sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Aquele Natal com Bento XVI


"Todos nós nos reuníamos em volta da árvore de Natal, com velas acesas, como é costume na Alemanha, e entoávamos cânticos natalinos em alemão, latim e italiano. De repente, Bento XVI olha para mim e diz: 'Seu predecessor, Dom Mietek, costumava entoar algum cântico em polonês. Você conhece algum cântico em maltês?'": Esta é uma das lembranças do atual secretário do Papa Francisco, Dom Alfred Xuereb, sobre seu primeiro Natal ao lado de Bento XVI, seu antigo chefe.
 
Dom Alfred Xuereb conversou com a jornalista Angela Ambrogetti, numa entrevista para a revista "Credere", na qual recorda como foi seu primeiro Natal com a família pontifícia, na época de Bento XVI.
 
Quando Bento XVI lhe perguntou se conhecia algum cântico em maltês, o prelado então cantou alguns dos mais populares no seu país: "Ninni la Tibkiix Izjed", "La Ninna Nanna un Gesù" e "Do Not Cry Anymore".
 
"Na noite de Natal, depois do jantar, enquanto esperávamos a hora da Missa, voltamos a nos reunir em volta da árvore iluminada, e o Papa leu a passagem evangélica do Natal. Depois, como é costume entre os padres da Baviera, nós nos saudamos."


Dom Xuereb conta também o momento em que Bento XVI lhe anunciou sua renúncia. Disse-lhe: "Você acompanhará o novo papa". E o prelado maltês pensou: "Eu estou disposto, mas será que o novo papa vai querer?".

 
O secretário qualifica esse momento como "comovente", e fala da renúncia do agora Papa Emérito como "heroica".
 
Ao ser perguntado pela personalidade de Joseph Ratzinger, destaca que "a palavra que eu mais o ouvi repetir era 'obrigado'. Eu costumava ajudá-lo a revestir-se para a Missa e lhe entregava a cruz peitoral, e ele sempre agradecia".
 
"Uma vez, quando eu era prelado da antecâmara e estávamos esperando um convidado na biblioteca, tomei a liberdade de felicitá-lo pela homilia que ele tinha acabado de dar. Fiquei impressionado com a maneira como ele aceitou o elogio: com humildade, baixou o olhar e agradeceu."

 
Por estes e muitos outros detalhes, Dom Xuereb descreve Bento XVI como um grande mestre e modelo de vida.
____________________________________
Disponível em: Aleteia

A manjedoura vazia


Como em todos os outros anos, a manjedoura ficou vazia. Os pastores se ajoelharam, os anjos cantaram, o boi, o burro e cordeiro olharam ansiosos e até José e Maria voltaram o olhar em adoração para a manjedoura... vazia. O Menino não estava lá.

Todas as luzes e enfeites já estavam pendurados desde antes de acabar novembro, mas ainda não era Natal. É disso que nos lembram os presépios durante as quatro longas semanas do advento, até a véspera da festa: eles ficam privados da imagem do Menino; a manjedoura espera vazia.

É assim na igreja da Imaculada Conceição, em Nova Iorque, onde eu fui batizado e cresci ajudando a montar o presépio todos os anos – e onde espero um dia ser enterrado. Todo ano, nas semanas do advento, eu passo pela manjedoura vazia e sinto, com força, aquela fisgada de anseio que os futuros pais devem sentir, ou que era sentida pelos israelitas inquietos à espera do Messias.

O presépio continua a ser uma peça sublime da piedosa arte popular, poderosa o suficiente para assaltar a nossa imaginação no meio dos enfeites, das festas e dos brinquedos. Criada pelo homem que os seus contemporâneos chamavam de "segundo Cristo", São Francisco de Assis, a tradição de representar a cena do nascimento de Jesus com madeira, plástico ou papel machê alicerça o Natal menos na mente que no coração, lembrando a todos que, em primeiro lugar, esta é uma festa de nascimento.

Papa Francisco a menina com câncer: “Não desanime!”


Cristina foi à sua 15ª sessão de quimioterapia na terça-feira passada. Mas desta vez foi diferente, porque ela estava motivada e com forças renovadas, graças à carta que acabou de receber do Papa Francisco.
 
Ela havia escrito para o Papa algumas semanas antes, contando-lhe sobre sua doença e sobre o sacramento da Confirmação, que receberia em breve. Francisco confessou que o exemplo de fortaleza de Cristina “me fez muito bem”.
 
Confira a troca de cartas entre eles:

 
Querido Papa Francisco:
 
Meu nome é Cristiana Sesé de Lucio, tenho 17 anos e lhe escrevo de Madri (Espanha). (...)
 
Minha vida era como a de qualquer menina da minha idade, até o último mês de abril, quando, no dia 4, fui diagnosticada com sarcoma de Ewing, ou seja, câncer nos ossos. Ele estava localizado na região central do fêmur direito. Depois dos primeiros momentos de preocupação, minha família e eu decidimos nos colocar nas mãos de Deus e dos médicos.
 
Para retirar o osso com tumor, me operaram no dia 8 de agosto, substituindo-o por uma prótese. Atualmente, caminho com muletas e estou muito melhor. Tenho forças para seguir adiante. Voltarão a me operar para tirar a prótese e fazer um enxerto de osso, para que eu volve a ter certa normalidade.
 
O começo não foi fácil, mas sempre recebi o apoio de Jesus, que sinto muito presente na minha vida. Fizeram uma corrente de oração por mim e pela minha família, e isso também nos reconfortou sempre.
 
Este câncer me limitou fisicamente, razão pela qual agora preciso de ajuda constante; mas não parei de rezar, de estudar ou de levar uma vida normal, sobretudo graças ao esforço de toda a minha família tão cristã.
 
Também foi fundamental, neste meses, meu grupo cristão, que me ajudou a confiar ainda mais no Senhor, e repito muitas vezes ao dia: “Quando Deus quiser, como Deus quiser, onde Deus quiser”.
 
Ele permite a doença e, portanto, a minha, mas também dá a cura e, apesar de tudo, não posso deixar de me sentir privilegiada. Ofereço a minha doença ao Senhor e coloco o meu sofrimento diante da cruz.
 
Sinto Deus em mim e seu que Ele me busca em cada esforço que preciso fazer cada dia. Em cada gesto da minha família, das minhas amigas, dos meus professores, o Senhor me sustenta para não cair e para que, algum dia, possa dizer que tudo me serviu para ser mais forte e ser testemunho, para anunciar Jesus aos outros.
 
No futuro, eu gostaria de poder ser de ajuda para as pessoas que passam por situações parecidas com a minha.
 
No próximo dia 30 de novembro, receberei o sacramento da Confirmação, junto a outras 18 pessoas da minha idade. Peço ao Senhor, com todas as minhas forças, ainda que esteja fraca devido à minha doença, que o Espírito Santo me ilumine, para ser testemunha da fé e refletir Jesus ao longo da minha vida.
 
Com humildade lhe peço, Santidade, sua bênção para este grupo de jovens cristãos entusiasmados diante desse passo tão importante rumo a Deus. Muito obrigada pela sua vida, Papa Francisco. Como o senhor nos ensinou, eu rezo pelo senhor – e, por favor, reze por mim também.
 
Cristina.

__________________________________
 
Vaticano, 3 de dezembro de 2013.
 
Cara Cristina:
 
Foi uma alegria muito grande receber sua carta do último dia 20 de novembro. Que o Senhor lhe retribua esta delicadeza. Fez-me muito bem perceber a fortaleza com que você está enfrentando este período da sua vida, certamente especial: são momentos difíceis.
 
Por favor, não desanime! A doença, se a olharmos com espírito de fé, é uma escola. Nela, aprendemos a conhecer profundamente o coração de Deus, que transborda de ternura. Aprendemos a conhecer os outros, pois, quando o vento sopra a favor, tudo fala de sorrisos e felicitações. Mas é em meio à dor que descobrimos onde estão os autênticos amigos e as pessoas que nos amam de verdade.
 
Finalmente, ainda que não menos importante, na doença aprendemos a conhecer-nos melhor e percebemos que o Senhor não nos abandona, e sim nos dá uma série de recursos interiores para enfrentar a adversidade, que inclusive nós mesmos chegamos a nos maravilharmos.
 
Se a tudo isso, como você me conta na carta, acrescentamos que há poucos dias você recebeu a luz do Espírito Santo no sacramento da Confirmação, melhor ainda! Que este dom de Deus a ajude a ser uma cristã melhor e uma mulher cada dia mais corajosa, que olhe para a vida sem complexos. Você bem sabe que Deus nunca vai lhe falhar.
 
Eu lhe garanto que você pode contar com a minha proximidade e minha oração. Vou orar por você, pedirei ao Senhor que continue lhe ajudando e que aumente este entusiasmo e esta confiança que sua carta demonstra. Você, por outro lado, não se esqueça de rezar por mim: sozinha, mas também com a sua família e – por que não? – com os amigos que você conheceu na paróquia de Sant’Ana e no colégio Sagrada Família. Não deixem que lhes roubem a alegria!
 
Mande uma saudação minha aos médicos que cuidam de você. Tenho certeza de que eles darão o melhor de si o seu tratamento. Uma saudação também aos seus pais, María Jesús e Ernesto, às suas irmãs, Begoña e Irene, aos seus professores e ao seu pároco, o Pe. Ángel.
 
Neste Natal que se aproxima, eu lhe desejo que sejam dias repletos da graça e da alegria de Deus, e que você os viva muito unida a São José e a Nossa Senhora. Prepare-se para receber Jesus com o mesmo amor com que eles o receberam.
 
Que Jesus a abençoe e Nossa Senhora cuide de você. E, por favor, reze por mim.
 
Com carinho,

Francisco
___________________________________
Fonte: Aleteia

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

O Natal nunca foi uma festa pagã


Nesta época do ano nós somos bombardeados com propaganda anticatólica questionando o abençoado dia do nascimento de Cristo como 25 de dezembro. Dizem-nos com arrogância que essa data era originalmente uma festa pagã. A Igreja Primitiva teria “escolhido” esta data para “Cristianizar” uma festa romana do sol. De acordo com essa teoria, a data do Natal foi estabelecida somente no século IV, quando nós temos a primeira evidência da Natividade sendo celebrada em Roma em 336. A conclusão: as origens do Natal são pagãs, e nós não sabemos realmente a data do nascimento do Salvador da humanidade.

Não nos deixemos ficar impressionados tão rapidamente com essas mentiras cujos objetivos são somente diminuir a homenagem que prestamos a Nosso Senhor Jesus Cristo e denegrir a Igreja Católica. De fato, o oposto é verdadeiro. A tese da origem pagã do Natal é que é um mito sem substância histórica.

Sem festival na Roma antiga em 25 de dezembro

Um governador colonial puritano interrompe os folguedos das festividades natalinas (1883)

A noção de que o Natal teve origem pagã começou a se espalhar no século XVII com os puritanos ingleses e os presbiterianos escoceses, que odiavam tudo o que era católico. Os puritanos odiavam tanto o Catolicismo que eles se revoltaram contra a chamada Igreja Anglicana porque, mesmo com suas heresias, eles a consideravam muito similar a Igreja Católica.

Eles tinham aversão a dias de festa e em particular, eles detestavam a festa do Natal com suas cerimônias, celebrações e costumes alegres. Como a Bíblia não deu data específica para o nascimento de Cristo, os puritanos argumentavam que isso era um artifício pecaminoso da Igreja Católica Romana que deveria ser abolido.

Mais tarde, pregadores protestantes, como o alemão Paul Ernst Jablonski tentaram demonstrar em obras pesudo-acadêmicas que 25 de dezembro era na realidade uma festa pagã romana, e que o Natal foi mais um exemplo de como a Igreja Católica medieval “paganizou" e corrompeu o "puro" cristianismo primitivo.(1)

Por volta da mesma época, o jesuíta Jean Hardouin com sua excêntrica teoria da falsificação universal que colocou em dúvida cada fonte histórica conhecida, de volta aos puritanos em sua teoria no Natal ter origens pagãs. Mas essa pesquisa foi largamente desacreditada dada suas afirmações absurdas. Por exemplo, ele afirmava que todos os Concílios da Igreja que aconteceram antes de Trento eram fictícios e quase todos os textos clássicos da Grécia e Roma Antigas eram falsos, feitos por monges no século XIII. Tais declarações são descaradamente absurdas, dados os incontáveis documentos originais demonstrando o oposto.

As duas principais reivindicações para o Natal ter origens pagãs asseveram que a Igreja primitiva escolheu 25 de Dezembro a fim de desviar os fiéis dos dias de festividade pagã romana. A primeira reivindicaçãoassevera que isso substituiu o antigo feriado da Saturnália, uma época de festas e estridentes danças e cantos acontecidos em dezembro em honra do deus pagão Saturno.

Agora, o festival da Saturnália sempre terminava o mais tardar em 23 de dezembro. Por que a Igreja Católica iria querer tirar a atenção dos seus fieis de uma celebração pagã, escolheriam uma data dois dias após a festa já ter terminado e quem quis já havia exagerado? Não faz sentido. Nenhum acadêmico sério acredita nessa alegação.


Natal estabelecido antes do festival pagão do sol


Aureliano instituiu o festival do sol para fortalecer um Império Romano moribundo

A segunda reivindicação é a de que a Igreja Católica estabeleceu o Natal em 25 de dezembro para substituir uma festa solar inventada pelo Imperador Aureliano em 274 d.C., o Dies Natalis Solis Invicti (Nascimento do Sol Invicto).

O fato de que o Natal entrou no calendário mundial (o calendário romano aceito) em 354 – que foi depois do estabelecimento do festival pagão – não significa necessariamente que a Igreja escolheu este dia para substituir o feriado pagão. Duas razões principais concordam com esta conclusão:

Primeira: deve-se simplesmente admitir que os cristãos primitivos começaram a celebrar o Natal apenas no século IV. Até o Édito de Milão ter sido publicado em 313, os católicos eram perseguidos e se encontravam nas catacumbas. Portanto, não havia festividade pública. Mas eles celebravam o Natal entre eles mesmos antes do Édito, como confirmam os hinos e preces dos primeiros cristãos (2).

Segunda: essa reivindicação é baseada em pressupostos falaciosos. Como o erudito Thomas Talley aponta em seu livro The Origins of the Liturgical Year [As Origens do Ano Litúrgico], o Imperador Aureliano inaugurou o festival do Nascimento do Sol Invicto tentando dar vida nova – renascer - um Império Romano moribundo. É muito mais provável, ele argumenta, que a ação do Imperador tenha sido uma resposta a crescente popularidade e força da religião Católica, que estava celebrando o Nascimento de Cristo em 25 de dezembro, e não o contrário. (3)

Não há evidência de que a celebração de Aureliano precedia a festa de Natal, e há mais razão para acreditar que estabelecer esse dia de festa – que nunca teve apoio popular e logo morreu – foi um esforço para dar um significado pagão a uma data que já era importante para os católicos romanos.

Datas baseadas nas Escrituras

A data da concepção de Isabel estabelece a base para saber o nascimento de Cristo

Mas vamos deixar o território de conjecturas e retornar os registros históricos. Há ampla evidência para demonstrar que, mesmo que a data do Natal não tenha se tornado oficial até 354, claramente ela foi estabelecida muito tempo antes de Aureliano ter instituído seu dia de festa pagã.

A concepção de São João Baptista é a âncora histórica para saber a data do Natal, baseada em cálculos detalhados e cuidadosos de datas feitos pelos primeiros Pais da Igreja.

O antigo tractatus De solstitiia registra a tradição do Arcanjo Gabriel aparecendo a Zacarias no Templo quando ele estava servindo como sumo sacerdote no Dia da Expiação (Lc 1,8). Isso situa a concepção de São João Baptista durante a Festa dos Tabernáculos no fim de setembro, como disse o Arcanjo Gabriel (Lc 1,28) e seu nascimento nove meses mais tarde no momento do solstício de verão. (4)

Como o Evangelho de Lucas afirma que o Arcanjo Gabriel apareceu a Virgem Maria no sexto mês após a concepção de João (Lc 1,26), isso situa a concepção de Cristo no equinócio de primavera, ou seja, no momento da Páscoa Judaica, no fim de março. Seu nascimento seria assim no fim de dezembro no momento do solstício de inverno.

Que estas datas, baseadas na Tradição e na Escritura, são confiáveis é confirmado por recente evidência tirada dos Manuscritos do Mar Morto, cujos autores estavam bastante preocupados com datas de calendários, essenciais para estabelecer quando deveriam celebradas as festas da Torah. A data encontrada nos Manuscritos torna possível saber os serviços rotativos dos sacerdotes no Templo nos tempos do Antigo Testamento e mostram definitivamente que Zacarias serviu como sacerdote do Templo em setembro, confirmando assim a tradição da Igreja Primitiva. (5)

A Igreja Católica determinou 25 de março como a data da concepção de Nosso Senhor muito antes de Aureliano decidir fazer sua festa solar. Por exemplo, por volta de 221 d.C, Sexto Julio Africano escreveu aChronographiai na qual ele afirma que a Anunciação foi em 25 de março. (6) Uma vez que a data da Encarnação estava estabelecida, era uma simples questão de adicionar nove meses para chegar a data do nascimento de Nosso Senhor: 25 de dezembro. Essa data não seria oficial até o fim do quarto século, mas ela foi estabelecida muito tempo antes de Aureliano ou Constantino. Ela não tinha nada que ver com festivais pagãos.

Nós podemos estar certos de que os primeiros apologistas católicos e Pais da Igreja, que viveram próximos do tempo dos Apóstolos, estavam totalmente cientes das datas associadas com o nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo. Todos eles tinham fontes de calendários em mãos e eles não permitiriam que qualquer inverdade fosse introduzida na liturgia católica. A data do nascimento de Cristo foi transmitida por eles como sendo 25 de dezembro, um domingo.

Discursando sobre o verso de Lucas 2,7, Pe. Cornélio a Lápide comenta sobre a arquitetura dessa escolha: “Cristo nasceu no domingo, porque esse foi o primeiro dia do mundo.… Cristo nasceu numa noite de domingo, em ordem com Suas maravilhas, então no dia em que Ele disse Haja luz, e houve luz, foi o mesmo dia em que, à noite, a luz brilhou na escuridão para os de coração justo, isto é, o sol da justiça, Cristo o Senhor.” (7)

___________________________________
Notas:

1.       Thomas Talley, The Origins of the Liturgical Year, Collegeville, MN: Liturgical Press, 1991), p. 88.
2.       Daniel-Rops, Prières des Premiers Chrétiens, Paris: Fayard, 1952, pp. 125-127, 228-229
3.       Talley, The Origins of the Liturgical Year, pp. 88-91.
4.       O folheto é intitulado 'De solstitiia et aequinoctia conceptionis et nativitatis domini nostri iesu Christi et iohannis baptista,' in Ibid., p. 93-94. Talley também fornece outros documentos históricos de escritores da Igreja primitiva mostrando que as datas da Concepção e Morte de Nosso Senhor foram estabelecidas bastante cedo.
5.       Shemaryahu Talmon, Professor Emérito da Universidade Hebraica de Jerusalém e máximo estudioso dos Manuscritos, publicou um estudo aprofundado sobre os serviços rotativos dos sacerdotes no Templo em 1958 e os manuscritos de Qumran para ver as atribuições durante os tempos do Novo Testamento. Martin K Barrack, “It Comes from Pagans,” Second Exodus online.
6.       Ibid.

7.       Cornelius a Lapide, Commentaria in Scripturam Sanctam, Paris: Vives 1877, Lucas 2,7, vol 16, p. 57.
______________________________________________
Autora: Marian T. Horvat
Traduzido por Andrea Patricia
Fonte: Borboletas do Luar

A Família que Deus quer


Dentro da Oitava de Natal e no coração do Mistério da Encarnação celebra-se a Festa da Sagrada Família. Foi proposta por Leão XIII a iniciativa de várias conferências episcopais, em especial a do Canadá, que já em 1893 viam ameaças e desejos de desconstruir a família cristã.    Embora naquele tempo o principal desafio era a afirmação do individualismo contratualista que desmanchava o vinculo conjugal sem muitas cerimônias, hoje está em crise a própria idéia de família e de pessoa humana, o que causa certamente mais perplexidades e contradições.

O Evangelho da família está ancorado no Natal de Jesus Cristo, pois a encarnação exige a inserção numa família humana, para o desenvolvimento da pessoa, ter um nome e fazer parte de um povo e de uma cultura.     Jesus inicia sua obra redentora santificando e salvando a família, tornando-a o primeiro espaço de humanização e evangelização.    A liturgia da Palavra desta festa é muito rica para alimentar uma verdadeira espiritualidade conjugal e familiar centrada no amor, na compreensão, na autoridade servidora e edificadora dos pais, no perdão, na cooperação e na hospitalidade cristã, valores permanentes que fortalecem e enaltecem o grupo familiar.

Como afirma a oração coleta a Sagrada Família é um modelo a ser buscado e vivenciado por todas as famílias, mais que um protótipo estático e abstrato, que esqueceria as dificuldades, problemas e conflitos que o lar de Nazaré teve que assumir para proteger, educar e seguir a Jesus o Salvador.

Em mensagem de Natal, Papa Francisco reza pela paz


Nesta quarta-feira, 25, Natal do Senhor, Papa Francisco dirigiu-se ao Balcão Central da Basílica Vaticana para a tradicional benção “Urbi et Orbi”. Na mensagem de Natal que antecedeu a benção, o Santo Padre pede paz na Síria, na República Centro-Africana, na Terra Santa, além de recordar problemáticas como o tráfico de seres humanos e as calamidades naturais.

O Papa recorda que a verdadeira paz não é um equilíbrio entre coisas contrárias, mas um compomisso de todos os dias, que se leva adiante a partir do dom de Deus. Ele dirige o pensamento, então para as indefesas vítimas da violência em conflitos.

“Vendo o Menino no presépio, Menino de Paz, pensemos nas crianças que são as vítimas mais frágeis das guerras, mas pensemos também nos idosos, nas mulheres maltradas, nos doentes. As guerras dilaceram e ferem tantas vidas, muitas dilaceraram, nos últimos tempos, o conflito da Síria, fomentando ódio e vingança. Continuemos a rezar a Deus para que Ele poupe novos sofrimentos ao amado povo sírio e as partes em conflito ponham fim a toda violência”.

O Santo Padre destaca também a força da oração e expressa sua felicidade em saber que membros de outras confissões religiosas partilham esta oração pela paz na Síra. “Nunca percamos a coragem da oração”, disse.

A República Centro-Africana também está no coração do Papa, que lembra que esta é uma região tantas vezes esquecida pelos homens, mas nunca esquecida por Deus. Ainda com relação à África, o Papa reza pelo Sudão do Sul e pela Nigéria, dilacerada por contínuos ataques que não poupam inocentes e indefesos.


Quanto ao Oriente Médio, o Papa pede a conversão do coração dos violentos e um final feliz para as negociações de paz entre israelenses e palestinos. Ele também pede cura das chagas do Iraque, que sofre frequentemente por atentados.

Francisco também reza pelos que são perseguidos por causa de sua fé em Cristo e pelos refugiados, para que encontrem acolhimento e ajuda. Ele recorda, nesse ponto, as tragédias que aconteceram esse ano em Lampedusa, ilha italiana, fazendo um apelo para que elas não mais se repitam. Quanto às calamidades naturais, o Papa lembra-se do povo filipino, atingido brutalmente por um tufão nesse segundo semestre do ano.

“Neste mundo, nesta humanidade, hoje nasceu o Salvador, que é o Cristo Senhor. Detenhamo-nos diante do Menino de Belém, deixemos que o nosso coração se comova, não tenhamos medo disso, precisamos que o nosso coração se comova. (…) Deixemo-lo abrasar-se pela ternura de Deus, precisamos de suas carícias. As carícias de Deus não nos ferem, mas nos dão paz e força, precisamos de suas carícias”.


Após a mensagem, Francisco concedeu a todos a benção Urbi et Orbi. O Santo Padre encerrou desejando a todos os seus votos de um Feliz Natal.
_________________________________
Fonte: Canção Nova

Francisco celebra a Missa do Galo destacando a luz de Jesus para a humanidade


Homilia
Primeira Missa do Galo celebrada pelo Papa Francisco
Terça-feira, 24 de dezembro de 2013


1.      «O povo que andava nas trevas viu uma grande luz» (Is 9, 1).

Esta profecia de Isaías não cessa de nos comover, especialmente quando a ouvimos na liturgia da Noite de Natal. E não se trata apenas dum facto emotivo, sentimental; comove-nos, porque exprime a realidade profunda daquilo que somos: somos povo em caminho, e ao nosso redor – mas também dentro de nós – há trevas e luz. E nesta noite, enquanto o espírito das trevas envolve o mundo, renova-se o acontecimento que sempre nos maravilha e surpreende: o povo em caminho vê uma grande luz. Uma luz que nos faz reflectir sobre este mistério: o mistério do andar e do ver.

Andar. Este verbo faz-nos pensar no curso da história, naquele longo caminho que é a história da salvação, com início em Abraão, nosso pai na fé, que um dia o Senhor chamou convidando-o a partir, a sair do seu país para a terra que Ele lhe havia de indicar. Desde então, a nossa identidade de crentes é a de pessoas peregrinas para a terra prometida. Esta história é sempre acompanhada pelo Senhor! Ele é sempre fiel ao seu pacto e às suas promessas. «Deus é luz, e n’Ele não há nenhuma espécie de trevas» (1 Jo 1, 5). Diversamente, do lado do povo, alternam-se momentos de luz e de escuridão, fidelidade e infidelidade, obediência e rebelião; momentos de povo peregrino e de povo errante.

E, na nossa historia pessoal, também se alternam momentos luminosos e escuros, luzes e sombras. Se amamos a Deus e aos irmãos, andamos na luz; mas, se o nosso coração se fecha, se prevalece em nós o orgulho, a mentira, a busca do próprio interesse, então calam as trevas dentro de nós e ao nosso redor. «Aquele que tem ódio ao seu irmão – escreve o apóstolo João – está nas trevas e nas trevas caminha, sem saber para onde vai, porque as trevas lhe cegaram os olhos» (1 Jo 2, 11).


2.            Nesta noite, como um facho de luz claríssima, ressoa o anúncio do Apóstolo: «Manifestou-se a graça de Deus, que traz a salvação para todos os homens» (Tt 2, 11).

A graça que se manifestou no mundo é Jesus, nascido da Virgem Maria, verdadeiro homem e verdadeiro Deus. Entrou na nossa história, partilhou o nosso caminho. Veio para nos libertar das trevas e nos dar a luz. N’Ele manifestou-se a graça, a misericórdia, a ternura do Pai: Jesus é o Amor feito carne. Não se trata apenas dum mestre de sabedoria, nem dum ideal para o qual tendemos e do qual sabemos estar inexoravelmente distantes, mas é o sentido da vida e da história que pôs a sua tenda no meio de nós.

3.            Os pastores foram os primeiros a ver esta «tenda», a receber o anúncio do nascimento de Jesus. Foram os primeiros, porque estavam entre os últimos, os marginalizados. E foram os primeiros porque velavam durante a noite, guardando o seu rebanho. Com eles, detemo-nos diante do Menino, detemo-nos em silêncio. Com eles, agradecemos ao Pai do Céu por nos ter dado Jesus e, com eles, deixamos subir do fundo do coração o nosso louvor pela sua fidelidade:

Nós Vos bendizemos, Senhor Deus Altíssimo, que Vos humilhastes por nós. Sois imenso, e fizestes-Vos pequenino; sois rico, e fizestes-Vos pobre; sois omnipotente, e fizestes-Vos frágil.

Nesta Noite, partilhamos a alegria do Evangelho: Deus ama-nos; e ama-nos tanto que nos deu o seu Filho como nosso irmão, como luz nas nossas trevas. O Senhor repete-nos: «Não temais» (Lc 2, 10). E vo-lo repito também eu: Não temais! O nosso Pai é paciente, ama-nos, dá-nos Jesus para nos guiar no caminho para a terra prometida. Ele é a luz que ilumina as trevas. Ele é a nossa paz. Amém.
__________________________________________________
Disponível em: Rádio Vaticano


Vou estragar a infância do meu filho se eu contar a ele que o Papai Noel não existe?


O artigo seguinte foi publicado originalmente na edição árabe de ZENIT como resposta a algumas perguntas de leitores. A resposta é bem-humorada, mas aborda “a séria questão da fé em Cristo”.

Um leitor nos perguntou: “Vou estragar a infância do meu filho se contar a ele que o Papai Noel não existe?”.

A resposta para esta pergunta não requer uma especialização em teologia, como vocês podem imaginar. Mas vale a pena respondê-la para refletirmos melhor sobre o significado do santo Natal, questionar alguns escrúpulos infundados e salvaguardar o que é essencial.

A minha resposta é sim, revelar que o Papai Noel não existe vai estragar a magia da infância dos seus filhos. Mas só se o Natal, para eles, for apenas uma questão de presentes e de contos e lendas. Vai estragar a infância dos seus filhos se o Papai Noel for “o único mediador” do afeto em família, o único elemento de surpresa e a única novidade que encerra o ano. Vai estragar a infância dos seus filhos se eles foram criados com a ideia de um deus carrasco, inquisidor, inspetor, que tudo vê (ou pior, que só vê os pecados). Um Jesus que vem castigar você de noite, etc. Neste caso, se você matar o “Bom Velhinho”, vai arruinar o último totem do Natal dos seus filhos.

Já se você quiser abrir para eles um “caminho melhor”, a minha resposta é não, absolutamente não vai estragar a infância dos seus filhos se contar a eles que o Papai Noel não existe. Vamos imaginar um cenário alternativo: você pode conversar com eles, numa linguagem simples, compreensível e atraente, sobre a beleza de um Deus que amou tanto o mundo, mas tanto, que nos deu de presente não somente todas as coisas, mas também o nosso próprio ser e, acima de tudo, deu a Si mesmo como presente para nós! Nesta conversa, os evangelhos da infância são uma leitura extraordinária para fazer à noite com os filhos.

Há uma imensa magia em contar a verdade sobre o Amor e sobre a sua gratuidade, que não é um mito surreal, mas a “verdade do mundo” e o “coração do mundo”. Este é “o amor que move o sol e as outras estrelas”.

E por que não explicar aos filhos que os presentes colocados embaixo da árvore são um símbolo minúsculo do grande presente de Deus para a humanidade, o seu próprio Filho, Jesus Cristo?

Por que não explicar que, apesar da crise, os pais, tios e tias, avôs e avós se prodigalizam para dar presentes não tanto pelos presentes em si, mas porque aprendemos de Jesus que há mais alegria em dar do que em receber e porque a fé nos ensina a beleza de estar juntos sob o mesmo teto?

Por que não ajudar a entender que o Papai Noel é um conto útil para nos lembrar de uma realidade muito mais bonita do que a ficção, a dos santos (neste caso, São Nicolau), que abrem os corações à generosidade para com o próximo, porque eles foram visitados e tocados pelo amor de Jesus, que nos amou primeiro?

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Jesus nasceu mesmo num dia 25 de Dezembro


Era uma provocação, obviamente, mas que se baseava naquilo que é (ou, melhor, que era) pacificamente aceite por todos os estudiosos: a colocação litúrgica do Natal é uma escolha arbitrária, sem ligação com a data do nascimento de Jesus, a qual ninguém estaria em condições de poder determinar. Ora bem, parece que os especialistas se enganaram mesmo; e eu, obviamente, com eles. Na realidade, hoje - graças também aos documentos de Qumran* - estamos em condições de poder estabelecê-lo com precisão: Jesus nasceu mesmo num dia 25 de Dezembro. Uma descoberta extraordinária a sério e que não pode ser alvo de suspeitas de fins apologéticos cristãos, dado que a devemos a um docente judeu, da Universidade Hebraica de Jerusalém.

Procuremos compreender o mecanismo, que é complexo, mas fascinante. Se Jesus nasceu a 25 de Dezembro, a sua concepção virginal ocorreu, obviamente 9 meses antes. E, com efeito, os calendários cristãos colocam no dia 25 de Março a Anunciação do Anjo S. Gabriel a Maria. Mas sabemos pelo próprio Evangelho de S. Lucas que, precisamente seis meses antes, tinha sido concebido por Isabel, João, o precursor, que será chamado o Baptista. A Igreja Católica não tem uma festa litúrgica para esta concepção, mas a Igreja do Oriente celebra-a solenemente entre os dias 23 e 25 de Setembro; ou seja, seis meses antes da Anunciação a Maria. Uma lógica sucessão de datas, mas baseada em tradições não verificáveis, não em acontecimentos localizáveis no tempo. Assim acreditávamos todos nós, até há pouquíssimo tempo. Mas, na realidade, parece mesmo que não é assim.

De fato, é precisamente da concepção do Baptista que devemos partir. O Evangelho de S. Lucas abre-se com a história do velho casal, Zacarias e Isabel, já resignado à esterilidade – considerada uma das piores desgraças em Israel. Zacarias pertencia à casta sacerdotal e, um dia, em que estava de serviço no Templo de Jerusalém, teve a visão de Gabriel (o mesmo anjo que aparecerá seis meses mais tarde a Maria, em Nazaré), o qual lhe anunciou que, não obstante a idade avançada, ele e a mulher iriam ter um filho. Deviam dar-lhe o nome de João e ele seria grande «diante do Senhor».


Lucas teve o cuidado de precisar que Zacarias pertencia à classe sacerdotal de Abias e que quando teve a aparição «desempenhava as funções sacerdotais no turno da sua classe». Com efeito, no antigo Israel, os que pertenciam à casta sacerdotal estavam divididos em 24 classes, as quais, alternando-se segundo uma ordem fixa e imutável, deviam prestar o serviço litúrgico no Templo, por uma semana, duas vezes por ano. Já se sabia que a classe de Zacarias - a classe de Abias - era a oitava no elenco oficial. Mas quando é que ocorriam os seus turnos de serviço? Ninguém o sabia. Ora bem, o enigma foi desvendado pelo professor Shemarjahu Talmon, docente na Universidade Hebraica de Jerusalém, utilizando investigações desenvolvidas também por outros especialistas e trabalhando, sobretudo, com textos encontrados na Biblioteca essena de Qumran. O estudioso conseguiu precisar em que ordem cronológica se sucediam as 24 classes sacerdotais. A de Abias prestava serviço litúrgico no Templo duas vezes por ano, tal como as outras, e uma das vezes era na última semana de Setembro. Portanto, era verosímil a tradição dos cristãos orientais que coloca entre os dias 23 e 25 de Setembro o anúncio a Zacarias. Mas esta verosimilhança aproximou-se da certeza porque os estudiosos, estimulados pela descoberta do Professor Talmon, reconstruíram a “fileira” daquela tradição, chegando à conclusão que esta provinha directamente da Igreja primitiva, judaico-cristã, de Jerusalém. Esta memória das Igrejas do Oriente é tão firme quanto antiga, tal como se confirma em muitos outros casos.

Eis, portanto, como aquilo que parecia mítico assume, improvisamente, uma nova verosimilhança - Uma cadeia de acontecimentos que se estende ao longo de 15 meses: em Setembro o anúncio a Zacarias e no dia seguinte a concepção de João; seis meses depois, em Março, o anúncio a Maria; três meses depois, em Junho, o nascimento de João; seis meses depois, o nascimento de Jesus. Com este último acontecimento, chegamos precisamente ao dia 25 de Dezembro; dia que não foi, portanto, fixado ao acaso. 

Sim, parece que festejar o Natal no dia 15 de Agosto é coisa não se pode mesmo propor. Corrijo, portanto, o meu erro, mas, mais que humilhado, sinto-me emocionado: depois de tantos séculos de investigação encarniçada, os Evangelhos não deixam realmente de nos reservar surpresas. Parecem detalhes aparentemente inúteis (o que é que importava se Zacarias pertencia à classe sacerdotal de Abias ou não? Nenhum exegeta prestava atenção a isto) mas que mostram, de improviso, a sua razão de ser, o seu carácter de sinais duma verdade escondida mas precisa. Não obstante tudo, a aventura cristã continua.

[tradução realizada por pensaBEM.net]

Nota: 
* Os manuscritos de Qumran foram descobertos em 1947, perto das margens do Mar Morto, na localidade de Qumran, localidade onde a seita hebraica dos Essénios tinha nos tempos de Jesus a sua sede principal. Os manuscritos foram encontrados em ânforas, provavelmente escondidos pelos monges da seita, quando tiveram de fugir dos romanos provavelmente entre 66 e 70 d. C. Aqueles pergaminhos deram-nos os textos de quase todos os livros da Bíblia copiados de dois a um século antes de Jesus e perfeitamente coincidentes com os que são usados hoje pelos hebreus e pelos cristãos(cfr. Hipóteses sobre Jesus, Porto, Edições Salesianas, 1987, p. 101).
________________________________________________ 
Fonte: Corriere della Sera, 9 de Julho de 2003
Tradução: pensaBEM.net

Disponível em: Veritatis Splendor

Jesus nasceu numa estrebaria


Alguns anos após ingressar no seminário, para conhecer um pouco mais a pessoa e a mensagem pela qual eu estava para consagrar a minha vida, passei a ler várias "biografias" de Jesus que então circulavam no mundo católico. Dentre elas, a do escritor italiano, Giovanni Papini (1881-1956), o qual, de agnóstico que sempre se orgulhara ser, em dado momento acolheu a graça com que Deus o visitava e se transformou num cristão fervoroso - apesar de conservar, em seus livros, o estilo polêmico que o caracterizava.

Num dos primeiros capítulos de sua "História de Cristo", Papini se detém sobre o tema: "Jesus nasceu numa estrebaria". Mais do que as palavras exatas, lembro o seu conteúdo: "O que é o mundo senão uma estrebaria, onde os homens defecam suas imundícies e se atritam quais animais? O que significa toda essa podridão e hipocrisia que os leva a se julgarem imunes dos delitos que condenam nos demais? Quem tem forças, rouba; quem tem armas, mata; quem está seguro da impunidade, se faz ladrão e assassino. Não há outra moral que a dos lobos e outro código que o dos abutres. Uma inversão total dos valores, onde o mal é considerado bem e o bem é visto como simploriedade. Precisamos novamente de Alguém que venha ao mundo para limpá-lo!".

Giovanni Papini escreveu a sua obra no biênio 1920-1921, na mesma época em que, em Trento, nascia Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares, a qual, 60 anos mais tarde (em 1980), também suspirava por um Natal que renovasse a face da terra: "O Natal se aproxima e as ruas da cidade se engalanam de luzes. Uma fileira interminável de lojas, uma riqueza refinada, excessiva. Meninos e meninas em trenós puxados por renas e animaizinhos waltdisneyanos; Papais Noel, veadinhos, leitõezinhos, lebres, rãs, fantoches e anões vermelhos: tudo se move com elegância. Ah, lá estão os anjinhos! Que nada! São fadinhas, inventadas à ultima hora para enfeitar a paisagem branca.


Em meu coração, a incredulidade e, depois, quase uma revolta: este mundo rico 'defraudou' o Natal e tudo o que o cerca, e 'desalojou' Jesus. Do Natal, ama-se a poesia, a atmosfera, a amizade que desperta, os presentes que expõe, as luzes, as estrelas, as canções. Aposta-se no Natal para o melhor faturamento do ano. Mas em Jesus não se pensa. 'Veio para os seus, e eles não o receberam'. 'Não havia lugar para eles na estalagem', nem mesmo no Natal".
Se assim pensavam Giovanni Papini em 1921 e Chiara Lubich em 1980, imagine-se o que eles diriam hoje ante a degradação que atinge a sociedade e a natureza! O mundo é uma estrebaria quando o Natal perde o seu sentido e Jesus fica esquecido! Sem dúvida, estamos caminhando para um progresso científico e econômico cada vez maior, mas, com ele, também aumentam as frustrações e os dissabores trazidos pelos ídolos com que tentamos substituir a presença do Deus vivo e verdadeiro, que só atingimos quando vivenciamos o amor, a grande e sublime lição do Natal.

É o que escrevia a mesma Chiara, em 1979: "O Natal revela o amor que Deus tem por nós. Jesus Menino é o presente mais excelso que o Céu já deu à terra, esta minúscula Terra perdida na imensidão dos espaços, entre bilhões de estrelas, mas tão eleita, tão escolhida, a ponto de se tornar morda do Deus verdadeiro que se fez homem.

O Natal proclama que Deus nos ama, que Deus é amor. E nós não seremos cristãos autênticos se não dermos ao Natal o seu justo sentido, se não soubermos extrair deste mistério encantador, cercado por tantas aparências, a verdade que ele encerra. Façamos eco aos anjos que o anunciaram aos pastores e não percamos nenhuma ocasião para comunicar aos irmãos, aos amigos, aos colegas, ao mundo, que o amor desceu à terra por todos nós e que, no Natal, ninguém se deve sentir só, abandonado, órfão, infeliz".

Conta a lenda que Hércules precisou desviar dois rios para limpar os currais do rei Augias, que, de tão imundos, exalavam um gás mortal. Mas, para quem deseja atuar eficazmente para a "faxina" da humanidade, o caminho é mais exigente e... mais eficaz: "Partilhem os seus bens e tudo ficará limpo!" (Lc 11,41).


Dom Redovino Rizzardo 
Bispo de Dourados (MS). 
__________________________________
Disponível em: Central Católica