terça-feira, 28 de março de 2017

São Guntrano


Guntrano teve muitos descaminhos, muitas opções erradas. Teve muitas mulheres e muitos filhos. Como todo ser humano buscou a felicidade, porém, em lugares errados.

Um homem social, político e de grande influência, mas com o coração inquieto e desejoso de algo maior. Deu toda sua herança para um sobrinho e se decidiu a viver uma radicalidade cristã, ou seja, viver o chamado à santidade. Então, Guntrano passou a ouvir a Palavra de Deus e a acolher os conselhos dos bispos. Governou na justiça, a partir dos bons conselhos recebidos.

Viveu a renúncia de si mesmo para abraçar a cruz e fazer a vontade de Deus. Faleceu com 68 anos, depois de consumir-se no amor a Deus e aos irmãos, sendo cristão na sociedade.


Ó Deus, que o exemplo de vossos Santos nos leve a uma vida mais perfeita e, celebrando hoje a memória de São Guntrano, imitemos constantemente suas ações. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém!


São Guntrano, rogai por nós!

segunda-feira, 27 de março de 2017

Indonésia: Centenas de muçulmanos protestam contra a construção de uma Igreja Católica

Um policial conduz uma busca do interior de uma igreja em Surabaya, Indonésia,
para assegurar-se que a missa seja celebrada pacificamente (foto: Getty)

A polícia indonésia disparou gás lacrimogêneo na sexta-feira para dispersar os muçulmanos de linha dura que protestam contra a construção de uma igreja católica em uma cidade satélite da capital, Jacarta.

Várias centenas de manifestantes de um grupo chamado Forum for Bekasi Muslim Friendship fizeram uma manifestação turbulenta na frente da igreja de Santa Clara em Kaliabang, um bairro da cidade de Bekasi, depois das orações de sexta-feira.

Testemunhas disseram que a polícia disparou gás lacrimogêneo quando os manifestantes tentaram forçar o caminho para a igreja, que está em construção desde novembro. Alguns também jogaram pedras e garrafas no local.

O padre Raymundus Sianipar disse que a polícia pediu que ele deixasse a área por razões de segurança.

A maioria muçulmana da Indonésia reconhece seis religiões, mas os grupos islâmicos militantes freqüentemente protestam contra as religiões minoritárias ea polícia muitas vezes não intervêm. Membros de religiões minoritárias que não são reconhecidas pelo Estado enfrentam discriminação persistente.

Ismail Ibrahim, um clérigo e organizador do protesto, disse que não se dispersaria até que as autoridades cancelassem a licença de construção da igreja.

Síria: uma quaresma de lágrimas


Marcando o início da Quaresma de 2017 com uma carta pastoral compartilhada à ACN – Ajuda à Igreja que Sofre, o líder da Igreja Maronita em Damasco, o Arcebispo Samir Nassar, descreveu a situação na Síria em termos de um “apocalipse... um grande deserto de ruínas, edifícios pulverizados, casas queimadas, bairros transformados em cidades fantasmas, aldeias arrasadas no chão".

O arcebispo reflete especialmente sobre a situação das famílias, crianças e casais que almejam o casamento, aos quais ele se refere como "uma engrenagem para o futuro que está entrando em colapso", já que violência, morte, prisão ou alistamento no exército tem separado as pessoas; casais que ainda estão juntos, acrescenta, enfrentam a "grave dificuldade" de encontrar "abrigo adequado" enquanto casados.

“Quase nunca”, diz o arcebispo, “se encontra uma família intacta”. As famílias, pedra de “fundação” e “baluarte” da sociedade, foram repartidas: membros da família fugiram, morreram na guerra, ficaram na prisão ou se ligaram à luta "nas linhas de frente".

República Democrática do Congo: Bispos declaram estado de emergência


Os Bispos da República Democrática do Congo emitiram um aviso de emergência de que a crescente violência e a instabilidade política estão ameaçando a nação com “dissolução e caos”. Os bispos manifestam sua dor por “milhares” de pessoas que perderam suas vidas nos últimos meses, incluindo muitos menores alistados nas diferentes milícias. Além disso, expressaram sua preocupação de que a crise cause fome no país ou uma ruptura da nação.

Os prelados se encontraram em uma reunião de emergência nos dias 20 a 25 de fevereiro de 2017 e culparam pela piora da situação as falhas do Presidente Joseph Kabila e cobraram dos seus oponentes políticos que garantam o cumprimento do acordo firmado em 31 de dezembro de 2016, favorecido pela Conferência Episcopal, que traçou o caminho para as eleições presidenciais no final deste ano, de modo que o Presidente Kabila não tome posse de um terceiro mandato inconstitucional.

Em uma declaração obtida pela ACN – Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre, os bispos insistem que o papel da Igreja é estritamente de mediador em busca do bem comum, apesar do crescente número de ataques violentos e mortais ao pessoal e propriedades da Igreja, fruto de um aparente ressentimento pela contribuição da Igreja no acordo.

Na cidade de Bukavu morreram assassinadas várias religiosas das Filhas da Ressurreição, obrigando a congregação a fechar sete conventos. Em dezembro do ano passado, uma irmã franciscana morreu apunhalada, também em Bukavu. Em 12 de fevereiro de 2017, uma gangue de jovens incendiou a Paróquia de São Domingos em Limete, capital de Kinshasa.

Em mensagem enviada à ACN, o Cardeal Monsengwo Pasinya, Arcebispo de Kinshasa, informou sobre o incêndio provocado no seminário maior de Malole no dia 18 de fevereiro de 2017. O prelado assinala que os causadores do incêndio eram “bandidos violentos que também semearam o terror entre as carmelitas”.

Não obstante, os bispos disseram que se mantêm comprometidos com seu “papel profético” em “acompanhar o povo congolês”, e que seu objetivo é fazer o possível para que os termos do acordo se cumpram. Os bispos afirmaram: “Diante dos fatos que nos apresentam no momento atual e em vista de mais justiça e paz, dizemos ‘não à obstrução da aplicação completa e rápida do acordo’”. Os prelados apelaram ao presidente, à oposição e à população civil que iniciem um diálogo franco, baseado na boa vontade e na confiança recíproca”, para assim dar resposta ao “clamor angustiado do povo congolês, que espera impacientemente a implementação do acordo”.

Também clamaram a Polícia e o Exército para que mantenham a paz em escala nacional, mas sem recorrer a uma “força excessiva”, e pediram aos meios de comunicação do país que “evitem polêmicas” e que informem o público “de forma objetiva e precisa” pelo bem da “unidade nacional”.

Finalmente, os bispos também apelaram aos fiéis para que “intensifiquem suas orações pelo país, ajudem a proteger as propriedades da Igreja e não se deixem influenciar e nem sejam dominados pelo desespero e pelo medo”. Em 26 de março de 2017, no quarto domingo da Quaresma, todos os bispos celebrarão uma Missa especial para rogar pela “intercessão maternal da Virgem Maria, Nossa Senhora da Esperança, para que o Senhor derrame paz e misericórdia na República Democrática do Congo e no seu povo”. 

Conheça o cartaz da Semana de Oração pela Unidade Cristã (SOUC) 2017


O CONIC apresenta, em primeira mão, o cartaz da Semana de Oração pela Unidade Cristã (SOUC), edição 2017. A arte vencedora é de autoria da artista Rose Araujo (Ânima Design Studio). A escolha foi definida em um concurso realizado pelo CONIC. Reconciliação: é o amor de Cristo que nos move – Celebração do 500° Aniversário da Reforma é o tema da SOUC deste ano, que relembra os 500 anos da Reforma Protestante iniciada por Lutero.
 
A Semana será uma oportunidade a mais para que as igrejas abordem a questão da reconciliação entre as diferentes denominações cristãs, focando na riqueza e na diversidade que há cada uma delas e, ao mesmo tempo, conclamando para a necessidade de uma união mais plena.
 
Inspirados em Francisco
 
Em 2013, a Exortação Apostólica do Papa Francisco, Evangelii Gaudium (A Alegria do Evangelho), inspirou o tema deste ano, com a citação “O amor de Cristo nos move” (parágrafo 9 e 2 Cor 5.14-20). Foi a partir dessa compreensão que a Comissão Alemã formulou o tema.
 

Devo permitir que meus filhos assistam ao novo filme “A Bela e a Fera”?


A Disney está lançando a enésima adaptação do clássico de Gabrielle Bardot de Villeneuve (1740) e Jeanne-Marie Leprince de Beaumont (1756), embora esta seja, na realidade, um remake do filme de animação que a própria Disney rodou em 1991.

Duas polêmicas rodeiam a estreia da versão musical em imagens reais de “A Bela e a Fera”: sua suposta natureza feminista e a descrição da ideologia de gênero. Discutível a primeira polêmica e indiscutível a segunda.

A Disney parece querer mudar a imagem de sua marca. Dá a impressão de que já não quer seguir representando a família clássica americana, de costumes tradicionais e pensamentos bem mais conservadores.  Parece que a empresa pretende somar-se à cultura hegemônica, que incorpora a ideologia de gênero como seu pilar fundamental. Somente assim dá pra entender que um filme dirigido fundamentalmente ao público familiar e infantil inclua uma sub-trama gay, embora atinja um personagem secundário, LeFou, e que se resolva numa breve cena no fim do filme.

Mas a cena não passa despercebida, nem dá pra pensar que ela está lá por acaso. Tirando isso, o musical não acrescenta nada de novo à história clássica. E mais: no princípio falaram que a versão seria muito feminista, mas não é, já que inclusive a militante da causa, Emma Watson (Bela) acaba disfarçada de princesa Disney, um ícone aparentemente “machista” da fábrica. Em dado momento, ela fala: “Eu não sou uma princesa”, mas sua posição de mulher livre que decide quem amar já não seria compatível com a personagem de 25 anos atrás.

O que é certo é que a Fera desta versão anda com pouco testosterona e é muito mais sensível e menos “fera” do que nas versões anteriores. Mas não há uma significativa mudança de papel. De qualquer forma, nenhum destes traços deve nos espantar, já que o produtor escolhido pela Disney para levar adiante este projeto é nada menos que Bill Condon, assumidamente gay, diretor de “Kinsey” (2004) e “Deuses e Monstros” (1998), entre muitos outros filmes. 

A noite estrelada em que Nossa Senhora impediu um exército

“Não podemos avançar. Há uma Senhora barrando o caminho”.

Em 1871, a França se via devastada por causa da Guerra Franco-Prussiana. Três quartos do país estavam sob o calcanhar da ocupação da antiga Prússia.

Na noite estrelada de 17 de janeiro, na pequena aldeia de Pontmain, na Bretanha, Cesar Barbadette e seus dois filhos, Joseph e Eugène, de 10 e 12 anos, estavam terminando os seus afazeres no celeiro. Eugène olhou pela janela e viu uma área sem estrelas sobre a casa do vizinho. De repente, ele viu Nossa Senhora sorrindo para ele. Joseph também viu Nossa Senhora; mais tarde, já como sacerdote, ele mesmo relatou o que tinha visto:

Ela era jovem e alta, vestida de um manto de azul profundo… Seu vestido era coberto de estrelas douradas brilhantes. As mangas eram amplas e longas. Ela usava sandálias do mesmo azul do vestido, ornamentadas com arcos de ouro. Na cabeça havia um véu preto cobrindo-lhe a metade da testa, escondendo os seus cabelos e as orelhas e caindo sobre os seus ombros. Acima dele, uma coroa semelhante a um diadema, maior na frente e alargando-se para os lados. Uma linha vermelha circundava a coroa ao meio. Suas mãos eram pequenas e estendiam-se em nossa direção, como na medalha milagrosa. Seu rosto tinha a mais suave delicadeza e um sorriso de doçura inefável. Os olhos, de ternura indizível, estavam fixos em nós. Como uma verdadeira mãe, ela parecia mais feliz em olhar para nós do que nós em contemplá-la”.

Embora seus pais vissem apenas três estrelas num triângulo, as religiosas da escola paroquial e o pároco foram chamados. Duas meninas, Françoise Richer e Jeanne-Marie Lebosse, de 9 e 11 anos, também tinham visto a Senhora.

Os aldeões, que eram cerca de sessenta entre adultos e crianças, começaram a rezar o rosário. Enquanto oravam, os visionários relataram que a visão tinha sofrido uma mudança. Em primeiro lugar, as estrelas em sua veste tinham se multiplicado até que o vestido azul ficasse quase completamente de ouro. Em cada oração seguinte, letras apareciam para esclarecer as mensagens numa faixa desfraldada a seus pés: “Por favor, orem, meus filhos“, “Deus em breve ouvirá as suas orações” e “Meu Filho espera por vocês“.

Quando eles cantaram “Mãe da Esperança“, um dos hinos regionais mais populares, Nossa Senhora sorriu e os acompanhou. Durante o canto “Meu Doce Jesus“, uma cruz vermelha com um corpo apareceu no colo de Maria, cujo sorriso desapareceu e deu lugar ao pesar. Quando os moradores cantaram “Ave Maris Stella“, porém, o crucifixo desapareceu, o sorriso da Senhora voltou e um véu branco a cobriu, encerrando a aparição às 9 horas da noite. A aparição tinha durado mais de três horas. 

domingo, 26 de março de 2017

3ª Pregação da Quaresma 2017: “O Espírito Santo nos introduz no mistério da morte de Cristo”.


O ESPÍRITO SANTO NOS INTRODUZ
NO MISTÉRIO DA MORTE DE CRISTO

1. O Espírito Santo no mistério pascal de Cristo

Nas duas meditações anteriores, tentamos mostrar como o Espírito Santo nos introduz na “plena verdade” sobre a pessoa de Cristo, fazendo-nos conhecê-lo como “Senhor” e como “Deus verdadeiro de Deus verdadeiro”. Nas restantes meditações a nossa atenção, da pessoa, se move para o obrar de Cristo, do ser para o agir. Vamos tentar mostrar como o Espírito Santo ilumina o mistério pascal, e, em primeiro lugar, na presente meditação, o mistério da sua e da nossa morte.

Apenas tornado público o programa destas pregações da Quaresma, em entrevista ao L’Osservatore Romano, foi-me colocada a questão: “Quanto espaço para a atualidade estará em suas meditações?” Eu respondi: Se por “atualidade” entende-se no sentido de referências a situações ou eventos que ocorrem, temo que haja bem pouco de atualidade nas próximas pregações de Quaresma. Mas, na minha opinião, “atual” não é somente “o que está acontecendo” e não é sinônimo de “recente”. As coisas mais “atuais” são aquelas eternas, ou seja, aquelas que tocam as pessoas no âmago mais profundo da própria existência, em todas as épocas e em todas as culturas. É a mesma distinção que existe entre “urgente” e “importante”. Somos sempre tentados a preferir o urgente ao importante, a preferir o “recente” ao “eterno”. É uma tendência que o ritmo acelerado da comunicação e a necessidade de novidade da mídia tornam particularmente aguda hoje.

O que é mais importante e atual para o crente, e, certamente, para cada homem e para cada mulher, do que saber se a vida tem um sentido ou não, se a morte é o fim de tudo, ou, pelo contrário, o início da verdadeira vida? Ora, o mistério pascal de morte e ressurreição de Cristo é a única resposta para estes problemas. A diferença que há entre esta atualidade e aquela midiática da crônica é a mesma que há entre quem passa o tempo olhando para o desenho deixado pela onda na praia (que a onda seguinte apaga!), e quem eleva o olhar para contemplar o mar na sua imensidão.

Com essa consciência meditemos, portanto, no mistério pascal de Cristo, começando pela sua morte de cruz.

A Carta aos Hebreus diz que Cristo “movido pelo Espírito eterno, ofereceu a si mesmo sem mácula a Deus” (Hb 9, 14). “Espírito eterno” é outra maneira de dizer Espírito Santo, como atesta uma variante antiga do texto. Isto significa que, como homem, Jesus recebeu do Espírito Santo, que estava nele, o impulso para oferecer-se em sacrifício ao Pai e a força que o sustentou durante a sua paixão. A liturgia expressa essa mesma convicção quando, na oração antes da comunhão, faz o sacerdote dizer: “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus vivo, pela vontade do Pai e com a obra do Espírito Santo (cooperante Spiritu Sancto) destes vida ao mundo”.

Ocorre para o sacrifício como para a oração de Jesus. Um dia Jesus “exultou no Espírito Santo e disse: Te dou graças, ó Pai, Senhor do Céu e da terra” (Lc 10, 21). Era o Espírito Santo que suscitava nele a oração e era o Espírito Santo que o incentivava a oferecer-se ao Pai. O Espírito Santo que é o dom eterno que o Filho faz de si mesmo ao Pai na eternidade, é também a força que o empurra a fazer-se dom sacrificial ao Pai por nós no tempo.

A relação entre o Espírito Santo e a morte de Jesus é enfatizada, especialmente, no Evangelho de João. “Não havia ainda Espírito – comenta o evangelista sobre a promessa dos rios de água viva – porque Jesus não havia sido ainda glorificado” (Jo 7, 39), ou seja, de acordo com o significado desta palavra em João, não havia sido ainda levantado sobre a cruz. Da cruz Jesus “emite o espírito”, simbolizado pela água e pelo sangue; de fato, escreve em sua Primeira Carta: “Há três que dão testemunho: o Espírito, a água e o sangue” (1 João 5, 7-8).

O Espírito Santo leva Jesus à cruz e da cruz Jesus dá o Espírito Santo. No momento do nascimento e, depois, publicamente, em seu batismo, o Espírito Santo é dado a Jesus; no momento da morte, Jesus dá o Espírito Santo: “Depois de ter recebido o Espírito Santo prometido, ele o derramou, e é isto que vedes e ouvis”, disse Pedro às multidões no dia de Pentecostes (At 2, 33). Os Padres da Igreja gostavam de destacar esta reciprocidade. “O Senhor – escrevia Santo Inácio de Antioquia – recebeu em sua cabeça uma unção perfumada (myron), para emanar sobre a Igreja a incorruptibilidade[1]”.

Neste ponto, devemos trazer à memória a observação de Santo Agostinho sobre a natureza dos mistérios de Cristo. Segundo ele, há uma verdadeira celebração a modo de mistério e não só a modo de aniversário, quando “não só se comemora um acontecimento, mas se faz de tal forma que se dá a compreender o seu significado para nós e tal significado seja acolhido santamente[2]”. E é isso que nós queremos fazer nesta meditação, guiados pelo Espírito Santo: ver o que significa para nós a morte de Cristo, o que ela mudou com relação à nossa morte.