sexta-feira, 17 de setembro de 2021

"Casamento como sacramento é entre homem e mulher", diz o papa

 
O casamento como sacramento é entre um homem e uma mulher e a Igreja não pode mudar isso, disse o papa Francisco na entrevista coletiva no avião que o trouxe da visita à Hungria e à Eslováquia. Mas as leis civis que “buscam ajudar a situação de tanta gente de orientação sexual diferente” são “uma coisa importante”.

Francisco respondia a uma pergunta sobre o fato de que o Parlamento Europeu aprovou uma recomendação de que os países reconheçam as uniões homossexuais.

“Que se ajude essa gente sem impor coisas que, por sua natureza, na Igreja não vão”, respondeu o papa.

Depois de dizer que o “casamento como sacramento é claro”, o papa falou da possibilidade de haver leis civis que cubram qualquer tipo de associação que as pessoas queiram fazer. “Três viúvas, por exemplo, que queiram se associar com uma lei para ter serviço sanitário, para ter herança entre elas, essas coisas se fazem. (...) Não tem nada a ver com pares homossexuais”, disse Francisco. “Que as pessoas homossexuais possam usá-as, podem usá-las, mas o casamento como sacramento é homem e mulher”.

"O aborto é um homicídio", diz o papa Francisco no voo de volta a Roma



O papa Francisco disse na entrevista durante o voo que o levou da Eslováquia a Roma que “o aborto é um homicído”. “Sem meias palavras, quem faz um aborto, mata”, disse Francisco.

O papa respondia a uma pergunta de Gerard O’Connell, correspondente no Vaticano da America Magazine, revista dos jesuítas americanos, sobre a possibilidade de rercusar a comunhão a políticos católicos que defendem o aborto, como o presidente dos EUA, Joe Biden. Os bispos americanos vêm discutindo a questão e o episcopado está dividido sobre como agir.

“Peguem qualquer livro de embriologia desses que estudam os estudantes nas faculdades de medicina”, disse o papa. “Na terceira semana depois da concepção, muitas vezes antes que a mãe se dê conta, todos os órgãos estão já ali. Todos, também o DNA. Não é uma pessoa, é uma vida humana, ponto. Essa vida humana é respeitada. Esse princípio e claro assim”.

Para o papa, cientificamente o bebê no útero é uma vida humana. “É justo jogá-la fora para resolver um problema? E por isso a Igreja é dura assim nessa discussão porque é um pouco como se aceitasse isso, se aceitasse um homicídio cotidiano”, disse.

Sobre quem está fora da comunidade, Francisco afirmou que não pode comungar, mas isso não é um castigo. “A comunhão é unir-se à comunidade. Mas o problema não é um problema teológico, porque esse é simples. O problema é um problema pastoral: como nós, bispos, gerimos pastoralmente esse princípio”. Segundo o papa, a história da Igreja mostra que “toda vez que os bispos geriram não como pastores um problema se puseram na vida política, no problema político”.

Depois de citar santa Joana D’Arc, queimada como bruxa, e Girolamo Savonarola, morto em Florença no século XV, o papa disse perguntou: “O que deve fazer o pastor?” “Ser pastor”, respondeu. “Não sair condenando, não condenando-se, mas ser pastor. Mas é pastor tabém dos excomungados? Sim, é o pastor”.

Seguno o papa Francisco, o pastor deve sê-lo no estilo de Deus que é feito de proximidade, compaixão e ternura. “Proximidade, já no Deuteronômio se diz a Israel que povo tem deuses tão próximos como tu tens? Compaixão: o Senhor tem compaixão de nós. Leiamos Ezequiel, leiamos Oséias, já no início. E ternura, basta olhar o Evangelho e as coisas de Jesus”.

segunda-feira, 6 de setembro de 2021

7 de setembro: um recado do Brasil para o mundo contra o totalitarismo ideológico



Amanhã, dia 7 de setembro, o Brasil fará uma grande manifestação pela liberdade do seu povo, além de outras pautas importantíssimas. Entretanto, não podemos deixar de reconhecer que a nossa luta vai muito além das nossas fronteiras. Ela diz respeito a algo que envolve a população mundial.

Em nossa história recente, nunca vimos no mundo o avanço tão agressivo e atuante do totalitarismo ideológico. No passado, as grandes ameaças à humanidade existiram pelo uso das armas. Ideologias como o comunismo e o nazismo fizeram uso da força militar para se impor, perseguindo, torturando, prendendo e assassinando milhões de pessoas.

No presente, o que vemos não é a força militar como ameaça, mas sim a força do totalitarismo ideológico, o qual não encontra barreiras físicas para se expandir, pois também está no mundo virtual, no ativismo judicial e nos grandes meios de comunicação.

Os ditadores modernos, portanto, não precisam mais empunhar espadas ou pistolas: eles podem usar uma simples caneta, um projeto de lei ou articulações corruptas entre os poderes e os grandes capitais para implementar medidas que visam cercear liberdades fundamentais, como o direito a livre comunicação e à liberdade de expressão.

Em países como Estados Unidos, França, Itália e Austrália, por exemplo, além do Brasil, protestos contra medidas restritivas ganharam força durante a pandemia. O tal “passaporte sanitário” tem servido como exemplo do quanto o controle estatal sobre as liberdades individuais cresceu assustadoramente, e não por questões de saúde.

Por tudo isso, não tenho dúvida de que a manifestação desse dia 7 de setembro de 2021, no Brasil, servirá também como uma lição para o mundo. Um recado de que nós, brasileiros, também não aceitaremos que algumas pessoas e grupos queiram nos controlar, dizer o que pensar e como agir. A nossa Independência é plena e não parcial.

ONU debate cristãos em risco de morrer por sua fé no Afeganistão



Peritos em direitos humanos alertaram para o grave risco de violência e morte que milhares de cristãos no Afeganistão estão sofrendo. Falando na Organização das Nações Unidas (ONU) e pediram que os governos garantam a rápida saída do país desses cristãos.

Em 24 de agosto, na 31ª Sessão Especial do Conselho dos Direitos do Homem que tratou sobre a situação das minorias religiosas no Afeganistão, Giorgio Mazzoli, oficial jurídico das Nações Unidas para a organização da defesa legal cristã ADF International em Genebra, falou sobre a grave situação dos direitos humanos no país. Em seu discurso, Mazzoli afirmou que a grave situação de ataque à liberdade e à democracia, que gerou uma aguda crise humanitária no Afeganistão, obrigou muitos cidadãos a fugir para não serem submetidos à violência pelo atual regime.

“A ADF International está profundamente preocupada com a rápida deterioração da situação de segurança e direitos humanos no Afeganistão”, disse.

“As dolorosas perspectivas sobre a liberdade, a democracia e o Estado de direito, agravadas por uma crise humanitária cada vez mais profunda, estão obrigando milhares de homens, mulheres e crianças afegãs a se deslocarem no interior do país e forçando muitos mais a buscar escapar da perseguição e da opressão”, acrescentou.

Além disso, afirmou que os cristãos no Afeganistão estão em risco extremo de serem mortos por caisa da fé. Ele pediu que os governos tomem medidas sólidas e coordenadas para salvá-los.

“A ADF International deseja chamar a atenção do Conselho para a terrível situação das comunidades religiosas minoritárias no Afeganistão, que já viveram em um ambiente legal e social hostil durante décadas e agora correm um risco extremo de ser alvo de violência mortal”, disse ele.

“Entre eles, estima-se que haja dez mil cristãos, muitos dos quais são ´culpados` de converter-se do islã, um crime que é castigado com a pena de morte, segundo a sharia”, afirmou.

A sharia significa “caminho para a paz” e é a base do direito islâmico. É um conjunto de regras que regem o código de conduta e que se baseia no Corão, livro sagrado do Islão. Os artigos da Constituição afegã de 2004 são regidos pela sharia e sua aplicação é das mais radicais do mundo islâmico.

Com o regresso dos talibãs, em 14 de agosto, o exercício da liberdade religiosa e de todos os direitos humanos desapareceram. Estima-se que no Afeganistão haja de 8 a 12 mil cristãos de todas as confissões. No entanto, a Igreja Católica é totalmente clandestina no país. Todos os cristãos são convertidos, mas no país a apostasia é punível com a prisão e até com a morte.

Mazzoli também falou sobre o aumento do número de pessoas, pertencentes às minorias religiosas, que estão sendo assassinadas e violentadas. Ele chamou a comunidade internacional para que ajude a todos a serem retirados sem importar sua documentação. “À medida em que surgem rapidamente relatos inquietantes de assassinatos, assédio e intimidação contra eles, instamos os Estados e a comunidade internacional a prestar a máxima atenção a essas minorias perseguidas e a garantir as condições para a sua saída rápida e segura do país, independentemente de disporem de documentos de viagem válidos”.

Mentalidade mundana e funcionalista penetra até a Igreja, diz dom Orani


O cardeal dom Orani Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro, afirmou que a “mentalidade mundana e funcionalista dos tempos atuais” está penetrando a vida religiosa e alertou para as consequências negativas desse erro, que pode levar a um Deus sem Cristo, um Cristo sem Igreja e uma Igreja sem fiéis.

Nesta segunda-feira, 6, dom Orani fez uma catequese online para o Congresso Eucarístico Internacional, que ocorre em Budapeste, capital da Hungria. O cardeal dividiu a sua catequese em três partes. A primeira parte esteve centrada na “correspondência entre o desejo do coração humano por Deus e a gratuidade do desejo de Deus pelo homem que, despojando-se de sua majestade, se fez um de nós”.

A segunda parte “mostra a necessidade que o mundo tem de transformação e a consequente chamada a todos os batizados para que, como resultado da sua pertença a Cristo, sejam fermento”.

Na terceira parte, o cardeal identificou “Maria, a mãe da Igreja, como síntese perfeita do amor eucarístico em ação. Sua perfeita comunhão com Cristo se manifesta no drama da vida cotidiana, sua identificação com a misericórdia divina”.

O cardeal chamou a atenção sobre o fato de que “são muitos os que vivem em situação de necessidade. Carências materiais, morais e espirituais caracterizam a imensa pobreza em que nos encontramos e que somos chamados a enfrentar, respondendo ao chamado do Senhor que nos pede: ´dai-lhes vós mesmos de comer`”.

Também lamentou que “o homem moderno ache que a sede e a fome que levam dentro de si podem ser saciadas com o consumismo”. “Pessoas e coisas são, por isso, consumidas como objetos de um individualismo exagerado que, em vez de saciar, aumentam mais a angústia, provocando desordens e desequilíbrios no mundo”, explicou.

Dom Orani citou duas ocasiões nas quais Jesus expressa “sua sede pelo coração humano”. A primeira, junto ao poço, quando pediu à samaritana que lhe desse de beber; a segunda, na cruz, quando disse: “tenho sede”.

Em contrapartida, ele afirmou que “o Senhor manifesta seu protagonismo na relação com o ser humano. No encontro da sua sede, expressão da misericórdia do seu coração, com a sede do coração humano, feito para Deus, brota uma transformação emanada da correspondência original que transborda em testemunho: muitos samaritanos daquela cidade creram em Jesus pela força do testemunho daquela mulher”.

No entanto, a “mentalidade mundana e funcionalista dos tempos atuais termina penetrando a expressão religiosa”. Como consequência, “busca-se a fé de maneira imediata, com o único interesse de obter resultados pessoais”.

“Grito dos Excluídos” da CNBB inclui transexuais, travestis e religão indígena



O grito dos excluídos, manifestação de protesto da CNBB que há 27 anos se contrapõe à celebração do Dia da Pátria no dia 7 de setembro, propõe este ano do juntar-se "ao grito das pessoas transexuais e travestis " e equipara o Reino de Deus à Terra sem males, conceito da religião dos guaranis.

“A proposta do Grito dos Excluídos e Excluídas surgiu em 1994, a partir do processo da 2ª Semana Social Brasileira, da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), cujo tema era Brasil, alternativas e protagonistas, inspirada na Campanha da Fraternidade de 1995, com o lema: A fraternidade e os excluídos. Entre as motivações que levaram à escolha do dia 7 de setembro para a realização do Grito dos/as Excluídos/as estão a de fazer um contraponto ao Grito da Independência”, diz o site oficial do evento.

“O primeiro Grito dos Excluídos/as foi realizado em 7 de setembro de 1995, tendo como lema A vida em primeiro lugar”. “A partir de 1996, o Grito foi assumido pela CNBB que o aprovou em sua Assembleia Geral, como parte do PRNM (Projeto Rumo ao Novo Milênio -doc.  56nº129). A cada ano, se efetiva como uma imensa construção coletiva, antes, durante e após o Sete de Setembro. Mais do que uma articulação, o Grito é um processo, é uma manifestação popular”, prossegue o site.

Em declarações ao portal de notícias Rede Brasil Atual, uma agência de notícias fundada por sindicatos, o bispo de Brejo (MA), dom José Valdeci Santos Mendes, presidente da Comissão Episcopal Pastoral para Ação Sócio-Transformadora da CNBB, responsável pelo evento, falou sobre a edição deste ano. “O grito é sempre atual no sentido de questionar todas as mazelas que estão aí na sociedade”, disse. “Por tudo que é negado, o direito à vida, essa derrubada dos direitos conquistados, a maneira como se encara a vacina – que na verdade deve ser para todos –, a negação da ciência, isso não é um governo que nos representa. Precisamos dizer ‘Fora Bolsonaro!’. Assumimos isso como um compromisso para uma sociedade mais justa e mais fraterna”.

O Assessor da Pastoral da Ação Transformadora da CNBB, Frei Olávio Dotto, confirmou a ACI Digital que “em muitos lugares do país o grito se ‘entrelaça’ com a campanha Fora Bolsonaro, mas também a outras campanhas e causas que visem a defesa da vida da população”.

Sore a menção a transexuais e travestis, frei Dotto diz que “todos os anos o grito busca dar voz a grupos que precisam de visibilidade” e que “não é surpresa” que estes cidadãos estão em “vulnerabilidade”.

O coordenador nacional que articula todos os anos o Grito dos Excluídos e da Associação Rede Rua, que promove o evento, Alderon Costa, declarou ao Rede Brasil Atual: “Neste momento difícil que o Brasil atravessa temos que ‘sair da arquibancada’ e, com todos os cuidados, irmos para as ruas nos juntarmos com as vozes dos indígenas, das periferias, da população em situação de rua, que já são mais de 200 mil em todo o país. Juntar-nos ao grito das mulheres, das pessoas transexuais e travestis, dos trabalhadores (…) que estão cada dia mais perdendo seus empregos, contra a carestia e a inflação.”

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, através da Pastoral de Ação Sociotransformadora, lançou no dia 31 de julho uma carta de apoio ao evento, convidando à participação ao longo do território nacional.

“Ainda   estamos   em   tempo   de   pandemia   do   coronavírus. Ultrapassamos meio milhão de mortes. Quantos milhares de famílias sofrem por ter perdido seus entes queridos, fruto de uma cultura negacionista e da falta de vontade em resolver as questões da saúde. O avanço do desmonte de direitos sociais e do próprio estado democrático com a disseminação da cultura do ódio sustentada pelas notícias falsas manifestadas nas redes sociais também são sinais do descaso pela vida”, diz a carta da entidade. “Há que se destacar, ainda, o aprofundamento das desigualdades sociais, o aumento da fome, do desemprego, fruto do avanço do poder financeiro sobre a Constituição brasileira e ao aumento do lucro dos bancos, institucionalizando ainda mais os seus privilégios. O avanço dos grandes projetos sobre as terras indígenas, povos quilombolas, pescadores e as agressões ao meio ambiente tem sido outra marca da atual política”.

“Que o grito dos Excluídos e Excluídas seja o nosso grito e desperte em nós força para lutar em busca do Reino de Deus que começa aqui agora; na luta pelo Bem Viver e da Terra Sem Males”, diz a carta dos bispos brasileiros fazendo alusão a um da cultura tupi-guarani, que fala de um lugar onde não há fome nem guerras.

Fundos europeus

O grito dos Excluídos tem o apoio financeiro da Rede Jubileu Sul, um agrupamento de várias entidades de caráter ecumênico e de mobilização social, que inclui a Pastoral Social da CNBB, o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), a Cáritas Brasileira, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Grito dos Excluídos (brasileiro e continental), IBRADES, Rede Brasil sobre Instituições Financeiras, ESPLAR, Conlutas, Coordenação da Auditoria Cidadã da Dívida, Pastoral Operária Nacional, entre outros.

Segundo a Rede Jubileu Sul a realização do Grito dos Excluídos vem sendo realizada desde 2019 com fundos vindos da União Europeia.

“Desde 2019 o Grito dos/as Excluídos/as vem recebendo apoio da Rede Jubileu Sul Brasil através da ação de Ajuda a Terceiros, iniciativa que integra a ação Fortalecimiento de la Red Jubileo Sur/Américas en el logro del desarrollo y de la soberanía de los pueblos latinoamericanos y caribeños, cofinanciada com recursos da União Europeia”, afirma o site da Rede. Os recursos da EU, segundo a Rede Jubileu Sul, têm sido utilizados para a divulgação da manifestação, “permitindo uma mobilização nacional ainda maior”.

sábado, 4 de setembro de 2021

O maldito conluio entre a esquerda brasileira e a extrema-imprensa



Não existe, na história recente, um governante que tenha sido mais atacado do que Jair Bolsonaro. Antes e depois das eleições. Nas ruas e na mídia.

Para a esquerda e para a parte da imprensa que é subalterna a ela, Bolsonaro PRECISA fracassar. Não há outra opção. É inconcebível pra eles que um brasileiro honesto e patriota faça um serviço melhor do que os queridinhos da mídia.

Qual foi a última boa notícia que você viu sobre Bolsonaro na mídia? Qual foi a última vez que uma decisão dele não foi tratada como ruim, impensada, afobada ou prejudicial a alguma coisa?

Até mesmo a reforma da previdência, que boa parte da imprensa concorda que precisa ser feita, tem sua defesa transformada em circo ou fofoca quando um ministro do atual governo fala sobre ela.

A revolta do cidadão comum contra os “formadores de opinião”



Bizarro mundo este em que vivemos. Tínhamos como certo, há menos de uma década, que opinião pública, imprensa e “formadores de opinião” (os bem-pensantes) eram coisas inseparáveis, condenadas a viverem e a permanecerem juntas até o fim dos tempos. Inesperadamente, no entanto, a opinião pública tornou-se um campo de batalha, a imprensa tradicional entrou em colapso e os formadores de opinião, os indefectíveis “especialistas”, foram lançados num quase ostracismo. Tais seres, inclusive, que se tinham e eram tidos socialmente em alta conta, foram condenados a falar praticamente uns para os outros e, o que é pior, se viram, num passe de mágica, substituídos por uma personagem inusitada que, embora prevista na trama das sociedades democráticas, tardou a ter mais voz no espetáculo: o cidadão comum.

Lançando mão das facilidades comunicacionais propiciadas pelas novas tecnologias da informação, donas e donos de casa dos mais variados cantos atiraram-se numa aventura de tons “iluministas”: usaram de sua razão, de seu “bom senso”, esclareceram-se, saíram da “menoridade” e resolveram marcar presença no debate público. Uma vez aí instalados, descobriram similares e seguidores, muitos similares e muitos seguidores; e isso sem nunca recorrerem à autoridade dos títulos acadêmicos ou à chancela dos bem-pensantes; ao contrário, a legitimidade do que dizem é retirada da adesão dos tais similares e seguidores, da gente que compartilha de um mesmo universo de valores – cristãos, familiares e patrióticos –, valores comumente julgados desprezíveis e grosseiros pelos que se querem progressistas e esclarecidos.

A emergência dessas novas personagens no debate público e a tal guerra de narrativas que se instalou no espaço virtual é, no entanto, somente um dos sintomas de um mal de enormes proporções que há tempos, e num crescendo, vem comprometendo a estabilidade das sociedades ocidentais: o divórcio entre o grosso das populações nacionais e suas elites política, econômica e, sobretudo, intelectual. Para se ter uma ideia do tamanho do embrolho e de como o mesmo evoluiu rápido e numa direção inusitada, vale uma breve comparação. Em 1994, poucos dias antes de morrer, o historiador americano Christopher Lasch finalizou o seu premonitório A revolta das elites e a traição da democracia. A obra, tida por muitos como o testamento intelectual de Lash, propõe uma ampla reflexão sobre o futuro da democracia ocidental, melhor, sobre as soluções democráticas para um impasse inédito vivido pelas sociedades ocidentais: o crescente distanciamento entre as elites e os extratos médios e baixos da população, entre os que ocupam o topo da pirâmide social e as ditas maiorias silenciosas.

Lasch parte de uma constatação curiosa: a outrora temida revolta das massas, tidas como mesquinhas, ignorantes, imediatistas e descompromissadas com os interesses nacionais, deu lugar, no ocaso do século XX, a uma outra revolta, a das elites, elites igualmente desterrorializadas, afastadas dos interesses da res publica e avessas aos ditos valores nacionais. Essa revolta das elites globalizadas e o seu crescente descompromisso com o bem comum deixou as sociedades ocidentais acéfalas e cindidas: de um lado, as massas, apegadas a valores familiares e nacionais, ciosa de sua moral e ansiosa por vê-la defendida por aqueles que ocupam o topo da hierarquia social e que, aos seus olhos, deveriam ser os guardiões do modo de vida tradicional; de outro, elites hedonistas, que cultuam as formas marginais e alternativas de vida e que enxergam os antigos valores familiares e nacionais como coisa retrógrada, defendida por gente rústica e politicamente incorreta. Diante de tão radical ruptura, decisiva para os destinos das sociedades ocidentais, Lasch pergunta-se: é possível sair do impasse, preservando os valores que norteiam as democracias? Que caminho podemos tomar?