sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Tolerância zero e diretrizes contra a repetição dos horrores da pedofilia



Papa Bento XVI, durante a audiência geral da última quarta-feira, 30 de janeiro, recebeu do diretor do Centro para a Proteção dos Menores e do Instituto de Psicologia da Pontifícia Universidade Gregoriana, o padre jesuíta Hans Zollner, o livro das atas do simpósio internacional realizado há um ano sobre os abusos cometidos por pessoas do clero contra menores de idade e a resposta que foi dada pela Igreja.

A matéria é da agência de notícias ZENIT:

O volume, escrito em alemão, foi entregue ao papa no final da audiência. As atas foram redigidas no simpósio “Rumo à cura e à renovação”, que, de 6 a 9 de janeiro de 2012, contou com a participação de 110 conferências episcopais, representadas, na maior parte dos casos, pelo bispo encarregado dos casos de abuso na respectiva conferência. Participaram ainda superiores gerais de mais de trinta ordens religiosas e cerca de setenta especialistas em direito canônico, bem como psiquiatras e psicoterapeutas que trabalham com as vítimas e com os abusadores.


As atas do simpósio serão apresentadas ao público no próximo dia 5 de fevereiro, também na Universidade Gregoriana. Serão divulgadas ainda as atividades do Centro para a Proteção dos Menores e o programa de e-learning criado na Alemanha para prevenir abusos contra menores na Igreja e na sociedade, além de prestar a ajuda devida às vítimas.

As iniciativas fazem parte da estratégia firme e decidida do Vaticano na luta contra a pedofilia no interior da Igreja.

Na entrega das atas também estava presente o diretor da assessoria de imprensa da Santa Sé, padre Federico Lombardi, que participou do simpósio. Na ocasião, o porta-voz vaticano disse a ZENIT que, “além de aumentar o rigor no combate ao crime dos abusos contra menores, cometidos por pessoas da Igreja, a iniciativa identificará um percurso que ajude as vítimas e crie condições para evitar que pecados semelhantes se repitam no futuro”.

Lombardi acrescentou que as conferências episcopais estavam trabalhando “para pôr a circular em prática, formulando as suas diretrizes”. Trata-se de “redigir um documento, mas também de praticá-lo. Todo intercâmbio de experiências será útil”.

O jesuíta precisou que a Universidade Gregoriana sediou o simpósio por ser “um grande centro acadêmico capaz de organizar uma iniciativa como esta, que pede capacidades de tipo moral, jurídico, canônico, pastoral e psicológico”, e especificou que o convênio foi gerido pelo Instituto de Psicologia da Gregoriana, assim como o centro especializado que lhe dá suporte.

Dom Charles Scicluna, promotor de justiça da Congregação para a Doutrina da Fé, destacou no simpósio a vontade firme de “extirpar e prevenir esta chaga aberta”, porque “os abusos são um fenômeno muito triste que, além de pecado, são um delito. E como delito, existe para eles a justa jurisdição do Estado e o dever de colaborar com esta jurisdição penal”.

Duas cerimônias marcaram o final do simpósio: a primeira, penitencial, foi presidida pelo cardeal Marc Ouellet, prefeito da Congregação para os Bispos. A segunda, uma missa concelebrada, foi presidida pelo cardeal Fernando Filoni, prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos.
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Fonte: CNBB

Liturgia e as palmas na Santa Missa


Porque não se adequa a teologia da Missa que conforme a Carta Apostólica Domenica Caena de João Paulo II do 24/02/1980, exige respeito a sacralidade e sacrificialidade do mistério eucarístico: “0 mistério eucarístico disjunto da própria natureza sacrifical e sacramental deixa simplesmente de ser tal”. Superando as visões secularistas que reduzem a eucaristia a uma ceia fraterna ou uma festa profana. Nossa Senhora e São João ao pé da cruz no Calvário, certamente não estavam batendo palmas. Porque bater palmas é um gesto que dispersa e distrai das finalidades da missa gerando um clima emocional que faz passar a assembléia de povo sacerdotal orante a massa de torcedores, inviabilizando o recolhimento interior. Porque o gesto de bater palmas olvida duas importantes observações do então Cardeal Joseph Ratzinger sobre os desvios da liturgia : 

“A liturgia não é um show, um espetáculo que necessite de diretores geniais e de atores de talento. A liturgia não vive de surpresas simpáticas, de invenções cativantes, mas de repetições solenes. Não deve exprimir a atualidade e o seu efêmero, mas o mistério do Sagrado. Muitos pensaram e disseram que a liturgia deve ser feita por toda comunidade para ser realmente sua. É um modo de ver que levou a avaliar o seu sucesso em termos de eficácia espetacular, de entretenimento. Desse modo, porém , terminou por dispersar o propium litúrgico que não deriva daquilo que nós fazemos, mas, do fato que acontece. Algo que nós todos juntos não podemos, de modo algum, fazer. Na liturgia age uma força, um poder que nem mesmo a Igreja inteira pode atribuir-se : o que nela se manifesta e o absolutamente Outro que, através da comunidade chega até nós. Isto é, surgiu a impressão de que só haveria uma participação ativa onde houvesse uma atividade externa verificável : discursos, palavras, cantos, homilias, leituras, apertos de mão… Mas ficou no esquecimento que o Concílio inclui na actuosa participatio também o silêncio, que permite uma participação realmente profunda, pessoal, possibilitando a escuta interior da Palavra do Senhor. Ora desse silêncio, em certos ritos, não sobrou nenhum vestígio”.

Finalmente porque sendo a liturgia um Bem de todos, temos o direito a encontrarmos a Deus nela, o direito a uma celebração harmoniosa, equilibrada e sóbria que nos revele a beleza eterna do Deus Santo, superando tentativas de reduzi-la à banalidade e à mediocridade de eventos de auditório.



+ Dom Roberto Francisco Ferrería Paz
Bispo Auxiliar de Niterói

Não estais na carne, mas no espírito (Rom 8,9).



O Apóstolo nos adverte de que como cristãos não nos podemos sujeitar aos poderes do mal. Porque o resultado seria a morte espiritual. A moral cristã se mantém distante do otimismo de Rousseau que, contra a mais simples das observações afirma que todos os humanos são bons, até que a sociedade os corrompa. A ética do cristianismo é a ética dos “pés no chão”. Somos capazes de grandes heroísmos, de dedicação, de altruísmos. Mas ao mesmo tempo afundamos em vergonhosas injustiças, em crueldades indignas da raça humana. Para superar as más tendências fazemos uso dos recursos da educação. Esta permite burilar a pérola preciosa, através do conhecimento de bons hábitos, de ideais. O ambiente familiar, e um bom ambiente escolar levantam o ser humano para planos mais civilizados. Foi por crer no potencial motivador da educação que desde cedo a Igreja se interessou pela Escola e pela Universidade. Hoje ela o faz menos, porque a maioria dos Estados modernos sente prazer em dificultar seu trabalho, colocando-a em arrocho financeiro.


Mas o segundo recurso, usado pela Igreja, não goza da simpatia da opinião pública. Trata-se do auxílio da graça divina. É que cremos que a graça divina pode sublimar nossas tendências. Essa é a verdadeira transformação, porque muda o ser humano por dentro. Olhamos para o paradigma de todo o bem, que é a pessoa de Cristo. “Se alguém está em Cristo, é nova criatura” ( 2 Cor,5, 18).  Todos podem olhar. Jamais vamos encontrar dentre o povo católico, que confessa os seus pecados, lê a Sagrada Escritura, que comunga com fé, alguém que sequestra crianças, que põe fogo em residências ou pratica atos de perversidade. Os benefícios trazidos pelo auxílio divino são tão manifestos, para o futuro da humanidade, que negá-los, quase chega a ser um pecado contra o Espírito Santo.

Dom Aloísio Roque Oppermann 
Arcebispo Emérito de Uberaba (MG)

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Nota do Movimento Nacional da Cidadania pela Vida (Brasil Sem Aborto)

Cartilha do Min. da Saúde com orientações para a prática do aborto!

Ministério da Saúde orienta como fazer o aborto usando Cytotec

No apagar das luzes de 2012, o Ministério da Saúde mandou imprimir uma cartilha com o título “Protocolo Misoprostol”, com as instruções para o uso desse medicamento abortivo, mais conhecido pela marca Cytotec, cuja comercialização é proibida no Brasil. O responsável pela publicação é o Departamento de Ações Programáticas Estratégicas da Secretaria de Atenção à Saúde e o texto também se encontra disponível na Biblioteca Virtual do Ministério.

Contrariamente ao que é habitual em publicações governamentais, não há, em todo o folheto, nome de qualquer autor ou responsável.

O folheto aparenta destinar-se a público especializado, para a realização do dito “aborto legal” e outros usos. Em sua página 2, explicita: “apresentamos a seguir o Protocolo para Utilização de Misoprostol em Obstetrícia, em linguagem técnica, dirigido a profissionais de saúde em serviços especializados”. Entretanto, alguns aspectos chamam a atenção.


- A 1ª edição tem uma tiragem de 268.108 exemplares, sendo que dados recentes publicados no site da FEBRASGO (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) indicamque há no Brasil 22.815 médicos em atividade nessa área. A publicação ultrapassa, portanto, em mais de dez vezes, o número de profissionais aos quais teoricamente se destinaria.

- Contrariamente ao que é habitual em protocolos para atuação médica, o uso de Misoprostol não é comparado a outros medicamentos ou técnicas que seriam possíveis na mesma situação. Por exemplo, indica-se a dose e modo de uso para “indução do parto com feto vivo”, uma utilização não aceita pela FDA (Food and Drug Administration) americana, e para a qual existem alternativas. Os próprios fabricantes do Misoprostol alertaram para o risco de ruptura uterina quando ele é usado como indutor do parto.

- Ao contrário do que se diz na apresentação, a linguagem do folheto, especialmente em sua segunda parte, quando trata do uso, é sintética e direta, facilmente compreensível por público leigo. Praticamente se restringe às doses a serem utilizadas para o“esvaziamento uterino” no primeiro, segundo e terceiro trimestres da gestação.

Assim, mais do que ao médico que precisa tomar decisões de tratamento, o folheto parece dirigir-se a pessoas que já conseguiram ou pretendem conseguir clandestinamente a droga e tem dúvidas sobre como utilizá-la para realizar o aborto. Já em junho de 2012 a mídia brasileira noticiou que o Ministério da Saúde estaria preparando uma cartilha para a mulher que decidisse abortar.


Quando o assunto veio a público, o Ministério da Saúde apressou-se a desmentir que estivesse trabalhando nessa política de “redução de danos”. Entretanto, a publicação desse folheto aponta novamente na mesma direção.

A Dra Lenise Garcia foi pessoalmente protagonista de um curioso fato envolvendo essa negativa do Ministério. Ela foi entrevistada pela TV Brasil, conjuntamente com o Dr. Thomas Gollop, no dia 12/06/2012, em vídeo que pode ser visto aqui:


No início da entrevista, o Dr. Gollop nega qualquer envolvimento do Ministério da Saúde nessa política de“redução de danos”, pois a cartilha estaria sendo elaborada pelo “grupo de estudos sobre o aborto” da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Entretanto, publicações desse grupo de estudos indicam a sua fonte de financiamentos: “O GEA não é uma organização não-governamental e não tem verbas próprias. Conta com o apoio do Ministério da Saúde e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e seu foco é capilarizar a discussão do tema do aborto sob o prisma da Saúde Pública e retirá-lo da esfera do crime”.

Além disso, a reunião estava marcada para acontecer no prédio do Ministério da Saúde, tanto que, ao ser convidada para a entrevista, a Dra Lenise foi informada de que esta ocorreria, às 8h00, em frente ao Ministério. Na noite anterior, recebeu um telefonema urgente da TV Brasil mudando o local da entrevista para o hotel em que estava hospedado o Dr. Gollop.

Em tempos de transparência, e diante do compromisso assumido na época eleitoral pela nossa presidente Dilma Rousseff de que o Executivo não trabalharia para a implantação do aborto no Brasil, os fatos mostram forte contradição entre as aparências e a realidade.

Brasília, 28 de Janeiro de 2013.

Lenise Garcia
Presidente

Jaime Ferreira Lopes
Vice-Presidente

Formalidades



“É cedo! Fiquem mais um pouco!” (“Nossa! Será que eles não desconfiam que já deveriam ter ido?”). “Muito prazer em conhecê-lo. Apareça lá em casa!” (“Nem vou dar meu endereço, pois pode ser que apareça mesmo!”). “Que lindo o seu vestido! Quem o fez? (“Que falta de gosto! Como é capaz de andar com uma roupa assim?”). As frases variam conforme as circunstâncias ou a conveniência. A hipocrisia domina de tal modo a nossa vida que parece ser natural ou, mesmo, necessária. Os convites se renovam, os elogios se repetem e as formalidades se multiplicam. Seria, pois, uma gafe enorme ficar mais um pouco na casa do amigo, aparecer na casa da pessoa que pouco antes lhe foi apresentada ou acreditar piamente no elogio recebido.

Os elogios se multiplicam. Todos são elogiados com os adjetivos mais pomposos. Se alguém tiver a ingenuidade de acreditar neles e for somando todos os que receber, acabará tendo um autoconceito totalmente deformado. Ficará pensando que é o que os outros nem julgam que ele realmente seja; apenas falaram o que a conveniência lhes ditou. Estavam longe, contudo, de realmente pensar e acreditar no que disseram.

Há possibilidade de se acabar com tanta formalidade? Há! A primeira solução é utópica, arriscada e não recomendável. Consistiria, antes de tudo, em aceitar todos os convites feitos – por exemplo: permanecer na casa visitada, enquanto os donos fossem dizendo: “É cedo! Fique mais um pouco!”, mesmo que com isso se corresse o risco de ver os donos da casa bocejando; depois, visitar todas as pessoas que lhe disserem para “aparecer lá em casa” e, se convidado para o jantar, sentar-se imediatamente à mesa; além disso, começar a dizer o que realmente está pensando, sabendo que, quando se trata da sinceridade, estamos num mundo curioso, pois ela é sempre desejada; já os sinceros, nem sempre são bem vistos... Não leve adiante, pois, tais propostas.

O que precisamos fazer, isso sim, é lutar contra as formalidades e as mentiras. Assim, não se deve elogiar uma pessoa, se tal elogio não for sincero; também não se faça algum convite se, de fato, ele não nascer do coração; enfim, evitem-se comentários que não expressem a verdade. Na linguagem de Jesus, trata-se de se ter uma linguagem que seja na linha do “sim, sim, não, não” (cf. Mt 5,37).

Quando aborda a verdade, o Catecismo da Igreja Católica nos ensina que ela é uma virtude “que consiste em mostrar-se verdadeiro no agir e no falar, guardando-se da duplicidade, da simulação e da hipocrisia” (nº 2468). Santo Agostinho, sempre atento ao comportamento das pessoas, comentou que ao longo de sua vida havia encontrado muitas pessoas que enganavam os outros; nunca encontrou alguém que gostasse de ser enganado.

A Palavra de Deus nos ensina que somos continuamente tentados a desviar nosso olhar do Deus vivo e verdadeiro para dirigi-lo aos ídolos, à mentira. Ora, quando trocamos “a verdade de Deus pela mentira” (Rm 1,25) a nossa capacidade para conhecer a verdade fica ofuscada. Sem a verdade, não seremos livres: “A verdade vos libertará” (Jesus Cristo).

Volto à questão das formalidades. Um dos maiores teólogos da Igreja, Santo Tomás de Aquino (†1274), afirmou que “Os homens não poderiam viver juntos se não tivessem confiança recíproca; quer dizer, se não manifestassem a verdade uns aos outros”.

Claro que deve haver equilíbrio entre o que deve ser expresso e o que não convém expressar; entre o que é preciso ser dito e o que é segredo, que deve ser guardado. Mas vale o princípio, também de Santo Tomás: “Um homem deve honestamente a outro a manifestação da verdade”.

O discípulo de Cristo procura viver na verdade, “isto é, na simplicidade de uma vida conforme o exemplo do Senhor, permanecendo em sua verdade” (CIC 2470). São João nos lembra de que, “Se dissermos que estamos em comunhão com ele e andamos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade” (1Jo 1,6).
O mundo de Deus é o mundo da verdade, da justiça e do amor. Se esse é o mundo de Deus, tal deve ser, também, o nosso mundo.

Dom Murilo Krieger
Arcebispo de Salvador (BA)

Juventude: onde andam os jovens?



Enquanto escrevo este artigo, continuam a chegar notícias e imagens da terrível tragédia ocorrida em Santa Maria, RS., na madrugada deste domingo, dia 27 de janeiro. Mais de 230 mortos confirmados no incêndio da casa noturna. A maioria, jovens estudantes; Santa Maria é uma cidade universitária, com estudantes de todo o Brasil. Muita consternação.

Sofrimento e tristeza imensas abateram-se, de repente, sobre inúmeras famílias, que punham tantas esperanças nos seus filhos jovens, cheios de vida e de ideais. A dor é compartilhada pelo Brasil inteiro; de todos os lados, chegam mensagens de solidariedade, de autoridades políticas, lideranças comunitárias e pessoas comuns do povo: todos gostariam de se manifestar, de fazer algo, de dizer uma palavra de conforto às mães desesperadas diante dos corpos estendidos no chão do ginásio de esportes, para serem reconhecidos e identificados... À distância, nos colocamos em oração silenciosa, a pedir a Deus o conforto pelos que sofrem e a vida eterna para os que perderam tão precoce e tragicamente para este mundo.
Vida e morte se encontraram numa circunstância inusitada, enquanto os jovens festejavam e se alegravam... Da diversão ao luto, em poucos minutos! Como é possível que aconteçam tragédias semelhantes? As responsabilidades ainda devem ser apuradas, mas tomam sobre si enormes encargos pela segurança, a integridade física e a vida de outras pessoas aqueles que mantêm semelhantes locais de agregação de massas humanas, sejam os fins que forem; as medidas emergenciais de segurança estavam todas asseguradas e checadas? Espetáculos com elementos de risco estavam autorizados? Os locais estavam devidamente vistoriados e liberados pelas autoridades competentes? Estavam habilitados e treinados aqueles que deviam zelar pela segurança?

Após a tragédia, passado o silêncio respeitoso pelos mortos e aos muitos feridos e enlutados, resta a fazer uma reflexão em vários setores: quanto vale a vida humana? Ele pode ser moeda de troca em função de ganhos e lucros? Cada vida humana é única e preciosa, não podendo ser exposta ao perigo, de maneira leviana; mais ainda, quando se pretendem maiores ganhos, com menores despesas em segurança. Semelhantes tragédias, igualmente em casas noturnas de diversão, têm acontecido em outros países também. Não estaria na hora de haver maior vigilância sobre a segurança de tais locais?

Para o Brasil, o motivo de tristeza ainda é maior, justamente neste ano, quando acontecerá a Jornada Mundial da Juventude, em julho, no Rio de Janeiro. Há poucas semanas, a cruz da Jornada da Juventude peregrinou por Santa Maria, com a acolhida e a participação entusiasta de milhares de jovens. Talvez, muitos dos que perderam a vida no incêndio estiveram também entre eles... E a juventude é tema da Campanha da Fraternidade, que será aberta na próxima Quaresma: “Juventude e fraternidade”.

A tragédia de Santa Maria nos motiva a voltarmos nossas atenções com maior empenho para os jovens: que não lhes falte a presença, o estímulo e o bom exemplo dos adultos nas escolhas que devem fazer para a vida; que tenham oportunidades para se preparar bem para assumirem seu lugar na sociedade e seu rumo na vida; que não sejam abandonados, de maneira resignada, aos ideólogos do vazio e da desorientação antropológica e moral, ou aos que investem pesado neles para explorar suas energias jovens e sua vontade de viver em função de manobras ideológicas ou ganhos econômicos, conduzindo-os para os becos sem saída da droga, da corrupção moral e social. Que não recebam apenas propostas vazias e nihilistas para suas vidas, mas orientações e indicações sólidas para a construção de seu futuro.

No Brasil, nós temos neste ano uma chance de ouro para nos dirigirmos aos jovens. São eles que terão nas mãos a responsabilidade pela vida social, logo mais, daqui a poucos anos. E da vida da Igreja também. A Campanha da Fraternidade está às portas e a Jornada Mundial da Juventude já está mobilizando muitas energias jovens pelo Brasil todo. Como faremos para envolver a maioria absoluta dos jovens, que ainda não são alcançados pelas nossas propostas pastorais, nem nossas homilias dominicais, mas que se encontram, aos milhões, nas escolas e universidades e nas casas de diversão, sábados à noite?

Cardeal Odilo P. Scherer
Arcebispo de São Paulo

“Pai, em vossas mãos colocamos nossas lágrimas, nossa dor", diz arcebispo de Santa Maria.

Dom Helio Adelar Rupert, arcebispo de Santa Maria (RS), presidiu celebração fúnebre no domingo, 27 de janeiro, e deixou mensagem aos familiares lembrando que esta é hora de reativar a nossa fé e dizer: “Não entendemos, mas cremos no amor de Deus”.


Irmãs e irmãos amados do Senhor:

Estamos profundamente consternados pela tragédia ocorrida ontem de madrugada em Santa Maria na Boate Kiss quando morreram 230 jovens. No sofrimento a comunidade cristã se reúne no Santuário Basílica para celebrar o Mistério Pascal do Senhor. Queremos adorar o Senhor, bendizer seu nome santíssimo, escutar sua Palavra e pedir misericórdia e força para este momento de tanta dor e imensos gestos de solidariedade.

A Palavra de Deus nos fortalece na solidariedade, nos ilumina e nos dá força e esperança nesta hora dura da provação, da angústia e sofrimento. O Senhor está conosco. Ele não abandona seu povo amado. É hora de silenciar e escutar a voz de Deus. É hora de reativar a nossa fé e dizer: “Não entendemos, mas cremos no amor de Deus”. É hora de não julgar e não condenar ninguém. Nem acusar, de sofrer em silêncio, na fé e no amor.

É hora de dizer: “Eu creio, Senhor, mas aumenta a minha fé”.

- Quando escutei perplexo, lá em Vitória do ES a notícia, após uma bela Missa com um grupo de irmãos bispos e a Capela Sagrado Coração de Jesus  lotada, lembrei-me da dor das mães e dos pais e familiares dos jovens mortos. Imaginei Maria Desolada que recebia Jesus morto descido da cruz em seus braços. Que dor! Que sofrimento!

- Maria, porém, não se desesperou. Ela sabia que Jesus fora imolado pela nossa salvação.

Nessa tragédia de Santa Maria, as mães, os pais, os irmãos, os parentes, os amigos não desesperamos, antes: - abraçamos esta dor, esta cruz e dizemos: “Pai, em vossas mãos colocamos nossas lágrimas, nossa dor, nossos sofrimentos. Que tudo seja instrumento de redenção. Tende misericórdia de nossos jovens. Perdoai seus pecados. Acolhei suas vidas, seus últimos desejos. Que nada se perca, mas tudo se transforme em misericórdia e redenção”.

Como irmãos de fé manifestamos aos pais, familiares e amigos nossa solidariedade, nosso apoio e oração.


O que dizer nesta hora?

Perguntei a um vizinho desconhecido ao lado no avião o que deverei dizer ao povo ? Ele me respondeu: “Consolo”.

Sim. Queremos em nome do Senhor dar uma palavra de consolo, solidariedade e fazer nossa oração confiante.

- Nesta hora olhamos para Jesus, nosso Deus e Senhor, nosso Salvador.

- Olhamos para Maria Desolada: a Mãe que acolhe em seus braços seu Divino Filho morto na cruz por nosso amor, pela nossa salvação.

- Olhamos para o alto, para o céu: nossa pátria definitiva. A terra não é nossa morada definitiva. Esta vida é passageira, é fugaz.

- Olhamos para os valores que não passam: Deus não passa. O bem que fazemos, não passa.

O que levamos para a outra vida? Os bens? A beleza, a juventude? – Levamos somente o bem que fazemos e o quanto amamos.


Que essa tragédia, que nos entristece profundamente, seja para todos um novo passo na fé e na esperança. Estamos no Ano da Fé e de Jornada Mundial da Juventude:

Fé e Juventude: duas realidades que atingem nossas famílias, educadores, Igreja e sociedade.

Pais e mães, irmãos em Jesus Cristo: reavivemos nossa fé na dor e na escola da esperança. Cristo Jesus caminha conosco. Ele ama nossos jovens. Ele os chama. Ele conta com a generosidade e o encantamento de nossos jovens.

Jovens: orem, reflitam sobre o que Deus quer nos dizer com essa tragédia. Deus fala para as famílias, para as Igrejas e para toda nossa sociedade. Deus está nos falando muitas coisas. É hora de nos prepararmos todos para a imensa graça da Jornada Mundial da Juventude na Semana Missionária e na Jornada no Rio de Janeiro nos dias 23 até 28 de julho próximo com o Santo Padre. Depois dum grande sofrimento, certamente virão abundantes frutos e graças. Portanto, como não escutar a voz, os sinais de Deus Amor?

Recorramos à Mãe Maria, Nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças. Ela sabe nos escutar, ajuda a enxugar nossas lágrimas, consola nossas dores.

Mãe de Jesus e nossa Mãe: ajuda-nos agora e sempre. Amém!

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Nota Oficial da CNBB de solidariedade às famílias e ao povo de Santa Maria (RS)



Acompanhamos com dor e solidariedade, desde a madrugada do domingo, o momento de profundo sofrimento vivido pelos feridos e pelas famílias dos que perderam centenas de filhos na tragédia do incêndio em Santa Maria (RS). O Brasil está de luto e as comunidades de fé estão unidas em oração. Deus conduza a todos, nesta hora, para oferecer, aos mortos, dignidade e ambiente de reverência, aos pais e familiares, amparo e assistência, e aos feridos, todo o apoio e tratamento ágil e eficiente.

Unimo-nos ao arcebispo, dom Hélio Adelar Rupert, ao clero e ao povo da arquidiocese de Santa Maria. A Palavra de Deus nos oferece luz para esse momento: “somos afligidos de todos os lados, mas não vencidos pela angustia; postos em apuros, mas não desesperançados; perseguidos, mas não desamparados; derrubados, mas não aniquilados; por toda parte e sempre levamos em nosso corpo o morrer de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nossa existência mortal ( 2 Cor 4, 8-9).

A consciência cristã nos leva a manifestar também nosso apoio aos homens e mulheres de boa vontade que estão oferecendo ajuda junto às famílias e aos feridos e aos responsáveis pelo poder público que estão tomando as providências para o encaminhamento e solução dos problemas desse momento de aflição. É momento de união e de solidariedade! A concreta participação de colaboração, o respeitoso silêncio e a oração movida pela fé nos faz reconhecer, mais uma vez, que somos todos membros de uma única família que sofre pela perda de tantos jovens, filhas e filhos queridos.

  

Cardeal Raymundo Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida (SP) e presidente da CNBB

José Belisário da Silva
Arcebispo de São Luis (MA) e vice-presidente da CNBB

Leonardo Ulrich Steiner
Bispo auxiliar de Brasília e secretário geral da CNBB