sexta-feira, 5 de julho de 2013

Publicação da Encíclica "Lumen Fidei" (Luz da Fé)


Foi apresentada, na manhã desta sexta-feira, na Sala de Imprensa da Santa Sé, a primeira Encíclica do Papa Francisco, intitulada Lumen fidei (“Luz da fé”).

A nova Encíclica foi apresentada pelo Cardeal Marc Ouellet, Prefeito da Congregação para os Bispos, por Dom Gerhard Ludwig Müller, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, e por Dom Rino Fisichella, Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização.

Esta primeira Encíclica é publicada pela Livraria Editora Vaticana e pela Editora São Paulo, com comentários de Dom Rino Fisichella, organizador dos eventos do Ano da Fé, e por Giuliano Vigini, escritor e docente em sociologia na Universidade Católica de Milão.

A Encíclica “Luz da Fé” foi iniciada por Bento XVI e levada adiante e concluída, com acréscimos, pelo Papa Bergoglio. Trata-se de um documento, disponível em seis línguas, entre as quais o português, com 94 páginas e dividida em quatro capítulos, além da introdução e da conclusão.


A Carta Encíclica sobre a Fé é dirigida aos Bispos, Presbíteros, Diáconos, Pessoas consagradas e a todos os fiéis Leigos. O documento, que havia sido quase completado por Bento XVI, foi assinado pelo Papa Francisco.

O objetivo da Carta Encíclica é retomar o caráter de luz, próprio da fé, capaz de iluminar toda a existência humana. Em resumo, podemos dizer que “aquele que crê jamais está sozinho, porque a fé é um bem comum que ajuda a edificar as nossas sociedades, dando-lhes esperança.

Em uma época, como a moderna, escreve o Papa, na qual “crer se opõe à pesquisa” e a fé é vista como um pulo no vazio, que impede a liberdade do homem, é importante “ter confiança”, com humildade e coragem, no amor misericordioso de Deus, que endireita as sinuosidades da nossa história.

Jesus é a testemunha crível da fé. Através dele, Deus atua realmente na história. Como na vida de cada dia, nós confiamos no arquiteto, no farmacêutico, no advogado, que conhecem melhor as coisas, assim, mediante a fé, confiamos em Jesus, perito nas coisas divinas.

A fé, sem a verdade, não salva, diz o Pontífice, mas permanece como uma linda fábula, sobretudo hoje, em que se passa por uma crise da verdade, porque acreditamos somente na tecnologia ou nas verdades de uma pessoa, porque tememos o fanatismo e preferimos o relativismo.

Pelo contrário, a fé não é intransigente; aquele que crê não é arrogante. A verdade, que deriva do amor de Deus, não se impõe com a violência, não espezinha o homem, mas torna possível o diálogo entre a fé e a razão.

Logo, o essencial, é a evangelização: a luz de Jesus brilha no rosto dos cristãos e se transmite de geração em geração, através das testemunhas da fé. Deste modo, a fé é transmitida mediante os Sacramentos, como o Batismo e a Eucaristia, como também pela fé da oração do Creio e do Pai Nosso, que envolvem o cristão nas verdades que professa e o levam a ver com os olhos de Cristo. Eis porque “a fé é una” e a “unidade da fé é a unidade da Igreja”.

É importante também a ligação entre “acreditar e construir” o bem comum, escreve o Papa: a fé reconfirma os vínculos entre os homens e se coloca a serviço da justiça, do direito e da paz. Ela não nos distancia do mundo, pelo contrário, se a eliminarmos das nossas cidades, permanecemos unidos apenas pelo temor e por meros interesses.

Crer, ao invés, ilumina a família, fundada no matrimônio entre o homem e a mulher; ilumina o mundo dos jovens, que desejam uma vida superior; ilumina a natureza e nos ajuda a respeitá-la, para “encontrar modelos de desenvolvimento, que não se baseiam somente na utilidade ou no lucro, mas consideram a criação como dom”.

O sofrimento e a morte também têm sentido com a confiança em Deus: o Senhor dá, ao homem que sofre, um raciocínio para explicar tudo, mas lhe oferece também a sua presença, que o acompanha.


Por fim, na sua Carta Encíclica “Luz da fé”, o Santo Padre exorta: “Não deixemos roubar a nossa esperança; não permitamos que ela seja inutilizada por soluções e propostas imediatas, que bloqueiam o nosso caminho rumo a Deus”.
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quinta-feira, 4 de julho de 2013

Nota do CNLB sobre as manifestações populares



O Conselho Nacional do Laicato do Brasil - CNLB vem a público manifestar o reconhecimento e apoio às manifestações populares que vêm ocorrendo em todos os recantos do país, excluindo, veementemente, toda e qualquer ação e reação de destruição e violência por parte de manifestantes e do Estado."A violência e a injustiça são, hoje, o sinal mais evidente do fracasso da nossa sociedade no plano ético." ( CNBB 50, 117 ). Reconhecemos o que tem sido realizado pelas Administrações Públicas em todos os níveis, porém, é incontestável que grandes mudanças têm sido adiadas sem motivo e situações de injustiça e corrupção têm sido mantidas e reproduzidas em detrimento de políticas públicas inadiáveis. "A Democracia é aprendizado e conquista, dá trabalho e sofrimento, mas vale a pena!". A "indignação ética" é própria da cidadania e sinaliza um crescimento de qualidade cívica da juventude e do povo brasileiro em geral.


Que os chamados "Poderes constituídos" não apenas respeitem e reconheçam a legitimidade das manifestações, mas "obedeçam" ao clamor que vem das ruas, da cidade e do campo. Que os Meios de Comunicação Social estejam a serviço do bem comum: "A sociedade tem direito a uma informação fundada sobre a verdade, a liberdade, a justiça e a solidariedade."(Catecismo da Igreja Católica, 2494). Que a segurança seja garantida dentro dos princípios éticos. "A justiça sem a força é impotente; a força sem a justiça é tirânica. É preciso juntar a justiça e a força; para consegui-lo é preciso fazer com que o que é justo seja forte e o que é forte seja justo". (Pascal). Conclamamos a todas e a todos a participarem, com verdadeiro espírito de cidadania, com coragem e disposição, deste momento histórico brasileiro, na perspectiva de uma Pátria livre, soberana, justa e solidária.



Brasília, 26 de junho de 2013.




MARILZA JOSÉ LOPES SCHUINA
PRESIDENTE DO CNLB

Insistência do evangelho


Desde outubro do ano passado, a Igreja continua com os olhos fixos nas  verdades da fé, que se constituem em fonte motivadora de sua existência e de suas incumbências.

A Igreja sente-se detentora de um grande tesouro, que ela recebeu, e percebe que tem a incumbência de transmitir para as pessoas de hoje, e para as novas gerações que vêm surgindo.

O Ano da Fé, proclamado com esta finalidade, está encontrando na “transmissão da fé” o seu desafio maior para a Igreja em nosso tempo. Foi sobre isto que os bispos reunidos em assembléia andaram pensando. Dada a complexidade do assunto, ele não se esgotará, mesmo depois que termine o Ano da Fé.

As inquietações são diversas. Como preocupação maior está a constatação pesada, de que vai diminuindo a incidência da fé  na vida concreta das pessoas. E´ normal que isto preocupe, ainda mais se comparamos a realidade de hoje com os tempos recentes, em que a fé católica parecia tranqüila e segura.


Os bispos participam da missão dada aos apóstolos, de “confirmar os irmãos na fé”. Diante da angústia de muitos, frente à pesada missão que lhes foi confiada, trouxe um pouco mais de tranqüilidade a reflexão em torno das condições de liberdade que a fé supõe e exige.

A fé é uma proposta que pode ser aceita, ou pode ser rejeitada. Aliás, esta foi a primeira advertência feita por Jesus aos apóstolos, quando os enviou em missão.

Jesus fez questão de aliviar a preocupação dos apóstolos, face à hipótese muito provável, de que a mensagem deles não seria sempre aceita por todos.

Diante desta possibilidade, Jesus pediu aos apóstolos que não se preocupassem com a reação dos destinatários de sua mensagem.  “Se não quiserem receber vossa paz, ela voltará para vós”, explicou Jesus de maneira prática. Como gesto simbólico, chegou a aconselhar que sacudissem a poeira dos sapatos, para dizer que em nada se sentiam cúmplices da rejeição à mensagem.

Pois bem, parece estar faltando aos pastores de hoje esta tranqüilidade recomendada por Cristo. O Evangelho não pretende impor nada. Nem ele existe para tolher a liberdade de quem quer que seja.

O que pode estar acontecendo é termos perdendo o caráter de  “boa notícia” que a própria palavra “evangelho” expressa. Ou melhor dizendo, expressava. Pois acabamos perdendo o impacto que esta palavra tinha na boca de Jesus e dos seus apóstolos.

O fato é que a mensagem de Jesus trazia uma certeza, e garantia uma perspectiva de esperança, fundada no desfecho feliz de sua pregação inicial, sinteticamente descrita por Marcos, no início do seu Evangelho: “O templo se completou, o Reino de Deus está próximo, convertei-vos, e crede no Evangelho”.

Usada agora esta palavra “Evangelho”, ela passa longe do significado autêntico que ela tinha. Pois queria dizer: “boa nova”, “alegre notícia”, “mensagem feliz”.  Uma “boa notícia” que decorria de acontecimentos que estavam em ação, que vinham se desdobrando, compondo o vasto panorama de presságios ligados ao “tempo” que estava se cumprindo.

Tinha chegado a hora propícia para eclodir esta mensagem positiva. Mesmo que alguns a rejeitassem, ela era tão importante, que precisava ser proposta, também para os que eventualmente não a quisessem receber. “Sacudi a poeira que se juntou a vossos pés. Mas, fiquem sabendo que o Reino de Deus está próximo”.

Os acontecimentos continuam. Basta interpretar sua mensagem. Eles serão sempre sinais de alerta para acolher as propostas que o “Reino de Deus”  nos apresenta!




Dom Demétrio Valentini
Bispo de Jales (SP)

Celebração de 3 anos da partida do seminarista Mario Dayvit


"Tudo o que o Pai me der virá a mim, diz o Senhor; 
e o que vier a mim, não o rejeitarei" (João 6,37).

A Paróquia São José e São Pantaleão (Centro), familiares e amigos, convida todos para a missa de 3 anos do falecimento do seminarista Mario Dayvit que será celebrada às 18h de hoje, 04 de julho, na Igreja Matriz da mesma paróquia. 


Vítima da violência que ainda ronda a cidade de São Luís, Mario foi assassinado na porta de casa durante um assalto feito por 3 bandidos. Mario Dayvit estava terminando o 4º ano de teologia e já havia recebido os ritos de leitorato e acolitato. Os ritos de admissão às ordens sacras estavam marcados para o dia 04 de agosto de 2010, justamente quando faltava 1 mês, aconteceu essa tragédia irreparável para a Arquidiocese de São Luís. Apenas 4 meses depois dessa tragédia, também foi vítima de latrocínio o padre Bernardo que tinha apenas 2 meses de ordenação presbiteral.

Rezemos nesta celebração pedindo a paz à nossa cidade de São Luís e por todas as vítimas, especialmente os jovens que estão sendo vítimas da falta de segurança em nossa cidade.

Informamos que a Igreja de São José e São Pantaleão fica localizada na Rua São Pantaleão (rua antes do Socorrão I), Centro.



quarta-feira, 3 de julho de 2013

Falta apenas a assinatura do Papa para a Canonização de João Paulo II

É possível que o Papa Francisco faça a canonização de João Paulo II junto com a de João XXIII

A reunião plenária dos cardeais e bispos da Congregação para a Causa dos Santos aprovou nesta manhã o segundo milagre de João Paulo II, que abre as portas para sua canonização, ou seja, a proclamação oficial que o nomeará santo. Agora, falta apenas a assinatura do Papa Francisco.

Em abril deste ano, a comissão médica considerou por unanimidade a cura realizada por intercessão do beato como inexplicável para a ciência. Em Junho, a comissão de teólogos aceitou o segundo milagre, e hoje a comissão de cardeais e bispos da Congregação certificou que a cura foi por intercessão do papa polonês.


O milagre foi realizado por Wojtyla no mesmo dia da canonização, em 1 de maio de 2011. O Vaticano ainda não divulgou a natureza do milagre, mas o jornal italiano Il Giornale diz que a cura inexplicável é de uma mulher da Costa Rica atingida por uma lesão cerebral grave.

Entretanto, o milagre seria duplo, uma vez que a família do paciente tinha perdido a fé por causa da dor do infortúnio, e teria recuperado ao ver a cura inexplicável.

A aprovação de hoje é o último passo antes da assinatura do decreto do Papa Francisco, que deverá convocar um Consistório em que anunciará oficialmente a data da canonização.


Quanto à data da canonização, os cardeais e bispos da Congregação, durante a reunião hodierna, mostraram certa preferência para o mês de dezembro, após a conclusão do Ano da Fé. E devemos ter em mente também que está pendente a data da canonização de João XXIII.
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Fonte: Zenit/pt

Abaixo a corrupção!


Certa vez, um rei perguntou aos seus ministros a causa de o dinheiro público não chegar ao seu destino como quando saiu da sua fonte. Um ministro mais velho, sentado na outra cabeceira da mesa, tomou uma grande pedra de gelo e pediu que a passassem de mão em mão até o Rei. Quando a pedra lá chegou estava bem menor. O ministro então disse: é essa a explicação: “passa por muitas mãos e sempre deixa alguma coisa”.

A corrupção é considerada pela ONU o crime mais dispendioso de todos, causa de muitos outros. A corrupção propicia a ocupação de cargos por pessoas indignas, as manobras políticas, a compra de votos, as licitações desonestas, o desvio, a malversação e o desperdício do dinheiro público, a impunidade, o tráfico de drogas, a sua veiculação nos presídios etc.


“Aquele que ama o ouro não estará isento de pecado; aquele que busca a corrupção será por ela cumulado. O ouro abateu a muitos... Bem-aventurado o rico que foi achado sem mácula... Quem é esse homem para que o felicitemos? Àquele que foi tentado pelo ouro e foi encontrado perfeito está reservada uma glória eterna:... ele podia fazer o mal e não o fez” (Eclo 31, 5-10). São palavras de Deus para todos nós.

Ao ler o título desse artigo, se pensa logo nos políticos. Mas há muita gente, fora da política, que se enquadra nesse título: quantos exploradores da coisa pública, quantos sugadores do Estado, que não são políticos! Aí se enquadram todos os profissionais ou amadores que se corrompem pelo dinheiro.  Quem vota por dinheiro é corrupto. Quem vota apenas por emprego próprio é corrupto. Quem corre atrás dos políticos para conseguir benesses espúrias é corrupto.

O Papa Francisco tem insistido sobre a diferença entre pecado e corrupção, entre o pecador e o corrupto. Segundo ele, pecadores somos todos nós, mas o corrupto é aquele que deu um passo a mais: perdeu a noção do bem e do mal. Já não tem mais o senso do pecado. Os corruptos fazem de si mesmos o único bem, o único sentido; negando-se a reconhecer a Deus, o sumo Bem, fazem para si um Deus especial: são Deus eles mesmos.

O Papa lembrou que São Pedro foi pecador, mas não corrupto, ao passo que Judas, de pecador avarento, acabou na corrupção. “Que o Senhor nos livre de escorregar neste caminho da corrupção. Pecadores sim, corruptos, não.” (Homilia, 4/6/2013).

A Igreja proclamou padroeiro dos Governantes e dos Políticos São Tomás More, “o homem que não vendeu sua alma”, exatamente porque soube ser coerente com os princípios morais e cristãos até ao martírio. Advogado, Lorde Chanceler do Reino da Inglaterra, preferiu perder o cargo com todas as suas regalias e a própria vida a trair sua consciência.


No atual clima de corrupção e venalidade que invadiu o sistema social, político, eleitoral e governamental, possa o exemplo de Santo Tomás More ensinar aos políticos, atuais e futuros, e a todos nós, que o homem não pode se separar de Deus, nem a política da moral, e que a consciência não se vende por nenhum preço, mesmo que isto nos custe caro e até a própria vida.


Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney

Reforma Política e Ética


As manifestações de rua de considerável parte da população, sobretudo jovem, revelam que nossa democracia está enferma. Que pensar de uma democracia representativa em que os representantes não representam de fato o povo que os elegeu? Esse divórcio está sendo sobejamente manifestado nas ruas de nossas cidades. Torna-se evidente a urgência de uma Reforma Política. É lamentável que os partidos políticos se tenham multiplicado excessivamente para atender interesses de pessoas e de grupos, sem a perspectiva do bem comum. Eis a lista dos atuais: PMDB, PTB, PDT, PT, DEM, PCdoB, PSB, PSDB,PTC, PSC, PRP, PV, PTdoB, PRTB, PP, PSTU,PCB, PHS, PSDC,PCO, PTN, PSL, PRB, PSOL, PR, PSD, PPL, PEN, MD. Não consigo traduzir as siglas desse enorme contingente de partidos.

As negociações do Poder Executivo com as lideranças partidárias para poder governar com maioria no Congresso Nacional constituem um espetáculo deprimente, submetendo com freqüência a nobre atividade política a um doentio jogo de interesses.


Uma assembléia constituinte específica para a Reforma Política, aventada pela Presidente da República, já foi descartada como inconstitucional e substituída pela proposta de um plebiscito, quando a sociedade será consultada sobre alguns itens fundamentais da questão.

Na última reunião do Conselho Permanente da CNBB, nos dias 19, 20 e 21 de junho,  assumimos, em parceria com a OAB e o MCC (Movimentode Combate à Corrupção), empenhar-nos na viabilização de um projeto de Reforma Política de iniciativa popular, centrado em dois pontos fundamentais: a) financiamento público exclusivo de campanhas; b) mudanças no sistema eleitoral onde se pudesse conjugar, de alguma forma, voto no partido e voto na pessoa do candidato. Mas é evidente que há outros aspectos que devem entrar no plebiscito.


Mas, além da Reforma Política, é necessária uma consistente formação política que possibilite a todos compreenderem a importância da Política como dimensão fundamental da vida em sociedade. As manifestações de rua, com o passar do tempo, cairão no vazio se não forem iluminadas por uma sólida filosofia política que permita aos cidadãos situarem sua vida e suas opções dentro do contexto mais amplo de uma compreensão de como deve ser a dinâmica da vida social em todos os seus aspectos. Falar em filosofia política significa buscar a compreensão da razão de ser da sociedade, da polis, tema sobre o qual os antigos refletiram com profundidade. Falar em filosofia política é abrir espaço para pensar e consolidar princípios morais que orientem, em todas as suas dimensões, a organização e a vida da Cidade.  A Política não pode ser refém da economia, sobretudo quando esta se organiza exclusivamente em função do lucro. Pelo contrário à Política compete a tarefa de regulamentar a atividade econômica de modo que esta se coloque a serviço da vida. A alma da Política é, - assim entendeu Aristóteles - , a ética donde devem brotar normas que regulamentem a vida em sociedade. Mais importante ainda: todos os cidadãos devem ser conscientes de que sem solidariedade não é possível construir uma Cidade onde todos possam ser felizes. Donde a necessidade de formar para a prática das virtudes, especialmente para a justiça. A Política é a ciência e a arte de construir o Bem Comum. Em sua primeira encíclica o Papa Bento XVI nos lembrava: “A justa ordem da sociedade e do Estado é dever central da Política. Um Estado, que não se regesse segundo a justiça, reduzir-se-ia a um grande bando de ladrões, como disse Agostinho uma vez: Remota itaque iustitia quid sunt regna nisi magna latrocinia?” Nossas escolas, em todos os níveis, deveriam ser o espaço principal de formação para a cidadania e não apenas para o mercado e muito menos para uma liberdade sem limites. A formação para a cidadania implica a consciência dos direitos com a noção e a prática correspondente dos deveres. Exige ainda a capacidade de conviver fraternalmente com a diversidade sempre na busca sincera por parte de todos do que é melhor para todos. Como faria bem o ensino de Filosofia Política em todos os cursos de nossas universidades na linha do pensamento de Michael Sandel! Este esteve recentemente no Brasil e “defende um resgate dos princípios e das convicções morais diante da lógica de mercado, em contraponto aos que pregam soluções técnicas e ênfase apenas nos resultados”. Faria bem a todos nós diante das várias formas de fundamentalismo, inclusive o laicista, ouvir Sandel: “Então, a política precisa estar aberta às convicções morais dos cidadãos, não importa a origem. Alguns cidadãos extraem convicções morais de sua fé, enquanto outros são inspirados por fontes não religiosas. Não acho que devamos discriminar as origens das convicções ou excluir uma delas. O que importa  é o debate ser conduzido com respeito mútuo”. Vivemos, em linguagem cristã, um momento de graça. Não podemos desperdiçar esse momento.


Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
Arcebispo de Sorocaba (SP)

Para onde vai a idolatria do mercado


O sistema capitalista, de alguma forma, está presente nas transações comerciais da humanidade, desde tempos imemoriais. Todos sempre estiveram conscientes das imperfeições profundas desse sistema. Mas jamais foi encontrado algo melhor. Houve tentativas famosas de superar tal organização econômica da sociedade.

Já no tempo dos sábios gregos houve uma proposta de Platão na sua obra “A República”, que causou não poucas tentativas mal sucedidas. Já nos tempos modernos Santo Tomás Morus, patrono dos políticos, ficou famoso pela sua obra “A Utopia”, onde advogava uma sociedade sem propriedade particular dos meios de produção. Esse sonho que, em alguns momentos chegou a assumir ares de delírio, mais tarde se somatizou no socialismo. Não é preciso ser um gênio para verificar que esse sistema nos levou a regimes políticos, os mais cruéis  e perversos da história. Também não é nada difícil demonstrar que os seus conteúdos filosóficos são de corte totalmente materialista.



Vejam só que a Doutrina Social da Igreja, referindo-se ao capitalismo, admite como positivas,  as leis do mercado; concorda com a criação da moeda; dos bancos;  e do lucro justo. Mas junto com o pensador Levinas, a Igreja considera evidente que a exacerbação de seus pressupostos, levou a um crasso materialismo.  O capitalismo, por falta de melhor idéia, apoderou-se da escatologia judaico-cristã. Se a Igreja, seguindo o seu sábio mestre Jesus Cristo, fala de pecado original, da necessidade de sacrifícios, de encontro definitivo com Deus na eternidade, o capitalismo elevado a idolatria e princípio absoluto, mimetizou os princípios da Igreja.  A Religião, durante muitos séculos, foi a inspiradora natural das grandes motivações da humanidade. Tudo estava impregnado de espírito religioso. Basta olhar as motivações profundas que acionavam as naus portuguesas, a invasão dos holandeses no Nordeste, a aventura dos calvinistas franceses no Rio de Janeiro. Só que o materialismo baixou isso tudo para o âmbito intramundano. O único pecado que pode afetar o ser humano é querer ser bondoso com o semelhante. O sacrifício que deve ser feito é padecer hoje, para gozar tanto mais amanhã. E para ser feliz não é mais preciso buscar a Deus, mas ajuntar bens para este mundo.


Dom Aloísio Roque Oppermann 
Arcebispo Emérito de Uberaba (MG)