Uma rebelião no Complexo
Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus (AM), com duração de 17 horas
deixou 60 mortos, sendo considerado o maior massacre prisional do Estado. Para
o Bispo auxiliar de Manaus, Dom José Albuquerque de Araújo, “esta situação nos
traz muita tristeza e apreensão” e, frente a tal realidade, todos são
convocados a se unir em oração.
O motim teve início na tarde de domingo,
1º de janeiro, quando seis detentos foram decapitados e seus corpos foram
jogados para fora da unidade. Segundo o secretário de Segurança Pública do
Amazonas, Sérgio Fontes, o motim se deu devido a uma briga interna entre as
facções Família do Norte (FDN) e o Primeiro Comando da Capital (PCC).
De acordo com
informações, os mortos são integrantes da facção PCC e presos por estupro.
Houve ainda a fuga de alguns detentos, mas não foram divulgados os números
oficiais.
Em entrevista à Rádio Vaticano, o Bispo
auxiliar, Dom José Albuquerque de Araújo, expressou que “a voz da Igreja que
está em Manaus é de grande lamento e profunda tristeza; estamos todos unidos em
oração: padres, diáconos, agentes de pastoral, nós bispos, os agentes de pastoral carcerária”.
“Todo mundo está
se mobilizando em oração e pedindo para que esta situação se resolva o quanto
antes. Sabemos dos grandes desafios dos cárceres no Brasil, e aqui em Manaus
não é diferente”, manifestou o Prelado, sublinhando que “a cidade toda está em
alerta” e que todos estão “acompanhando as notícias locais”.
Dom José
Albuquerque informou que todos na Arquidiocese estão rezando e lembrando as
palavras do Papa Francisco em sua mensagem para o Dia Mundial da Paz, celebrado
também no domingo, 1º de janeiro, cujo tema foi “A não violência: estilo de uma
política para a paz”.
“Em todas as
comunidades aqui de nossa Arquidiocese elas foram lidas, refletidas e rezadas e
de fato, esta é uma situação muito triste e que nos lança um grande desafio, de
tratar a situação em nossos presídios com serenidade e muita justiça,
respeitando os direitos humanos e procurando fazer com que a paz aconteça nos cárceres,
o que não está acontecendo aqui em Manaus e em nosso país”, ressaltou.
O Bispo recordou
ainda que esta rebelião, segundo as notícias, “aconteceu justamente em relação
ao domínio do tráfico de drogas em Manaus e na região metropolitana”. “As
informações que chegam até nós são de que facções criminosas estão organizadas
e de que seus líderes estão presos. Mas, nos presídios, eles conseguem uma
articulação que impressiona”.
Além disso,
lembrou que já “uma situação muito difícil no que diz respeito à realidade dos
presos”. Ele divulgou uma nota no início da noite desta segunda-feira, na qual
critica ainda a terceirização da gestão e penitenciária e disse "o sistema
não recupera o cidadão".
Dom
Sérgio se referiu aos trabalhos realizados pela Pastoral Carcerária, que
trabalha diretamente com os detentos, desenvolvendo atividades ligadas à igreja
católica, bem como ações sociais. "A Pastoral Carcerária visita o Sistema
Prisional há 40 anos, por isso afirma que o Sistema Prisional não recupera o
cidadão, pelo contrário oportuniza escola de crime, em vez de oferecer
atividades ocupacionais aos internos".
Para o
religioso, falta uma gestão humana no sistema penitenciário. "A
terceirização também fragiliza o sistema, onde o preso representa apenas valor
econômico".
Dom Sérgio
afirmou ainda que a Igreja Católica fará uma missa em memória aos detentos
assassinados, mas ressaltou que o foco agora será em dar consolo aos familiares
das vítimas. “Queremos acompanhar de perto, prestar apoio, estar junto dessas
pessoas. Somos todos irmãos perante Deus”.
O Complexo Penitenciário Anísio Jobim
possui capacidade para abrigar 454 presos, mas está com superlotação, abrigando
1224 pessoas.
Esta foi a
segunda rebelião com o maior número de mortos no Brasil, ficando atrás apenas
do ocorrido em 1992 no Carandiru, em São Paulo, quando 111 presos foram mortos.
Confira a nota na íntegra: