Ao final do
percurso que estamos percorrendo como Igreja nesse tempo pascal nos deparamos
com a solenidade da Ascensão do Senhor. Essa
celebração marca o final desse período de particular alegria por celebrar a
vitória de Cristo sobre a morte e, com ela, a nossa reconciliação com Deus. Mas
se a ascensão é a subida de Jesus ao Pai, podemos nos alegrar? Parece que Jesus
está nos deixando, qual é então o motivo da celebração?
Essas
são perguntas que, de alguma forma, o Papa Bento XVI buscou responder em seu
livro Jesus de Nazaré, no qual fala sobre a vida de Jesus e os diversos
acontecimentos que nela se deram. Quando medita sobre a Ascenção do Senhor, ele destaca a reação dos discípulos frente a esse suposto “ir
embora” de
Cristo. A reação deles é de alegria, o que nos deixa muito intrigados. Como
assim os discípulos puderam se alegrar com isso? Mas efetivamente se alegraram
como podemos ver no final do evangelho de Lucas: “Enquanto os abençoava,
separou-se deles e foi arrebatado ao céu. Depois de o terem adorado, voltaram
para Jerusalém com grande júbilo.” (Lc 24, 51-52)
Se,
à primeira vista, não conseguimos uma explicação na bíblia para isso, pelo
menos a leitura deve fazer-nos pensar que alguma coisa está escapando a nossa
compreensão. O que fica evidente é que os discípulos não se sentem abandonados,
não acreditam que Jesus tenha partido para um céu inacessível e distante.
Parece evidente, diz o Bento XVI, que os discípulos estão seguros de uma certa
presença nova de Jesus. E de fato, se olhamos a comunidade primitiva e o seu
anuncio, perceberemos que se bem eles anunciam a vinda de Cristo novamente, o
que eles fizeram foi, sobretudo, dar testemunho de uma presença viva de Jesus.
Testemunho de que ele está vivo, que é a Vida mesma.
E
para explicar melhor, Bento XVI nos diz que essa figura na qual Cristo aparece
sentado à direita do Pai não faz referência a um local concreto, porque Deus é
espírito puro. Deus não está no espaço, Ele é aquele que sustenta o espaço sem
estar nele. Jesus
retorna ao Pai e por isso retorna a essa condição na qual não está limitado
pelo espaço e justamente por isso pode estar presente de uma forma distinta no mundo
inteiro. Diz Bento XVI: “Seu ir é precisamente uma vinda, um novo modo de
proximidade, de presença permanente”. E é essa presença a causa
da alegria dos discípulos no Evangelho de Lucas que vimos acima.