segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

A Quaresma


A Quaresma é o tempo litúrgico que precede e prepara a celebração da Páscoa, a principal festa cristã. É tempo de escuta da Palavra de Deus, de conversão pessoal, de recordação do Batismo, de reconciliação com Deus e com os irmãos, e de um recurso mais frequente às “armas da penitência cristã”: a oração, o jejum e a esmola (cf. Mt 6,1-6.16-18).

Embora seja um tempo penitencial, a Quaresma não é um tempo triste e depressivo. É ocasião de sermos mais dóceis à graça de Deus para derrotarmos o homem velho que atua em nós; ocasião de renunciarmos ao pecado que habita nos nossos corações e de nos afastarmos de tudo o que nos separa da vontade de Deus e, por conseguinte, da nossa verdadeira felicidade.

Desde os princípios do Cristianismo, os cristãos procuraram intensificar a sua vida interior, mediante a oração e a penitência, para participarem com mais plenitude e alegria do Tríduo Pascal, “memória da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor, coração do mistério de nossa salvação”, nas palavras do Papa Bento XVI. Existem indícios de que, já em fins do século II, a Páscoa era precedida por alguns dias de rigorosas penitências da parte dos fiéis. De acordo com Eusébio de Cesaréia (ca. 332), autor de uma das primeiras histórias eclesiásticas de que se tem notícia, a Quaresma foi estabelecida oficialmente para toda a Igreja no século IV.

A sua duração (da Quarta-feira de Cinzas ao Domingo de Ramos) inspira-se na simbologia do número quarenta na tradição da Sagrada Escritura: quarenta foram os dias que durou o dilúvio, quarenta foram os anos que o povo hebreu passou no deserto, quarenta dias Moisés e Elias passaram nas montanhas. Há ainda muitas outras passagens da Bíblia em que aparece o número quarenta, e todas estão sempre associadas à idéia de tempo de penitência. Durante a Quaresma, a Igreja “quer convidar-nos sobretudo a reviver com Jesus os quarenta dias que passou no deserto, rezando e jejuando, antes de empreender sua missão pública” (Papa Bento XVI). 

COMO VIVER A QUARESMA

Durante este tempo especial de purificação, a Igreja propõe-nos uma série de meios concretos que nos ajudam a viver a dinâmica quaresmal e que já mencionamos acima: a oração, o jejum e a esmola.

Em primeiro lugar, a oração, condição indispensável para o encontro com Deus. É no diálogo íntimo com o Senhor que o cristão deixa a graça divina penetrar no seu coração e, como a Virgem Maria, se abre à ação do Espírito com uma resposta livre e generosa (cf. Lc 1,38). Na Quaresma, devemos meditar a Palavra de Deus com mais profundidade e é conveniente levar à oração temas relacionados com a Paixão de Cristo e os próprios relatos evangélicos; também é altamente recomendável a devoção da Via Sacra. Se pudermos (e quase sempre podemos), façamos o esforço de frequentar mais vezes os Sacramentos, especialmente o da Confissão. Não nos esqueçamos de que a Igreja também nos pede neste tempo litúrgico que rezemos mais pela conversão de todas as almas (principalmente daqueles que nos são mais próximos).

O jejum e as demais mortificações que podemos fazer nas circunstâncias ordinárias da nossa vida também constituem um meio concreto de viver o espírito de Quaresma. Não devemos procurar fazer grandes penitências. O que, sim, podemos fazer é oferecer a Deus os incidentes cotidianos que nos incomodam, aceitando com alegria os contratempos que podem apresentar-se: o trânsito lento, as escadas que parecem intermináveis, a chuva inoportuna. Além disso, podemos renunciar às nossas pequenas comodidades – uma sobremesa de que gostamos mais, um assento melhor na condução, um programa de televisão – por amor de Deus. Vale lembrar que a Quarta-feira de Cinzas e a Sexta-feira da Paixão são dias em que a Igreja pede que todos os fiéis jejuem e abstenham-se de carne.

Por fim, dentre as práticas quaresmais que a Igreja nos propõe, o exercício da caridade ocupa um lugar especial. É o que nos recorda São Leão Magno: “Estes dias da Quaresma convidam-nos de maneira premente ao exercício da caridade; se queremos chegar à Páscoa santificados no nosso ser, devemos pôr um interesse especialíssimo em adquirir esta virtude, que contém em si todas as outras e cobre uma multidão de pecados”.

A caridade deve ser vivida de maneira especial com aqueles que temos mais perto de nós, no ambiente concreto em que nos movemos. Trata-se de sorrir àqueles com quem não nos damos muito bem (talvez por nossa culpa), de aumentar o espírito de serviço, de convidar um amigo a fazer uma visita a uma família pobre, etc. Principalmente, pode ser uma oportunidade para aproximarmos de Deus os nossos familiares e amigos: esse é o maior bem que lhes podemos fazer.

Também devemos ter em conta que a Quaresma é um tempo propício para lutarmos contra os nossos defeitos mais arraigados. Podemos aproveitar esta época litúrgica para crescer em conhecimento próprio, fazendo um exame mais aprofundado da nossa vida para descobrir o que nos aproxima ou afasta de Deus. Depois, marcaremos metas palpáveis de melhora e nos esforçaremos por atingi-las. Se alguma vez falharmos, recorreremos com humildade e contrição ao sacramento da Penitência e recomeçaremos com alegria. Se fizermos a nossa parte, que é lutar sempre confiantes na ajuda de Deus, Ele não deixará de nos conceder as graças necessárias para uma verdadeira conversão.

A VIRGEM MARIA NA QUARESMA

A Virgem dolorosa está intimamente associada a Cristo crucificado no plano salvífico de Deus. Como Cristo é o homem de dores (Is 53,3), por quem Deus quis reconciliar consigo todos os seres: os do céu e os da terra, fazendo a paz pelo sangue da sua cruz (Col 1,20), assim Maria é a “mulher de dores”, que Deus quis associar ao seu Filho, como sua mãe e partícipe da sua Paixão.

Desde a infância do Senhor, todos os dias da Virgem transcorreram sob o sinal da espada (cf Lc 2,35). Por isso, a Quaresma é também um tempo oportuno para crescermos no nosso amor filial por Aquela que ao pé da Cruz entregou o seu Filho, e se entregou Ela mesma com Ele, para a nossa salvação. Podemos expressar este amor filial durante a Quaresma pela prática das devoções marianas próprias deste tempo: as “Sete dores de Maria”; a devoção a “Nossa Senhora das Dores” (cuja memória litúrgica é celebrada na sexta-feira da V semana de Quaresma); e a recitação do Santo Rosário, especialmente dos mistérios dolorosos.

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Fonte: ACI Digital

Disponível em: Quadrante

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