domingo, 1 de maio de 2016

São José, a família e o trabalho

 
Há uma bonita tradição que representa São José "Adormecido", cuja imagem encontrei há poucos dias. O José do Novo Testamento recorda José do Egito, chamado "homem dos sonhos". Nenhum dos dois viveu fora da realidade, como pode parecer por uma análise superficial. Antes, foram pessoas atentas aos planos de Deus, na permanente prontidão para realizar a sua vontade. São José, sendo um homem justo, tomou decisões a partir da revelação dos rumos a serem assumidos, dentro da história da salvação. "A origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José e, antes de passarem a conviver, ela encontrou-se grávida pela ação do Espírito Santo. José, apareceu-lhe em sonho um anjo do Senhor, que lhe disse: José, Filho de Davi, não tenhas receio de receber Maria, tua esposa; o que nela foi gerado vem do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e tu lhe porás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados. Tudo isso aconteceu para se cumprir o que o Senhor tinha dito pelo profeta: "Eis que a virgem ficará grávida e dará à luz um filho. Ele será chamado pelo nome de Emanuel, que significa: Deus-conosco. Quando acordou, José fez conforme o anjo do Senhor tinha mandado e acolheu sua esposa. E, sem que antes tivessem mantido relações conjugais, ela deu à luz o filho" (Mt 1, 20-24)... "Depois que os magos se retiraram, o anjo do Senhor apareceu em sonho a José e lhe disse: Levanta-te, toma o menino e sua mãe e foge para o Egito! Fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o menino para matá-lo”. José levantou-se, de noite, com o menino e a mãe, e retirou-se para o Egito" (Mt 2, 13-15)... "Quando Herodes morreu, o anjo do Senhor apareceu em sonho a José, no Egito, e lhe disse: Levanta-te, toma o menino e sua mãe, e volta para a terra de Israel; pois já morreram aqueles que queriam matar o menino”. Ele levantou-se, com o menino e a mãe, e entrou na terra de Israel. Mas quando soube que Arquelau reinava na Judeia, no lugar de seu pai Herodes, teve medo de ir para lá. Depois de receber em sonho um aviso, retirou-se para a região da Galileia e foi morar numa cidade chamada Nazaré" (Mt 2, 19-23). À percepção da vontade de Deus, segue-se sempre uma ação, toda voltada para "o menino e sua mãe".

Em Nazaré, José constituiu e sustentou sua original família, cujas razões e desenvolvimento se encontram no Céu, solidamente ancorada no trabalho. Foi carpinteiro dos bons e Jesus, chamado seu filho, aprendeu a mesma profissão. Maria, aquela que veneramos com tanto apreço, foi imensa em sua pequenez e simplicidade de dona de casa! A José e Maria não faltaram Anjos para lhes revelarem o que Deus queria, nem lhes faltou a responsabilidade para assumir as próprias tarefas, sem fugir da missão que lhes foi entregue, que incluía o direito e o dever do trabalho.

A dignidade do trabalho humano

 
A celebração do Dia do Trabalho ou do Trabalhador convida-nos a refletir sobre a dignidade do trabalho humano. O trabalho é uma dimensão fundamental da existência que apresenta duas dimensões: objetiva e subjetiva.

Em sentido objetivo, o trabalho é o conjunto de atividades, recursos, instrumentos e técnicas de que o homem se serve para produzir. Além disso, o trabalho no sentido objetivo constitui o aspecto contingente da atividade do homem, que varia incessantemente nas suas modalidades com o mudar das condições técnicas, culturais, sociais e políticas. 

O trabalho em sentido subjetivo é o agir do homem enquanto ser dinâmico, capaz de levar a cabo várias ações que pertencem ao processo do trabalho. O homem é um ser dotado de subjetividade, capaz de agir de maneira programada e racional, capaz de decidir por si mesmo e com a tendência de realizar-se a si mesmo. O sentido subjetivo é a dimensão estável do trabalhador, porque não depende do que o homem realiza concretamente nem do gênero de atividade que exerce, mas só e exclusivamente da sua dignidade de ser pessoa. 

São José Operário

 
No dia 1º de maio, Dia de São José Operário, comemoramos o Dia do Trabalhador. São João Paulo II, em sua encíclica sobre o trabalho humano — Laborem exercens —, recordou com muita clareza que a Igreja é a favor da luta pela justiça. Com efeito, pregando o respeito pelos direitos humanos, a Igreja não pode deixar de se engajar, a seu modo, repudiando os métodos violentos, numa luta pela justiça. Assim faz a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB –, assim cada batizado é chamado a fazer. E é o que cada um é chamado a fazer em nome do Evangelho de Jesus Cristo. 

Para celebrar este dia, de modo próprio, a Igreja, pela ação do Romano Pontífice Pio XII, introduziu a Festa de São José Operário. A solenidade do Pai Adotivo de Jesus ocorre no dia 19 de março, quando ele é focalizado como Padroeiro da Igreja e dos Agonizantes (da Igreja, que é o Corpo de Cristo, de quem ele foi na Terra o Pai de Criação; e dos Agonizantes, porque São José teve na hora de sua morte a presença de Cristo e de Maria). O 1º de maio nos é apresentado o Homem do Trabalho, pobre, que ganhou o pão de cada dia com o suor de seu rosto. O exemplo de São José é contemplado pelo do próprio Jesus, que até os 30 anos de idade trabalhou também como operário. 

A Igreja ensina a dignidade do trabalho humano, qualquer que ele seja. Cristo dignificou o trabalho por seu exemplo. São Paulo nos fala, na Carta aos Tessalonicenses , que quem não trabalha não deve comer, enunciando assim uma obrigatoriedade do trabalho.

Sinteticamente podemos dizer que o pensar da Igreja acerca do trabalho consiste em que o trabalho dignifica o homem e deve aperfeiçoá-lo e deve ser uma contribuição para a sociedade. Quem trabalha se realiza, constrói a sociedade e presta um serviço aos irmãos e irmãs. Existem, porém, os que exploram seus semelhantes formando uma sociedade injusta e perversa. Além disso, existem as situações de “trabalho escravo”, ainda hoje, que tiram toda a beleza da dignidade humana. Portanto, ao lado de tanta beleza da importância do trabalho não podemos nos esquecer das situações injustas. E neste tempo, especificamente em nosso país, o grande número de desempregados, que não têm como sustentar sua família devido à situação de crise nacional. 

Toda sociedade e nosso Brasil dependerá de se integrar à dignidade do trabalho ou não na ‘civilização do trabalho’, como dizia Alceu Amoroso Lima. Afinal, o trabalho é a base da sociedade, pois o trabalho não é apenas uma condição de sobrevivência, mas uma forma necessária de realização da personalidade. 

O significado do primeiro de maio



 
O Primeiro de Maio é tratado, equivocadamente, como Dia do Trabalho. Visitemos sua história para entendermos que, na realidade, é Dia de Luta da Classe Trabalhadora, e procuremos celebrá-lo de acordo com seu verdadeiro significado, visando o bem comum e, acima de tudo, o Reino de Deus. 

Como surgiu esse dia? Imaginemos milhões de pessoas trabalhando das 6 da manhã às 10 da noite, ou seja, 16 horas por dia, seis dias por semana, recebendo salários miseráveis, morando em condições extremamente precárias, estando frequentemente doentes e não tendo nenhum direito trabalhista garantido por lei. Assim era a condição dos trabalhadores, entre os quais milhões de crianças e mulheres, há pouco mais de 100 anos, no mundo todo.

Os trabalhadores de então se organizaram, criaram sindicatos e começaram a lutar por uma jornada diária de 8 horas de trabalho. Passaram a fazer manifestações para conseguirem esse e outros direitos. Foi assim que na cidade de Chicago, nos Estados Unidos, no dia primeiro de maio de 1886, milhares de trabalhadores em greve, saíram às ruas, reivindicando a redução da jornada de trabalho para 8 horas.

Eles foram fortemente reprimidos. Muitos foram mortos e alguns foram condenados à prisão perpétua. Quatro deles foram enforcados. Por esse fato, três anos mais tarde, um grande encontro mundial de trabalhadores realizado na França, declarou o dia primeiro de maio como um dia de luta, no qual os trabalhadores e trabalhadoras saem às ruas para exigir seus direitos.

Desde então, as lutas da classe trabalhadora se espalharam pelo mundo inteiro. Hoje, temos muitos direitos garantidos, graças a essas lutas. Há outros ainda por conquistar. No entanto, estamos correndo riscos de perder muitos direitos já adquiridos. 

Mensagem da CNBB aos trabalhadores e trabalhadoras 2016



MENSAGEM DA CNBB AOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS

“Meu Pai trabalha sempre, e eu também trabalho” (Jo 5,17).

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, por ocasião do dia dos trabalhadores, manifesta sua solidariedade aos homens e mulheres, do campo e da cidade, particularmente aos jovens que, pelo trabalho, constroem as suas próprias vidas, suas famílias e a nação brasileira. Ao mesmo tempo, presta homenagem às pessoas que doaram e doam sua vida, lutando pelo direito dos trabalhadores e trabalhadoras.

A dimensão do trabalho vai além da produção de riqueza, pois é “mediante o trabalho que o homem deve procurar o pão quotidiano e contribuir para o progresso contínuo das ciências e da técnica, e sobretudo para a incessante elevação cultural e moral da sociedade, na qual vive em comunidade com os próprios irmãos. E com a palavra trabalho é indicada toda a atividade realizada pelo mesmo homem, tanto manual como intelectual, independentemente das suas características e das circunstâncias, quer dizer, toda a atividade humana que se pode e deve reconhecer como trabalho, no meio de toda aquela riqueza de atividades para as quais o homem tem capacidade e está predisposto pela própria natureza, em virtude da sua humanidade.” (João Paulo II, Laborem Exercens).

As comemorações desse 1º de maio acontecem em meio a uma profunda crise ética, política, econômica e institucional. Os trabalhadores e as trabalhadoras são afetados e ameaçados pelo desemprego, por precárias condições de trabalho, pela tentativa da flexibilização das leis trabalhistas e pela regulamentação da terceirização. Com isso, restringe-se o acesso aos direitos, expõe-se a baixos salários, a jornadas exaustivas, a riscos de acidentes e a alta rotatividade no mercado. 

A atividade humana no mundo


Por seu trabalho e inteligência, o homem procurou sempre mais desenvolver a sua vida. Hoje em dia, porém, ajudado antes de tudo pela ciência e pela técnica, ele estendeu continuamente o seu domínio sobre quase toda a natureza; e, principalmente, graças aos meios de intercâmbio de toda espécie entre as nações, a família humana pouco a pouco se reconhece e se constitui como uma só comunidade no mundo inteiro. Por isso, muitos bens que o homem esperava antigamente obter sobretudo de forças superiores, hoje os consegue por seus próprios meios.

Diante deste esforço imenso, que já penetra a humanidade inteira, surgem muitas perguntas entre os homens. Qual é o sentido e o valor desta atividade? Como todas estas coisas devem ser usadas? Qual a finalidade desses esforços, sejam eles individuais ou coletivos?

A Igreja, guardiã do depósito da palavra de Deus, que é a fonte dos seus princípios de ordem religiosa e moral, embora ainda não tenha uma resposta imediata para todos os problemas, deseja no entanto unir a luz da revelação à competência de todos, para iluminar o caminho no qual a humanidade entrou recentemente.

Para os fiéis é pacífico que a atividade humana individual e coletiva, aquele imenso esforço com que os homens, no decorrer dos séculos, tentaram melhorar as suas condições de vida, considerado em si mesmo, corresponde ao plano de Deus.

Com efeito, o homem, criado à imagem de Deus, recebeu a missão de dominar a terra com tudo o que ela contém e de governar o mundo na justiça e na santidade, isto é, reconhecendo a Deus como Criador de todas as coisas, orientando para ele o seu ser e todo o universo; assim, com todas as coisas submetidas ao homem, o nome de Deus seja
glorificado na terra inteira.

Isto diz respeito também aos trabalhos cotidianos. Pois os homens e as mulheres que, ao procurar o sustento para si e suas famílias, exercem suas atividades de maneira a bem servir à sociedade, têm razão para ver no seu trabalho um prolongamento da obra do Criador, um serviço a seus irmãos e uma contribuição pessoal para a realização do plano de Deus na história.

Portanto, bem longe de pensar que as obras produzidas pelo talento e esforço dos homens se opõem ao poder de Deus, ou considerar a criatura racional como rival do Criador, os cristãos, pelo contrário, estão convencidos de que as vitórias do gênero humano são um sinal da grandeza de Deus e fruto de seus inefáveis desígnios. Quanto mais, porém, cresce o poder dos homens, tanto mais aumenta a sua responsabilidade, seja pessoal seja comunitária.

Donde se vê que a mensagem cristã não afasta os homens da tarefa de construir o mundo nem os leva a negligenciar o bem de seus semelhantes; mas, antes, os impele a sentir esta obrigação como um verdadeiro dever.


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Da Constituição pastoral Gaudium et spes sobre a Igreja no mundo contemporâneo, do Concílio Vaticano II (N.33-34)        (Séc.XX)

Mãe é uma só!


“Mãe é uma só que a gente tem no mundo”. Frase batida, não? Mas, ainda assim, profunda. Ela pertence a uma conhecida canção, capaz de tirar lágrimas sinceras das mães homenageadas. Também, pudera, geralmente elas desfrutam de paparicos e sinais de gratidão somente neste dia.

Conta-se que uma garotinha de 5 anos acordou cedo  e encontrou o pai fazendo o café da manhã. Então, logo perguntou: “Por que o senhor está fazendo café?”. “Porque hoje é o dia das mães” – respondeu o homem, todo carinhoso. Ele só não esperava a reação de surpresada menina: “Ah, então todos os outros dias são dias dos pais?”.

Maio, mês das mães, é propício para demonstrarmos mais carinho às nossas mães. Sabemos, porém, que dias especiais não redimem uma convivência difícil. É preciso que saibamos dar mais atenção e carinho a elas no dia-a-dia. Tudo isso unido à paciência, pois não vou ser ingênuo em dizer que todas as mães são o “máximo da perfeição”. Mas, afinal, quem nunca discutiu ou respondeu para sua mãe? Às vezes escapa, não é?

Conta um padre que um dia, visitando uma casa, presenciou um leve bate-boca entre uma mãe e sua filha de 25 anos. A mãe reclamava dos gastos da filha, do namoro com o qual não concordava, da roupa que usava, do som que escutava, etc... Já a filha reclamava que nada estava bom para a mãe, que ela só implicava, não lhe dava liberdade, e que a vida era dela (qualquer semelhança com alguém jovem não passa de mera coincidência). Em um dado momento, a mãe solta a frase fatídica (quase uma chantagem emocional): “Cuidado, filha, mãe é uma só, viu!”. E a resposta da filha veio direta e espontânea: “Graças a Deus! Imagine se fosse duas! Ninguém merece.” Confessa o padre que começou a rir da situação. Elas também riram e pararam a discussão boba. Depois ele ficou pensando se não seria mais fácil a mãe dizer: “Filha, eu a amo muito, estou preocupada com a sua vida”. Então daria alguns conselhos de mãe, a abraçaria  e falaria da necessidade de ter a filha por perto (às vezes essa é a parte em que o orgulho entra na conversa e não deixa o coração falar). Não teria sido mais fácil a filha responder: “Mãe, eu também amo você, quero ouvi-la e preciso ser ouvida e respeitada em algumas decisões”. E, com calma, admitisse que exagerava nos gastos, andava preocupada com o namoro, etc? Vale citar a carta aos Colossenses 3,20-21: “Filhos, obedecei em tudo aos vossos pais, pois isto agrada ao Senhor. Pais, não irriteis vossos filhos, para que eles não desanimem”. 

São José Operário


A Igreja, providencialmente, nesta data civil marcada, muitas vezes, por conflitos e revoltas sociais, cristianizou esta festa, isso na presença de mais de 200 mil pessoas na Praça de São Pedro, as quais gritavam alegremente: “Viva Cristo trabalhador, vivam os trabalhadores, viva o Papa!” O Papa, em 1955, deu aos trabalhadores um protetor e modelo: São José, o operário de Nazaré.

O santíssimo São José, protetor da Igreja Universal, assumiu este compromisso de não deixar que nenhum trabalhador de fé – do campo, indústria, autônomo ou não, mulher ou homem – esqueça-se de que ao seu lado estão Jesus e Maria. A Igreja, nesta festa do trabalho, autorizada pelo Papa Pio XII, deu um lindo parecer sobre todo esforço humano que gera, dá a luz e faz crescer obras produzidas pelo homem: “Queremos reafirmar, em forma solene, a dignidade do trabalho a fim de que inspire na vida social as leis da equitativa repartição de direitos e deveres.”

São José, que na Bíblia é reconhecido como um homem justo, é quem revela com sua vida que o Deus que trabalha sem cessar na santificação de Suas obras, é o mais desejoso de trabalhos santificados: “Seja qual for o vosso trabalho, fazei-o de boa vontade, como para o Senhor, e não para os homens, cientes de que recebereis do Senhor a herança como recompensa… O Senhor é Cristo” (Col 3,23-24).

São José Operário, rogai por nós!


São José, você, com o seu humilde trabalho de carpinteiro, sustentou a vida de Jesus e de Maria. Você conhece os sofrimentos dos trabalhadores, porque passou isso ao lado de Jesus e de Maria. Não permita que os operários, oprimidos, se esqueçam que foram criados por Deus. Recorda a todos eles que nunca estão sós para trabalhar, mas que junto a eles estão Jesus e Maria para lhes enxugar o suor, proteger e diminuir seus problemas. Amém.