sábado, 3 de abril de 2021

Às vésperas da Páscoa, ministro Nunes Marques libera realização de cultos e missas


O ministro Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF), liberou a realização de celebrações religiosas, como cultos e missas, em todo o país. Segundo a decisão divulgada neste sábado (4), às vésperas da comemoração da Páscoa, estados, municípios e Distrito Federal não podem proibir celebrações religiosas e reuniões de quaisquer credos e religiões.

A decisão determina ainda que, em função da pandemia da pandemia do novo coronavírus, as igrejas respeitem as normas sanitárias para evitar o risco de contágio pelo novo coronavírus. Entre elas, estão: limitar a ocupação a 25% da capacidade do local, manter espaço entre assentos com ocupação alternada entre fileiras de cadeiras ou bancos, deixar o espaço arejado, com janelas e portas abertas sempre que possível; exigir o uso de máscaras; disponibilizar álcool em gel nas entradas dos templos, e aferir a temperatura de quem entra nos templos.

Marques acatou o pedido da Associação Nacional de Juristas Evangélicos (Anajure), que questionou decretos contra a realização de atividades religiosas em diversos municípios e estados. De acordo com a associação, os gestores feriram  “o direito fundamental à liberdade religiosa e o princípio da laicidade estatal, ao ser determinada a suspensão irrestrita das atividades religiosas na cidade”.

Papa na Vigília Pascal: Jesus nos permite recomeçar nossas vidas “dos escombros”.


VIGÍLIA PASCAL NA NOITE SANTA

HOMILIA DO SANTO PAPA FRANCISCO

Basílica de São Pedro - Altar da Cátedra
Sábado Santo, 3 de abril de 2021


As mulheres esperavam encontrar o cadáver para o ungir; em vez disso, encontraram um túmulo vazio. Foram chorar um morto; em vez disso, escutaram um anúncio de vida. Por isso, como diz o Evangelho, aquelas mulheres «estavam cheias de medo e maravilha» (Mc 16, 8). Maravilha: neste caso, é uma mistura de medo e alegria que se apodera dos seus corações, ao verem a grande pedra do túmulo rolada para o lado e, dentro, um jovem de túnica branca. É maravilha pelas palavras escutadas: «Não vos assusteis! Buscais a Jesus de Nazaré, o crucificado? Ressuscitou» (16, 6). E depois por este convite: «Ele precede-vos a caminho da Galileia; lá O vereis» (16, 7).

Acolhamos, também nós, este convite, o convite de Páscoa: vamos para a Galileia, onde nos precede o Senhor Ressuscitado. Mas, que significa «ir para a Galileia»?

Ir para a Galileia significa, antes de mais nada, recomeçar. Para os discípulos, é voltar ao lugar onde inicialmente o Senhor os procurou e chamou para O seguirem. É o lugar do primeiro encontro e do primeiro amor. Desde então, deixadas as redes, seguiram Jesus, escutando a sua pregação e assistindo aos prodígios que realizava. E todavia, apesar de estar sempre com Ele, não O compreendiam totalmente, muitas vezes entenderam mal as suas palavras e, à vista da cruz, fugiram deixando-O sozinho. Não obstante este falimento, o Senhor Ressuscitado apresenta-Se como Aquele que os precede uma vez mais na Galileia; precede-os, isto é, está diante deles. Chamara-os para O seguirem, e volta a chamá-los sem nunca cansar. O Ressuscitado está a dizer-lhes: «Partamos donde iniciamos. Recomecemos. Quero-vos de novo comigo, não obstante e para além de todos os falimentos». Nesta Galileia, aprendemos a maravilhar-nos com o amor infinito do Senhor, que traça novas sendas nos caminhos das nossas derrotas. Assim é o Senhor, traça caminhos novos dentro dos antigos, e nos convida a ir a Galileia para fazer isto.

Aqui está o primeiro anúncio de Páscoa que gostava de vos deixar: é possível recomeçar sempre, porque há uma vida nova que Deus é capaz, independentemente de todos os nossos falimentos, de fazer reiniciar em nós. Mesmo dos escombros do nosso coração, Deus pode construir uma obra de arte. A partir dos escombros do nosso coração; a partir mesmo dos pedaços arruinados da nossa humanidade, Deus prepara uma história nova. Ele sempre nos precede: na cruz do sofrimento, da desolação e da morte, bem como na glória duma vida que ressurge, duma história que muda, duma esperança que renasce.

E, nestes meses sombrios de pandemia, ouçamos o Senhor ressuscitado que nos convida a recomeçar, a nunca perder a esperança. Ir para a Galileia significa, em segundo lugar, percorrer caminhos novos. É mover-se na direção oposta ao túmulo. As mulheres procuram Jesus no túmulo, isto é, vão recordar o que viveram com Ele e que, agora, se perdeu para sempre. Vão refugiar-se em sua tristeza. É a imagem duma fé que se tornou comemoração duma coisa linda mas que acabou, apenas para se recordar.

Muitos vivem a «fé das recordações», como se Jesus fosse um personagem do passado, um amigo da juventude já distante, um facto sucedido há muito tempo quando, ainda criança, frequentava a catequese. Uma fé feita de hábitos, coisas do passado, belas recordações da infância, uma fé que já não me comove, nem me interpela. Ao contrário, ir para a Galileia significa aprender que a fé, para estar viva, deve continuar a caminhar. Deve reavivar cada dia o princípio do caminho, a maravilha do primeiro encontro. E depois confiar, sem a presunção de já saber tudo, mas com a humildade de quem se deixa surpreender pelos caminhos de Deus. Vamos para a Galileia descobrir que Deus não pode ser depositado entre as recordações da infância, mas está vivo, sempre surpreende. Ressuscitado, nunca cessa de nos surpreender.

sexta-feira, 2 de abril de 2021

Pregação da Sexta-feira Santa: "Jesus, primogênito entre muitos irmãos"



“PRIMOGÊNITO ENTRE MUITOS IRMÃOS”
(Romanos 8,29)

Pregação da Sexta-feira Santa de 2021
 
Em 3 de outubro passado, junto à tumba de São Francisco, em Assis, o Santo Padre assinava a sua encíclica sobre a fraternidade “Fratres omnes” (“Fratelli tutti”). Em pouco tempo, ela fez renascer em tantos corações a aspiração quanto a este valor universal, trouxe à luz tantas feridas contra ela no mundo de hoje, indicou algumas vias para se chegar a uma verdadeira e justa fraternidade humana e exortou todos – pessoas e instituições – a trabalhar por ela.

A encíclica é endereçada idealmente a um público vastíssimo, dentro e fora da Igreja: na prática, a toda a humanidade. Toca muitas esferas da vida: da privada à pública, da religiosa à social e política. Devido a este seu horizonte universal, ela evita – justamente – restringir o discurso ao que é próprio e exclusivo dos cristãos. Contudo, pelo final da encíclica, há um parágrafo em que o fundamento evangélico da fraternidade é resumido em poucas, mas vibrantes palavras. Afirma:

Outros bebem doutras fontes. Para nós, este manancial de dignidade humana e fraternidade está no Evangelho de Jesus Cristo. Dele brota, “para o pensamento cristão e para a ação da Igreja, o primado reservado à relação, ao encontro com o mistério sagrado do outro, à comunhão universal com a humanidade inteira, como vocação de todos” (FT, 277).

O mistério da cruz que estamos celebrando nos obriga a nos concentrarmos justamente neste fundamento cristológico da fraternidade, que foi inaugurado na morte de Cristo.

No Novo Testamento, “irmão” significa, em sentido primordial, a pessoa nascida do mesmo pai e da mesma mãe. “Irmãos”, em segundo lugar, são chamados os membros do mesmo povo e nação. Assim Paulo afirma estar disposto a se tornar anátema, separado de Cristo, em vantagem de seus irmãos segundo a carne, os israelitas (cf. Rm 9,3). Claro que, nestes contextos, como em outros casos, “irmãos” abrange homens e mulheres, irmãos e irmãs.

Neste alargamento de horizonte, chega-se a chamar de irmão cada pessoa humana, pelo fato de ser tal. Irmão é aquele que a Bíblia chama de “próximo”. “Quem não ama o próprio irmão...” (1Jo 2,9) significa: quem não ama o seu próximo. Quando Jesus diz: “Todas as vezes que fizestes isso a um destes mínimos que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes” (Mt 25,40), compreende toda pessoa humana necessitada de ajuda.

Mas, ao lado destes significados antigos e conhecidos, no Novo Testamento a palavra “irmão” tende sempre mais a indicar uma categoria particular de pessoas. Irmãos entre si são os discípulos de Jesus, aqueles que acolhem seus ensinamentos. “Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos? (...) Todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (Mt 12,48-50).

Nesta linha, a Páscoa marca uma etapa nova e decisiva. Graças a ela, Cristo se torna “o primogênito entre muitos irmãos” (Rm 8,29). Os discípulos se tornam irmãos em sentido novo e profundíssimo: compartilham não apenas o ensinamento de Jesus, mas também seu Espírito, sua nova vida de ressuscitado. É significativo que, somente após sua ressurreição, pela primeira vez, Jesus chama os seus discípulos de “irmãos”: “Vai dizer aos meus irmãos – diz a Maria Madalena – que eu subo para junto do meu Pai e vosso Pai, meu deus e vosso Deus” (Jo 20,17). “Pois tanto o Santificador, quanto os santificados – lê-se na Carta aos Hebreus – todos procedem de um só. Por esta razão, ele (Cristo) não se envergonha de chamá-los irmãos” (Hb 2,11).

Depois da Páscoa, este é o uso mais comum do termo irmão; indica o irmão de fé, membro da comunidade cristã. Irmãos “de sangue”, também neste caso, mas do sangue de Cristo! Isso faz da fraternidade de Cristo algo de único e transcendente, em relação a qualquer outro gênero de fraternidade, e deve-se ao fato de que Cristo é também Deus. Ela não se substitui aos demais tipos de fraternidade, baseados em família, nação ou raça, mas coroa-os. Todos os seres humanos são irmãos enquanto criaturas do mesmo Deus e Pai. A isso, a fé cristã acrescenta uma segunda e decisiva razão. Somos irmãos não apenas a título de criação, mas também de redenção; não só porque todos temos o mesmo Pai, mas porque todos temos o mesmo irmão, Cristo, “primogênito entre muitos irmãos”.

*    *    *
À luz de tudo isso, devemos fazer agora algumas reflexões atuais. A fraternidade se constrói exatamente como se constrói a paz, isto é começando de perto, a partir de nós, não com grandes esquemas, com metas ambiciosas e abstratas. Isto significa que a fraternidade universal começa para nós com a fraternidade na Igreja Católica. Deixo de lado, por uma vez, também a segunda esfera, que é a fraternidade entre todos os fiéis em Cristo, ou seja, o ecumenismo.

A fraternidade católica está dilacerada! A túnica de Cristo foi cortada em pedaços pelas divisões entre as Igrejas; mas – o que não é menos grave – cada pedaço da túnica, por sua vez, é frequentemente dividido em outros pedaços. Naturalmente, falo do elemento humano dela, porque a verdadeira túnica de Cristo, seu corpo místico animado pelo Espírito Santo, ninguém jamais poderá dilacerar. Aos olhos de Deus, a Igreja é “una, santa, católica e apostólica”, e assim permanecerá até o fim do mundo. Isto, contudo, não desculpa as nossas divisões, mas as torna ainda mais culpáveis e deve nos impulsionar, com mais força, a restaurá-las.

Qual é a causa mais comum das divisões entre os católicos? Não é o dogma, não são os sacramentos e os ministérios: coisas estas que, por singular graça de Deus, mantemos íntegras e unânimes. É a opção política, quando ela se sobrepõe àquela religiosa e eclesial e desposa uma ideologia, esquecendo completamente o sentido e o dever da obediência na Igreja.

É isto, em certas partes do mundo, o verdadeiro fator de divisão, ainda que tácito ou indignadamente. Isto é um pecado, no sentido mais estrito do termo. Significa que o “o reino deste mundo” se tornou mais importante, no próprio coração, do que o Reino de Deus. Creio que sejamos todos chamados a fazer um sério exame de consciência sobre isso e a nos convertermos. Esta é, por excelência, a obra daquele cujo nome é “diábolos”, isto é, o divisor, o inimigo que semeia o joio, como o define Jesus em sua parábola (cf. Mt 13,25).

A Via-Sacra do Papa escrita pelas crianças: Jesus nos consola em nossos medos!


VIA-SACRA
PRESIDIDA POR SUA SANTIDADE
O PAPA FRANCISCO

SEXTA-FEIRA SANTA
2 DE ABRIL DE 2021

Praça de São Pedro

Meditações
 
Introdução

Em nome do Pai e do Filho
e do Espírito Santo.

R/. Amen.

Querido Jesus!

Sabeis que nós, crianças, também temos cruzes, que não são mais leves nem mais pesadas do que as dos grandes, mas são verdadeiras cruzes, que sentimos pesadas mesmo de noite. E só Vós o sabeis, tomando-as a sério. Só Vós.

Só Vós sabeis como é difícil para mim aprender a não ter medo do escuro e da solidão.

Só Vós sabeis como é difícil não conseguir reter, acordando cada manhã todo molhado.

Só Vós sabeis como é difícil não conseguir falar bem como os outros, pensar rápido e fazer as contas certas.

Só Vós sabeis como é difícil ver os meus pais discutir, bater a porta com força e estar sem se falar dias a fio.

Só Vós sabeis como é difícil ser ridicularizado pelos outros e dar-se conta de ser excluído das festas.

Só Vós sabeis o que significa ser pobre e dever renunciar àquilo que os meus amigos têm.

Só Vós sabeis como é difícil libertar-me dum segredo que me magoa tanto, não sabendo a quem o contar com medo de ser traído, acusado ou não acreditado.

Querido bom Jesus, fostes criança como eu! Também Vós brincáveis e talvez tenhais caído e Vos magoastes; também Vós fostes à escola e talvez alguns deveres de casa não tenham ido muito bem; também Vós tivestes uma mãe e um pai e sabeis que às vezes não tenho muita vontade de obedecer quando me mandam fazer os deveres de casa, levar o lixo, fazer a cama e arrumar o quarto; também Vós fostes à catequese e à oração e sabeis que nem sempre vou com grande alegria.

Meu querido e bom Jesus, sobretudo sabeis que há crianças no mundo que não têm que comer, não têm instrução escolar, são exploradas e obrigadas a combater.

Ajudai-nos dia a dia a levar as nossas cruzes como levastes a vossa. Ajudai-nos a tornar-nos cada vez melhores: a ser como Vós nos quereis. E agradeço-Vos por saber que estais sempre junto de mim e nunca me abandonais, sobretudo quando estou com mais medo, e por me terdes mandado o meu Anjo da Guarda que todos os dias me protege e ilumina.

Amen.

I ESTAÇÃO

Pôncio Pilatos condena Jesus à morte
 
De novo Pilatos dirigiu-lhes a palavra, querendo libertar Jesus. Mas eles gritavam: «Crucifica-O! Crucifica-O!» (…) Então, Pilatos decidiu que se fizesse o que eles pediam. Libertou o que fora preso por sedição e homicídio (…), e entregou-lhes Jesus para o que eles queriam (Lc 23, 20-21.24-25).

Meditação

Quando andava na escola primária, Marcos, uma criança da minha classe, foi acusado de ter roubado o lanche do seu companheiro de carteira. Eu sabia que não era verdade, mas calei-me; não era um problema meu! Além disso todos apontavam para ele como sendo o culpado. Porque deveria eu intervir?

Sempre que penso naquilo, ainda tenho vergonha, sinto pesar por aquela minha ação. Poderia ter ajudado aquele meu amigo, dizer a verdade e ajudar a fazer justiça; mas, em vez disso, comportei-me como Pilatos e preferi fazer de conta que não era nada. Escolhi o caminho mais cómodo e lavei as minhas mãos do caso. Hoje, estou muito arrependido: quereria ter tido um pouco mais de coragem, seguir o meu coração e ajudar o meu amigo em dificuldade.

Às vezes só escutamos a voz de quem faz e quer o mal, enquanto a justiça é um caminho íngreme, com obstáculos e dificuldades; mas temos Jesus ao nosso lado, pronto a apoiar-nos e ajudar-nos.
 
Oração das crianças

Jesus, dai-me um coração simples e sincero! Assim terei coragem e força, mesmo nas dificuldades, para caminhar na vossa justiça: «Ainda que atravesse vales tenebrosos, de nenhum mal terei medo, porque Vós estais comigo» (Sal 23, 4).
 
Oremos!

Senhor, Pai bom,
infundi em nós o vosso Santo Espírito
e dai-nos a vossa fortaleza,
pois só assim teremos a coragem
de testemunhar a vossa verdade,
que é caminho de justiça e reconciliação.
Por Cristo Senhor nosso. Amen.

II ESTAÇÃO

Jesus carrega a cruz
 
Entretanto, os que guardavam Jesus troçavam d’Ele e maltratavam-No. Cobriam-Lhe o rosto e perguntavam-Lhe: «Adivinha! Quem Te bateu?» E proferiam muitos outros insultos contra Ele (Lc 22, 63-65).

Meditação

Na escola, estávamos a ler, alternadamente, o livro A Gaivotazinha e o Gato. Quando chegou a vez de Martinha, ela começou a baralhar as letras umas com as outras e, assim, as frases perderam o sentido. Sucedia palavra após palavra… Comecei a rir e, comigo, todos os outros. Ainda me lembro de Martinha com o rosto todo rosado, a voz embargada e os olhos cheios de lágrimas.

Talvez não fosse nossa intenção ridicularizá-la, mas quanta angústia lhe provocamos com aquelas nossas risadas!

A perseguição não é uma longínqua recordação de há dois mil anos: às vezes, algumas das nossas ações podem condenar, ferir e pisar um irmão ou uma irmã.

Às vezes poderemos ter provado até um certo prazer em fazer sofrer alguém, porque por trás daqueles sofrimentos disfarçamos os nossos próprios constrangimentos.

Jesus ensinou-nos a amar e, no seu amor, encontra-se a resposta a todos os sofrimentos. Devemos estar dispostos a tudo para não fazer mal aos outros, ou melhor, para lhes fazer bem.
 
Oração das crianças

Jesus, nada poderá separar-nos do vosso amor. Tornai-nos capazes de amar os nossos irmãos e irmãs menos afortunados.
 
Oremos!

Senhor, Pai bom, que nos enviastes Jesus,
obediente até à morte,
dai-nos a força do vosso amor
para tomarmos corajosamente a nossa cruz.
Dai-nos a vossa esperança e saberemos reconhecer-Vos
mesmo nos momentos mais escuros da nossa vida.
Por Cristo Senhor nosso. Amen.

III ESTAÇÃO

Jesus cai pela primeira vez
 
Ele tomou sobre Si as nossas doenças,
carregou as nossas dores.
Nós O reputávamos como um leproso,
ferido por Deus e humilhado.
Mas foi ferido por causa dos nossos crimes,
esmagado por causa das nossas iniquidades (Is 53, 4-5).
 
Meditação

No quinto ano de escolaridade, era o melhor em matemática, terminava as provas em poucos minutos e só conhecia um resultado: «Ótimo».

Quando li, pela primeira vez, «Insuficiente», vi-me como uma nulidade, senti o peso dum falimento inesperado, estava sozinho e ninguém me confortou.

Mas aquele momento fez-me crescer: em casa, os pais confortaram-me e fizeram-me sentir o seu amor; reanimei-me e continuei a empenhar-me no estudo.

Hoje, sei que todos os dias vacilamos e podemos cair, mas, ali, está sempre Jesus a estender-nos a mão, carregar o peso das nossas cruzes e reacender em nós a esperança.
 
Oração das crianças

Jesus, caístes sob a grande cruz que carregáveis. Também eu caio muitas vezes e magoo-me. Guardai-me no meu caminho e dai-me força para carregar os meus pesos juntamente convosco.
 
Oremos!

Senhor, sobre Vós tomastes os nossos sofrimentos
e os compartilhastes até ao patíbulo que esmaga e humilha.
Não nos abandoneis sob o peso das nossas cruzes,
que às vezes nos parecem demasiado pesadas.
Vós que viveis e reinais pelos séculos dos séculos. Amen.

IV ESTAÇÃO

Jesus encontra a sua Mãe
 
Como viesse a faltar o vinho, a mãe de Jesus disse-Lhe: «Não têm vinho!» Jesus respondeu-lhe: Mulher, que tem isso a ver contigo e comigo? Ainda não chegou a minha hora». Sua mãe disse aos serventes: «Fazei o que Ele vos disser!» (Jo 2, 3-5).

Meditação

Quando penso na minha mãe, vejo o seu rosto gentil, sinto o calor dos seus abraços e dou-me conta de todo o seu amor por mim.

Ela acompanha-me para todo o lado, aos treinos de futebol, ao curso de inglês e à catequese na manhã de domingo.

À noite, mesmo que esteja cansada, ajuda-me enquanto faço os deveres de casa; e quando de noite tenho pesadelos, coloca-se ao meu lado, tranquiliza-me e espera que eu adormeça novamente.

Se tenho um problema, uma dúvida ou simplesmente algum pensamento estranho, ela está sempre, com o seu sorriso, disponível para me escutar.

E, nos piores momentos, não preciso sequer de falar, basta um olhar, ela entende imediatamente e ajuda-me a superar todo o sofrimento.
 
Oração das crianças

Jesus, tornai-nos capazes de nos deixar abraçar por Maria, nossa mãe do Céu.
 
Oremos!

Senhor, Pai bom,
concedei-nos encontrar o olhar carinhoso de Maria,
de modo que cada um de nós,
livre da própria solidão interior,
possa descansar no abraço materno d’Aquela
que, em Jesus, abraçou e amou todo o ser humano.
Ele vive e reina pelos séculos dos séculos. Amen.

V ESTAÇÃO

O Cireneu ajuda Jesus a levar a cruz
 
Quando O iam conduzindo, lançaram mão de um certo Simão de Cirene, que voltava do campo, e carregaram-no com a cruz, para a levar atrás de Jesus (Lc 23, 26).

Meditação

Durante o verão, brincava com os amigos do bairro no parque em frente de casa. Desde há alguns meses, temos novos vizinhos com um filho da minha idade. Ele, porém, não brincava conosco, nem sequer compreendia bem a nossa língua. Um dia notara que estava a observar-nos de longe, queria brincar conosco, mas não tinha a coragem de pedir. Aproximei-me, apresentamo-nos e convidei-o a jogar futebol conosco. Desde então Walid é um dos meus melhores amigos, além de guarda-redes da nossa equipe.

Ao olharmos de longe uma pessoa, primeiro notamos a silhueta, depois compreendemos se é homem ou mulher e, aos poucos, individuamos os detalhes do seu rosto, mas só quando a reconhecemos como irmão, como irmã, é que estamos a abrir o nosso coração a Jesus.
 
Oração das crianças

Jesus, fazei-me acolher com amor todos os irmãos sozinhos e marginalizados que encontrar no meu caminho
 
Oremos!

Senhor, tornai-nos capazes de Vos reconhecer nos últimos
que encontramos ao longo do nosso caminho;
dai-nos a coragem e a felicidade
de dar de comer a quem tem fome,
beber a quem tem sede, acolher quem é estrangeiro,
vestir os nus e cuidar de quem está doente,
de Vos encontrar e acolher em cada irmão e em cada irmã.
Vós que viveis e reinais pelos séculos dos séculos. Amen.

VI ESTAÇÃO

Uma mulher limpa o rosto de Jesus
 
Os justos vão responder [ao Rei]: «Senhor, quando foi que te vimos com fome ou com sede, peregrino ou nu, doente ou na prisão?» E o Rei vai dizer-lhes, em resposta: «Em verdade vos digo: Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes» (cf. Mt 25, 37-40).
 
Meditação

Naquele dia, deveria disputar o jogo mais importante do campeonato, era uma oportunidade para demonstrar todas as minhas capacidades. Nos balneários, sentia-me agitado e com medo, mas, ao entrar em campo, entre os espetadores vi Marcos, o meu melhor amigo que, apesar de não gostar de futebol, tinha vindo para me apoiar. Era a primeira vez que vinha ver-me jogar e, infelizmente, perdemos.

Enquanto tomava banho, estava triste e desanimado, mas, ao sair dos balneários, encontrei o meu amigo: esperava-me com uma laranjada na mão. Passamos algum tempo juntos e, assim, aquela hora e aquela laranjada tornaram tudo mais suportável, a derrota sofrida tornou-se uma recordação menos amarga.

Um encontro, um olhar, um gesto… podem mudar o nosso dia e encher o nosso coração. No rosto sofredor dum amigo ou mesmo dum estranho, está o rosto de Jesus, que passa pelo meu próprio caminho... Terei a coragem de me aproximar?
 
Oração das crianças

Jesus, fazei que o vosso olhar se cruze com o meu nos momentos de dificuldade, para poder encontrar conforto no vosso amor.
 
Oremos!

Senhor, fazei que a luz do vosso Rosto,
cheio de misericórdia,
suavize as feridas do abandono e do pecado que nos afligem.
Vós que viveis e reinais pelos séculos dos séculos. Amen.

VII ESTAÇÃO

Jesus cai pela segunda vez
 
Ele não cometeu pecado, nem na sua boca se encontrou engano (…); subindo ao madeiro, Ele levou os nossos pecados no seu corpo, para que, mortos para o pecado, vivamos para a justiça (1 Ped 2, 22.24).
 
Meditação

No quarto ano da Primária, queria a todo o custo fazer de protagonista na representação escolástica de fim de ano. Esforcei-me ao máximo para obter o papel, repeti as frases várias vezes diante do espelho, mas a professora decidiu dar o papel ao João. Tratava-se duma criança que estava sempre sozinha.

Naquele momento, senti-me humilhado e zangado comigo mesmo, com a professora e com o João. A representação foi um sucesso; desde então, o João abriu-se mais com toda a classe.

A minha desilusão serviu para ajudar outra pessoa, a escolha da professora deu uma oportunidade a quem tinha verdadeiramente necessidade.
 
Oração das crianças

Jesus, fazei-me instrumento do vosso amor; fazei-me ouvir o grito dolorido de quem se encontra em dificuldade, para o poder consolar.
 
Oremos!

Senhor, caístes por terra como outro homem qualquer.
Dai-nos força para nos levantarmos de novo
quando já não tivermos sequer desejo de o fazer.
Aumentai em nós a certeza
de que, no cansaço e no desalento,
podemos sempre recomeçar a caminhar convosco ao nosso lado.
Vós que viveis e reinais pelos séculos dos séculos. Amen.

SP: Igrejas de Piracicaba são fechadas por ordem da prefeitura


No último Domingo de Ramos, algumas igrejas de Piracicaba (SP) tiveram que fechar suas portas por ordem da prefeitura, em virtude das restrições adotadas para evitar a propagação do coronavírus. Diante disso, o Bispo local, Dom Devair Araújo da Fonseca, observou que “é preciso haver clareza sobre as competências de cada uma das autoridades”.

Uma das igrejas que precisou fechar as portas foi a Paróquia São Judas Tadeu. Em um vídeo publicado nas redes sociais, o pároco Cônego André Bortolucci Saggioro, OPraem, relatou o ocorrido.

Segundo ele, “a igreja estava aberta para que os fiéis viessem rezar” e “não estava acontecendo nenhum tipo de culto no momento”. Foi quando a guarda municipal chegou e “instruiu que deveríamos fechar”.

O sacerdote ressaltou que os guardas “não nos causaram qualquer tipo de constrangimento, apenas nos informaram que estavam cumprindo ordens” da prefeitura. O pároco, então, fechou a igreja “para evitar maiores problemas”.

A medida tomada pela guarda municipal ocorreu com base no decreto municipal 18.653/21, que estabelece medidas restritivas para conter a propagação da Covid-19. Entre as atividades que “não podem funcionar”, segundo o decreto, estão “cultos religiosos”.

Diante do fechamento de algumas Igrejas, o Bispo de Piracicaba, Dom Devair Araújo da Fonseca, comentou o caso ao final da Missa de Domingo de Ramos, na Catedral Santo Antônio. O Prelado afirmou que a determinação de não realizar Missa pública está sendo respeitada pelas igrejas, mas “o fechamento de igrejas não pode ser feito pelo poder público da forma como está sendo feito”.

“Pedimos que as autoridades competentes tenham clareza do decreto, porque nós temos. Tenham clareza, também, daquilo que são as garantias do direito e da liberdade de culto”, expressou Dom Devair.

Indicou ainda que “as igrejas permanecem abertas e as Missas são transmitidas”, mas “aquelas pessoas que procurem os sacramentos nas nossas igrejas irão recebê-los, elas vão encontrar esses sacramentos, porque isso a lei também nos garante”.

“É preciso haver clareza sobre as competências de cada uma das autoridades. A competência de alimentar espiritualmente o povo é das igrejas e isso nós vamos fazer”, declarou o Bispo.

Quais os limites de restrições à liberdade religiosa durante a pandemia?

Em todo o Brasil, muitos governos têm publicado decretos que restringem as atividades religiosas públicas como medida de segurança sanitária frente à pandemia de Covid-19. Tais determinações vêm gerando questionamentos sobre qual é o limite da atuação do Estado quanto à celebração de Missas e até onde estas decisões afetam a liberdade religiosa.

Em entrevista à ACI Digital, o diretor-secretário da União dos Juristas Católicos de São Paulo (UJUCASP), Dr. José Tadeu de Barros Nóbrega, e o diretor-tesoureiro da entidade, Dr. Miguel da Costa Carvalho Vidigal, explicaram que, “primeiramente, é preciso reafirmar que o direito à prestação do devido culto a Deus, decorrente do direito à Religião, é um direito natural”.

Esse direito natural, indicaram, “foi reafirmado por meio do ordenamento jurídico positivo (as leis escritas) no Brasil que também assegura esse direito”. Nesse sentido, citaram a Constituição Federal, que no seu artigo 5º, inciso VI, “classifica como inviolável a liberdade de consciência e de crença, assegurando o livre exercício dos cultos religiosos, além de garantir a proteção aos locais de culto e a suas liturgias”.

Os diretores da UJUCASP pontuaram ainda que “o Acordo Brasil-Santa Sé, como outros tratados internacionais de direitos humanos, e a legislação infraconstitucional, inclusive o Código Penal, protegem a liberdade do culto e a liturgia”.

Especificamente no que diz respeito ao contexto de pandemia no Brasil, Dr. José Tadeu e Dr. Miguel Vidigal recordaram o Decreto nº 10.282/20, que regulamenta a Lei nº 13.979/20, a qual dispôs sobre as medidas para enfrentamento da emergência de saúde pública. Este “prevê que deverá ser resguardado o exercício e o funcionamento das atividades religiosas de qualquer natureza, obedecidas as determinações do Ministério da Saúde”.

Além disso, indicaram que “há outros fatores que impedem as restrições como têm sido feitas. Um deles é a reserva da legalidade”, pois “decretos não podem criar, extinguir ou modificar direitos. Para isso, é necessário que haja lei”. Desse modo, “tais ordenamentos que ferem o direito à Religião, contrariam a legalidade, uma vez que decorrem de imposições criadas em decretos”.

Os especialistas recordaram ainda que, embora o Supremo Tribunal Federal (STF) tenha decidido que as normas de combate à pandemia possam “ser emanadas pela União, pelos estados, pelo Distrito Federal e pelos municípios”, a todos estes a Constituição “veda de forma clara” a possibilidade de “impossibilitar o funcionamento dos cultos religiosos e de igrejas”.

Assim, reforçaram que, “admitidas as restrições pelo poder público, sempre por lei, elas não podem impedir o exercício do direito ao devido culto a Deus”.

Nesse sentido, explicaram que também as “normas sanitárias de preservação de distanciamento, uso de máscaras, aferição de temperatura na porta, disponibilização de álcool em gel e outras são possíveis, desde que não venham a embaraçar o culto”. “Tais regras são como exigir um extintor ou ainda lotação máxima, mas jamais com o condão de impedir a realização de uma cerimônia religiosa”, disseram, ressaltando que as igrejas estão “adotando protocolos extremamente rígidos” para evitar o contágio por coronavírus.

Segundo os advogados, “o mesmo se aplica para regras que visem impedir outros Sacramentos”. Citaram ainda “outros casos gravíssimos” observados no decorrer desta pandemia, como decretos determinando que fiéis não possam receber a Eucaristia na boca ou que a hóstia deveria ser pré-embalada. “Não faz sentido! Além do Estado querer impedir a liberdade religiosa, quer também assumir para si o poder de deliberar como deve ser prestação de culto a Deus”, declararam.

Enfim, afirmaram os especialistas, “entendemos que as restrições possíveis, na pandemia ou fora dela, são aquelas feitas por lei e que não venham a embaraçar ou impedir o culto. Tudo o que for contrário a isso, é injusto e não pode prevalecer”.

“Como o Estado, em geral, desconhece o que é essencial na prestação do culto, é recomendável que toda medida restritiva em matéria de culto católico seja feita em comum acordo com o Bispo do local. Ou, então, teríamos uma situação em que o Estado que definiria as normas da religião, o que, certamente, não é o desejo de ninguém”, acrescentaram.

quinta-feira, 1 de abril de 2021

Depois da PGR, AGU pede que Supremo suspenda proibição de cultos em São Paulo


O advogado-geral da União, André Mendonça, pediu ao Supremo Tribunal Federal nesta quinta-feira (1º/4) a suspensão de decretos municipais e estaduais em todo o país que proíbem cultos, missas e outras atividades religiosas de caráter coletivo na Páscoa.

O procurador-Geral da República, Augusto Aras, fez pedido semelhante na quarta (31/3). PGR e AGU se manifestaram na ADPF 811, ajuizada pelo PSD contra decreto do governo do estado de São Paulo que vetou atividades religiosas presenciais para conter a escalada do coronavírus.

Em sua petição, Mendonça argumentou que qualquer restrição de direito fundamental no contexto de enfrentamento à pandemia de Covid-19 deve estar amparada em fundamentação técnica idônea e respeitar os requisitos da proporcionalidade, razoabilidade e a jurisprudência do Supremo.

De acordo com o AGU, a proibição total de atividades religiosas, sem qualquer ressalva e abrangendo, inclusive, atividades sem aglomeração, viola o direito de crença, afetando de modo excessivo e desproporcional a liberdade religiosa.

Além disso, Mendonça sustentou que a restrição não é adequada nem necessária. "Isso porque a completa interdição de atividades religiosas, traduz, em si mesma, uma medida excessivamente onerosa, porquanto poderia ser substituída por restrições parciais, voltadas a evitar situações em que haja o risco acentuado de contágio".

PGR pede que Supremo suspenda decreto de São Paulo proibindo cultos e missas


O procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu ao Supremo Tribunal Federal nesta quarta-feira (31/3) a suspensão de decretos municipais e estaduais em todo o país que proíbem a realização de cultos, missas e outras atividades religiosas de caráter coletivo.

Para o PGR, além de a Constituição assegurar a liberdade religiosa, a assistência espiritual é essencial para muitas pessoas enfrentarem a pandemia. Portanto, igrejas e templos devem poder abrir, desde que respeitados os protocolos sanitários para evitar a disseminação da covid-19.

O PGR se manifestou na ADPF 811, ajuizada pelo PSD contra decreto do governo do estado de São Paulo que vetou atividades religiosas presenciais. O pedido apresentado pelo PGR reforça a solicitação de liminar do partido e requer a suspensão imediata da norma a fim de que templos e igrejas possam celebrar a Páscoa, principal feriado cristão.

Ele também pede efeito expansivo para alcançar atos editados por outros entes federativos que tenham estabelecido a proibição total ao livre exercício do direito fundamental à liberdade religiosa por meio de cultos, missas e outros rituais presenciais, desde que observados os protocolos de prevenção, como os estabelecidos anteriormente no próprio estado de São Paulo e no Distrito Federal, e o atendimento das medidas sanitárias definidas pelo Ministério da Saúde. O relator da ADPF é o ministro Gilmar Mendes.

Em parceria com especialistas e setores envolvidos, São Paulo elaborou detalhado protocolo voltado a auxiliar os estabelecimentos a reduzir o risco de contágio, baseado em critérios técnicos e de saúde. O documento contém prescrições específicas que podem ser adotadas para as atividades praticadas em cada matriz religiosa.

Já o Distrito Federal, em vez de vedar cultos e missas, implantou regras específicas, como a exigência de afastamento mínimo de uma pessoa para outra, a recomendação para que se evite contato físico, a disponibilização de álcool em gel, a aferição de temperatura, entre outras.

O PGR justifica o pedido de liminar argumentando que o perigo na demora de uma decisão "decorre do próprio agravamento da epidemia de covid-19 no estado de São Paulo e de estar em curso período importante para tradição religiosa cristã (semana santa), de modo que a proibição de externalização de crença em culto, de missas ou demais atividades religiosas de caráter coletivo neste momento de especial significado religioso inflige maior sofrimento na população do estado, que não pode sequer se socorrer em templos religiosos para professar sua fé em nome dos entes queridos que se foram ou pela saúde daqueles que estão acometidos pela doença".

"A força da vitória de Cristo vence o mal e nos liberta do maligno", diz Papa na Missa do Crisma


SANTA MISSA CRISMAL
HOMILIA DO PAPA FRANCISCO

Basílica de São Pedro
Quinta-feira Santa, 1 de abril de 2021
 
No Evangelho, vemos uma mudança de sentimentos nas pessoas que estavam a escutar o Senhor. É uma mudança dramática que nos mostra quão ligadas estão a perseguição e a cruz ao anúncio do Evangelho. A admiração suscitada pelas palavras repletas de graça que saíam da boca de Jesus durou pouco no espírito do povo de Nazaré. Uma frase que alguém murmurou em voz baixa: «Mas este, quem é? O filho de José?» (cf. Lc 4, 22). Aquela frase tornou-se insidiosamente «viral»: «Mas, quem é este? Não é o filho de José?»

Trata-se de uma daquelas frases ambíguas que se dizem por dizer. Uma pessoa pode usá-la para exprimir alegria: «Que maravilha ver alguém de origens tão humildes falar com esta autoridade!» Mas outra pode usá-la com desdém: «E isto, donde lhe veio? Que pensa ser?» Se notarmos bem, o caso repete-se quando os Apóstolos, no dia de Pentecostes, cheios do Espírito Santo, começam a pregar o Evangelho. Alguém disse: «Esses que estão a falar, não são todos galileus?» (At 2, 7). E enquanto alguns acolheram a Palavra, outros consideraram-nos bêbados.

Formalmente, parecia que se deixava em aberto uma escolha; mas, se considerarmos os frutos, naquele contexto concreto tais palavras continham um germe de violência que se desencadeou contra Jesus.

É uma «frase motivadora»,[1] como quando se diz: «Isto é demais!» e agride o outro ou deixa-o e vai-se embora.

O Senhor, que às vezes ficava calado ou passava à outra margem, aqui não renunciou a comentar, desmascarando a lógica maligna que se escondia sob a aparência duma simples bisbilhotice de aldeia. «Certamente ides citar-me o provérbio: “Médico, cura-te a ti mesmo”. Tudo o que ouvimos dizer que fizeste em Cafarnaum, fá-lo também aqui na tua terra» (Lc 4, 23). «Cura-te a ti mesmo…»

«Salve-se a si mesmo». Aqui está o veneno! É a mesma frase que acompanhará o Senhor até à cruz: «Salvou os outros; salve-Se a Si mesmo» (Lc 23, 35); «e – acrescentará um dos dois ladrões – salve a nós também» (23, 39).

Como sempre faz, o Senhor não dialoga com o espírito maligno; responde apenas com a Sagrada Escritura. Nem mesmo os profetas Elias e Eliseu foram aceites pelos seus compatriotas, mas foram-no por uma viúva fenícia e um sírio leproso: dois estrangeiros, duas pessoas doutra religião. Os factos são contundentes e provocam o efeito que profetizara aquele idoso carismático do Simeão: Jesus seria «sinal de contradição» (Lc 2, 34; semeion antilegomenon[2]).

A palavra de Jesus tem o poder de trazer à luz aquilo que uma pessoa guarda no coração, sendo habitualmente uma mistura de coisas como o trigo e o joio. E isto provoca luta espiritual. Ao ver os gestos de superabundante misericórdia do Senhor e ao ouvir as suas bem-aventuranças seguidas das invetivas «ai de vós!» no Evangelho, a pessoa vê-se obrigada a discernir e escolher. Neste caso, a sua palavra não foi acolhida, acabando a multidão, enfurecida, por tentar tirar-Lhe a vida. Mas ainda não era «a hora»; e o Senhor – diz-nos o Evangelho –, «passando pelo meio deles, seguiu o seu caminho» (Lc 4, 30).

Não era a hora, mas a rapidez com que se desencadeou a fúria e a brutalidade do encarniçamento, capaz de matar o Senhor naquele preciso momento, mostra-nos que é sempre a hora. E isto mesmo é o que desejo partilhar hoje convosco, queridos sacerdotes: andam juntas a hora do anúncio jubiloso e a hora da perseguição e da cruz.

A proclamação do Evangelho está sempre ligada ao abraço duma cruz concreta. A luz suave da Palavra gera clareza nos corações bem-dispostos, e confusão e rejeição naqueles que o não estão. Vemos isto constantemente no Evangelho.

A boa semente lançada no campo dá fruto – cento, sessenta, trinta por um –, mas desperta também a inveja do inimigo que obsessivamente começa a semear joio durante a noite (cf. Mt 13, 24-30.36-43).

A ternura do pai misericordioso atrai irresistivelmente o filho pródigo para que regresse a casa, mas suscita também a indignação e o ressentimento do filho mais velho (cf. Lc 15, 11-32).

A generosidade do dono da vinha é motivo de gratidão nos trabalhadores da última hora, mas é motivo também de comentários azedos nos primeiros, que se sentem ofendidos porque o dono é bom (cf. Mt 20, 1-16).

A proximidade de Jesus, que vai comer com os pecadores, ganha corações como o de Zaqueu, o de Mateus, o da Samaritana..., mas provoca também sentimentos de desprezo naqueles que se consideram justos.

A magnanimidade daquele homem que manda o seu filho pensando que seria respeitado pelos vinhateiros, desencadeia todavia neles uma brutalidade sem medida: estamos perante o mistério da iniquidade, que leva a matar o Justo (cf. Mt 21, 33-46).

Tudo isto, queridos irmãos sacerdotes, nos mostra que a proclamação da Boa Nova está misteriosamente ligada à perseguição e à cruz.

Santo Inácio de Loyola, na contemplação do Presépio (desculpai-me a publicidade de família!), naquela contemplação do Presépio, exprime esta verdade evangélica quando nos faz observar e considerar o que fazem São José e Nossa Senhora, como, «por exemplo, caminham e trabalham porque o Senhor nasce na extrema pobreza e, no final de tantos trabalhos, de fome e sede, de calor e frio, de injúrias e afrontas, morre na cruz. E tudo isto por mim. Depois – acrescenta Inácio –, refletindo, tira algum proveito espiritual» (Exercícios espirituais, 116). A alegria pelo nascimento do Senhor, o sofrimento da Cruz, a perseguição.

Ora, a fim de «tirar algum proveito» para a nossa vida sacerdotal, que reflexão poderemos fazer ao contemplar esta presença precoce da cruz (da incompreensão, da rejeição, da perseguição) no início e no meio da pregação evangélica? Vêm-me à mente duas reflexões.

A primeira: não nos deve maravilhar a constatação de estar presente a cruz na vida do Senhor no início de seu ministério, pois estava já antes do seu nascimento: já está presente no primeiro turbamento de Maria ao ouvir o anúncio do Anjo; está presente nas insónias de José, sentindo-se obrigado a abandonar a sua esposa prometida; está presente na perseguição de Herodes e nas agruras sofridas pela Sagrada Família, iguais às de tantas famílias que têm de exilar-se da sua pátria.

Esta realidade abre-nos ao mistério da cruz experimentada antes. Faz-nos compreender que a cruz não é um facto indutivo, um facto ocasional produzido por uma conjuntura na vida do Senhor. É verdade que todos os crucificadores da história fazem aparecer a cruz como um dano colateral, mas não é assim: a cruz não depende das circunstâncias. As grandes cruzes da humanidade e as pequenas – digamos assim! – cruzes nossas, de cada um de nós não dependem das circunstâncias.

Porque é que o Senhor abraçou a cruz em toda a sua integridade? Porque é que Jesus abraçou a paixão inteira: abraçou a traição e o abandono dos seus amigos já desde a Última Ceia, aceitou a prisão ilegal, o julgamento sumário, a sentença desproporcionada, a malvadez sem motivo das bofetadas e cuspidelas? Se as circunstâncias determinassem o poder salvífico da cruz, o Senhor não teria abraçado tudo. Mas quando chegou a sua hora, abraçou a cruz inteira. Porque a cruz não tolera ambiguidade; com a cruz, não se regateia!