sábado, 19 de maio de 2018

Papa Francisco: Reflexões sobre a Santa Missa – A Comunhão Sacramental (Parte 14/15)



PAPA FRANCISCO

AUDIÊNCIA GERAL
Praça São Pedro
Quarta-feira, 21 de março de 2018

A Comunhão Sacramental

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje é o primeiro dia de primavera: boa primavera! Mas o que acontece na primavera? Florescem as plantas, florescem as árvores. Far-vos-ei algumas perguntas. Uma árvore ou uma planta doentes, florescem bem, se estão doentes? Não! Uma árvore, uma planta que não for regada pela chuva ou artificialmente, pode florescer bem? Não! E uma árvore ou uma planta das quais foram tiradas as raízes, ou que não as têm, podem florescer? Não! Mas pode-se florescer sem raízes? Não! E esta é uma mensagem: a vida cristã deve ser uma vida que precisa de florescer em obras de caridade, em gestos de bem. Mas se tu não tens raízes, não poderás florescer; e quem é a raiz? Jesus! Se ali, nas raízes, não estiveres com Jesus, não florescerás! Se não regares a tua vida com a oração e os sacramentos, terás flores cristãs? Não! Porque a oração e os sacramentos irrigam as raízes e a nossa vida floresce. Faço-vos votos a fim de que esta primavera seja para vós uma primavera florida, como será a Páscoa florescida. Florida de boas obras, de virtudes, de gestos de bem para os outros. Recordai isto, é um pequeno verso muito bonito da minha Pátria: “O que a árvore tem de florescido vem daquilo que tem de enterrado”. Nunca cortemos as raízes com Jesus.

E agora continuemos com a catequese sobre a Santa Missa. A celebração da Missa, da qual percorremos os vários momentos, visa a Comunhão, ou seja, a nossa união com Jesus. A comunhão sacramental: não a comunhão espiritual, que podes fazer em casa, dizendo: “Jesus, gostaria de te receber espiritualmente”. Não, a comunhão sacramental, com o corpo e o sangue de Cristo. Celebramos a Eucaristia para nos alimentarmos de Cristo, que se oferece a nós quer na Palavra quer no Sacramento do altar, para nos conformar-nos com Ele. É o próprio Senhor quem o diz: «Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim, e Eu nele» (Jo 6, 56). Com efeito, o gesto de Jesus que deu aos discípulos o seu Corpo e Sangue na última Ceia, continua ainda hoje através do ministério do sacerdote e do diácono, ministros ordinários da distribuição do Pão da vida e do Cálice da salvação aos irmãos.

Na Missa, depois de ter partido o Pão consagrado, ou seja, o corpo de Jesus, o sacerdote mostra-o aos fiéis, convidando-os a participar no banquete eucarístico. Conhecemos as palavras que ressoam do santo altar: «Felizes os convidados para a Ceia do Senhor: eis o Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo». Inspirado num trecho do Apocalipse — «Felizes os convidados para a ceia das núpcias do Cordeiro» (Ap 19, 9): diz “núpcias” porque Jesus é o Esposo da Igreja — este convite chama-nos a experimentar a íntima união com Cristo, fonte de alegria e de santidade. É um convite que rejubila e, ao mesmo tempo, impele a um exame de consciência, iluminado pela fé. Com efeito, se por um lado vemos a distância que nos separa da santidade de Cristo, por outro acreditamos que o seu Sangue é «derramado para a remissão dos pecados». Todos nós fomos perdoados no batismo, e todos nós somos perdoados ou seremos perdoados cada vez que nos aproximarmos do sacramento da penitência. E não nos esqueçamos: Jesus perdoa sempre. Jesus não se cansa de perdoar. Somos nós que nos cansamos de pedir perdão. Precisamente pensando no valor salvífico deste Sangue, Santo Ambrósio exclama: «Eu, que peco sempre, devo ter sempre à disposição o remédio» (De sacramentis, 4, 28: PL 16, 446a). Nesta fé, também nós dirijamos o olhar para o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo, e invoquemo-lo: «Ó Senhor, não sou digno de participar na vossa mesa: mas dizei uma só palavra e eu serei salvo». Dizemos isto em cada Missa.

sexta-feira, 18 de maio de 2018

Papa Francisco: Reflexões sobre a Santa Missa – O Pai Nosso (Parte 13/15)


PAPA FRANCISCO
AUDIÊNCIA GERAL
Praça São Pedro
Quarta-feira, 14 de março de 2018

O Pai Nosso

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Continuemos com a Catequese sobre a Santa Missa. Na última Ceia, depois de ter tomado o pão e o cálice do vinho, e de ter dado graças a Deus, sabemos que Jesus «partiu o pão». A esta ação corresponde, na Liturgia eucarística da Missa, a fração do Pão, precedida pela oração que o Senhor nos ensinou, ou seja, o “Pai-Nosso”.

E assim começam os ritos de Comunhão, prolongando o louvor e a súplica da Oração eucarística com a recitação comunitária do “Pai-Nosso”. Esta não é uma das tantas orações cristãs, mas é a oração dos filhos de Deus: é a grande oração que Jesus nos ensinou. Com efeito, entregue a nós no dia do nosso Batismo, o “Pai-Nosso” faz ressoar em nós os mesmos sentimentos de Jesus Cristo. Quando rezamos o “Pai-Nosso”, oramos como Jesus. Foi a oração que Jesus proferiu e que nos ensinou; quando os discípulos lhe disseram: “Mestre, ensina-nos a rezar como tu rezas”. E Jesus rezava deste modo. É tão bonito rezar como Jesus! Formados pelo seu divino ensinamento, ousamos dirigir-nos a Deus chamando-o “Pai” porque renascemos como seus filhos através da água e do Espírito Santo (cf. Ef 1, 5). Na verdade, ninguém poderia chamá-lo familiarmente “Abbá” — “Pai” — sem ter sido gerado por Deus, sem a inspiração do Espírito, como ensina São Paulo (cf. Rm 8, 15). Devemos pensar: ninguém pode chamá-lo “Pai” sem a inspiração do Espírito. Quantas vezes as pessoas dizem “Pai Nosso”, mas não sabem o que estão a dizer. Porque sim, é o Pai, mas será que quando dizes “Pai” sentes que Ele é o Pai, o teu Pai, o Pai da humanidade, o Pai de Jesus Cristo? Tens uma relação com este Pai? Quando rezamos o “Pai-Nosso”, entramos em relação com o Pai que nos ama, mas é o Espírito quem nos confere esta relação, este sentimento de sermos filhos de Deus.

Que oração melhor do que aquela que Jesus nos ensinou pode predispor-nos para a Comunhão sacramental com Ele? Além da Missa, o “Pai-Nosso” é rezado, durante a manhã e à noite, nas Laudes e nas Vésperas; deste modo, a atitude filial em relação a Deus e de fraternidade para com o próximo contribuem para dar forma cristã aos nossos dias.

quinta-feira, 17 de maio de 2018

Papa Francisco: Reflexões sobre a Santa Missa – A Oração Eucarística (Parte 12/15)


PAPA FRANCISCO
AUDIÊNCIA GERAL
Sala Paulo VI
Quarta-feira, 7 de março de 2018

A Oração Eucarística

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Continuemos as catequeses sobre a Santa Missa, e com esta catequese reflitamos sobre a Oração eucarística. Quando se conclui o rito da apresentação do pão e do vinho, tem início a Oração eucarística, que qualifica a celebração da Missa e constitui o seu momento central, que leva à sagrada Comunhão. Corresponde a quanto o próprio Jesus fez, à mesa com os Apóstolos na Última Ceia, quando «deu graças» sobre o pão e depois sobre o cálice do vinho (cf. Mt 26, 27; Mc 14, 23; Lc 22, 17.19; 1 Cor 11, 24): a sua ação de graças revive em cada nossa Eucaristia, associando-nos ao seu sacrifício de salvação.

Nesta Oração solene — a Oração eucarística é solene — a Igreja exprime o que ela cumpre quando celebra a Eucaristia e o motivo pelo qual a celebra, ou seja fazer comunhão com Cristo realmente presente no pão e no vinho consagrados. Depois de convidar o povo a elevar os corações ao Senhor e dar-lhe graças, o sacerdote pronuncia a Oração em voz alta, em nome de todos os presentes, dirigindo-se ao Pai por meio de Jesus Cristo no Espírito Santo. «O significado desta Oração é que toda a assembleia dos fiéis se una com Cristo para magnificar as grandes obras de Deus e para oferecer do sacrifício» (Ordenamento Geral do Missal Romano, 78). E para nos unir devemos compreender. Por isso, a Igreja quis celebrar a Missa na língua que as pessoas entendem, a fim de que cada um possa unir-se a este louvor e a esta grande oração juntamente com o sacerdote. Na verdade, «o sacrifício de Cristo e o sacrifício da Eucaristia são um único sacrifício» (Catecismo da Igreja Católica, 1367).

No Missal há várias fórmulas de Oração eucarística, todas constituídas por elementos caraterísticos, que gostaria de recordar agora (cf. OGMR, 79; CIC, 1352-1354). Todas são belíssimas. Antes de tudo, há o Prefácio, que é uma ação de graças pelos dons de Deus, em particular pelo envio do seu Filho como Salvador. O Prefácio conclui-se com a aclamação do «Santo», normalmente cantada. É bom cantar o “Santo”: “Santo, Santo, Santo é o Senhor”. É bom cantá-lo. Toda a assembleia une a própria voz àquela dos Anjos e dos Santos para louvar e glorificar a Deus.

Depois há a invocação do Espírito a fim de que com o seu poder consagre o pão e o vinho. Invocamos o Espírito para que venha e no pão e no vinho esteja presente Jesus. A ação do Espírito Santo e a eficácia das próprias palavras de Cristo proferidas pelo sacerdote, tornam realmente presente, sob as espécies do pão e do vinho, o seu Corpo e o seu Sangue, o seu sacrifício oferecido na cruz de uma vez para sempre (cf. CIC, 1375). Nisto Jesus foi claríssimo. Ouvimos como São Paulo no início narra as palavras de Jesus: «Este é o meu corpo, este é o meu sangue». «Este é o meu sangue, este é o meu corpo». O próprio Jesus disse isto. Não devemos formular pensamentos estranhos: “Mas, isso será possível...”. É o corpo de Jesus; ponto final! A fé: ajuda-nos a fé; com um ato de fé acreditamos que é o corpo e o sangue de Jesus. É o “mistério da fé”, como dizemos depois da consagração. O sacerdote diz: «Mistério da fé» e respondemos com uma aclamação. Celebrando o memorial da morte e ressurreição do Senhor, na expetativa da sua vinda gloriosa, a Igreja oferece ao Pai o sacrifício que reconcilia céu e terra: oferece o sacrifício pascal de Cristo oferecendo-se com Ele e pedindo, em virtude do Espírito Santo, para se tornar “em Cristo um só corpo e um só espírito” (Oração eucarística III; cf. Sacrosanctum Concilium, 48 OGMR, 79f). A Igreja deseja unir-nos a Cristo e tornar-se com o Senhor um só corpo e um só espírito. É esta a graça e o fruto da Comunhão sacramental: nutrimo-nos do Corpo de Cristo para nos tornarmos, nós que o comemos, o seu Corpo vivo hoje no mundo.

quarta-feira, 16 de maio de 2018

Papa Francisco: Reflexões sobre a Santa Missa – A Liturgia Eucarística (Parte 11/15)


PAPA FRANCISCO
AUDIÊNCIA GERAL
Sala Paulo VI
Quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

A Liturgia Eucarística

Bom dia, queridos irmãos e irmãs!

Continuemos as catequeses sobre a Santa Missa. À Liturgia da Palavra — sobre a qual meditei nas catequeses passadas — segue-se a outra parte constitutiva da Missa, que é a Liturgia eucarística. Nela, através dos sinais sagrados, a Igreja torna continuamente presente o Sacrifício da nova aliança, selada por Jesus no altar da Cruz (cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. Sacrosanctum concilium, 47). O primeiro altar cristão foi o da Cruz, e quando nos aproximamos do altar para celebrar a Missa, a nossa memória vai ao altar da Cruz, onde se realizou o primeiro sacrifício. O sacerdote, que na Missa representa Cristo, cumpre aquilo que o próprio Senhor fez e confiou aos discípulos na última Ceia: tomou o pão e o cálice, deu graças e distribuiu-os aos discípulos, dizendo: «Tomai e comei... bebei: isto é o meu Corpo... isto é o cálice do meu Sangue. Fazei isto em memória de mim!».

Obediente ao mandato de Jesus, a Igreja dispôs a Liturgia eucarística em momentos que correspondem às palavras e aos gestos realizados por Ele na vigília da sua Paixão. Assim, na preparação dos dons levam-se ao altar o pão e o vinho, ou seja, os elementos que Cristo tomou nas suas mãos. Na Prece eucarística damos graças a Deus pela obra da redenção, e as ofertas tornam-se o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo. Seguem-se a fração do Pão e a Comunhão, mediante a qual revivemos a experiência dos Apóstolos que receberam os dons eucarísticos das mãos do próprio Cristo (cf. Ordenamento Geral do Missal Romano, 72).

Portanto, ao primeiro gesto de Jesus: «Tomou o pão e o cálice do vinho», corresponde a preparação dos dons. É a primeira parte da Liturgia eucarística. É bom que o pão e o vinho sejam apresentados ao sacerdote pelos fiéis, porque eles significam a oferta espiritual da Igreja ali congregada para a Eucaristia. É bom que precisamente os fiéis levem o pão e o vinho ao altar. Não obstante hoje «os fiéis já não levem, como outrora, o próprio pão e vinho, destinados à Liturgia, todavia o rito da apresentação destes dons conserva o seu valor e significado espiritual» (ibid., n. 73). E a este propósito, é significativo que, ao ordenar um novo presbítero, o Bispo, quando lhe entrega o pão e o vinho, diz: «Recebe as ofertas do povo santo para o sacrifício eucarístico» (Pontifical Romano — Ordenação dos bispos, dos presbíteros e dos diáconos). O povo de Deus que leva a oferta, o pão e o vinho, a grande oferta para a Missa! Portanto, nos sinais do pão e do vinho, o povo fiel põe a própria oferta nas mãos do sacerdote, que a coloca no altar, ou mesa do Senhor, «que é o centro de toda a Liturgia eucarística» (OGMR, n. 73). Ou seja, o centro da Missa é o altar, e o altar é Cristo; é necessário olhar sempre para o altar, que constitui o cerne da Missa. Por conseguinte, no «fruto da terra e do trabalho do homem» oferece-se o compromisso dos fiéis a fazer de si mesmos, obedientes à Palavra divina, um «sacrifício agradável a Deus Pai Todo-Poderoso», «pelo bem de toda a sua santa Igreja». Deste modo, «a vida dos fiéis, o seu louvor, o seu sofrimento, a sua oração e o seu trabalho unem-se aos de Cristo e à sua oblação total, adquirindo assim um novo valor» (Catecismo da Igreja Católica, 1.368).

terça-feira, 15 de maio de 2018

Papa Francisco: Reflexões sobre a Santa Missa – Liturgia da Palavra, Credo e Oração dos Fiéis (Parte 10/15)


PAPA FRANCISCO
AUDIÊNCIA GERAL
Praça São Pedro
Quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Liturgia da Palavra, Credo e Oração dos Fiéis

Amados irmãos e irmãs, bom dia!

Bom dia mesmo se o dia é um pouco feio. Mas se a alma estiver em alegria é sempre um dia bom. Portanto, bom dia! Hoje a audiência será feita em dois lugares: um pequeno grupo de doentes está na Sala, devido ao tempo e nós estamos aqui. Mas nós vemo-los e eles vêem a nós através dos grandes écrans. Saudemo-los com um aplauso.

Continuemos com a Catequese sobre a Missa. A escuta das Leituras bíblicas, prolongada na homilia, ao que corresponde? Corresponde a um direito: o direito espiritual do povo de Deus a receber com abundância o tesouro da Palavra de Deus (cf. Introdução ao Lecionário, 45). Cada um de nós, quando vai à Missa, tem o direito de receber abundantemente a Palavra de Deus bem lida, bem proclamada e depois, bem explicada na homilia. É um direito! E quando a Palavra de Deus não é bem lida, não é pregada com fervor pelo diácono, pelo sacerdote ou pelo bispo não se cumpre um direito dos fiéis. Nós temos o direito de ouvir a Palavra de Deus. O Senhor fala para todos, Pastores e fiéis. Ele bate à porta do coração de quantos participam na Missa, cada um na sua condição de vida, idade, situação. O Senhor consola, chama, suscita rebentos de vida nova e reconciliada. E isto por meio da sua Palavra. A sua Palavra bate ao coração e muda os corações!

Por isso, depois da homilia, um tempo de silêncio permite sedimentar no ânimo a semente recebida, a fim de que nasçam propósitos de adesão ao que o Espírito sugeriu a cada um. O silêncio depois da homilia. Um bom silêncio deve ser feito ali e cada um deve pensar naquilo que ouviu.

Depois deste silêncio, como prossegue a Missa? A resposta pessoal de fé insere-se na profissão de fé da Igreja, expressa no “Credo”. Todos nós recitamos o “Credo” na Missa. Recitado por toda a assembleia, o Símbolo manifesta a resposta comum a quanto se ouviu juntos acerca da Palavra de Deus (cf. Catecismo da Igreja Católica, 185-197). Há uma ligação vital entre a escuta e a fé. Estão unidas. Com efeito, ela — a fé — não nasce da fantasia de mentes humanas mas, como recorda São Paulo, «é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus» (Rm 10, 17). Por conseguinte, a fé alimenta-se com a escuta e leva ao Sacramento. Assim, a recitação do “Credo” faz com que a assembleia litúrgica «medite novamente e professe os grandes mistérios da fé, antes da sua celebração na Eucaristia» (Ordenamento Geral do Missal Romano, 67).

segunda-feira, 14 de maio de 2018

Papa Francisco: Reflexões sobre a Santa Missa – Liturgia da Palavra – II (Parte 9/15)





PAPA FRANCISCO
AUDIÊNCIA GERAL
Sala Paulo VI
Quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018


Liturgia da Palavra

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!

Continuemos as catequeses sobre a Santa Missa. Tínhamos chegado às Leituras.

O diálogo entre Deus e o seu povo, desenvolvido na Liturgia da Palavra da Missa, alcança o ápice na proclamação do Evangelho. Precede-o o cântico do Aleluia — ou então, na Quaresma, outra aclamação — com o qual «a assembleia dos fiéis acolhe e saúda o Senhor que está prestes a falar no Evangelho».[1] Do mesmo modo que os mistérios de Cristo iluminam toda a revelação bíblica, assim, na Liturgia da Palavra, o Evangelho constitui a luz para compreender o sentido dos textos bíblicos que o precedem, tanto do Antigo como do Novo Testamento. Com efeito, «de toda a Escritura, assim como de toda a celebração litúrgica, Cristo é o centro e a plenitude».[2] Jesus Cristo está sempre no centro, sempre.

Por isso, a própria liturgia distingue o Evangelho das outras leituras, circundando-o de honra e veneração especiais.[3] Com efeito, a sua leitura é reservada ao ministro ordenado, que no final beija o Livro; pomo-nos à escuta de pé, traçando um sinal da cruz na testa, nos lábios e no peito; os círios e o incenso honram Cristo que, mediante a leitura evangélica, faz ressoar a sua palavra eficaz. Destes sinais a assembleia reconhece a presença de Cristo, o qual lhe dirige a “boa notícia” que converte e transforma. Tem lugar um discurso direto, como atestam as aclamações com as quais se responde à proclamação: «Glória a Vós, ó Senhor» e «Louvor a Vós, ó Cristo». Levantamo-nos para ouvir o Evangelho: ali é Cristo quem nos fala. É por isso que prestamos atenção, porque se trata de um diálogo direto. É o Senhor quem nos fala.

Portanto, na Missa não lemos o Evangelho para saber o que aconteceu, mas ouvimos o Evangelho para tomar consciência do que fez e disse Jesus outrora; e aquela Palavra é viva, a Palavra de Jesus que está no Evangelho é viva e chega ao meu coração. Por isso, ouvir o Evangelho é muito importante, com o coração aberto, porque é Palavra viva. Santo Agostinho escreve que «a boca de Cristo é o Evangelho. Ele reina no céu, mas não cessa de falar na terra».[4] Se é verdade que na Liturgia «Cristo ainda anuncia o Evangelho»,[5] consequentemente, participando na Missa, devemos dar-lhe uma resposta. Nós ouvimos o Evangelho e devemos dar uma resposta na nossa vida. 

domingo, 13 de maio de 2018

Papa Francisco: Reflexões sobre a Santa Missa – Liturgia da Palavra - I (Parte 8/15)



PAPA FRANCISCO
AUDIÊNCIA GERAL
Praça São Pedro

Quarta-feira, 31 de janeiro de 2018


Liturgia da Palavra

Bom dia, estimados irmãos e irmãs!

Hoje damos continuidade às catequeses sobre a Santa Missa. Depois de termos refletido sobre os ritos de introdução, consideremos agora a Liturgia da Palavra, que é uma parte constitutiva porque nos reunimos precisamente para ouvir aquilo que Deus fez e ainda tenciona realizar por nós. É uma experiência que acontece “diretamente” e não por ter ouvido falar, pois «quando na Igreja se lê a Sagrada Escritura, é o próprio Deus que fala ao seu povo; e Cristo, presente na palavra, anuncia o Evangelho» (Ordenamento Geral do Missal Romano, 29; cf. Const. Sacrosanctum concilium, 7; 33). E quantas vezes, enquanto se lê a Palavra de Deus, se comenta: “Olha aquele..., olha aquela... olha o chapéu que ela tem: é ridículo...”. E começa-se a fazer comentários. Não é verdade? Devem-se fazer comentários durante a leitura da Palavra de Deus? [respondem: “não!”]. Não, porque se tu tagarelas com as pessoas não ouves a Palavra de Deus. Quando se lê a Palavra de Deus na Bíblia — a primeira Leitura, a segunda, o Salmo responsorial e o Evangelho — devemos ouvir, abrir o coração, pois é o próprio Deus que nos fala, e não podemos pensar noutras coisas nem falar de outros assuntos. Entendestes?... Explicar-vos-ei o que acontece nesta Liturgia da Palavra.

As páginas da Bíblia deixam de ser um escrito, para se tornar Palavra viva, pronunciada por Deus. É Deus quem, através da pessoa que lê, nos fala e nos interpela, a nós que ouvimos com fé. O Espírito «que falou por meio dos profetas» (Credo), inspirando os autores sagrados, faz com que «a Palavra de Deus atue realmente nos corações aquilo que faz ressoar aos ouvidos» (Lecionário, Introd., 9). Mas para ouvir a palavra de Deus é necessário ter também o coração aberto para receber a palavra no coração. Deus fala e nós prestamos-lhe ouvidos, para depois pôr em prática quanto ouvimos. É muito importante ouvir. Às vezes, talvez, não entendemos bem porque algumas leituras são um pouco difíceis. Mas Deus fala-nos igualmente de outro modo. [É preciso estar] em silêncio e ouvir a Palavra de Deus. Não vos esqueçais disto. Na Missa, quando começam as leituras, ouçamos a Palavra de Deus.

Temos necessidade de o ouvir! Com efeito, é uma questão de vida, como bem lembra a expressão incisiva de que «não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus» (Mt 4, 4). A vida que nos dá a Palavra de Deus. Neste sentido, falamos da Liturgia da Palavra como da “mesa” que o Senhor prepara para alimentar a nossa vida espiritual. A da liturgia é uma mesa abundante, que haure amplamente dos tesouros da Bíblia (cf. SC, 51), tanto do Antigo como do Novo Testamento, porque neles é anunciado pela Igreja o único e idêntico mistério de Cristo (cf. Lecionário, Introd., 5). Pensemos na riqueza das leituras bíblicas oferecidas pelos três ciclos dominicais que, à luz dos Evangelhos Sinóticos, nos acompanham ao longo do ano litúrgico: uma grande riqueza. Aqui desejo recordar também a importância do Salmo responsorial, cuja função consiste em favorecer a meditação do que se ouve na leitura que o precede. É bom que o Salmo seja valorizado através do cântico, pelo menos no refrão (cf. OGMR, 61; Lecionário, Introd., 19-22). 

sábado, 12 de maio de 2018

Papa Francisco: Reflexões sobre a Santa Missa – Ato Penitencial - II (Parte 7/15)



PAPA FRANCISCO
AUDIÊNCIA GERAL
Sala Paulo VI
Quarta-feira, 10 de janeiro de 2018


Ato Penitencial

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!

No percurso de catequeses sobre a celebração eucarística, vimos que o Ato penitencial nos ajuda a despojar-nos das nossas presunções e a apresentar-nos a Deus como realmente somos, conscientes de sermos pecadores, na esperança de sermos perdoados.

Precisamente do encontro entre a miséria humana e a misericórdia divina adquire vida a gratidão expressa no “Glória”, «um hino antiquíssimo e venerável com o qual a Igreja, congregada no Espírito Santo, glorifica e suplica a Deus Pai e ao Cordeiro» (Ordenamento Geral do Missal Romano, 53).

O início deste hino — “Glória a Deus nas alturas” — retoma o cântico dos Anjos no nascimento de Jesus em Belém, anúncio jubiloso do abraço entre céu e terra. Este canto inclui-nos também a nós reunidos em oração: «Gloria a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade».

Após o “Glória”, ou então, na sua ausência, imediatamente depois do Ato penitencial, a oração adquire forma particular na prece denominada “coleta”, por meio da qual se expressa o caráter próprio da celebração, que varia de acordo com os dias e os tempos do ano (cf. ibid., 54). Mediante o convite «oremos», o sacerdote exorta o povo a recolher-se com ele num momento de silêncio, com a finalidade de tomar consciência de estar na presença de Deus e fazer emergir, cada qual no próprio coração, as intenções pessoais com as quais participa na Missa (cf. ibid., 54). O sacerdote diz «oremos»; e depois há um momento de silêncio, e cada um pensa naquilo de que precisa, que deseja pedir, na oração.