segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Beatificação de João Paulo I, o papa do sorriso, já tem data


João Paulo I, o papa do sorriso, cujo pontificado durou apenas 33 dias, será beatificado em 4 de setembro de 2022 pelo papa Francisco na praça de São Pedro.

A data foi anunciada pela Congregação para as Causas dos Santos quase dois meses depois que o papa Francisco aprovou o decreto que reconhece o milagre atribuído à intercessão de João Paulo I: a cura da argentina Candela Giarda em 2011, na época uma menina em estado vegetativo.

O dicastério dirigido pelo cardeal Marcello Semeraro comunicou a data ao postulador da causa da canonização, cardeal Beniamino Stella, e a dom Renato Marangoni, bispo de Belluno-Feltre, diocese onde no dia 23 de novembro de 2003 foi aberto o processo para levar aos altares o papa do sorriso, cujo nome de batismo foi Albino Luciani.

O pontificado de João Paulo I durou apenas 33 dias, de 26 de agosto de 1978 até sua morte em 28 de setembro do mesmo ano

Carta do papa Francisco aos esposos pelo Ano da Família Amoris Laetitia

 

CARTA DO SANTO PADRE FRANCISCO
AOS ESPOSOS
POR OCASIÃO DO ANO «FAMÍLIA AMORIS LÆTITIA»

Queridos maridos e esposas do mundo inteiro!

Por ocasião do Ano «Família Amoris lætitia», dirijo-me a vós para vos manifestar a minha estima e proximidade neste tempo tão especial que estamos a viver. Sempre tive presente as famílias nas minhas orações, mas mais ainda durante a pandemia que colocou todos duramente à prova, sobretudo os mais vulneráveis. O momento que estamos a atravessar leva-me a aproximar, com humildade, estima e compreensão, de toda a pessoa, casal e família na sua situação concreta.

Este contexto particular convida-nos a viver as palavras com que o Senhor chama Abraão para partir da sua terra e da casa do seu pai rumo a uma terra desconhecida que Ele próprio lhe indicará (cf. Gn 12, 1). Também nós vivemos enormemente a incerteza, a solidão, a perda de entes queridos e fomos impelidos a sair das nossas seguranças, dos nossos espaços de «controle», da nossa forma de fazer as coisas, das nossas ambições, para nos interessarmos não apenas pelo bem da nossa família, mas também pelo da sociedade, que depende igualmente do nosso comportamento pessoal.

A relação com Deus molda-nos, acompanha-nos e coloca-nos em movimento como pessoas e, em última instância, ajuda-nos a «sair da nossa terra», em muitos casos com um certo receio e até medo do desconhecido, mas sabemos, pela nossa fé cristã, que não estamos sozinhos porque Deus está em nós, conosco e no meio de nós: na família, na vizinhança, no local de trabalho ou de estudo, na cidade onde habitamos.

À semelhança de Abraão, cada um dos esposos sai da sua terra desde o momento em que, tendo ouvido a chamada ao amor conjugal, decide dar-se ao outro sem reservas. Assim, o noivado já implica a saída da própria terra, porque exige percorrer juntos o caminho que conduz ao casamento. As diferentes situações da vida – a idade que vai passando, a chegada dos filhos, o trabalho, as doenças – são circunstâncias em que o compromisso mutuamente assumido obriga cada um a abandonar a própria inércia, as certezas, os espaços de tranquilidade para sair rumo à terra que Deus promete: ser dois em Cristo, dois num só, formando uma única vida, um «nós» na comunhão de amor com Jesus, vivo e presente em cada momento da vossa existência. Deus acompanha-vos, ama-vos incondicionalmente. Não estais sozinhos!

Queridos esposos, sabei que os vossos filhos – especialmente os mais novos– vos observam com atenção e procuram em vós o testemunho dum amor forte e fidedigno. «Como é importante, para os jovens, ver com os próprios olhos o amor de Cristo vivo e presente no amor dos esposos, que testemunham com a sua vida concreta que o amor para sempre é possível» [1]. Os filhos são um dom, sempre; mudam a história de cada família. Têm sede de amor, reconhecimento, estima e confiança. A paternidade e a maternidade convidam-vos a ser progenitores para dar aos vossos filhos a alegria de se descobrirem filhos de Deus, filhos dum Pai que os amou ternamente, desde o primeiro instante, e todos os dias os leva pela mão. Esta descoberta pode dar aos vossos filhos a fé e a capacidade de confiar em Deus.

Claro, educar os filhos não é nada fácil. Mas não esqueçamos que também eles nos educam. O primeiro ambiente educativo continua sempre a ser a família, nos pequenos gestos que são mais eloquentes do que as palavras. Educar é, antes de tudo, acompanhar os processos de crescimento, estar presente de várias formas para que os filhos possam contar com os pais em cada momento. O educador é uma pessoa que «gera» em sentido espiritual e sobretudo que «se dá» ao colocar-se em relação. Como pai e mãe, é importante relacionar-se com os filhos partindo duma autoridade conquistada dia após dia. Eles precisam duma segurança que os ajude a sentir confiança em vós, na beleza da vossa vida, na certeza de nunca estarem sozinhos, aconteça o que acontecer.

Por outro lado, como tenho já assinalado, cresceu a consciência da identidade e missão dos leigos na Igreja e na sociedade. Vós tendes a missão de transformar a sociedade com a vossa presença no mundo do trabalho e fazer com que as necessidades das famílias sejam tidas em conta. Também os cônjuges devem “primeirear” [2] no seio da comunidade paroquial e diocesana com as suas iniciativas e criatividade, buscando a complementaridade dos carismas e das vocações como expressão da comunhão eclesial, em particular a comunhão dos «cônjuges ao lado de pastores, para caminhar com outras famílias, para ajudar os mais fracos, para anunciar que, até nas dificuldades, Cristo Se faz presente» [3].

Por isso vos exorto, queridos esposos, a colaborar na Igreja, especialmente na pastoral familiar. Com efeito, «a corresponsabilidade pela missão chama os cônjuges e os ministros ordenados, especialmente os bispos, a cooperar de forma fecunda no cuidado e na tutela das igrejas domésticas» [4]. Lembrai-vos que a família é a «célula fundamental da sociedade» (Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 66). O casamento é realmente um projeto de construção da «cultura do encontro» (Francisco, Carta enc. Fratelli tutti, 216). Por isso, compete às famílias o desafio de lançar pontes entre as gerações para a transmissão dos valores que constroem a humanidade. É necessária uma nova criatividade para expressar, nos desafios atuais, os valores que nos constituem como povo nas nossas sociedades, e como Povo de Deus na Igreja.

A vocação ao casamento é uma chamada para guiar um barco instável – mas seguro, pela realidade do sacramento – em mar às vezes agitado. Quantas vezes tendes vontade de dizer ou, melhor, de gritar como os apóstolos: «Mestre, não Te importas que pereçamos?» (Mc 4, 38). Não esqueçamos que, graças ao sacramento do Matrimónio, Jesus está presente neste barco; olha por vós, permanece convosco a todo o momento, no sobe e desce do barco agitado pelas águas. Noutra passagem do Evangelho, lê-se que os discípulos, encontrando-se em dificuldade, veem Jesus aproximar-Se no meio da tempestade e acolhem-No no barco; assim também vós, quando enfurecer a tempestade, deixai Jesus subir para o barco, porque então, quando «subiu para o barco, para junto deles, o vento amainou» (Mc 6, 51). É importante que, juntos, mantenhais o olhar fixo em Jesus. Só assim tereis a paz, superareis os conflitos e encontrareis soluções para muitos dos vossos problemas: não porque estes tenham desaparecido, mas por serdes capazes de os ver doutra perspectiva.

Só abandonando-se nas mãos do Senhor é que podereis viver o que parece impossível. O caminho é reconhecer a própria fragilidade e impotência que experimentais perante tantas situações ao vosso redor, mas ao mesmo tempo ter a certeza de que assim a força de Cristo se manifesta na vossa fraqueza (cf. 2 Cor 12, 9). Foi precisamente no meio duma tempestade que os apóstolos chegaram a reconhecer a realeza e divindade de Jesus (cf. Mt 14, 33) e aprenderam a confiar n’Ele.

À luz destas referências bíblicas, quero aproveitar a ocasião para refletir sobre algumas dificuldades e oportunidades que as famílias têm vivido neste tempo de pandemia. Por exemplo, aumentou o tempo para estarem juntos, proporcionando uma oportunidade única para cultivar o diálogo em família. Obviamente isto requer um exercício especial de paciência; não é fácil estar juntos o dia todo, quando se tem que trabalhar, estudar, divertir-se e descansar na mesma casa. Que o cansaço não vos vença; possa a força do amor tornar-vos capazes de vos preocupardes mais com o outro – o cônjuge, os filhos – do que com o próprio cansaço. Recordai o que escrevi na Exortação Amoris lætitia (cf. nn. 90-119), ao comentar o hino paulino da caridade (cf. 1 Cor 13, 1-13). Pedi, com insistência, este dom à Sagrada Família; lede uma vez e outra o elogio da caridade, para que seja ela a inspirar as vossas decisões e ações (cf. Rm 8, 15; Gl 4, 6).

Assim, o estar juntos não será uma penitência, mas um refúgio no meio das tempestades. Que a família seja um lugar de acolhimento e compreensão. Guardai no coração o conselho, que dei aos esposos, de usarem estas três palavras: «com licença, obrigado, desculpa» [5]. E, se surgir algum conflito, «nunca termineis o dia sem fazer as pazes» [6]. Não vos envergonheis de ajoelhar, juntos, diante de Jesus na Eucaristia para encontrar momentos de paz e um olhar recíproco feito de ternura e bondade; ou de pegar na mão do outro, quando está um pouco zangado, para lhe arrancar a cumplicidade dum sorriso. Fazei, talvez, uma breve oração, rezada conjuntamente em voz alta à noite antes de adormecerdes com Jesus presente no meio de vós.

Entretanto, para alguns casais, a convivência a que foram forçados durante a quarentena revelou-se particularmente difícil. Os problemas, que já existiam, agravaram-se, gerando conflitos que se tornaram muitas vezes quase insuportáveis. E vários chegaram até à rutura da sua relação, sobre a qual gravava uma crise que não souberam ou não puderam superar. A estas pessoas, desejo manifestar-lhes também a minha proximidade e afeto.

A rutura duma relação conjugal gera muito sofrimento por causa de tantas aspirações malogradas; a falta de entendimento provoca discussões e feridas que não são fáceis de remediar. Nem sequer é possível poupar aos filhos a amargura de ver que os seus pais já não estão juntos. Mesmo assim, não cesseis de buscar ajuda para que se possa dalguma forma superar os conflitos, a fim de que estes não provoquem ainda mais sofrimento entre vós e aos vossos filhos. O Senhor Jesus, na sua infinita misericórdia, inspirar-vos-á o modo de avançar no meio de tantas dificuldades e dissabores. Não deixeis de O invocar e procurar n’Ele um refúgio, uma luz para o caminho e, na comunidade, uma «casa paterna onde há lugar para todos com a sua vida fadigosa» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 47).

Não esqueçais que o perdão cura todas as feridas. O perdão mútuo é o resultado duma decisão interior que amadurece na oração, na relação com Deus, como um dom que brota da graça com que Cristo cumula o casal quando os dois se voltam para Ele e O deixam agir. Cristo «habita» no vosso casamento e espera que Lhe abrais os vossos corações, para vos apoiar com a força do seu amor, como aos discípulos no barco. O nosso amor humano é frágil, precisa da força do amor fiel de Jesus. Com Ele, podeis verdadeiramente construir a «casa sobre a rocha» (Mt 7, 24).

Natal de uma só luz



Que Natal tão diferente /Do Natal dos outros anos, / A saudade e os desenganos / Enchendo a alma da gente! - Muitos amigos partiram / Sem lhes darmos nosso abraço / Nem pra beijos houve espaço, / Só as lágrimas seguiram. - Em Belém, não houve luz / Uma noite sem amigos / Pastores, pobres, mendigos / Cercaram o rei Jesus. - Jesus nasceu, noite escura, / Em sua morte, escuridão. / Ele é luz, ressurreição, / A terra ficou mais pura. - Que Ele nos traga alegria / A um mundo tão sofredor. / Que Natal de pandemia! / Natal de tristeza e dor! - Natal de brilho e de luz / Natal de uma só estrela / Aquela sim a mais bela / Pois é o Menino Jesus!

Escrevi esse singelo poema para o ano de 2020. Mas se aplica ainda ao presente ano. 
   
O primeiro Natal, do qual celebramos a memória, foi realmente alegre e feliz. Que alegria e que felicidade! Nasceu Jesus, o Messias, prometido desde o paraíso perdido, esperado desde Adão pelos Patriarcas, razão de ser do povo eleito, o Salvador da humanidade, o Senhor feito homem. E os anjos anunciaram aos pastores essa felicidade. A aparição da estrela misteriosa fez renascer a felicidade no coração dos Magos que vieram do Oriente.

“Eis que vos anuncio uma grande alegria para todo o povo: nasceu o Salvador, o Cristo, o Senhor” (Lc 2,10-11).  “A aparição daquela estrela os encheu de grandíssima alegria” (Mt 2,10). Mas como pode ter sido feliz um Natal cheio de sofrimentos? 

Apologista católico, Paulo Leitão, morre no RN


 
Paulo Leitão de Gregório, ex-pastor protestante, apologista católico, personal trainer e consultor de musculação estética, foi encontrado morto por familiares no último sábado (25), em Natal, Rio Grande do Norte, onde morava. Não se sabe a causa da morte, mas a suspeita é de que tenha sido um AVC (acidente vascular cerebral).

A informação foi confirmada pelo Instituto Técnico e Científico de Polícia (Itep). Paulo tinha 48 anos e gerava polêmica nas redes sociais por ser crítico de medidas adotadas na pandemia, como o isolamento social e o uso de máscaras.

Paulo chegou a ter sua conta do Instagram, com mais de 100 mil seguidores, derrubada duas vezes este ano. O episódio mais recente foi em novembro, quando o atleta abriu um perfil alternativo e avisou seus seguidores do ocorrido.

Inclusive, internautas estão usando o perfil alternativo para despedir-se de Paulo, lamentar a sua morte ou tecer críticas.

terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Natal único, verdadeiro e eterno consolo



Quando alguns colaboradores da ACN regressaram recentemente de uma viagem de acompanhamento de projetos no Líbano e na Síria, eu lhes perguntei quais foram as suas impressões, e a primeira resposta foi: “Lá predomina uma falta de perspectiva deprimente”. Essas palavras tocaram-me profundamente, porque não há pior desgraça do que quando a pessoa se afunda no desespero e desolação.

Não podemos viver sem uma perspectiva, sem ter diante dos olhos um fio condutor, um rumo e uma meta. Todos nós precisamos dessa esperança, que não é uma consolação barata, mas um conforto real, revitalizador. E o tempo do Advento que inicia quer levar-nos à fonte da verdadeira consolação.

Mas agora a questão é: no que consiste esse conforto? Com razão nós nos alegramos pelo espírito pré-natalino, alguns também pelas compras do Advento ou por um Natal com uma boa refeição e presentes. Mas tudo isto passa bem depressa. Um consolo duradouro só pode vir de Deus. E vem de forma bem escondida e pequena, imerso na escuridão e no frio deste mundo: numa criança que chora na manjedoura. Para muitos, um consolo fraco, um curativo religioso para pobres e fracos. Em vez de confiar no amor, gostariam de mudar o sistema, de assegurar o progresso sustentável, de anular o sofrimento, de criar um mundo em que o consolo já não seja mais necessário. Mas um mundo desses seria desumano.

É difícil aceitarmos consolação de um Deus que se tornou criança. Mas haverá maior consolo do que quando Deus entra na minha solidão, no meu amor estremecido, como companheiro de sofrimento? Esse é o caminho divino da salvação: levantar-se e ir ao encontro do outro, para carregar com ele o seu fardo, enxugar suas lágrimas. Só um amor assim pode dar um verdadeiro conforto e uma perspectiva clara. E quanto mais nos deixarmos consolar por Deus, tanto mais teremos a força do amor para consolar todos os que sofrem (cf. 2Cor 1,4).

Mensagem do Papa para o 55º Dia Mundial da Paz: "Diálogo entre gerações, educação e trabalho: instrumentos para construir uma paz duradoura"

 
MENSAGEM DO SANTO PADRE
FRANCISCO PARA A CELEBRAÇÃO DO
55º DIA MUNDIAL DA PAZ

1º DE JANEIRO DE 2022

DIÁLOGO ENTRE GERAÇÕES, EDUCAÇÃO E TRABALHO:
INSTRUMENTOS PARA CONSTRUIR UMA PAZ DURADOURA
 
1. «Que formosos são sobre os montes os pés do mensageiro que anuncia a paz» (Is 52, 7)!

Estas palavras do profeta Isaías manifestam a consolação, o suspiro de alívio dum povo exilado, extenuado pelas violências e os abusos, exposto à infâmia e à morte. Sobre esse povo, assim se interrogava o profeta Baruc: «Por que estás tu em terra inimiga, envelhecendo num país estrangeiro? Contaminaste-te com os mortos, foste contado com os que descem ao Hades» (3,10-11). Para aquela gente, a chegada do mensageiro de paz significava a esperança dum renascimento dos escombros da história, o início dum futuro luminoso.

Ainda hoje o  caminho da paz – o novo nome desta, segundo São Paulo VI, é  desenvolvimento integral [1] – permanece, infelizmente, arredio da vida real de tantos homens e mulheres e consequentemente da família humana, que nos aparece agora totalmente interligada. Apesar dos múltiplos esforços visando um diálogo construtivo entre as nações, aumenta o ruído ensurdecedor de guerras e conflitos, ao mesmo tempo que ganham espaço doenças de proporções pandémicas, pioram os efeitos das alterações climáticas e da degradação ambiental, agrava-se o drama da fome e da sede e continua a predominar um modelo económico mais baseado no individualismo do que na partilha solidária. Como nos tempos dos antigos profetas, continua também hoje a elevar-se  o clamor dos pobres e da terra [2] para implorar justiça e paz.

Em cada época, a paz é conjuntamente dádiva do Alto e fruto dum empenho compartilhado. De facto, há uma «arquitetura» da paz, onde intervêm as várias instituições da sociedade, e existe um «artesanato» da paz, que nos envolve pessoalmente a cada um de nós [3]. Todos podem colaborar para construir um mundo mais pacífico partindo do próprio coração e das relações em família, passando pela sociedade e o meio ambiente, até chegar às relações entre os povos e entre os Estados.

Quero propor, aqui,  três caminhos para a construção duma paz duradoura. Primeiro, o  diálogo entre as gerações, como base para a realização de projetos compartilhados. Depois,  a educação, como fator de liberdade, responsabilidade e desenvolvimento. E, por fim,  o trabalho, para uma plena realização da dignidade humana. São três elementos imprescindíveis para tornar «possível a criação dum pacto social» [4], sem o qual se revela inconsistente todo o projeto de paz.

2. Dialogar entre gerações para construir a paz

Num mundo ainda fustigado pela pandemia, que tem causado tantos problemas, «alguns tentam fugir da realidade, refugiando-se em mundos privados, enquanto outros a enfrentam com violência destrutiva, mas, entre a indiferença egoísta e o protesto violento há uma opção sempre possível: o diálogo, [concretamente] o diálogo entre as gerações» [5].

Todo o diálogo sincero, mesmo sem excluir uma justa e positiva dialética, exige sempre uma confiança de base entre os interlocutores. Devemos voltar a recuperar esta confiança recíproca. A crise sanitária atual fez crescer, em todos, o sentido da solidão e o isolar-se em si mesmos. Às solidões dos idosos veio juntar-se, nos jovens, o sentido de impotência e a falta duma noção compartilhada de futuro. Esta crise é sem dúvida aflitiva, mas nela é possível expressar-se também o melhor das pessoas. De facto, precisamente durante a pandemia, constatamos nos quatro cantos do mundo generosos testemunhos de compaixão, partilha, solidariedade.

Dialogar significa ouvir-se um ao outro, confrontar posições, pôr-se de acordo e caminhar juntos. Favorecer tudo isto entre as gerações significa amanhar o terreno duro e estéril do conflito e do descarte para nele se cultivar as sementes duma paz duradoura e compartilhada.

Enquanto o progresso tecnológico e económico frequentemente dividiu as gerações, as crises contemporâneas revelam a urgência da sua aliança. Se os jovens precisam da experiência existencial, sapiencial e espiritual dos idosos, também estes precisam do apoio, carinho, criatividade e dinamismo dos jovens.

Os grandes desafios sociais e os processos de pacificação não podem prescindir do diálogo entre os guardiões da memória – os idosos – e aqueles que fazem avançar a história – os jovens –; tal como não é possível prescindir da disponibilidade de cada um dar espaço ao outro, nem pretender ocupar inteiramente a cena preocupando-se com os seus interesses imediatos como se não houvesse passado nem futuro. A crise global que vivemos mostra-nos, no encontro e no diálogo entre as gerações, a força motora duma política sã, que não se contenta em administrar o existente «com remendos ou soluções rápidas» [6], mas presta-se, como forma eminente de amor pelo outro, [7] à busca de projetos compartilhados e sustentáveis.

Se soubermos, nas dificuldades, praticar este diálogo intergeracional, «poderemos estar bem enraizados no presente e, daqui, visitar o passado e o futuro: visitar o passado, para aprender da história e curar as feridas que às vezes nos condicionam; visitar o futuro, para alimentar o entusiasmo, fazer germinar os sonhos, suscitar profecias, fazer florescer as esperanças. Assim unidos, poderemos aprender uns com os outros» [8]. Sem as raízes, como poderiam as árvores crescer e dar fruto?

É suficiente pensar no cuidado da nossa casa comum, já que o próprio meio ambiente «é um empréstimo que cada geração recebe e deve transmitir à geração seguinte» [9]. Por isso, devem ser apreciados e encorajados os numerosos jovens que se empenham por um mundo mais justo e atento à tutela da criação, confiada à nossa custódia. Fazem-no num misto de inquietude e entusiasmo, mas sobretudo com sentido de responsabilidade perante a urgente mudança de rumo [10], que nos é imposta pelas dificuldades surgidas da atual crise ética e sócio-ambiental [11].

Por outro lado, a oportunidade de construir, juntos, percursos de paz não pode prescindir da educação e do trabalho, lugares e contextos privilegiados do diálogo intergeracional: enquanto a educação fornece a gramática do diálogo entre as gerações, na experiência do trabalho encontram-se a colaborar homens e mulheres de diferentes gerações, trocando entre si conhecimentos, experiências e competências em vista do bem comum.

3. A instrução e a educação como motores da paz

Nos últimos anos, diminuiu sensivelmente a nível mundial o orçamento para a instrução e a educação, vistas mais como despesas do que como investimentos; e, todavia, constituem os vetores primários dum desenvolvimento humano integral: tornam a pessoa mais livre e responsável, sendo indispensáveis para a defesa e promoção da paz. Por outras palavras, instrução e educação são os alicerces duma sociedade coesa, civil, capaz de gerar esperança, riqueza e progresso.

Ao contrário, aumentaram as despesas militares, ultrapassando o nível registado no termo da «guerra fria», e parecem destinadas a crescer de maneira exorbitante [12].

Por conseguinte é oportuno e urgente que os detentores das responsabilidades governamentais elaborem políticas económicas que prevejam uma inversão na correlação entre os investimentos públicos na educação e os fundos para armamentos. Aliás a busca dum real processo de desarmamento internacional só pode trazer grandes benefícios ao desenvolvimento dos povos e nações, libertando recursos financeiros para ser utilizados de forma mais apropriada na saúde, na escola, nas infraestruturas, no cuidado do território, etc.

Faço votos de que o investimento na educação seja acompanhado por um empenho mais consistente na promoção da cultura do cuidado [13]. Perante a fragmentação da sociedade e a inércia das instituições, esta cultura do cuidado pode-se tornar a linguagem comum que abate as barreiras e constrói pontes. «Um país cresce quando dialogam de modo construtivo as suas diversas riquezas culturais: a cultura popular, a cultura universitária, a cultura juvenil, a cultura artística e a cultura tecnológica, a cultura económica e a cultura da família, e a cultura dos meios de comunicação» [14]. É necessário, portanto, forjar um novo paradigma cultural, através de «um pacto educativo global para e com as gerações jovens, que empenhe as famílias, as comunidades, as escolas e universidades, as instituições, as religiões, os governantes, a humanidade inteira na formação de pessoas maduras» [15]. Um pacto que promova a educação para a ecologia integral, segundo um modelo cultural de paz, desenvolvimento e sustentabilidade, centrado na fraternidade e na aliança entre os seres humanos e o meio ambiente [16].

Investir na instrução e educação das novas gerações é a estrada mestra que as leva, mediante uma específica preparação, a ocupar com proveito um justo lugar no mundo do trabalho [17]. 

Bispo consola quem está triste no Natal por ter perdido uma pessoa querida



No Natal celebramos o nascimento do Salvador entre nós, no entanto, este ano por causa da pandemia e de outras circunstâncias, muitas famílias sentirão saudades de alguma pessoa querida que morreu e que não poderá estar presente na ceia de Natal.

“Nesta Noite Santa, sentimos saudades de nossas pessoas queridas que morreram... mas nos consola 'saber' que eles estão com Jesus e que em breve nos encontraremos com eles”, escreveu em 24 de dezembro de 2019 dom José Ignacio Munilla, então bispo de San Sebastián, Espanha, em sua conta no Twitter.

O bispo, que agora é bispo da diocese de Orihuela Alicante, escreveu essas palavras porque seria o primeiro Natal em que sua mãe não estaria presente.

Ignacia Aguirre Uzcudun, mãe do bispo, morreu em 10 de novembro de 2019. Em seu tweet, dom Munilla postou junto com a frase uma imagem de Cristo segurando uma foto do bispo com a sua mãe na praça de São Pedro.

Santa Sé estabelece novas restrições à missa tradicional com resposta a dúvidas



A Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos publicou no dia 18 de dezembro a resposta a algumas disposições da carta apostólica na forma de motu proprio Traditionis custodes do papa Francisco que restringe a celebração da liturgia tradicional anterior à reforma do Concílio Vaticano II.

O prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, dom Arthur Roche, enviou aos presidentes das conferências episcopais mundiais uma "Responsa ad dubia" (Repostas a dúvidas) dizendo que a congregação "recebeu vários pedidos para esclarecer a aplicação correta de Traditionis custodes”.

“Algumas questões foram levantadas em diferentes lugares e com maior frequência: por isso, depois de examiná-las cuidadosamente, depois de ter informado o Santo Padre e de ter recebido seu consentimento, agora são publicadas as respostas às perguntas mais recorrentes”, escreveu dom Roche.

O documento divulgado em 18 de dezembro responde a onze perguntas e acrescenta notas explicativas e, em alguns casos, cita alguns artigos do motu proprio em latim.

Na introdução, dom Roche reitera as alegações do papa para as novas restrições à liturgia tradicional. Em primeiro lugar, “a busca constante da comunhão eclesial que se expressa reconhecendo nos livros litúrgicos promulgados pelos santos pontífices Paulo VI e João Paulo II, em conformidade com os decretos do Concílio Vaticano II, a única expressão da lex orandi do Rito Romano”.

“Essa é a direção na qual queremos caminhar e esse é o sentido das respostas que aqui publicamos: toda norma prescrita tem sempre como único fim salvaguardar o dom da comunhão eclesial caminhando juntos, com convicção de mente e de coração, na linha indicada pelo Santo Padre”, destacou Arthur Roche.

"Como Pastores não devemos nos render a polêmicas estéreis, capazes apenas de criar divisões, nas quais o ato ritual é muitas vezes instrumentalizado por visões ideológicas", escreveu Roche, mas “antes, todos nós somos chamados a redescobrir o valor da reforma litúrgica, salvaguardando a verdade e a beleza do rito que ela nos deu”.

Aqui estão as onze respostas às perguntas feitas:

1. Onde não for possível encontrar uma igreja ou oratório ou capela disponível para acolher os fiéis que celebram com o Missale Romanum (Editio tipyca 1962), pode o bispo diocesano pedir à Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos a dispensa da disposição do Motu Proprio Traditionis Custodes (Art. 3º § 2º), e, portanto, permitir assim a celebração na igreja paroquial?

Responde-se: Afirmativamente.

“O Motu Proprio Traditionis Custodes no Art. 3 § 2 pede que o bispo, nas dioceses onde até agora existe a presença de um ou mais grupos que celebram segundo o missal anterior à reforma de 1970, indique um ou mais lugares onde os fiéis aderentes a esses grupos se possam reunir para a celebração eucarística (mas não nas igrejas paroquiais e sem erigir novas paróquias pessoais)”.

“Nessas disposições não há intenção de marginalizar os fiéis vinculados à forma celebrativa precedente: só pretendem lembrar-lhes que é uma concessão para prover para o seu bem (tendo em vista o uso comum da única lex orandi do Rito Romano) e não uma oportunidade para promover o rito precedente”, advertiu o documento vaticano.

2. Segundo as disposições do motu proprio Traditionis custodes, é possível celebrar os sacramentos com o Rituale Romanum e o Pontificale Romanum anteriores à reforma litúrgica do Vaticano II?

Responde-se: Negativamente.

“Só as paróquias pessoais canonicamente erigidas que, segundo as disposições do motu proprio Traditionis Custodes, celebram com o Missale Romanum de 1962, estão autorizadas pelo bispo diocesano a conceder a licença para fazer uso do Rituale Romanum (última editio typica 1952) e não do Pontificale Romanum anterior à reforma litúrgica do Concílio Vaticano II”.

3. Se um sacerdote, a quem foi concedido o uso do Missale Romanum de 1962, não reconhece a validade e legitimidade da concelebração - recusando-se a concelebrar, em particular, na Missa Crismal - pode continuar se beneficiando desta concessão?

Responde-se: Negativamente.

“Porém, antes de revogar a concessão de fazer uso do Missale Romanum de 1962, o bispo procure estabelecer um diálogo fraterno com o presbítero; zelar para que tal atitude não exclua a validade e a legitimidade da reforma litúrgica, dos ditames do Concílio Vaticano II e do Magistério dos Sumos Pontífices; e acompanhá-lo na compreensão do valor da concelebração, especialmente na Missa Crismal”, destacou.

4. Na celebração eucarística que faz uso do Missale Romanum de 1962, é possível utilizar para as leituras o texto íntegro da Bíblia, escolhendo as perícopas indicadas neste Missal?

Responde-se: Afirmativamente.

"O art. 3 § 3 do Motu Proprio Traditionis Custodes estabelece que as leituras sejam proclamadas em língua vernácula, usando as traduções da Sagrada Escritura para uso litúrgico aprovadas pelas respectivas conferências episcopais (...) Uma vez que os textos das leituras estão contidos no próprio Missal, e não existindo, portanto, o livro do Lecionário, para observar o que está disposto no motu proprio, deve-se necessariamente recorrer ao livro da Sagrada Escritura na tradução aprovada pelas conferências episcopais para uso litúrgico, escolhendo as perícopas indicadas no Missale Romanum de 1962”.

5. O bispo diocesano, para conceder aos presbíteros ordenados depois da publicação do Motu Proprio Traditionis Custodes, celebrar com o Missale Romanum de 1962, deve ser autorizado pela Sé Apostólica (cf. Traditionis Custodes, n. 4)?

Responde-se: Afirmativamente.

“Não se trata um mero parecer consultivo, mas de uma necessária autorização dada ao bispo diocesano por parte da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, que exerce, para os assuntos da sua competência, a autoridade da Santa Sé (cf. Traditionis custodes, nº 7)”.

6. A faculdade de celebrar usando o Missale Romanum de 1962 pode ser concedida ad tempus?

Responde-se: Afirmativamente.

“A opção de conceder o uso do Missale Romanum de 1962 por um tempo definido - com a duração que o bispo diocesano considere oportuna - não só é possível, mas também recomendada: o fim do prazo definido oferece a possibilidade de verificar que tudo está em consonância com a orientação estabelecida pelo motu proprio. O resultado dessa verificação poderá fornecer motivos para prorrogar ou suspender a concessão”.

7. A faculdade concedida pelo bispo diocesano para celebrar fazendo uso do Missale Romanum de 1962 é válida apenas para o território da sua diocese?

Responde-se: Afirmativamente.

8. Em caso de ausência ou impossibilidade do sacerdote autorizado, quem o substitui deve ter também uma autorização formal?

Responde-se: Afirmativamente.