificados, se se tem em conta as frequentes citações desse documento nas instruções comunicadas aos Representantes Pontifícios na América Latina. Este documento denunciava os abusos e violências que se cometiam contra os indígenas e apontava o dever de defender sua vida, liberdade e propriedade, através do desenvolvimento das missões católicas e da evangelização, junto a todas as iniciativas idôneas para a promoção humana dos indígenas.

É certo que depois no Concílio Vaticano II e sobretudo no caminho sinodal de Medellín a Aparecida despertou-se com novas luzes e vigor profético essa tradição de defesa e custódia dos indígenas, que nas décadas imediatamente anteriores parecia apagada (mas, por favor, que não se defina o documento de Puebla como o documento da “participação e comunidades de base”, pois ele teve uma abrangência muito maior e rica!).

Fazer memória verdadeira da presença e missão da Igreja na Amazônia durante os últimos séculos é muito importante para aprender da história os acertos e os erros da missão e para deixar-se contagiar pela doação total – inclusive até ao martírio – de muitos irmãos e irmãs nossos que deram suas vidas por Cristo e por amor aos amazônicos.