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segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Davi e pecados do poder


“Certo dia, ao entardecer, levantando-se de sua cama, Davi pôs-se a passear pelo terraço de sua casa e avistou dali uma mulher que se banhava. Era uma mulher muito bonita. Davi procurou saber quem era essa mulher e disseram-lhe que era Betsabéia, filha de Eliam e mulher de Urias, o heteu. Então Davi mandou que a trouxessem. Ela veio e ele deitou-se com ela, que tinha acabado de se purificar da menstruação. E ela voltou para casa. Tendo ficado grávida, mandou dizer a Davi: ‘Estou grávida’. Davi mandou esta ordem a Joab: ‘Manda-me Urias, o heteu’. E ele mandou Urias a Davi.

Quando Urias chegou, Davi pediu-lhe notícias de Joab, do exército e da guerra. E depois disse-lhe: ‘Desce à tua casa, toma um bom banho e descansa’ . Urias saiu do palácio do rei, que ainda mandou um presente régio atrás dele. Mas Urias dormiu à porta do palácio com os outros servos do seu amo, e não foi para casa. Contaram então a Davi: ‘Urias não foi para sua casa’. Davi perguntou-lhe: ‘Não voltaste porventura de uma viagem? Por que não desceste à tua casa?’ Urias respondeu a Davi: ‘A arca, Israel e Judá habitam debaixo de tendas, e o meu senhor Joab e os oficiais do meu senhor dormem sobre a terra dura, e eu deveria ir para minha casa, comer e beber e dormir com minha mulher? Por tua vida, a vida de tua pessoa, juro que não farei tal coisa!’ Davi disse então a Urias: ‘Fica aqui ainda hoje, e amanhã te mandarei de volta’. E Urias ficou em Jerusalém naquele dia e no dia seguinte. Davi convidou-o para comer e beber à sua mesa e o embriagou. Mas, ao entardecer, ele retirou-se e para dormir numa esteira, em companhia dos oficiais do seu senhor, em vez de descer para a sua casa. Na manhã seguinte, Davi escreveu uma carta a Joab e mandou-a pelas mãos de Urias. 

Nela dizia: ‘Colocai Urias na frente, onde o combate for mais violento, e abandonai-o para que seja ferido e morra’. Joab, que sitiava a cidade, colocou Urias no lugar onde ele sabia estarem os guerreiros mais valentes. Os que defendiam a cidade saíram para atacar Joab, e morreram alguns do exército, da guarda de Davi. E morreu também Urias, o heteu.” (2Sm 11, 2-17)

É surpreendente a manifestação da fraqueza humana, mesmo em personagens bíblicas da envergadura de Davi: “General, prudente e arrojado, poeta inspirado, profeta, grande monarca e sobretudo um Santo.” Sob a força da paixão desordenada, comete pecados graves. Arquitetou estratégias para transferir para Urias a sua paternidade, consequência de uma união ilícita; não conseguindo seu intento, abusa do poder, levando Urias à morte, pela posição que lhe destinou “na frente (...) para que seja ferido e morra”. Davi reconhece, em tempo, a gravidade de seu pecado e do seu crime, voltando-se para Deus, com um “coração contrito e humilhado”. “De sua pena surgiu o Livro dos Salmos e de sua contrição e penitência nasceram páginas das mais belas já escritas por homem: os Salmos Penitenciais.”

O pecado de Davi se repete na prática de muitas pessoas que exercem o poder. O pecado moral, como o de Davi, está muito presente na vida de homens e mulheres que exercem cargos elevados e funções destacadas na sociedade. Vez ou outra, a sociedade toma conhecimento da paternidade extraconjugal de governantes, cujo reconhecimento se dá pela via judicial, assegurada pela comprovação científica do DNA. O assédio sexual está muito próximo das pessoas que exercem o poder político, econômico e social, seja quando delas provém, seja quando se tornam alvo. O fascínio pelo poder compreende também essa vertente moral no imaginário de muitas pessoas, na expectativa de usufruírem dela, da melhor maneira. Imitando Davi, também abusando da função, alguns detentores do poder têm levado à morte alguém que estava “se atravessando no seu caminho”, nesse assunto.  

A história de pecado e crime continua registrada no exercício do poder. Porventura, penitenciam-se desses males os pecadores de hoje, como fez Davi? 

Dom Genival Saraiva
Bispo de Palmares - PE

domingo, 14 de agosto de 2011

O Pai

 

Dom José Alberto Moura, CSS

Arcebispo Metropolitano de Montes Claros - MG


Deus é Pai de todos. Pedir para que ele deserde ou castigue os outros, não é próprio de quem é seu filho. Por isso mesmo, todo tipo de guerra, ódio, vingança, rancor, desonestidade, discriminação, exclusão, desrespeito à vida e a dignidade do semelhante é querer um pai exclusivo para si. Ele nos enviou seu filho natural, ou seja, de sua natureza divina, para nos ensinar e realizar o elo de verdadeira fraternidade entre os humanos. Somente na vida de fraternidade entre nós é possível considerar Deus nosso pai. Jesus nos dá o direito de chamar e ter o pai dele como nosso. Até nos ensina a orar ao pai nosso. Não é simplesmente pai meu. Por isso, também através da oração nos comprometemos em viver a irmandade, superando a lesão ao bem do outro, mesmo sendo de outra mentalidade, religião, partido, ideologia, etnia, condição social...
O pai terreno só exerce boa paternidade quando se amolda aos ditames do Pai divino, obedecendo a ele com humildade e amor. Os filhos humanos, igualmente se realizam quando  sabem amar e obedecer a seus pais, configurando-se ao Filho de Deus. Teríamos famílias verdadeiramente felizes, mesmo com as dificuldades próprias de quem vive com os limites da natureza humana. Assim como Deus Pai ama o Filho Divino e não o deixa subjugado para sempre aos limites da natureza humana, fazendo-o ressuscitar, Ele também ama os que se parecem com esse Filho no tentar imitá-lo com a doação de si em bem dos irmãos.

Se há um só Pai divino, os filhos humanos têm seu amor e são estimulados a  viverem a humanidade com a marca do divino. A família humana que se preza como tal, fará tudo para ter o amor do Pai na prática de sua convivência. Na amplitude da família humana, precisamos fazer todo o esforço para minimizarmos os efeitos deletérios da maldade, da injustiça e desclassificação dos outros, principalmente os mais fragilizados. Numa família a lógica de atenção especial e principal leva todos ao cuidado mais diligente com quem está doente ou vive em necessidades especiais.

Precisamos fazer grande revisão na convivência social. Não é possível encontrarmos coerência por parte de quem diz aceitar a paternidade divina e nada fazer para que a vida no planeta, especialmente a humana, não seja tão espezinhada. Ações políticas precisam ser efetivadas para a melhora do atendimento às necessidades básicas de inúmeras pessoas vivendo em situação de exclusão social no mundo, no nosso país e em nossas comunidades urbanas e rurais. A consciência de cidadania nos deve levar a saber votar com inteligência e responsabilidade, para não elegermos pessoas que se aparentam boas, até cristãs, mas que são raposas que querem tomar conta do que é bem do povo para roubar e utilizar tudo em benefício de minorias inescrupulosas e desonestas. Se aceitassem realmente que o Pai divino é bom mas também justo, não dormiriam em paz enquanto não fizessem tudo para que seus irmãos mais fragilizados pudessem ser beneficiados com o dinheiro dos impostos para o atendimento de sua vida digna.
Elevamos nossos pedidos ao Pai divino em bem de todos os que são chamados de pais ou líderes terrenos. Assim serão felizes em atenderem realmente as necessidades dos filhos humanos para haver um verdadeiro convívio de irmandade e fraternidade entre todos.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Ética e Transparência

 Nota da CNBB

O Conselho Episcopal Pastoral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB, reunido em Brasília, de 09 a 11 de agosto de 2011, refletiu sobre temas pastorais e suas implicações na vida do povo. Chamaram a atenção do Conselho as notícias veiculadas pela imprensa, nestes dias, sobre casos de denúncias de corrupção na administração pública, o que gera um clima de perplexidade, insegurança e indignação.

Os princípios éticos da verdade e da justiça exigem exemplar apuração dos fatos com a conseqüente punição dos culpados, porque não se pode transigir diante da malversação do emprego do dinheiro público. Sacrificar os bens devidos a todos é um crime que clama aos céus por lesar, sobretudo, os pobres.

A atuação de instituições do Estado no atual contexto revela solidez. Os fatos em visibilidade, no entanto, reforçam a necessidade do aperfeiçoamento da democracia, o que só ocorrerá por meio de uma administração transparente e de uma profunda Reforma Política.

Nossa Senhora Aparecida seja intercessora junto ao seu Filho Jesus para que os brasileiros e brasileiras contribuam para a construção da justiça e da paz no País, na harmonia e na esperança.

“Felizes os que têm fome e sede da justiça, porque serão saciados” (Mt 5,6).
Brasília, 11 de agosto de 2011
P – Nº 0783/11

Cardeal Raymundo Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida - SP
Presidente da CNBB

Dom José Belisário da Silva
Arcebispo de São Luís do Maranhão-MA
Vice-Presidente da CNBB

Dom Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Prelado de São Félix-MT
Secretário Geral da CNBB