quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Nota da CNBB sobre o sistema carcerário do país


“Lembrai-vos dos presos, como se estivésseis presos com eles, 
e dos que são maltratados, pois também vós tendes um corpo!”(Hb 13,3)

O Conselho Episcopal Pastoral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, reunido em Brasília, nos dias 4 a 6 de fevereiro, vem manifestar repúdio aos graves fatos ocorridos neste início de ano no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em São Luís, no Maranhão, com repercussão mundial. Foram 60 mortes em 2013 e três no último mês de janeiro, algumas com decapitações e esquartejamentos, provocadas pelos próprios presos.

Unimo-nos aos bispos do Maranhão que, em nota, condenaram “o clima de terror e medo vivido na cidade de São Luís”, consequência da violência no Complexo de Pedrinhas. Com eles afirmamos: “A nossa sociedade está se tornando cada vez mais violenta. É nosso parecer que essa violência é resultado de um modelo econômico-social que está sendo construído”.

Esse modelo produz a desigualdade social, uma das maiores causas da violência. Entende-se, assim, que a maior parte da população carcerária seja de pobres, jovens e negros. Combater esta desigualdade é caminho para a segurança a que a população aspira como nos lembra o papa Francisco: “Enquanto não se eliminarem a exclusão e a desigualdade dentro da sociedade e entre os vários povos, será impossível desarraigar a violência” (EG 59).

Não podemos assistir passivamente à violação da dignidade humana como ocorre nos presídios brasileiros e em inúmeras situações de violência que grassa no país. É lamentável que o Estado e a Sociedade só tenham olhos para a situação carcerária quando os presídios são palco de cenas estarrecedoras como as do Maranhão. Nesses casos, soluções emergenciais não enfrentam os problemas nas suas raízes nem levam a reformas estruturais que requer o atual sistema penitenciário.


A falência do nosso sistema prisional é sustentada pela política de encarceramento em massa e comprovada pelas desumanas condições dos presídios, por denúncias de práticas de torturas, por despreparo de agentes penitenciários. Soma-se a isso o fato de que dos mais de 500 mil detentos, cerca de 40% aguardam julgamento da justiça, além dos milhares com penas já vencidas. Como compreender uma situação dessas?

É urgente uma reforma do sistema carcerário que estabeleça metas claras para a solução dos problemas enfrentados pelos presídios, além da criação de um grupo ou programa de monitoramento de implementação destas metas. Levem-se a sério a justiça restaurativa, proposta pela ONU, e a Escola de Perdão e Reconciliação (ESPERE), defendida pela Pastoral Carcerária, como alternativas à política de encarceramento em vigor no país.

Para esse fim devem se unir Executivo, Legislativo e Judiciário, contando sempre com a indispensável participação da sociedade civil.

A Igreja no Brasil tem dado sua contribuição para a afirmação de uma cultura de paz, seja pela realização de três Campanhas da Fraternidade sobre a violência (1983), encarcerados (1997) e segurança pública (2009), seja por meio da atuação da Pastoral Carcerária e de outros grupos de defesa e promoção dos direitos humanos. Fiel à sua missão evangelizadora, ela continua à disposição para colaborar na busca de soluções que estanquem a violência, assegurem a paz e estabeleça a justiça nos presídios e na sociedade.

Que Deus nos ilumine e nos dê sabedoria para juntos trilharmos os caminhos da justiça e da paz!

Brasília, 6 de fevereiro de 2014

Cardeal Raymundo Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida
Presidente da CNBB

Dom José Belisário da Silva
Arcebispo de São Luís
Vice-presidente da CNBB

Dom Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília

Secretário Geral da CNBB

Francisco pede aos jovens a coragem da solidariedade e da sobriedade. E anuncia João Paulo II como Padroeiro das JMJ


MENSAGEM DO SANTO PADRE FRANCISCO
 PARA A XXIX JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE
(Domingo de Ramos, 13 de Abril de 2014)
«Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu» (Mt 5, 3)

Queridos jovens,

Permanece gravado na minha memória o encontro extraordinário que vivemos no Rio de Janeiro, na XXVIII Jornada Mundial da Juventude: uma grande festa da fé e da fraternidade. A boa gente brasileira acolheu-nos de braços escancarados, como a estátua de Cristo Redentor que domina, do alto do Corcovado, o magnífico cenário da praia de Copacabana. Nas margens do mar, Jesus fez ouvir de novo a sua chamada para que cada um de nós se torne seu discípulo missionário, O descubra como o tesouro mais precioso da própria vida e partilhe esta riqueza com os outros, próximos e distantes, até às extremas periferias geográficas e existenciais do nosso tempo.

A próxima etapa da peregrinação intercontinental dos jovens será em Cracóvia, em 2016. Para cadenciar o nosso caminho, gostaria nos próximos três anos de reflectir, juntamente convosco, sobre as Bem-aventuranças que lemos no Evangelho de São Mateus (5, 1-12). Começaremos este ano meditando sobre a primeira: «Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu» (Mt 5, 3); para 2015, proponho: «Felizes os puros de coração, porque verão a Deus» (Mt 5, 8); e finalmente, em 2016, o tema será: «Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia» (Mt 5, 7).


1.           A força revolucionária das Bem-aventuranças

É-nos sempre muito útil ler e meditar as Bem-aventuranças! Jesus proclamou-as no seu primeiro grande sermão, feito na margem do lago da Galileia. Havia uma multidão imensa e Ele, para ensinar os seus discípulos, subiu a um monte; por isso é chamado o «sermão da montanha». Na Bíblia, o monte é visto como lugar onde Deus Se revela; pregando sobre o monte, Jesus apresenta-Se como mestre divino, como novo Moisés. E que prega Ele? Jesus prega o caminho da vida; aquele caminho que Ele mesmo percorre, ou melhor, que é Ele mesmo, e propõe-no como caminho da verdadeira felicidade. Em toda a sua vida, desde o nascimento na gruta de Belém até à morte na cruz e à ressurreição, Jesus encarnou as Bem-aventuranças. Todas as promessas do Reino de Deus se cumpriram n’Ele.

Ao proclamar as Bem-aventuranças, Jesus convida-nos a segui-Lo, a percorrer com Ele o caminho do amor, o único que conduz à vida eterna. Não é uma estrada fácil, mas o Senhor assegura-nos a sua graça e nunca nos deixa sozinhos. Na nossa vida, há pobreza, aflições, humilhações, luta pela justiça, esforço da conversão quotidiana, combates para viver a vocação à santidade, perseguições e muitos outros desafios. Mas, se abrirmos a porta a Jesus, se deixarmos que Ele esteja dentro da nossa história, se partilharmos com Ele as alegrias e os sofrimentos, experimentaremos uma paz e uma alegria que só Deus, amor infinito, pode dar.

As Bem-aventuranças de Jesus são portadoras duma novidade revolucionária, dum modelo de felicidade oposto àquele que habitualmente é transmitido pelos mass media, pelo pensamento dominante. Para a mentalidade do mundo, é um escândalo que Deus tenha vindo para Se fazer um de nós, que tenha morrido numa cruz. Na lógica deste mundo, aqueles que Jesus proclama felizes são considerados «perdedores», fracos. Ao invés, exalta-se o sucesso a todo o custo, o bem-estar, a arrogância do poder, a afirmação própria em detrimento dos outros.

Queridos jovens, Jesus interpela-nos para que respondamos à sua proposta de vida, para que decidamos qual estrada queremos seguir a fim de chegar à verdadeira alegria. Trata-se dum grande desafio de fé. Jesus não teve medo de perguntar aos seus discípulos se verdadeiramente queriam segui-Lo ou preferiam ir por outros caminhos (cf.Jo 6, 67). E Simão, denominado Pedro, teve a coragem de responder: «A quem iremos nós, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna» (Jo 6, 68). Se souberdes, vós também, dizer «sim» a Jesus, a vossa vida jovem encher-se-á de significado, e assim será fecunda.

2.           A coragem da felicidade

O termo grego usado no Evangelho é makarioi, «bem-aventurados». E «bem-aventurados» quer dizer felizes. Mas dizei-me: vós aspirais deveras à felicidade? Num tempo em que se é atraído por tantas aparências de felicidade, corre-se o risco de contentar-se com pouco, com uma ideia «pequena» da vida. Vós, pelo contrário, aspirai a coisas grandes! Ampliai os vossos corações! Como dizia o Beato Pierjorge Frassati, «viver sem uma fé, sem um património a defender, sem sustentar numa luta contínua a verdade, não é viver, mas ir vivendo. Não devemos jamais ir vivendo, mas viver» (Carta a I. Bonini, 27 de Fevereiro de 1925). Em 20 de Maio de 1990, no dia da sua beatificação, João Paulo II chamou-lhe «homem das Bem-aventuranças» (Homilia na Santa Missa: AAS 82 [1990], 1518).

Se verdadeiramente fizerdes emergir as aspirações mais profundas do vosso coração, dar-vos-eis conta de que, em vós, há um desejo inextinguível de felicidade, e isto permitir-vos-á desmascarar e rejeitar as numerosas ofertas «a baixo preço» que encontrais ao vosso redor. Quando procuramos o sucesso, o prazer, a riqueza de modo egoísta e idolatrando-os, podemos experimentar também momentos de inebriamento, uma falsa sensação de satisfação; mas, no fim de contas, tornamo-nos escravos, nunca estamos satisfeitos, sentimo-nos impelidos a buscar sempre mais. É muito triste ver uma juventude «saciada», mas fraca.

Escrevendo aos jovens, São João dizia: «Vós sois fortes, a palavra de Deus permanece em vós e vós vencestes o Maligno» (1 Jo 2, 14). Os jovens que escolhem Cristo são fortes, nutrem-se da sua Palavra e não se «empanturram» com outras coisas. Tende a coragem de ir contra a corrente. Tende a coragem da verdadeira felicidade! Dizei não à cultura do provisório, da superficialidade e do descartável, que não vos considera capazes de assumir responsabilidades e enfrentar os grandes desafios da vida.

3.           Felizes os pobres em espírito…

A primeira Bem-aventurança, tema da próxima Jornada Mundial da Juventude, declara felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu. Num tempo em que muitas pessoas penam por causa da crise económica, pode parecer inoportuno acostar pobreza e felicidade. Em que sentido podemos conceber a pobreza como uma bênção?

Em primeiro lugar, procuremos compreender o que significa «pobres em espírito». Quando o Filho de Deus Se fez homem, escolheu um caminho de pobreza, de despojamento. Como diz São Paulo, na Carta aos Filipenses: «Tende entre vós os mesmos sentimentos que estão em Cristo Jesus: Ele, que é de condição divina, não considerou como uma usurpação ser igual a Deus; no entanto, esvaziou-Se a Si mesmo, tomando a condição de servo e tornando-Se semelhante aos homens» (2, 5-7). Jesus é Deus que Se despoja da sua glória. Vemos aqui a escolha da pobreza feita por Deus: sendo rico, fez-Se pobre para nos enriquecer com a sua pobreza (cf. 2 Cor 8, 9). É o mistério que contemplamos no presépio, vendo o Filho de Deus numa manjedoura; e mais tarde na cruz, onde o despojamento chega ao seu ápice.

O adjectivo grego ptochós (pobre) não tem um significado apenas material, mas quer dizer «mendigo». Há que o ligar com o conceito hebraico de anawim (os «pobres de Iahweh»), que evoca humildade, consciência dos próprios limites, da própria condição existencial de pobreza. Os anawim confiam no Senhor, sabem que dependem d’Ele.

Como justamente soube ver Santa Teresa do Menino Jesus, Cristo na sua Encarnação apresenta-Se como um mendigo, um necessitado em busca de amor. O Catecismo da Igreja Católica fala do homem como dum «mendigo de Deus» (n. 2559) e diz-nos que a oração é o encontro da sede de Deus com a nossa (n. 2560).

São Francisco de Assis compreendeu muito bem o segredo da Bem-aventurança dos pobres em espírito. De facto, quando Jesus lhe falou na pessoa do leproso e no Crucifixo, ele reconheceu a grandeza de Deus e a própria condição de humildade. Na sua oração, o Poverello passava horas e horas a perguntar ao Senhor: «Quem és Tu? Quem sou eu?» Despojou-se duma vida abastada e leviana, para desposar a «Senhora Pobreza», a fim de imitar Jesus e seguir o Evangelho à letra. Francisco viveu a imitação de Cristo pobre e o amor pelos pobres de modo indivisível, como as duas faces duma mesma moeda.

Posto isto, poder-me-íeis perguntar: Mas, em concreto, como é possível fazer com que esta pobreza em espírito se transforme em estilo de vida, incida concretamente na nossa existência? Respondo-vos em três pontos.

Antes de mais nada, procurai ser livres em relação às coisas. O Senhor chama-nos a um estilo de vida evangélico caracterizado pela sobriedade, chama-nos a não ceder à cultura do consumo. Trata-se de buscar a essencialidade, aprender a despojarmo-nos de tantas coisas supérfluas e inúteis que nos sufocam. Desprendamo-nos da ambição de possuir, do dinheiro idolatrado e depois esbanjado. No primeiro lugar, coloquemos Jesus. Ele pode libertar-nos das idolatrias que nos tornam escravos. Confiai em Deus, queridos jovens! Ele conhece-nos, ama-nos e nunca se esquece de nós. Como provê aos lírios do campo (cf. Mt 6, 28), também não deixará que nos falte nada! Mesmo para superar a crise económica, é preciso estar prontos a mudar o estilo de vida, a evitar tantos desperdícios. Como é necessária a coragem da felicidade, também é precisa a coragem da sobriedade.

Em segundo lugar, para viver esta Bem-aventurança todos necessitamos de conversão em relação aos pobres. Devemos cuidar deles, ser sensíveis às suas carências espirituais e materiais. A vós, jovens, confio de modo particular a tarefa de colocar a solidariedade no centro da cultura humana. Perante antigas e novas formas de pobreza – o desemprego, a emigração, muitas dependências dos mais variados tipos –, temos o dever de permanecer vigilantes e conscientes, vencendo a tentação da indiferença. Pensemos também naqueles que não se sentem amados, não olham com esperança o futuro, renunciam a comprometer-se na vida porque se sentem desanimados, desiludidos, temerosos. Devemos aprender a estar com os pobres. Não nos limitemos a pronunciar belas palavras sobre os pobres! Mas encontremo-los, fixemo-los olhos nos olhos, ouçamo-los. Para nós, os pobres são uma oportunidade concreta de encontrar o próprio Cristo, de tocar a sua carne sofredora.

Mas – e chegamos ao terceiro ponto – os pobres não são pessoas a quem podemos apenas dar qualquer coisa. Elestêm tanto para nos oferecer, para nos ensinar. Muito temos nós a aprender da sabedoria dos pobres! Pensai que um Santo do século XVIII, Bento José Labre – dormia pelas ruas de Roma e vivia das esmolas da gente –, tornara-se conselheiro espiritual de muitas pessoas, incluindo nobres e prelados. De certo modo, os pobres são uma espécie de mestres para nós. Ensinam-nos que uma pessoa não vale por aquilo que possui, pelo montante que tem na conta bancária. Um pobre, uma pessoa sem bens materiais, conserva sempre a sua dignidade. Os pobres podem ensinar-nos muito também sobre a humildade e a confiança em Deus. Na parábola do fariseu e do publicano (cf. Lc 18, 9-14), Jesus propõe este último como modelo, porque é humilde e se reconhece pecador. E a própria viúva, que lança duas moedinhas no tesouro do templo, é exemplo da generosidade de quem, mesmo tendo pouco ou nada, dá tudo (Lc 21, 1-4).

4.           … porque deles é o Reino do Céu

Tema central no Evangelho de Jesus é o Reino de Deus. Jesus é o Reino de Deus em pessoa, é o Emanuel, Deus connosco. E é no coração do homem que se estabelece e cresce o Reino, o domínio de Deus. O Reino é, simultaneamente, dom e promessa. Já nos foi dado em Jesus, mas deve ainda realizar-se em plenitude. Por isso rezamos ao Pai cada dia: «Venha a nós o vosso Reino».

Há uma ligação profunda entre pobreza e evangelização, entre o tema da última Jornada Mundial da Juventude – «Ide e fazei discípulos entre todas as nações» (Mt 28, 19) – e o tema deste ano: «Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu» (Mt 5, 3). O Senhor quer uma Igreja pobre, que evangelize os pobres. Jesus, quando enviou os Doze em missão, disse-lhes: «Não possuais ouro, nem prata, nem cobre, em vossos cintos; nem alforge para o caminho, nem duas túnicas, nem sandálias, nem cajado; pois o trabalhador merece o seu sustento» (Mt 10, 9-10). A pobreza evangélica é condição fundamental para que o Reino de Deus se estenda. As alegrias mais belas e espontâneas que vi ao longo da minha vida eram de pessoas pobres que tinham pouco a que se agarrar. A evangelização, no nosso tempo, só será possível por contágio de alegria.

Como vimos, a Bem-aventurança dos pobres em espírito orienta a nossa relação com Deus, com os bens materiais e com os pobres. À vista do exemplo e das palavras de Jesus, damo-nos conta da grande necessidade que temos de conversão, de fazer com que a lógica do ser mais prevaleça sobre a lógica do ter mais. Os Santos são quem mais nos pode ajudar a compreender o significado profundo das Bem-aventuranças. Neste sentido, a canonização de João Paulo II , no segundo domingo de Páscoa, é um acontecimento que enche o nosso coração de alegria. Ele será o grande patrono das Jornadas Mundiais da Juventude, de que foi o iniciador e impulsionador. E, na comunhão dos Santos, continuará a ser, para todos vós, um pai e um amigo.

No próximo mês de Abril, tem lugar também o trigésimo aniversário da entrega aos jovens da Cruz do Jubileu da Redenção. Foi precisamente a partir daquele acto simbólico de João Paulo II que principiou a grande peregrinação juvenil que, desde então, continua a atravessar os cinco continentes. Muitos recordam as palavras com que, no domingo de Páscoa do ano 1984, o Papa acompanhou o seu gesto: «Caríssimos jovens, no termo do Ano Santo, confio-vos o próprio sinal deste Ano Jubilar: a Cruz de Cristo! Levai-a ao mundo como sinal do amor do Senhor Jesus pela humanidade, e anunciai a todos que só em Cristo morto e ressuscitado há salvação e redenção».

Queridos jovens, o Magnificat, o cântico de Maria, pobre em espírito, é também o canto de quem vive as Bem-aventuranças. A alegria do Evangelho brota dum coração pobre, que sabe exultar e maravilhar-se com as obras de Deus, como o coração da Virgem, que todas as gerações chamam «bem-aventurada» (cf. Lc 1, 48). Que Ela, a mãe dos pobres e a estrela da nova evangelização, nos ajude a viver o Evangelho, a encarnar as Bem-aventuranças na nossa vida, a ter a coragem da felicidade.

Vaticano, 21 de Janeiro – Memória de Santa Inês, virgem e mártir - de 2014.

FRANCISCO
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Fonte: Santa Sé

Pedofilia: ONU concede credencial ao Instituto Kinsey


Um grupo acadêmico cuja pesquisa foi obtida de pedófilos e lançou a revolução sexual nos EUA recebeu credenciamento da ONU.

O infame Relatório Kinsey foi a base para afrouxar atitudes e penas para crimes sexuais contra mulheres e crianças, e para promover abrangente educação sexual que ensina crianças pequenas acerca de atos sexuais.

Nesta semana o Instituto Kinsey foi diante do comitê da ONU que credencia grupos para participar da ONU no final de janeiro. Isso chega num momento em que grupos pró-aborto estão fazendo campanhas para que abrangente educação sexual seja uma parte importante da agenda de políticas e trabalho de desenvolvimento da ONU.

Alfred Kinsey afirmava que crianças são sexuais desde a infância. Suas fontes principais eram homens adultos que registravam detalhes acerca de seus contatos sexuais com crianças para seu livro “Sexual Behavior in the Human Male” (Conduta Sexual no Macho Humano).


Certo homem forneceu a Kinsey detalhes de seu abuso de 1917 a 1948, mostrados na Tabela 34 do livro de Kinsey. Registra o número de “orgasmos” em certos períodos de tempo de crianças de 5 meses a 14 anos.

Orgasmo é definido como “convulsões violentas,” “gemidos, ou choros mais violentos, às vezes com abundância de lágrimas (principalmente entre crianças mais novas),” “dor excruciante,” “lutará para se afastar do parceiro e poderá fazer tentativas violentas de evitar o clímax, embora obtenha claro prazer da situação.”

Outra fonte de Kinsey começando em 1943 — durante a 2ª Guerra Mundial — era um oficial nazista alemão, Fritz von Balluseck, que em 1957 foi condenado por abuso sexual de crianças por mais de 30 anos. O juiz teria dito: “Tive a impressão de que você chegou às crianças a fim de impressionar Kinsey e lhe entregar material.”

Kinsey afirmou que 95 por cento dos homens cometiam crimes sexuais, de modo que a sociedade deveria redefinir o que era “normal” e reduzir as penas de crimes sexuais. Ele testificava em favor de estupradores de crianças e seu trabalho ajudou a mudar as leis, tornando-as tolerantes para crimes sexuais.

“É claro, sabíamos quando entrevistávamos os pedófilos que eles continuariam sua atividade, mas não fazíamos nada sobre isso,” Paul Gebhard, sócio de Kinsey, disse ao jornal. “Não teríamos nenhuma pesquisa se os entregássemos [às autoridades].”

Gebhard, que se tornou diretor do Instituto Kinsey, mais tarde disse: “Era ilegal e sabíamos que era ilegal e é por isso que muita gente está furiosa.”

Kinseu assegurava a “seus informantes que eles ficariam no anonimato” e evitava “todo juízo de valor em relação à conduta deles,” declarou John Bancroft, diretor do Instituto Kinsey.

Certa vítima de um estuprador de crianças ligado a Kinsey se apresentou. Quando “Esther White” (um pseudônimo) tinha 9 anos, ela encontrou uma folha de papel “e meu pai estava selecionando coisas que ele estava fazendo comigo.” Depois que Kinsey entrevistou Esther, ele entregou ao avô dela um cheque de cerca de 6.000 dólares.

Em 1964, o Instituto Kinsey lançou SIECUS para promover a ideologia de Kinsey por meio da educação sexual. SIECUS já tem reconhecimento da ONU e se tornou muito influente ali. A Educação Sexual Abrangente de SIECUS ensina crianças de 5 anos acerca da masturbação e do envolvimento em conduta sexual com outros para mostrar carinho.

O Instituto Kinsey fornece bolsas de estudo honrando John Money, um pioneiro da “identidade de gênero” e responsável pela operação de mudança de sexo de um bebê contada no livro “The Boy Who Was Raised As a Girl” (O Menino que Foi Criado como Menina). O menino acabou cometendo suicídio. A clínica de identidade de gênero de Money no Hospital Johns Hopkins foi fechada por seu sucessor.

A organização homossexual ILGA perdeu seu credenciamento na ONU em 1993 devido às suas ligações com grupos que promovem a pedofilia.

Um documento vazado pelo WikiLeaks intitulado “Certificação da Pedofilia” mostra que os EUA conduziram uma “análise detalhada” em 2010 e agências da ONU certificaram que ninguém havia credenciado nenhuma organização que promove ou desculpa a pedofilia.
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Tradução: Julio Severo

Fonte: Friday Fax
Disponível em: Mídia sem Máscara

Pedofilia no clero


As recentes investidas da ONU contra a Santa Sé devem ser refletidas com muito cuidado. É claro que houve casos de abusos sexuais contra menores praticados por padres. Conhecemos o desastre na Arquidiocese de Boston, por exemplo. No entanto, sabemos que a Igreja tomou providências drásticas para pôr um fim à pedofilia. Entre as medidas levadas a cabo, destaca-se, ainda no pontificado de Bento XVI, o alargamento da prescrição penal canônica, de 10 para 20 anos.

Os crimes de pedofilia, na verdade, são punidos, com o rigor da lei, pelos diversos Estados ou países onde residem os clérigos pedófilos. Cada nação faz atuar seu direito penal próprio. A Santa Sé, ou o Vaticano, não tem como impedir que um presbítero seja processado. Demais, Bento XVI determinou que nenhum bispo deixasse de denunciar um pedófilo às autoridades civis. Outro dado importante a ser considerado, já tantas vezes repisado, é que a pedofilia, desafortunadamente, infecciona outros setores da sociedade, como a própria família desajustada, e não só o ambiente clerical.

O que está por trás desse súbito ataque da ONU? A resposta se encontra no nuperpromulgado relatório da instituição que, além da pedofilia, alude à posição da Igreja contra os denominados casamentos homossexuais e o aborto. Graças à sua soberania, a Igreja, através do sucessor de são Pedro, é a única sociedade no mundo que pode anunciar intrepidamente o evangelho de Jesus Cristo, sem respeitos humanos, conclamando os homens à conversão. Neste sentido, a Igreja ensina que único caminho para a vivência sadia do sexo é a heterossexualidade, no matrimônio. Por outro lado, a Igreja combate o aborto, pois se trata de um dos delitos mais covardes e nefandos que se pode perpetrar.


No fundo, certos setores da ONU desferem contra a Igreja um golpe visivelmente ideológico. Por este motivo, sob o pretexto da pedofilia, tremulam, outrossim, as bandeiras do homossexualismo e do aborto. A soberania da Cidade-Estado do Vaticano constitui um ingrediente imprescindível a favor da vida e da família. Imaginem se o papa fosse um simples súdito de algum país! Ele seria ameaçado o tempo inteiro; ele estaria cerceado no múnus de confirmar a fé dos cristãos e pregar o evangelho.

A pedofilia será cabalmente lancetada, a partir do instante em que os valores cristãos, como o matrimônio, voltarem a vicejar na comunidade. O denominado iluminismo pô-los abaixo, destronou-os, sugando da humanidade a seiva do vigor evangélico.

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Edson Sampel, doutor em Direito Canônico, membro da União dos Juristas Católicos de São Paulo (Ujucasp) e da Academia Marial de Aparecida (AMA).
(06 de Fevereiro de 2014) © Innovative Media Inc.
Fonte: Zenit

Comunicado do Capítulo Geral Extraordinário dos Legionários de Cristo sobre o caminho de renovação que estão percorrendo


1.            O Capítulo Geral Extraordinário, reunido em Roma sob a presidência do Delegado Pontifício, Card. Velasio De Paolis, emite este comunicado sobre o caminho de renovação que estamos percorrendo. Dirigimo-nos a todas as pessoas que seguiram com atenção os recentes acontecimentos em nossa congregação religiosa e especialmente aos nossos irmãos legionários de Cristo, leigos consagrados, as consagradas e aos demais membros e amigos do Movimento Regnum Christi. 

2. Esta é a primeira reunião do Capítulo Geral desde 2005. Sendo o Capítulo a mais alta autoridade interna que representa toda a congregação, vimos a necessidade de pronunciar-nos sobre os acontecimentos significativos dos últimos nove anos. Com isso, queremos definir de maneira conclusiva a postura da nossa congregação sobre os comportamentos do Pe. Marcial Maciel e seu papel de fundador em continuidade com as disposições da Santa Sé e com a anterior declaração de todos os superiores maiores da Legião de Cristo1. Além disso, oferecemos algumas reflexões iniciais sobre os pontos mais importantes do processo de renovação da nossa congregação. Durante as próximas semanas, nós, padres capitulares, continuaremos a análise dos diversos temas que devemos atender e daremos orientações ao novo governo da Legião para o caminho futuro. 

3. Ao ponderar a gravidade do mal e o escândalo causado, nos vemos sob o olhar misericordioso de Deus que com a sua providência continua guiando nossos passos. Unindo-nos a Jesus Cristo, esperamos poder redimir nossa dolorosa história e vencer com o bem as consequências do mal. Só assim podemos encontrar sentido evangélico aos acontecimentos, e construir nosso futuro sobre os sólidos fundamentos da confiança em Deus, da fidelidade à Igreja e à verdade. 

4. Desta perspectiva consideramos os comportamentos gravíssimos e objetivamente imorais do Pe. Maciel que mereceram as sanções que no seu momento a Congregação para a Doutrina da Fé justamente lhe impôs2. O nosso Fundador faleceu em 2008 e suplicamos para ele a misericórdia de Deus. Ao mesmo tempo queremos expressar o nosso profundo pesar pelo abuso de seminaristas menores de idade, os atos imorais com homens e mulheres adultos, o uso arbitrário da sua autoridade e bens, consumo desmedido de medicamentos aditivos e o facto de apresentar escritos de terceiros como próprios. É incompreensível a incoerência de ter-se continuado a apresentar durante décadas como sacerdote e testemunha de fé enquanto ocultava essas condutas imorais. Reprovamos tudo isso firmemente. Dá-nos muita pena que muitas vítimas e pessoas afetadas esperaram em vão uma petição de perdão e reconciliação por parte do Pe. Maciel e hoje queremos fazê-la nós mesmos, expressando a nossa solidariedade a todas elas. 


5. Os padres capitulares escutamos como os superiores maiores da congregação foram conhecendo esses aspectos escondidos da vida do nosso fundador, como tentaram discernir a resposta que deveriam dar, tendo em conta as exigências éticas e morais, e como realizaram o processo de comunicação. Junto a eles, hoje reconhecemos com tristeza a incapacidade inicial de acreditar nos testemunhos das pessoas que foram vítimas do Pe. Maciel, o longo silêncio institucional e, mais adiante, as indecisões e erros de juízo na hora de informar os membros da congregação e as outras pessoas. Pedimos perdão por essas deficiências que aumentaram a dor e o desconcerto de muitos. 

6. Devido a esses fatos e situações, nossa congregação religiosa poderia ter desaparecido se não nos tivesse acompanhado a misericórdia de Deus e o amparo maternal da Igreja, expressada através das decididas intervenções de Sua Santidade o Papa Bento XVI. O Papa considerou que a Legião de Cristo, em termos gerais, era uma comunidade sã, mas que deveria fazer correções3. A ajuda da Santa Sé foi imprescindível para descobrir como a personalidade e o modo de atuar do Pe. Maciel estava afetando a nossa congregação religiosa. De fato, a visita apostólica – realizada por mandato do Papa entre 2009 e 2010 – comprovou que “a conduta do Pe. Marcial Maciel, causou serias consequências na vida e estrutura da Legião, até o ponto de ser necessário um caminho de profunda revisão”4. Os visitadores destacaram sobre tudo três campos: a redefinição do carisma, o exercício da autoridade e a adequada formação5. O Papa quis “acompanhar, sustentar e orientar esse caminho” por meio de um delegado, “confiando-lhe o cargo de governar no meu [seu] nome tal instituto religioso durante o tempo que fosse necessário para completar o caminho de renovação e conduzi-lo à celebração de um Capítulo Geral Extraordinário que terá como principal fim realizar a revisão das Constituições”6. 

7. Os padres capitulares escutamos os informes do Delegado Pontifício e do nosso pró-Diretor Geral sobre o trabalho realizado nesses três anos e meio. Queremos compartilhar sinteticamente a análise de alguns aspectos relativos ao que a visita apostólica detectou e recomendou. Sabemos que este é o início do caminho e que ainda há muito por fazer. Estamos comprometidos a continuar com humildade esse processo de renovação e conversão. 

a. No campo da revisão do nosso carisma7, o delegado pontifício nos guiou em primeiro lugar a uma compreensão adequada do papel do Pe. Maciel e sua relação com a Legião. A congregação esclareceu no passado que não pode propor o Pe. Maciel como modelo, nem seus escritos pessoais como guia de vida espiritual8. Reconhecemos a sua condição de fundador. Contudo, uma congregação religiosa e suas características essenciais não tem origem na pessoa do fundador; são um dom de Deus que a Igreja acolhe e aprova e que depois vive no instituto e nos seus membros. 
Uma compreensão inadequada do conceito de Fundador, a exaltação excessiva e a visão acrítica da pessoa do Pe. Maciel, nos levou muitas vezes a dar um valor universal às suas indicações e a basear-nos exageradamente nelas. Por isso, na revisão das atuais constituições, uma das tarefas principais foi separar o que realmente expressa o património carismático da nossa Congregação de outros elementos acidentais. Além disso, asseguramos a conformidade de todo o nosso direito próprio com as normais universais da Igreja. Os três anos de processo de revisão foram semelhantes a um prolongado exame de consciência comunitário para descobrir e purificar o que em nosso comportamento pessoal e institucional, não era próprio da vida religiosa. Constatamos algumas tendências que ofuscaram a compreensão do nosso carisma, entre outras coisas, a falta de uma maior inserção na Igreja local e uma insistência desmedida no próprio esforço, na eficácia humana, no prestígio externo e no comprimento minucioso das normas. Tudo isso exige não só uma mudança de textos legislativos, senão uma conversão contínua da mente e coração. 

Nestes anos chegamos a uma compreensão mais adequada da nossa inserção no Movimento Regnum Christi, a valorizar e a respeitar a vocação e a autonomia dos outros membros, especialmente dos homens e mulheres consagrados. Junto com eles começamos uma reflexão conjunta sobre o papel de cada ramo do Movimento, sobre o nosso carisma comum e sobre o modo de levar adiante o nosso apostolado. Os numerosos leigos do Regnum Christi são uma parte belíssima de nossa realidade eclesial e queremos fomentar ainda mais a comunhão e sustenta-la através do nosso ministério sacerdotal. 

b. No exercício da autoridade, o acompanhamento do delegado pontifício foi uma lição contínua e eficaz para colocar em prática tudo o que a Igreja indica sobre o governo dos institutos de vida religiosa. Buscamos introduzir uma clara separação entre o âmbito da consciência (direção espiritual e confissão), o fórum interno e o fórum externo (a guia do superior e a disciplina religiosa) para garantir melhor a liberdade e a intimidade de cada religioso. Com uma maior rotação de pessoas que ocupam diferentes postos de governo e com o acompanhamento no exercício da sua autoridade por parte de um conselho que se reúne periodicamente e analisa os assuntos mais importantes, tratamos de prevenir possíveis arbitrariedades e abusos. O Delegado Pontifício e alguns dos seus conselheiros pessoais participaram quase semanalmente nas reuniões do conselho geral e contribuíram com seus conhecimentos e experiência. Também se eliminou a fragmentação da autoridade, dada pela multiplicação exagerada de assistentes e auxiliares dos superiores e as competências que tinham designadas. Além disso, se instituíram consultas formais aos membros da congregação antes de realizar as nomeações de superiores e, frente a uma mudança de comunidade ou missão apostólica, se procura envolver o interessado para discernir melhor a vontade de Deus. Finalmente, graças à supressão de um dos votos particulares e às numerosas reuniões comunitárias para a revisão do texto constitucional, estamos aprendendo como compartilhar e debater livremente com os nossos irmãos, reflexões e sugestões sobre qualquer tema que abarque a vida e a missão da congregação. 

c. Na formação dos nossos religiosos, se verificou sobretudo a necessidade de melhorar o acompanhamento vocacional para que os noviços e religiosos amadureçam sua decisão pessoal diante de Deus antes de emitir sua profissão religiosa. Os informes mostraram que nesses últimos quatro anos não poucos sacerdotes e um grande número dos nossos irmãos deixaram a congregação. Em alguns casos, a causa foi o impacto negativo relacionado com as notícias sobre o fundador e o modo informa-las, mas também comprovamos carências no programa formativo e no nosso estilo de vida. Entre outras, devemos fomentar uma vivência mais profunda dos conselhos evangélicos, e o discernimento espiritual e a vida fraterna. A formação e a vida religiosa continuam sendo objeto de reflexão desse Capítulo e será uma das prioridades do próximo governo geral. 

8. Nos primeiros dias do Capítulo escutamos também o informe das duas comissões que o delegado pontifício instituiu: 

a. A “comissão de aproximação” atendeu as pessoas que solicitaram alguma ação por parte da Legião de Cristo por causa dos fatos que direta ou indiretamente estão relacionados com o Pe. Marcial Maciel. O presidente da comissão, Mons. Mario Marchesi, informou-nos sobre os 12 casos que se apresentaram. A comissão terminou o seu trabalho e nenhum caso da sua competência fica aberto. A congregação atuou em cada caso segundo a proposta da comissão. A escuta e a ajuda material às vítimas contribuiu – no humanamente possível – a aliviar suas feriadas e a fomentar a reconciliação. 

Agradecemos a todos os legionários pelo seu esforço de se aproximar a outras pessoas também afetadas e por se encontrar pessoalmente com elas. Pedimos ao novo governo que mantenham esse compromisso de continuar procurando a reconciliação. 

b. A “Comissão para o estudo e revisão da situação económica da Congregação dos Legionários de Cristo” tinha a finalidade de analisar a gestão económica e a situação financeira da congregação. O informe apresentado ao Capítulo por Mons. Mario Marchesi, membro da comissão, destaca que não se encontrou apropriação indevida de dinheiro ou outras irregularidades nos exercícios fiscais revisados. 

O primeiro aspecto urgente a atender nesse campo é a redução da dívida bancária, resultada de vários fatores: a expansão muito rápida das obras da congregação, a crise imobiliária mundial e a diminuição de doações. Em alguns países a dívida equivale a uma soma elevada, mas continua sendo manejável com as entradas e bens da congregação. 

Por outro lado, a comissão destacou a necessidade – e isso será tarefa do próximo governo geral – de ajustar e simplificar a estrutura administrativa para fomentar a responsabilidade própria dos superiores territoriais e locais, ambos os ramos consagrados do Regnum Christi e os diretores das obras de apostolado. 

O Capítulo Geral, como autoridade suprema da congregação, também teve à sua disposição uma ampla e detalhada documentação preparada pelo administrador geral e o informe das auditorias internas e externas das operações financeiras da congregação no mundo todo. 

9. As considerações de todos esses temas nos levaram a concluir que o caminho de uma “renovação autêntica e profunda”, confirmada pelo Papa Francisco9, progrediu, mas ainda não terminou. Os acontecimentos desses anos marcarão a identidade e a vida da nossa congregação. À luz da providência divina, podemos acolhê-los, afrontá-los e transformá-los em um elo para uma nova etapa da nossa história. Nas próximas semanas das reuniões capitulares concluiremos a revisão das nossas constituições para submetê-las à aprovação da Santa Sé e estabeleceremos prioridades e orientações para seguir com uma esperança renovada o caminho que a Igreja nos marcou, sob o cuidado atento das autoridades competentes. 

10. Concluímos essa mensagem com um agradecimento a Deus pelo seu amor misericordioso, à Igreja que nos guiou na pessoa do Sucessor de Pedro, à Sua Eminência o Cardeal Velasio De Paolis e aos seus quatro conselheiros pessoais, Sua Excelência Dom Brian Farrell LC, Pe. Gianfranco Ghirlanda SJ, Mons. Mario Marchesi e o Pe. Agostino Montan CSI, sua presença firme e respeitosa entre nós. 

Ao mesmo tempo agradecemos a todos os Legionários de Cristo por seu testemunho de fé, de entrega e de caridade fraterna que nos une apesar das nossas diferenças. De modo especial, pensamos naqueles sacerdotes mais velhos que durante tantos anos nos ofereceram um exemplo de autenticidade e de entrega à missão. Não podemos “perder de vista que sua [nossa] vocação, nascida do chamado de Cristo e animada pelo ideal de dar testemunho do seu amor no mundo, é um autêntico dom de Deus, uma riqueza para a Igreja e o fundamento indestrutível sobre o qual construir seu futuro pessoal e da Legião”10. 

Finalmente agradecemos aos membros do Regnum Christi e a tantas pessoas que nos acompanharam durante esses anos com sua oração e caridade. 

A todos aqueles nossos irmãos, religiosos e sacerdotes, que durante este período abandonaram a congregação, queremos expressar nosso pesar por já não tê-los entre nós. Pedimos-lhes sinceramente desculpa se não os escutamos e acompanhamos evangelicamente, e gostaríamos manter a amizade e o diálogo fraterno. 

Queremos pedir perdão e reafirmar nosso esforço de reconciliação com todos os que de um modo ou de outro foram feridos pelos tristes eventos desses anos e por nossas deficiências. 

Maria, Nossa Senhora das Dores, foi testemunha do poder redentor de Cristo que vence o mal e o pecado. Confiamos o nosso futuro a Ela, nossa Mãe, com muita esperança. 

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1 SUPERIORES MAIORES DA LEGIÃO DE CRISTO, Comunicado sobre as presentes circunstâncias da Legião de Cristo e do Movimento Regnum Christi, 25 de março de 2010. 
2 SALA DE IMPRESSA DA SANTA SÉ, Comunicado 19 de maio de 2006. 
3 CF. BENTO XVI, Luz del Mundo, Barcelona, 2010, pag. 51 (Edição espanhola). 
4 SALA DE IMPRESSA DA SANTA SÉ, Comunicado 01 de maio de 2010. 
5 Cf. Ibid. 
6 BENTO XVI, Carta de nomeação do Delegado Pontifício, 16 de Junho de 2010. 
7 Cf. Ibid. 
8 CF. SUPERIORES MAIORES DA LEGIÃO DE CRISTO, Comunicado sobre as presentes circunstâncias da Legião de Cristo e do Movimento Regnum Christi, 25 de março de 2010 e DIRETOR GERAL DA LEGIÃO DE CRISTO, decreto sobre critérios e disposições relacionados com a pessoa do Pe. Marcial Maciel, L.C., 06 de dezembro de 2010. 
9 FRANCISCO, Carta ao Cardeal Velasio De Paolis, 19 de junho de 2013. 
10 Exortação do Papa Bento XVI, cf. SALA DE IMPRENSA DA SANTA SÉ, Comunicado de 01 de maio de 2010. 

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(Este texto foi aprovado na reunião plenária do Capítulo Geral do dia 20 de janeiro de 2014. Tradução do original espanhol).
Fonte: Radio Vaticano

Um novo “crime” está prestes a ser inventado: a “abortofobia”

França condena um cidadão de 84 anos de idade
por dar um par de sapatinhos de bebê a uma mulher grávida

O enésimo paradoxo do nosso tempo é o crime de "abortofobia", um conceito simplesmente surreal que viria a significar o ato de opor-se ao aborto, mesmo que seja apenas uma oposição intelectual em vez de física.
 
Numa época em que grassam "fobias" de todo tipo imaginável, a fobia que tem como objeto o aborto é particularmente assombrosa. O conceito de “fobia” passou a ser usado,de modo generalizante, para indicar a atitude negativa e a injusta discriminação de pessoas ou de situações, identificadas pela palavra que se combina com o termo “fobia”: pense na “cristianofobia”, já presente em muitos países, cujo alvo (de ataques físicos, assédio moral e marginalização)são os cristãos; ou na “homofobia”, que é a violenta aversão às pessoas homossexuais.No caso do aborto, porém, a situação “denunciada”como se fosse preconceituosa é a oposição a um verdadeiro crime, que é o de assassinar uma criança.
 
Na sociedade de hoje, em que se defendem a ferro e fogo os direitos de todos, menos os do nascituro, o novo absurdo parece não escandalizar quase ninguém. Pelo contrário: quem se opõe ao aborto é que se torna um “culpado”a ser punido, mesmo que apenas expresse uma opinião ou peça que as mulheres que planejam abortar sejam devidamente informadas sobre todas as alternativas que poderiam substituir esse gesto extremo.
 
O paladino dos direitos dos abortistas parece ser a França, onde a lei Weil,de 1975, criou o "crime de obstrução do aborto". Quem comete esse “crime”, o de obstaculizar o aborto, pode ser considerado um "abortofóbico".


Uma nova medida legal proposta na França, contrária a quem é contra oaborto,inclui dois artigos de extraordinária gravidade: o primeiro altera a leiatual, que já permite o aborto para mulheres “em situação de dificuldade”. Essa lei é de interpretação vastíssima, tanto que a história francesa não relata um único caso de mulher que tenha tido o aborto negado por ausência da tal "situação de dificuldade". Mesmo assim, o texto será alterado e a novalei dirá que o aborto é permitido para as mulheres "que não desejam levar a gravidez a termo". Na prática, pouco muda: o aborto na França, afinal, já é permitido para qualquer mulher que o solicita; mas a mudança é decisiva do ponto de vista do princípio. O aborto não será mais considerado como a consequência de uma dificuldade, como um drama, como uma derrota, e sim como uma opção completamente normal;como um direito (cf. La Nuova Bussola Quotidiana, 24 de janeiro).

 
A segunda alteração na legislação francesa proíbe obstaculizar o aborto não apenas fisicamente, o que já estava em vigor, mas também psicologicamente. A leitura dos trabalhos preparatórios revela que a intenção do legislador é proibir que,nos hospitais,as mulheres sejam informadas sobre as alternativas ao aborto;é proibir, também, que os voluntários dos centros de apoio à vida circulem pelos hospitais; e é proibir, inclusive, que, mesmo fora ou nas proximidades dos hospitais,haja protestos ou divulgação de informações pró-vida às mulheres.
 
Essa lei foi aprovada na primeira sessão, mas deve ser submetida a uma segunda.
 
A ministra francesa dos Direitos das Mulheres, Najat Belkacem-Vallaud, foi longe o suficiente para declarar que o número de abortos na França ainda é “muito baixo”. Aparentemente, ela acha pouco o fato de que 35% das mulheres francesas já abortaram e que, só no ano passado, 220 mil crianças foram abortadas no país, diante de 810 mil que nasceram. Outra ministra francesa, a da Saúde, Marisol Touraine, chegou a pedir que a França faça uma "mobilização" contra a lei... do país vizinho, a Espanha, que pretende estabelecer algumas restrições ao aborto.
 
A “abortofobia” parece destinada, portanto, a ter longa vida em terras francesas. E a primeira vítima foi um homem de 84 anos, Xavier Dor, conhecido ativista pró-vida que foi declarado culpado de dar a uma mulher grávida um par de sapatos de bebê a fim de dissuadi-la de abortar. Ele deverá pagar uma multa de 10.000 euros e corre o risco de pegar ainda um mês de prisão.
 
Por conta do "crime" de "abortofobia", os franceses pró-vida podem agora ser processados e condenados simplesmente por realizarem atividades de informação e dissuasão nos hospitais, por indicarem um número de telefone a uma mulher grávida ou por lhe proporem uma reflexão sobre o que é o aborto.
 
Da mesma forma, são criminalizados aqueles que organizam e participam de Marchas pela Vida ou mantêm sites com informações contrárias ao aborto. A pena máxima prevista pela lei é de dois anos de prisão e 30.000 euros de multa.

 
Perante os magistrados que leram a sua sentença, Xavier Dor, que há anos define o Estado francês como "République luciférienne", declarou, do alto dos seus 84 anos de idade: "Crime é assassinar uma criança".
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Fonte: Aleteia

As três qualidades do bom político


Este texto foi publicado na edição italiana de Aleteia. Apesar das especificidades estruturais da organização política italiana, a sua essência é aplicável à realidade de qualquer país. 
  
Esta questão afeta a todos nós, pelo impacto que terá na vida social e política do nosso país [a Itália, ndr]. Falo do assunto, portanto, não porque tenha competência específica na área, mas porque o serviço pastoral me permite estar bem perto das pessoas.Com isso,posso apresentar respostas muito fidedignas a perguntas como esta: o que o cidadão comum espera da futura regulamentação da eleição dos seus representantes e de uma possível nova estrutura institucional do Estado?
 
Tenho contato direto com diversas realidades, desde famílias e trabalhadores, jovens e idosos, até empresas, organismos institucionais e associações. Posso dizer, com essa base, que, além da necessidade de estabilidade, são três as expectativas mais frequentes (e mais do que legítimas) das pessoas: a primeira é que a nova legislação eleitoral garanta no parlamento uma representação efetiva das necessidades locais e dos problemas reais das pessoas; a segunda é que o custo da política, bancado por todos, seja decididamente redimensionado, tal como aconteceu com os orçamentos das próprias famílias,que foram obrigadas a "apertar o cinto" em face dos desafios impostos pela crise atual; e a terceira é que os políticos,que se candidatam a representar o povo, cultivem um alto padrão de moralidade e a intenção de servir ao bem comum em vez de servir-se dos privilégios da "casta".


Sobre a primeira expectativa, eu pude constatar várias vezes que a maioria das pessoas não sabe responder quem é o membro do parlamento que as representa: é como se o cidadão comum sentisse que não tem voz na coisa pública; pior ainda, é como se a maioria das pessoas não tivesse qualquer esperança de que os seus problemas e os da coletividade local interessem de verdade a qualquer um dos "poderosos".
 
A chamada Primeira República [italiana] pecava no clientelismo e nas desigualdades relacionadas coma maior ou menor influência do político local na tomada de decisões de alcance nacional: o povo ainda tinha, no entanto,a fundamentada impressão de que alguém estava trabalhando para resolver os seus problemas ou, pelo menos, os problemas da maior parte da sociedade.

 
Nos últimos anos, porém, esse cordão umbilical que unia o cidadão aos seus representantes foi rompido: os parlamentares são "nomeados" pelos partidos, graças ao sistema de listas fechadas, e os eleitos acabam sendo, na maioria, estranhos e distantes em relação ao território que deveriam representar.
 
A solução está, primeiro, em proporcionar um maior conhecimento dos candidatos por parte dos eleitores,mediante listas menores. O exercício democrático da escolha preferencial de um candidato como alternativa a outro, apesar de ter a desvantagem de favorecer possíveis relações de clientelismo entre eleitores e eleitos, é um direito que não pode ser negado.
 
Quem se opõe às preferências dos eleitores deve prestar contas do porquê dessa postura, que favorece as oligarquias dos partidos e enfraquece o sentido da participação ativa dos cidadãos na escolha dos próprios representantes e do futuro da comunidade.
 
A segunda expectativa que percebo entre as pessoas é a da redução drástica dos custos da política, o que poderá ser atendido com a redução do número de parlamentares. Atualmente, o país é governado por uma infinidade de representantes, articulados em um sistema bicameral perfeito que, na realidade, é frequentemente a origem da lentidão no processo de aprovação de leis.
 
Transformar o senado em uma estrutura de representação dos organismos regionais e locais, derrubando os seus custos e modificando as suas competências, é um passo que pode ser positivo. Se a maior potência econômica e política mundial,os Estados Unidos da América,é governada por um número de parlamentares que, no total, é pouco mais que a metade dos nossos, não há razão para que o mesmo não aconteça por aqui.
 
Com a reforma institucional, no entanto, é preciso ainda uma reorganização dos custos, a abolição dos privilégios de "casta", um rastreio de todos os benefícios e de todas as vantagens que transformam a cadeira parlamentar em objeto de cobiça,em garantia de tranquilidade econômica para quem é eleito para prazos indeterminados.
 
Voltar a conceber a tarefa do parlamentar como a de um servidor do Estado deverá significar equipará-lo a um cargo de responsabilidade a ser exercido com fidelidade e profissionalismo, e com a mesma remuneração e garantias oferecidas à maioria da população que ganha a vida com sacrifício e generosidade, assumindo responsabilidades não menos significativas.
 
Esta reflexão nos leva à terceira expectativa das pessoas: a qualidade ética de quem se envolve na política. A este propósito, não há lei que resolva: os muitos escândalos que emergem de tempos em tempos demonstram que o atual sistema legal e institucional não protege os cidadãos de ilícitos perpetrados por quem se esconde atrás da fachada da respeitabilidade.
 
O acúmulo de cargos com altíssimas retribuições, com a óbvia impossibilidade de cumpriras obrigações inerentes a cada um deles, é um escândalo que clama por reorganização urgente e por sanções adequadas, nos casos de comprovada ilegalidade ou omissão. Se não houver, porém, uma forte e convicta tensão moral, nutrida de responsabilidade para com o bem comum e de consciência educada para o sacrifício por amor ao próximo, se não se voltar a conceber a política como uma forma elevada de caridade e de vida vivida como serviço, de pouco valerão os novos mecanismos eleitorais e as reformas estruturais do sistema institucional.
 
Ouso augurar aqui, a todo aquele que quiser se empenhar na arena política, que se forme longamente na disciplina moral exigente e na solidez espiritual. Há um salmo que diz: "Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os construtores. Se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela" (127,1).
 
Com imagens vívidas e concretas, a palavra do Grande Código, que é a Bíblia, nos lembra da urgência de monitorar continuamente as nossas ações com parâmetros exigentes e definitivos, ligados ao fundamento transcendente da vida e da história. O salmo sugere, ao mesmo tempo, não presumir de forças meramente humanas:ele pede humildade e invocação de auxílio.
 
Não é inoportuno, portanto, mencionar que a nova geração de políticos de que o país precisa deverá combinar essas três qualidades: o compromisso contínuo com o discernimento moral, a humildade no próprio comprometimento e a disponibilidade interior para emitir juízos mais elevados, para praticar um amor maior.

 
Tal desejo parecerá um sonho para alguns, mas é o melhor augúrio que pode ser feito ao destino comum de todos nós.

Dom Bruno Forte
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Fonte: Aleteia