sábado, 31 de dezembro de 2016

E dois mil e dezessete?


Começamos um novo ano, certamente não diferente de 2016. As perspectivas estão muito nebulosas, confusas e com poucas esperanças. O terrorismo, a ganância e o individualismo se alastram de maneira muito assustadora. Perdemos a confiança nas pessoas, principalmente nas lideranças que deveriam sustentar a estabilidade dos cidadãos. Como disse alguém: “Só Deus, só Nele confiar!”.

Mesmo em meio a atos de injustiça, que têm raízes em todos os setores da vida brasileira, o ano deve começar com as bênçãos de Deus. Nas palavras do papa Francisco, para quem faz o processo da reconciliação e da superação das fraquezas, a misericórdia divina supera as misérias humanas. Não há limites no amor de Deus, porque faz parte de seu plano, a salvação de todos.

Todo envolvimento com a maldade causada pela injustiça impede a pessoa de acolher o anúncio da Boa-nova do Evangelho. Ela deixa de participar da alegria e das maravilhas da presença de Deus, que transforma totalmente o ser humano. Tira as pessoas do jugo da escravidão e as faz proclamadoras dessa boa notícia. Em vez de destruir, constrói o bem e a sociedade com responsabilidade. 

O Natal do Senhor é o natal da paz


O estado de infância, que o Filho de Deus assumiu sem a considerar indigna da sua majestade, foi-se desenvolvendo com a idade até chegar ao estado de homem perfeito e, uma vez consumado o triunfo da sua paixão e ressurreição, todas as ações que eram próprias do seu estado de aniquilamento,que o Senhor aceitou por amor de nós, tiveram o seu fim e pertencem ao passado. E contudo, a festa de hoje renova para nós o sagrado início da vida de Jesus, nascido da Virgem Maria. E enquanto adoramos o nascimento do nosso Salvador, celebramos realmente também o nosso nascimento.

Efetivamente, a geração de Cristo é a origem do povo cristão; o Natal da cabeça é também o natal do corpo.

Embora cada um tenha sido chamado num momento determinado,para formar parte do povo do Senhor, e todos os filhos da Igreja sejam diversos na sucessão dos tempos, contudo, a totalidade dos fiéis, nascida na fonte do batismo, assim como foram crucificados com Cristo na sua paixão, ressuscitados na sua ressurreição, colocados à direita do Pai na sua ascensão, assim também nasceram com Ele neste Natal.

Todo o homem que, em qualquer parte do mundo, acredita e é regenerado em Cristo, liberta-se do vínculo da culpa original e, ao renascer, transforma-se num homem novo, já não pertence à descendência de seu pai segundo a carne, mas à nova geração do Salvador, o qual Se fez Filho do homem para que nós pudéssemos ser filhos de Deus.

De fato, se Ele não tivesse descido até nós na humildade da natureza humana, ninguém poderia chegar até Ele por seus próprios méritos.

Por isso, a mesma grandeza do dom recebido exige de nós uma veneração digna da sua magnificência. Assim nos ensina o Apóstolo: Não recebemos o espírito deste mundo, mas o Espírito que vem de Deus, para conhecermos os dons que nos foram dados por Deus; o melhor culto que podemos prestar a Deus é oferecer-Lhe o dom que Ele mesmo nos concedeu.

Ora, entre os dons da divina generosidade, que poderemos nós encontrar tão digno para honrar a presente festa, como a paz, aquela paz que os Anjos anunciaram no nascimento do Senhor?

É a paz que gera os filhos de Deus, alimenta o amor e cria a unidade. Ela é o repouso dos santos e a mansão da eternidade. E o fruto próprio desta paz é unir a Deus os que separa do mundo.

Portanto, aqueles que não nasceram do sangue, nem da carne nem da vontade do homem, mas de Deus, ofereçam ao Pai o coração de filhos unidos pelo vínculo da paz, e todos os membros da família adotiva de Deus se encontrem n'Aquele que é o Primogênito da nova criatura, que não veio para fazer a sua vontade, mas a vontade d’Aquele que O enviou. Os que foram adotados pela graça do Pai, para serem seus herdeiros, não são os que vivem separados pela discórdia e incompatibilidade, mas os que se encontram unidos pelos mesmos sentimentos e pelo mesmo amor. Os que foram modelados pela mesma imagem, devem ter um só coração e uma só alma.

O nascimento do Senhor é o nascimento da paz. Assim o proclama o Apóstolo: Ele é a nossa paz; Ele fez de dois povos um só: quer sejamos judeus quer gentios, é por Ele que temos acesso ao Pai num só Espírito.


Dos Sermões de São Leão Magno, papa

(Sermo 6 in Nativitate Domini, 2-3, 5: PL 54, 213-216) (Sec. V)

Maledicência


Nesse tempo de internet, em que se pode anonimamente falar mal à vontade de todo o mundo, em que se compartilham notícias sem preocupação com a verdade delas, em que se pode postar boatos que denigrem o bom nome das pessoas, em que se pode dizer meias verdades que impressionam e destroem a fama alheia, vale a pena recordar o que dizem os santos a respeito desse vício, que leva o nome de maledicência. O exagero, a caricatura, a meia-verdade, a reticência, a suspeita lançada ao ar, são tipos de maledicência que se assemelham à mentira, e até piores do que ela, por serem mais sedutoras.  

O Catecismo da Igreja Católica ensina: “Toda pessoa goza de um direito natural à honra do próprio nome, à sua reputação e ao seu respeito. Dessa forma, a maledicência e a calúnia ferem as virtudes da justiça e da caridade” (C.I.C. 2479).

“Não procures fazer figura pondo-te a criticar os outros e aprende a tornar mais perfeita a tua vida antes que denegrir a dos outros. São verdadeiramente poucos os que sabem afastar-se deste defeito, e é bem raro encontrar alguém que queira mostrar-se tão irrepreensível, na sua vida, que não critique com satisfação a vida alheia. Não há outra coisa, de fato, que ponha a alma em tanto barulho e que torne o espírito tão volúvel e leviano quanto o prestar fé com facilidade a tudo, e dar ouvido temerariamente às palavras dos críticos. E daí que surgem discórdias sobre discórdias e sentimentos de ódio que não têm motivo de ser. É justamente este defeito que frequentemente torna inimigas pessoas que, antes, eram amigas do peito. Se este mal está universalmente difuso, se este vício está vivo e forte em muitos, é justamente porque encontra, quase em todos, ouvidos complacentes” (São Jerônimo, Carta IV, 148, 16).  

São Silvestre I


O primeiro papa a ocupar a cátedra de Pedro após a conversão de Constantino foi Silvestre. Ele era romano e foi eleito em 314. Graças a Silvestre, a paz foi mantida na Igreja e o primeiro concílio foi convocado, para acontecer no cidade de Nicéia. 

São Silvestre I apagou-se ao lado de um Imperador culto e ousado como Constantino, o qual, mais que servi-lo se terá antes servido dele, da sua simplicidade e humanidade, agindo por vezes como verdadeiro Bispo da Igreja, sobretudo no Oriente, onde recebe o nome de Isapóstolo, isto é, igual aos apóstolos.

Na realidade, nos assuntos externos da Igreja, o Imperador considerava-se acima dos próprios Bispos, o Bispo dos Bispos, com inevitáveis intromissões nos próprios assuntos internos, uma vez que, com a sua mentalidade ainda pagã, não estava capacitado para entender e aceitar um poder espiritual diferente e acima do civil ou político.

E talvez São Silvestre, na sua simplicidade, tivesse sido o Papa ideal para a circunstância. Outro Papa mais exigente, mais cioso da sua autoridade, teria irritado a megalomania de Constantino, perdendo a sua proteção. Ainda estava muito viva a lembrança dos horrores por que passara a Igreja no reinado de Diocleciano, e São Silvestre, testemunha dessa perseguição que ameaçou subverter por completo a Igreja, terá preferido agradecer este dom inesperado da proteção imperial e agir com moderação e prudência.

Constantino terá certamente exorbitado. Mas isso ter-se-á devido ao desejo de manter a paz no Império, ameaçada por dissenções ideológicas da Igreja, como na questão do donatismo que, apesar de já condenado no pontificado anterior, se vê de novo discutido, em 316, por iniciativa sua.

Dois anos depois, gerou-se nova agitação doutrinária mais perigosa, com origem na pregação de Ario, sacerdote alexandrino que negava a divindade da segunda Pessoa e, consequentemente, o mistério da Santíssima Trindade. Constantino, inteirado da agitação doutrinária, manda mais uma vez convocar os Bispos do Império para dirimirem a questão. Sabemos pelo Liber Pontificalis, por Eusébio e Santo Atanásio, que o Papa dá o seu acordo, e envia, como representantes seus, Ósio, Bispo de Córdova, acompanhado por dois presbíteros.

Ele, como dignidade suprema, não se imiscuiria nas disputas, reservando-se a aprovação do veredito final. Além disso, não convinha parecer demasiado submisso ao Imperador.

Foi o primeiro Concílio Ecumênico (universal) que reuniu em Niceia, no ano 325, mais de 300 Bispos, com o próprio Imperador a presidir em lugar de honra. Os Padres conciliares não tiveram dificuldade em fazer prevalecer a doutrina recebida dos Apóstolos sobre a divindade de Cristo, proposta energicamente pelo Bispo de Alexandria, Santo Atanásio. A heresia de Ario foi condenada sem hesitação e a ortodoxia trinitária ficou exarada no chamado Símbolo Niceno ou Credo, ratificado por S. Silvestre.

Constantino, satisfeito com a união estabelecida, parte no ano seguinte para as margens do Bósforo onde, em 330, inaugura Constantinopla, a que seria a nova capital do Império, eixo nevrálgico entre o Oriente e o Ocidente, até à sua queda em poder dos turcos otomanos, em 1453.

Data dessa altura a chamada doação constantiniana, mediante a qual o Imperador entrega à Igreja, na pessoa de S. Silvestre, a Domus Faustae, Casa de Fausta, sua esposa, ou palácio imperial de Latrão (residência papal até Leão XI), junto ao qual se ergueria uma grandiosa basílica de cinco naves, dedicada a Cristo Salvador e mais tarde a S. João Batista e S. João Evangelista (futura e atual catedral episcopal de Roma, S. João de Latrão). Mais tarde, doaria igualmente a própria cidade.

Foi sob São Silvestre que começaram a ser estabelecidas, como locais de culto, as grandes basílicas romanas. Ele foi um grande empreendedor, preocupado com o bem estar de seu rebanho. Foi um papa do bem, amado pelo povo e cheio de vontade de transformar as desigualdades em um mundo mais justo.

Depois de um longo pontificado, cheio de acontecimentos e transformações profundas na vida da Igreja, morre S. Silvestre I no último dia do ano 335, dia em que a Igreja venera a sua memória. Sepultado no cemitério de Priscila, os seus restos mortais seriam transladados por Paulo I (757-767) para a igreja erguida em sua memória.


Vinde, Senhor, em auxílio do vosso povo, que confia na intercessão do papa São Silvestre, e conduzi-o ao longo desta vida presente, para que chegue um dia à felicidade da vida que não tem fim. Por Nosso Senhor Jesus Cristo Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.


São Silvestre, rogai por nós!

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

O Partido Comunista não gosta, mas cada vez mais chineses celebram o Natal!


Faixas de “Feliz Natal!” são abertamente expostas nas ruas comerciais da China comunista. “É um sério desafio“, de acordo com a Academia Chinesa de Ciências Sociais, que vê no crescente interesse dos chineses pelo Natal “um novo avanço da cristianização“.

Nas grandes cidades, muitas lojas e ruas comerciais estão vestidas com as cores natalinas. Há imagens de Papai Noel, árvores de Natal e canções de Natal por toda parte. Alguns acham que tudo é uma abordagem puramente comercial; outros que é o apelo cultural da modernidade, associada com o Ocidente.

“O frenesi de Natal”

Entre as entidades intelectuais mais próximas do poder central, este fascínio pelo Natal é observado com cautela, quando não com hostilidade. O fenômeno é visto como “contrário ao espírito de patriotismo” defendido pelos líderes chineses. Em 2014, a Academia Chinesa de Ciências Sociais chegou a publicar um livro para detalhar os “mais sérios desafios” que estão surgindo no país e citou explicitamente quatro:

– os ideais democráticos exportados pelas nações ocidentais
– a hegemonia cultural ocidental
– a disseminação da informação através da internet
– a infiltração religiosa.

Pouco depois, um grupo de dez estudantes chineses de doutorado publicou um artigo em que analisam o fenômeno denunciado como “frenesi do Natal” e apelam ao povo chinês para rejeitá-lo. Segundo esses estudantes, a “febre do Natal” na China demonstra a “perda da primazia da alma cultural chinesa” e o colapso da “subjetividade cultural chinesa”. Eles convidam os seus compatriotas a terem grande cuidado com o que consideram “um novo avanço da ‘cristianização’” em seu país.

Confira alguns destaques desse texto: 

Maria pecou?


Acusação protestante

Maria pecou, porque Romanos 3:23 diz:  “Todos pecaram e carecem da glória de Deus.”  A primeira carta de  João 1:8 acrescenta: “Se alguém diz que não tem pecado é mentiroso e a verdade não está nele”. Estes textos não poderiam ser mais claros para milhões de protestantes, será que os Católicos não percebem isso? Como alguém poderia acreditar que Maria estava livre de todo pecado à luz dessas passagens da Escritura, ainda mais quando a própria Maria disse: “A minha alma se alegra em Deus, meu Salvador em Lucas 1:47. Maria compreendia claramente ser uma pecadora e admite precisar de um salvador!!

A resposta católica

Muitos protestantes ficariam surpresos ao descobrirem que a Igreja Católica, na verdade, afirma que Maria foi “salva”. De fato, Maria precisava de um salvador como qualquer outro mortal! No entanto, Maria foi “salva” do pecado de uma forma mais sublime. A ela foi dada a graça de ser “salva” completamente do pecado, para que nunca cometesse a menor transgressão. Os evangélicos tendem a enfatizar a “salvação” quase que exclusivamente como o perdão dos pecados já cometidos. No entanto, a Sagrada Escritura indica que a salvação também pode se referir ao homem no sentido de protegê-lo do pecado antes do fato:

Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar e apresentar-vos irrepreensíveis diante da presença de sua glória, com alegria, ao único Deus, nosso Salvador, por Jesus Cristo nosso Senhor, glória, majestade, domínio e poder, antes de todos os tempos e agora e para sempre. (Judas 24-25)

Seiscentos anos atrás, o grande teólogo franciscano Duns Scotus explicou que a queda em pecado poderia ser comparada a um homem se aproximando inadvertidamente à uma vala profunda. Se ele cai na vala, ele precisa de alguém para baixar uma corda e salvá-lo. Mas se alguém avisá-lo do perigo à frente, impedindo-o de cair na vala, ele seria salvo antes de cair. Da mesma forma, Maria foi salva do pecado ao receber a graça de não pecar e assim ser preservada. Mas ainda assim, foi salva.

Todos pecaram, exceto...

Mas o que dizer das passagens “todos pecaram ” ( Rom. 3:23 ), e “se alguém diz que não tem pecado é mentiroso e a verdade não está nele ” (1 João 1:8 ) ? Não seria “todo” e “qualquer homem” incluindo Maria? Em princípio, isso soa razoável e parece lógico. Mas esta maneira de pensar, levada à sua conclusão lógica, significaria incluir TODOS, inclusive um recém-nascido inocente, como parte desse “todos”. Nenhum cristão fiel ousaria dizer isso. No entanto, nenhum cristão pode negar a clareza dos textos da Escritura afirmando a plena humanidade de Cristo. Assim, tomar 1 João 1:8 em um sentido estrito, literal, seria aplicar “qualquer homem” também a Jesus, porque o texto diz TODOS, não diz: TODOS, exceto Jesus.

A verdade é que Jesus Cristo foi uma exceção a Romanos 3,23 e 1 João 1,8. E a Bíblia nos diz isso em Hebreus 4,15 – “Cristo foi tentado em todos os pontos como nós somos e ainda assim ele estava sem pecado”. A questão agora é: Existem outras exceções a esta regra? Sim, provavelmente muitas delas.

Tanto Romanos 3,23 e 1 João 1,8 lidam com pecado pessoal ao invés de pecado original. (Romanos 5 trata de pecado original). E há duas exceções a essa norma bíblica em geral. Mas, por agora, vamos simplesmente lidar com Romanos 3,23 e 1 João 1,8. Primeiro a Carta de João 1,8, obviamente, refere-se ao pecado pessoal porque, no próximo verso, João nos diz: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados … “Nós não confessamos o pecado original; confessamos os pecados pessoais.

O contexto de Romanos 3,23 deixa também deixa claro que ele se refere a pecado pessoal:

Não há justo, nem sequer um, ninguém que entenda, ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram de errado, ninguém faz o bem, nem um sequer. As suas gargantas são um sepulcro aberto. Eles usam suas línguas para enganar. O veneno está nos seus lábios. Suas bocas estão cheias de maldição e amargura. (Romanos 3,10-14)

O pecado original não é algo que fazemos, é algo que herdamos. Romanos capítulo 3 lida com o pecado pessoal, porque fala de pecados cometidos pelo pecador. Com isso em mente, considere o seguinte: Um bebê no útero ou uma criança de dois anos já cometeu um pecado pessoal? Não. Porque para pecar a pessoa tem que saber que o ato que ele está prestes a realizar é pecaminoso e, ao mesmo tempo, livremente engajar a sua vontade em realizá-lo.  Portanto, sem as faculdades adequadas que lhes permitam o pecado, as crianças antes de alcançarem a idade da responsabilidade e da razão, bem como quem não tem o uso de seu intelecto, não podem pecar. Assim, existem e existiram milhões de exceções a Romanos 3,23 e 1 João 1,8!!!

Mas então podemos com isso concluir que a Bíblia mentiu ou errou? Claro que não, o mais provável é que a interpretação protestante, essa sim esteja em erro!! Para negar isso o protestante deve necessariamente afirmar que um bebezinho recém-nascido está incluído na palavra TODOS pecaram!

Mesmo assim, como sabemos que Maria é uma exceção à norma do “todos pecaram”? E mais importante, há apoio bíblico para essa afirmação? Sim, há muito apoio bíblico! 

O Verbo, que Se fez homem, diviniza o homem


Não fundamentamos a nossa fé em palavras sem sentido, nem nos deixamos arrastar por efêmeros impulsos do coração ou seduzir pelo encanto de discursos eloquentes; a nossa fé fundamenta-se nas palavras pronunciadas pelo poder divino.

Deus confiou estas palavras ao Verbo, e o Verbo pronunciou-as para arrancar o homem à desobediência; não o quis obrigar pela força como a um escravo, mas apelou para a sua decisão livre e responsável.

Na plenitude dos tempos, o Pai enviou à terra o Verbo, porque já não queria que Ele falasse por meio dos Profetas nem fosse anunciado por meio de prefigurações obscuras, mas desejava que Se manifestasse de forma visível, a fim de que o mundo, ao vê-l’O, pudesse salvar-se.

Sabemos que o Verbo assumiu um corpo no seio da Virgem e transformou o homem velho numa nova criação. Sabemos que Se fez homem da nossa mesma substância. Se não fosse assim, em vão nos mandaria que o imitássemos como mestre. Se este homem tivesse sido formado de outra substância, como poderia impor-me a mim, débil por nascimento, as mesmas coisas que Ele fez? Como poderíamos, em tal caso, dizer que Ele é bom e justo?

Mas para que ninguém pensasse que era diferente de nós, suportou o trabalho, quis ter fome, não recusou a sede, dormiu para descansar, não rejeitou o sofrimento, submeteu-Se à morte e manifestou a sua ressurreição. Em tudo isto, ofereceu a sua humanidade como primícias, para que tu não desanimes no meio do sofrimento, mas, reconhecendo-te homem, esperes também tu receber o que a Ele foi oferecido.

Quando contemplares a Deus tal qual é, terás um corpo imortal e incorruptível, como a alma, e possuirás o reino dos Céus, tu que, peregrinando na terra, conheceste o Rei dos Céus. Viverás então na intimidade de Deus, serás herdeiro com Cristo e já não estarás sujeito a concupiscências, paixões ou enfermidades, porque foste elevado à condição divina.

Todos os males que suportaste, enquanto homem, Deus os permitia precisamente por seres homem. Mas Deus prometeu também fazer-te participante das suas prerrogativas, quando fores divinizado e revestido de imortalidade. Conhece-te a ti mesmo, reconhecendo a Deus que te criou; pois conhecer a Deus e ser conhecido por Ele é a sorte daquele que foi chamado por Deus.

Não vos envolvais em contendas como inimigos, nem penseis em retroceder. Cristo é o Deus que está acima de todas as coisas, que decidiu libertar os homens do pecado, renovando o homem velho que Ele tinha criado à sua imagem desde o princípio, e manifestando nesta imagem renovada o amor que tem por ti. Se obedeceres aos seus santos mandamentos e imitares com a tua bondade o Bem supremo, serás semelhante a Ele e Ele te glorificará. Tudo possui e tudo pode o Deus que te fez deus para sua glória.


Do Tratado de Santo Hipólito, presbítero: “Refutação de todas as heresias”

(Cap. 10, 33-34: PG 16, 3452-3453) (Sec. III)

Síntese da Mariologia: A Plenitude dos Tempos


“Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus mandou o seu Filho, nascido de mulher… para que recebêssemos a adoção de filhos” (Gl 4,4-5). 

Constantemente na história da salvação, Deus manifesta o seu amor de Pai junto a seu povo. O amor é revelado por meio de uma eleição: uma jovem é separada para que por meio dela o Filho de Deus pudesse assumir a humanidade decaída com o pecado. Assim como por meio de uma mulher (Eva), o pecado “entrou” no mundo, Deus separa uma mulher para que por meio dela chegue a Salvação: dá-se uma nova criação. Há um novo Adão e, do seu lado é tirada a mulher, a nova Eva; um novo povo é constituído.

Maria é a Mulher do sim. O sim dado ao Amor. A obediência dada por amor. A entrega dada no amor. Desta maneira, Maria tem uma grande importância na história da salvação e na vida de muitos cristãos e sua figura é tradicionalmente reconhecida na Igreja Católica.

MARIA NO NOVO TESTAMENTO



Certamente, a Virgem tem na Bíblia um lugar discreto. Ela aí é representada toda em função de Cristo e não por si mesma. Mas sua importância consiste na estreiteza de seus laços com Cristo.


Maria está presente em todos os momentos de importância fundamental na história da salvação: não somente no princípio (cf. Lc 1 – 2) e no fim (cf. Jo 19,27) da vida de Cristo, mistérios da Encarnação e da morte redentora, mas na inauguração de seu ministério (cf. Jo 2) e no nascimento da Igreja (cf. At 1,14). Presença discreta, na maior parte das vezes, silenciosa, animada pelo ideal de uma fé pura, e de um amor pronto a compreender e a servir aos desejos de Deus e dos homens (cf. Lc 1,38-39.46-56; Jo 2,3) (BOFF, 2004).

Esta presença revela seu sentido total, e com toda a Escritura se a recolocarmos nos grandes quadros e correntes da teologia bíblica onde eles se situam, Maria aparece no término da história do povo eleito como correspondente de Abraão: Ela se apossa, pela fé, da promessa que ele havia recebido na fé. Ela é o ponto culminante onde o povo eleito dá nascimento a seu Deus e se torna a Igreja. Se alagarmos a perspectiva da história de Israel à história cósmica, segundo as insinuações de João e de Lucas, se compreendermos que Cristo inaugura uma nova criação, Maria aparece no início da salvação, como restauração de Eva: Ela acolhe a promessa de vida onde a primeira mulher havia acolhido a palavra de morte e se torna perto da nova árvore da vida a mãe dos vivos (LAURENTIN, 1965).