quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Depois de polêmica, padre Fábio de Melo se retrata. Confira!






Queridos amigos,

Em virtude da polêmica que envolveu minha fidelidade à Ortodoxia Católica, venho esclarecer alguns pontos.

Em nenhum momento da minha vida atentei contra a sacralidade da Igreja Católica Apostólica Romana. Sou Mestre em Teologia Dogmática e zelo muito para que minha pregação esteja de acordo com os ensinamentos da Igreja. Este é o credo que professo: “Creio na Santa Igreja Católica Una, Santa, Católica e Apostólica.” Nunca inventei uma crença particular, ou um modo diferente de compreender esta profissão de fé.

A expressão que usei no programa de “De frente com Gabi”, “Jesus queria o Reino de Deus, mas nós demos a Ele a Igreja” é uma expressão muito usada nos bastidores acadêmicos que frequentei em minha vida, e está distante da proposta herética que ela já representou em outros tempos. O significado evoluiu.

Nossa Fundação é Santa, pois fomos instituídos pelo Cristo. “A Igreja é um corpo, em que nós somos os membros e Jesus Cristo é a cabeça (Col 1,18; I Cor 12,27). Na cabeça o Reino já está estabelecido. Em Cristo, o Reino já está plenamente manifestado. Mas os membros do corpo ainda estão no contexto da busca, pois continuamos arrastando as consequências adâmicas do nosso pecado. E por isto, mesmo que em Cristo o Reino já esteja plenamente manifestado, em nós, Igreja, povo de Deus, ele continua sendo a meta que nunca deixamos de buscar.

O Concílio Vaticano II, através de sua Constituição Dogmática Lumen Gentium, enfatizou que a Igreja é povo de Deus. O povo é errante, pois apesar de estar mergulhado nas graças do batismo, ainda sofre as consequências da fragilidade que o pecado lhe deixou. O mesmo Concílio declarou "O Reino de Cristo já presente em mistério, cresce visivelmente no mundo pelo poder de Deus..." (LG 3).


Presente em mistério. Isto é, cabe a nós, membros deste corpo, apressar a sua chegada. A Igreja é triunfante, mas também é peregrina, penitente, pois que carrega em sua carne a fragilidade de seus membros.

Sim, a Igreja é santa, mas comporta em seu seio os pecadores que somos nós. E por isso dizemos, também com o perigo da imprecisão teológica: “A Igreja é Santa e pecadora”. Bento XVI sugeriu modificar a expressão. “A Igreja é Santa, mas há pecado na Igreja”. Notem que ele salvaguarda a santidade na essência.

Mas o pecado existe na Igreja. Por isto rezamos nas liturgias diárias pelo Santo Padre, pelos bispos, pelo clero, pelo povo de Deus. Clamamos por purificação, luzes em nossas decisões, pois sabemos que é missão do Espírito encaminhar na terra a Igreja que ainda não é Reino de Deus (porque maculada pelos nossos pecados), e que ao Cristo damos diariamente. Mas nós caminhamos na esperança. Sabemos que um dia todas as partes do corpo estarão agindo em perfeita harmonia com a cabeça. Seremos a “Jerusalém Celeste”.

Eu assumo que errei ao usar a expressão. Eu não estava numa sala de aula, lugar onde a Ortodoxia convive bem com a dialética. Não considerei que muitos telespectadores poderiam não entender o contexto da comparação. E por isso peço desculpas. E junto às desculpas, faço minha retratação. Nunca tive problema em assumir meus equívocos. Usei uma expressão que carece ser contextualizada com outras explicações, para que não pareça irresponsável, nem tampouco herética.

Repito. Eu não nego nem neguei a definição dogmática expressa na Lumem Gentium, Número 5.

“O mistério da santa Igreja manifesta-se na sua fundação. O Senhor Jesus deu início à Sua Igreja pregando a boa nova do advento do Reino de Deus prometido desde há séculos nas Escrituras: «cumpriu-se o tempo, o Reino de Deus está próximo» (Mc. 1,15; cfr. Mt. 4,17). Este Reino manifesta-se na palavra, nas obras e na presença de Cristo. A palavra do Senhor compara-se à semente lançada ao campo (Mc. 4,14): aqueles que a ouvem com fé e entram a fazer parte do pequeno rebanho de Cristo (Luc. 12,32), já receberam o Reino; depois, por força própria, a semente germina e cresce até ao tempo da messe (cfr. Mc. 4, 26-29). Também os milagres de Jesus comprovam que já chegou à terra o Reino: «Se lanço fora os demónios com o poder de Deus, é que chegou a vós o Reino de Deus» (Luc. 11,20; cfr. Mt. 12,28). Mas este Reino manifesta-se sobretudo na própria pessoa de Cristo, Filho de Deus e Filho do homem, que veio «para servir e dar a sua vida em redenção por muitos» (Mt. 10,45).”

E quando Jesus, tendo sofrido pelos homens a morte da cruz, ressuscitou, apareceu como Senhor e Cristo e sacerdote eterno (cfr. Act. 2,36; Hebr. 5,6; 7, 17-21) e derramou sobre os discípulos o Espírito prometido pelo Pai (cfr. Act. 2,33). Pelo que a Igreja, enriquecida com os dons do seu fundador e guardando fielmente os seus preceitos de caridade, de humildade e de abnegação, recebe a missão de anunciar e instaurar o Reino de Cristo e de Deus em todos os povos, e constitui o germe e o princípio deste mesmo Reino na terra. Enquanto vai crescendo, suspira pela consumação do Reino e espera e deseja juntar-se ao seu Rei na glória.”

Agradeço pela prece dos que me acompanharam neste momento tão sofrido.

Com minha benção,

Padre Fábio de Melo.
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Fonte: fabiodemelo.com.br

Na catequese, Papa reza pela unidade entre os cristãos




CATEQUESE 
Praça São Pedro – Vaticano 
Quarta-feira, 22 de janeiro de 2014



Queridos irmão e irmãs,



Sábado passado iniciou-se a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, que se concluirá sábado próximo, festa da conversão de São Paulo apóstolo. Esta iniciativa espiritual, mais do que nunca preciosa, envolve as comunidades cristãs há mais de cem anos. Trata-se de um tempo dedicado à oração pela unidade de todos os batizados, segundo a vontade de Cristo: “que todos sejam um” (Jo 17, 21). Todos os anos, um grupo ecumênico de uma região do mundo, sob a condução do Conselho Ecumênico das Igrejas e do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, sugere um tema e prepara subsídios para a Semana de Oração. Este ano, tais subsídios são provenientes das Igrejas e comunidades eclesiais do Canadá, e fazem referência à pergunta dirigida por Paulo aos cristãos de Corinto: “Então estaria Cristo dividido?” (1 Cor 1, 13).



Certamente Cristo não está dividido. Mas devemos reconhecer sinceramente e com dor que as nossas comunidades continuam a viver divisões que são um escândalo. As divisões entre nós cristãos são um escândalo. Não há outra palavra: um escândalo. “Cada um de vós – escrevia o apóstolo – diz: “Eu sou de Paulo”, “Eu sou de Apolo”, “E eu de Cefas”, “E eu de Cristo”” (1, 12). Mesmo aqueles que professavam Cristo como seu líder não são aplaudidos por Paulo, porque usavam o nome de Cristo para separar-se dos outros dentro da comunidade cristã. Mas o nome de Cristo cria comunhão e unidade, não divisão! Ele veio para fazer comunhão entre nós, não para dividir-nos. O Batismo e a Cruz são elementos centrais do discipulado cristão que temos em comum. As divisões, em vez disso, enfraquecem a credibilidade e a eficácia do nosso compromisso de evangelização e arriscam esvaziar a Cruz do seu poder (cfr 1,17).



Paulo repreende os coríntios pelas suas disputas, mas também dá graças ao Senhor “por causa da graça de Deus que vos foi dada em Cristo Jesus, porque Nele fostes enriquecidos de todos os dons, aqueles da palavra e aqueles do conhecimento” (1, 4-5). Estas palavras de Paulo não são uma simples formalidade, mas o sinal que ele vê antes de tudo – e disto se alegra sinceramente – os dons feitos por Deus à comunidade. Esta atitude do Apóstolo é um encorajamento para nós e para cada comunidade cristã a reconhecer com alegria os dons de Deus presentes nas outras comunidades. Apesar do sofrimento das divisões, que infelizmente ainda permanecem, acolhemos as palavras de Paulo como um convite a alegrar-nos sinceramente pelas graças concedidas por Deus a outros cristãos. Temos o mesmo Batismo, o mesmo Espírito Santo que nos deu a Graça: reconheçamos isso e nos alegremos.



É belo reconhecer a graça com a qual Deus nos abençoa e, ainda mais, encontrar nos outros cristãos algo de que necessitamos, algo que podemos receber como um dom dos nossos irmãos e irmãs. O grupo canadense que preparou os subsídios desta Semana de Oração não convidou as comunidades a pensarem naquilo que poderiam dar a seus vizinhos cristãos, mas os exortou a encontrar-se para entender aquilo que todos podem receber de tempos em tempos dos outros. Isso requer algo a mais. Requer muita oração, requer humildade, requer reflexão e contínua conversão. Sigamos adiante neste caminho, rezando pela unidade dos cristãos, para que este escândalo seja exterminado e não esteja mais entre nós.

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Boletim da Santa Sé

Tradução: Jéssica Marçal

Padre Fábio de Melo: “foi sem querer querendo!”


Nesses últimos dias, a TV exibiu duas entrevistas do Padre Fábio de Melo, que acabaram deixando muitos católicos com sangue nos zôio. A declaração do padre que mais revoltou aos que zelam pela doutrina da Igreja foi essa aqui:

– Eu gosto de dizer que Jesus não queria a Igreja, Jesus queria o Reino de Deus, mas a Igreja é o que a gente conseguiu dar pra Ele.

Esse trecho da entrevista com a Marília Gabriela foi divulgado previamente pelo site da revista Caras. Ao ler isso, orei, xinguei muito em conversas privadas com amigos e respirei fundo 100 vezes, detendo o meu impulso de dizer qualquer coisa publicamente. Preferi esperar pra ver a entrevista na íntegra, e fiz isso com calma.

De fato, o padre disse uma frase herética. Porém, dentro do contexto em que disse, podemos afirmar que ele quis mesmo propagar uma heresia? Não, ele não quis.Imediatamente antes dessa frase infeliz, o padre disse claramente que a Igreja foi gerada em Jesus Cristo:

– Toda grande instituição precisa naturalmente voltar às fontes. A gente não tem o direito de viver distante das fontes que nos geraram. Qual é a nossa fonte? É Jesus, a experiência dele. Teologicamente nós estamos fundamentados no Verbo que se torna carne, que passa por nós, que faz discípulos e que deixa uma Igreja.

Portanto, apaguem suas tochas na piscina Tony, meninos! Está claro que o padre crê e afirma a origem divina da Igreja, bem como a sua contínua fundamentação em Cristo até os dias de hoje. Agora, com a frase seguinte, mandou uma heresia das brabas, que parecia desmentir o que ele afirmou logo antes. Em seu site, Padre Fábio já publicou um texto assumindo que errou ao se expressar dessa forma.


À maneira do Chaves, meio que “sem querer querendo”, o Padre Fábio de Melo ressuscitou uma heresia divulgada há mais de 100 anos, pelo padre e teólogo Alfred Loisy. Comparem vocês mesmos o que Loisy afirmou com a maldita frase do Padre Fábio, e vejam a semelhança:

“Foi alheio à mente de Cristo constituir a Igreja como sociedade que devia durar sobre a terra por longo decurso de anos; mais, na mente de Jesus estava prestes a chegar o reino do céu juntamente com o fim do mundo”.

 - Afirmação herética de Alfred Loisy. Fonte: Denzinger, número 3452.

Por ter se recusado a renegar esse erro doutrinário, o sujeito foi excomungado pelo Papa São Pio X, em 1908. Daí vocês veem que não estamos exagerando ao dizer que a tal frase do Padre Fábio foi mesmo uma desgraça.

Nessa entrevista, o Padre Fábio afirmou que “Igreja santa e pecadora”. Essa expressão, apesar da verdade que carrega, deve ser evitada, pois em geral, quem ouvi isso, entende que a Igreja pode falhar em seus ensinamentos e não ser eficaz em seus sacramentos. Já explicamos isso em um post anterior (veja aqui). Mas, sejamos honestos: o padre buscou explicar a expressão da forma correta, colocando a dimensão do pecado dos membros da Igreja:

– Nós precisamos nos converter diariamente: a Igreja é santa e pecadora. (…) É Deus que o tempo todo me dá condições para eu reconhecer o meu próprio pecado.

E, diante de uma Marília sedenta por mudanças na moral da Igreja – por meio da liberação do divórcio, do casamento gay e dos métodos anticoncepcionais –, o padre mandou na lata, sereno e firme:

– A Igreja não pode em nenhum momento, por mais autoridade que ela tenha, contradizer o que disse Jesus.

Marília se disse surpresa feliz com a declaração do Papa Francisco, de que não queria julgar os gays. E perguntou se, a partir dessa colocação, se poderia esperar uma mudança a postura da Igreja sobre o casamento entre homossexuais. A resposta do Padre Fábio foi precisa e sem rodeios: “Eu acredito, Marília, que isso não mude absolutamente NADA do que a Igreja pensa do assunto”. Dez! E explicou que isso poderia, isso sim, inspirar a forma correta de tratar os homossexuais nas igrejas, com um discurso de caridoso e não-agressivo.

Padre Fábio mandou bem demais ao defender a beleza na liturgia e nas vestes sacerdotais e nos templos, fator tão negligenciado nas últimas décadas. Também defendeu com competência a castidade e o celibato sacerdotal. Isso a revista Cara-de-bunda não se interessou em noticiar, né?


Padre Fábio é um homem inteligente e, ao que me parece, deseja sinceramente o bem das pessoas. O problema é que ele parece sofrer de “jujubice aguda”. Os católicos acometidos por esse mal buscam sempre evitar qualquer palavra que melindre os não-católicos. E, quando são obrigados e discordar dos demais, procuram fazer isso com a doçura (tão doce como um… favo de mel!), de modo a parecer que o outro tem razão também.

Os acometidos pela jujubice confudem gentileza e respeito com frouxidão. Ainda que sejam obrigados a dizer algo que contrarie o outro, sempre tentam não desagradar ninguém. E o padre Fábio bem sabe que, para um cristão, é impossível manter-se nessa postura, pois ele mesmo disse para a Gabi:

– No momento em que nós temos uma postura, é natural que a gente vá contrariar muita gente. A Igreja não tem a pretensão de agradar o mundo todo.

Bem sabemos que não é só o Padre Fábio que foi contaminado ao comer uma jujuba ultra-doce atômica. Muitos leigos e padres também o fizeram. Prova disso é que o Sínodo dos Bispos de 2008, ocorrido no Vaticano, mostrou preocupação com os padres fofuchos que, em suas homilias, omitem as passagens mais duras do Evangelho, em especial, aquelas em que Jesus é ríspido, se desviando da caricatura mundana de guru paz-e-amô.

Bem, voltando… A entrevista da Marília, que foi a gerou mais polêmica, está longe de ter sido a mais escrota. O padre vacilou feio mesmo foi no programa “Altas Horas”. Eis o que disse, quando perguntando sobre o casamento gay:

– A gente precisa dividir bem a questão. Uma é a questão religiosa, o posicionamento das religiões, que têm todo o direito de não aceitar, de não ser a favor (…). Só que há também a questão cível, que não podemos interferir, que não é religiosa, que é o direito de duas pessoas reconhecerem uma sociedade que existe entre elas.

Não podemos interferir?! Com essa, até Santa Joana Dior revirou na tumba, e os ossos de São João Lacoste estremeceram! Esse discurso, que deturpa a justa noção de estado laico, é exatamente o proposto pela Marta Suplicy, na lei da mordaça gay, a falecida PL 122 (saiba mais aqui).

O que o padre Fábio de Melo disse no “Altas Horas” está em total desacordo com o que ensina a Igreja. Devemos nos opor não só ao casamento religioso gay, mas também ao “casamento” civil gay*. Na verdade, é algo que modifica a estrutura da sociedade e, por consequência, o que é ensinado às crianças nas escolas e na mídia. Então, isso é da nossa conta, sim!

Esse é o sonho dos inimigos de Cristo: que os cristãos continuem tranquilamente (ao menos por enquanto) com seus louvores e pregações, confinados aos templos e sacristias. Porém, se ousarmos defender nossos valores na esfera pública, tomamos um créu. Querem que nos anular politicamente e impor os valores de uma minoria sobre a maioria das famílias. Ora, acaso nós cristãos somos um tipo de sub-raça, cuja opinião tem menos valor? Ah, vá…

Como pessoas limitadas, estamos todos sujeitos a proferir coisas insensatas (e, nesse sentido, tem gente que tem um amplo histórico, e já sugeriu até que os índios não devem ser evangelizados…). Entretanto, é preciso estar sempre humildes e dispostos a ser corrigidos pela Mãe Igreja.

Desejo que Jesus ilumine o Padre Fábio e Melo, para que ele seja mais responsável com o que fala. Acho que ele já deve ter notado o grande impacto que causam não só suas canções, mas também suas palavras.
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Fonte: O Catequista

Mensagem do Papa para o 48º Dia Mundial das Comunicações




MENSAGEMMensagem do Papa Francisco para o 
48º Dia Mundial das Comunicações Sociais

“Comunicação ao serviço de uma autêntica cultura do encontro”

Queridos irmãos e irmãs,

Hoje vivemos num mundo que está a tornar-se cada vez menor, parecendo, por isso mesmo, que deveria ser mais fácil fazer-se próximo uns dos outros. Os progressos dos transportes e das tecnologias de comunicação deixam-nos mais próximo, interligando-nos sempre mais, e a globalização faz-nos mais interdependentes. Todavia, dentro da humanidade, permanecem divisões, e às vezes muito acentuadas. A nível global, vemos a distância escandalosa que existe entre o luxo dos mais ricos e a miséria dos mais pobres. Frequentemente, basta passar pelas estradas duma cidade para ver o contraste entre os que vivem nos passeios e as luzes brilhantes das lojas. Estamos já tão habituados a tudo isso que nem nos impressiona. O mundo sofre de múltiplas formas de exclusão, marginalização e pobreza, como também de conflitos para os quais convergem causas económicas, políticas, ideológicas e até mesmo, infelizmente, religiosas.

Neste mundo, os mass-media podem ajudar a sentir-nos mais próximo uns dos outros; a fazer-nos perceber um renovado sentido de unidade da família humana, que impele à solidariedade e a um compromisso sério para uma vida mais digna. Uma boa comunicação ajuda-nos a estar mais perto e a conhecer-nos melhor entre nós, a ser mais unidos. Os muros que nos dividem só podem ser superados, se estivermos prontos a ouvir e a aprender uns dos outros. Precisamos de harmonizar as diferenças por meio de formas de diálogo, que nos permitam crescer na compreensão e no respeito. A cultura do encontro requer que estejamos dispostos não só a dar, mas também a receber de outros. Os mass-media podem ajudar-nos nisso, especialmente nos nossos dias em que as redes da comunicação humana atingiram progressos sem precedentes. Particularmente a internet pode oferecer maiores possibilidades de encontro e de solidariedade entre todos; e isto é uma coisa boa, é um dom de Deus.

No entanto, existem aspectos problemáticos: a velocidade da informação supera a nossa capacidade de reflexão e discernimento, e não permite uma expressão equilibrada e correcta de si mesmo. A variedade das opiniões expressas pode ser sentida como riqueza, mas é possível também fechar-se numa esfera de informações que correspondem apenas às nossas expectativas e às nossas ideias, ou mesmo a determinados interesses políticos e econômicos. O ambiente de comunicação pode ajudar-nos a crescer ou, pelo contrário, desorientar-nos. O desejo de conexão digital pode acabar por nos isolar do nosso próximo, de quem está mais perto de nós. Sem esquecer que a pessoa que, pelas mais diversas razões, não tem acesso aos meios de comunicação social corre o risco de ser excluído.


Estes limites são reais, mas não justificam uma rejeição dos mass-media; antes, recordam-nos que, em última análise, a comunicação é uma conquista mais humana que tecnológica. Portanto haverá alguma coisa, no ambiente digital, que nos ajuda a crescer em humanidade e na compreensão recíproca? Devemos, por exemplo, recuperar um certo sentido de pausa e calma. Isto requer tempo e capacidade de fazer silêncio para escutar. Temos necessidade também de ser pacientes, se quisermos compreender aqueles que são diferentes de nós: uma pessoa expressa-se plenamente a si mesma, não quando é simplesmente tolerada, mas quando sabe que é verdadeiramente acolhida. Se estamos verdadeiramente desejosos de escutar os outros, então aprenderemos a ver o mundo com olhos diferentes e a apreciar a experiência humana tal como se manifesta nas várias culturas e tradições. Entretanto saberemos apreciar melhor também os grandes valores inspirados pelo Cristianismo, como, por exemplo, a visão do ser humano como pessoa, o matrimonio e a família, a distinção entre esfera religiosa e esfera política, os princípios de solidariedade e subsidiariedade, entre outros.

Então, como pode a comunicação estar ao serviço de uma autêntica cultura do encontro? E – para nós, discípulos do Senhor – que significa, segundo o Evangelho, encontrar uma pessoa? Como é possível, apesar de todas as nossas limitações e pecados, ser verdadeiramente próximo aos outros? Estas perguntas resumem-se naquela que, um dia, um escriba – isto é, um comunicador – pôs a Jesus: «E quem é o meu próximo?» (Lc 10, 29 ). Esta pergunta ajuda-nos a compreender a comunicação em termos de proximidade. Poderíamos traduzi-la assim: Como se manifesta a «proximidade» no uso dos meios de comunicação e no novo ambiente criado pelas tecnologias digitais? Encontro resposta na parábola do bom samaritano, que é também uma parábola do comunicador. Na realidade, quem comunica faz-se próximo. E o bom samaritano não só se faz próximo, mas cuida do homem que encontra quase morto ao lado da estrada. Jesus inverte a perspectiva: não se trata de reconhecer o outro como um meu semelhante, mas da minha capacidade para me fazer semelhante ao outro. Por isso, comunicar significa tomar consciência de que somos humanos, filhos de Deus. Apraz-me definir este poder da comunicação como «proximidade».

Quando a comunicação tem como fim predominante induzir ao consumo ou à manipulação das pessoas, encontramo-nos perante uma agressão violenta como a que sofreu o homem espancado pelos assaltantes e abandonado na estrada, como lemos na parábola. Naquele homem, o levita e o sacerdote não vêem um seu próximo, mas um estranho de quem era melhor manter a distância. Naquele tempo, eram condicionados pelas regras da pureza ritual. Hoje, corremos o risco de que alguns mass-media nos condicionem até ao ponto de fazer-nos ignorar o nosso próximo real.

Não basta circular pelas «estradas» digitais, isto é, simplesmente estar conectados: é necessário que a conexão seja acompanhada pelo encontro verdadeiro. Não podemos viver sozinhos, fechados em nós mesmos. Precisamos de amar e ser amados. Precisamos de ternura. Não são as estratégias comunicativas que garantem a beleza, a bondade e a verdade da comunicação. O próprio mundo dos mass-media não pode alhear-se da solicitude pela humanidade, chamado como é a exprimir ternura. A rede digital pode ser um lugar rico de humanidade: não uma rede de fios, mas de pessoas humanas. A neutralidade dos mass-media é só aparente: só pode constituir um ponto de referimento quem comunica colocando-se a si mesmo em jogo. O envolvimento pessoal é a própria raiz da fiabilidade dum comunicador. É por isso mesmo que o testemunho cristão pode, graças à rede, alcançar as periferias existenciais.

Tenho-o repetido já diversas vezes: entre uma Igreja acidentada que sai pela estrada e uma Igreja doente de auto-referencialidade, não hesito em preferir a primeira. E quando falo de estrada penso nas estradas do mundo onde as pessoas vivem: é lá que as podemos, efectiva e afectivamente, alcançar. Entre estas estradas estão também as digitais, congestionadas de humanidade, muitas vezes ferida: homens e mulheres que procuram uma salvação ou uma esperança. Também graças à rede, pode a mensagem cristã viajar «até aos confins do mundo» (Act 1, 8). Abrir as portas das igrejas significa também abri-las no ambiente digital, seja para que as pessoas entrem, independentemente da condição de vida em que se encontrem, seja para que o Evangelho possa cruzar o limiar do templo e sair ao encontro de todos. Somos chamados a testemunhar uma Igreja que seja casa de todos. Seremos nós capazes de comunicar o rosto duma Igreja assim? A comunicação concorre para dar forma à vocação missionária de toda a Igreja, e as redes sociais são, hoje, um dos lugares onde viver esta vocação de redescobrir a beleza da fé, a beleza do encontro com Cristo. Inclusive no contexto da comunicação, é precisa uma Igreja que consiga levar calor, inflamar o coração.

O testemunho cristão não se faz com o bombardeio de mensagens religiosas, mas com a vontade de se doar aos outros «através da disponibilidade para se deixar envolver, pacientemente e com respeito, nas suas questões e nas suas dúvidas, no caminho de busca da verdade e do sentido da existência humana (Bento XVI, Mensagem para o XLVII Dia Mundial das Comunicações Sociais, 2013). Pensemos no episódio dos discípulos de Emaús. É preciso saber-se inserir no diálogo com os homens e mulheres de hoje, para compreender os seus anseios, dúvidas, esperanças, e oferecer-lhes o Evangelho, isto é, Jesus Cristo, Deus feito homem, que morreu e ressuscitou para nos libertar do pecado e da morte. O desafio requer profundidade, atenção à vida, sensibilidade espiritual. Dialogar significa estar convencido de que o outro tem algo de bom para dizer, dar espaço ao seu ponto de vista, às suas propostas. Dialogar não significa renunciar às próprias ideias e tradições, mas à pretensão de que sejam únicas e absolutas.

Possa servir-nos de guia o ícone do bom samaritano, que liga as feridas do homem espancado, deitando nelas azeite e vinho. A nossa comunicação seja azeite perfumado pela dor e vinho bom pela alegria. A nossa luminosidade não derive de truques ou efeitos especiais, mas de nos fazermos próximo, com amor, com ternura, de quem encontramos ferido pelo caminho. Não tenhais medo de vos fazerdes cidadãos do ambiente digital. É importante a atenção e a presença da Igreja no mundo da comunicação, para dialogar com o homem de hoje e levá-lo ao encontro com Cristo: uma Igreja companheira de estrada sabe pôr-se a caminho com todos. Neste contexto, a revolução nos meios de comunicação e de informação são um grande e apaixonante desafio que requer energias frescas e uma imaginação nova para transmitir aos outros a beleza de Deus.

Vaticano, 24 de Janeiro – Memória de São Francisco de Sales – do ano 2014.

FRANCISCUS
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Boletim da Santa Sé