domingo, 27 de março de 2016

São Ruperto


O santo de hoje foi um grande apóstolo da Baviera, Alemanha. A pedido do rei, foi convidado a evangelizar a França, e fez este belo trabalho. Após ser eleito bispo, a corte da Baviera o chamou, convidando-o também a evangelizar aquelas terras. Juntamente com o apoio do rei pôde ter o apoio de muitos religiosos, inclusive de sua irmã, que também era consagrada.

São Ruperto evangelizou a muitos, fazendo a Boa Nova chegar às altas autoridades, ao ponto do sucessor do rei já ser evangelizado. Antes de sua última Santa Missa, sua irmã ouviu sua oração de entrega: “Pai, em Tuas mãos eu entrego o meu espírito”. Em toda sua vida, e também na morte, viveu entregue a Deus.

São Ruperto, rogai por nós!


Senhor, por intercessão de São Ruperto, queremos hoje vos rogar pelas vocações religiosas; para que os jovens vocacionados encontrem apoio em suas famílias e na sociedade para o desenvolvimento da Igreja. Rogamos também por todo o clero, para que, na santidade, governem com sabedoria o Seu povo. Amém.

sábado, 26 de março de 2016

A Vitória da Páscoa


A Páscoa cristã é a prodigiosa passagem do Senhor Jesus Cristo, cabeça da humanidade, que nos libertou da tirania de Satanás e nos introduziu na nossa verdadeira Pátria.

CELEBREMOS

A Páscoa, a festa das festas; a solenidade das solenidades, não se celebra dignamente senão na alegria. A Igreja quer ouvir as nossas aclamações: Rejubilemo-nos, repete-nos ela à saciedade, e entreguemo-nos à alegria! Os nossos irmãos orientais saúdam-se neste dia com as próprias palavras da liturgia: Cristo ressuscitou! - Ressuscitou verdadeiramente.

Reconheçamos que, nos nossos países ocidentais, não manifestamos da mesma forma a nossa felicidade. Ao passo que no Natal os fiéis que entram na igreja ou dela saem trocam espontaneamente sorrisos e votos de felicidade, na manhã da Ressurreição não nos dão a impressão de respirar uma atmosfera de vitória. O seu porte é grave. Parecem preocupados sobretudo com observar o dever da comunhão pascal. Será então necessário tomar um ar triste para cumprir o mais amável dos deveres, para unir-se pelo banquete eucarístico ao triunfo de Jesus Cristo?

Não, católico, meu irmão, não digas: Acabo de fazer a minha Páscoa. Como parece mesquinho, neste dia, esse possessivo ridículo! É a nossa comunidade paroquial, célula da Igreja universal, que vai celebrar a vitória da Páscoa. Numa das leituras da missa, o sacerdote repetirá as palavras de São Paulo: Celebremos, pois, a festa... (1 Cor 5, 8). O sentido do verbo latino epulemur, que a Neovulgata, a versão latina oficial da Igreja, usa nesta passagem, não oferece a menor dúvida, pois o reencontramos nos lábios do pai da parábola do filho pródigo: Comamos e celebremos, porque este meu filho morrera e tornou à vida (Lc 15, 23-24). Celebremos. Deixemos de lado esses rostos sérios. Tomemos um ar de festa para cantar a glória de Cristo ressuscitado, que nos alimenta com a sua carne divina para ressuscitar-nos com Ele.

Ouçamos em que termos um sacerdote romano do século III, Santo Hipólito, saudava esse mistério da nossa fé: ó Crucificado, condutor da dança divina! Ó festa do Espírito! Páscoa divina que desces dos céus à terra e da terra tornais a subir aos céus! Solenidade nova! Assembléia de toda a Criação! Ó alegria universal, honra, festim, delícias pelas quais a morte tenebrosa foi aniquilada, a vida derramada sobre toda a criatura e abertas as portas do céu!

PÁSCOA, PASSAGEM

O Prefácio pascal resumiu os motivos da nossa alegria em algumas frases de um cunho maravilhoso e de uma inspiração plenamente bíblica. Com o coração voltado para o céu, damos graças ao Senhor nosso Deus com um fervor sem igual neste dia em que Cristo, nossa Páscoa, foi imolado.

() Oração que antecede - prefacia- a Oração Eucarística da Missa (N. do T.).

A palavra Pdscoa significa passagem, a passagem de Deus entre nós e a nossa passagem para Deus. A Ressurreição de Cristo é o ponto culminante dos desígnios redentores que Deus alimentava desde longa data. Uma das primeiras etapas da salvação da humanidade tinha sido a libertação do povo de Israel escravizado aos egípcios. Todos os anos, o Povo Eleito comemorava essa passagem do Senhor´ que, para tornar possível a evasão dos cativos, tinha ferido os primogénitos das famílias egípcias e protegido as casas dos israelitas cujas portas estavam marcadas com o sangue de um cordeiro. Em vão os exércitos do Faraó tinham tentado apanhar os fugitivos: foram engolidos pelas águas do Mar Vermelho, que se tinham aberto para abrir passagem aos filhos de Israel que Moisés ia conduzir para a Terra Prometida.

A nossa Páscoa é a passagem ainda mais prodigiosa do Senhor Jesus Cristo, cabeça da humanidade, que, ao deixar a terra e ir para o céu, nos libertou da tirania de Satanás e nos introduziu na nossa verdadeira Pátria. A nossa Páscoa é a antiga noite batismal no decurso da qual os pecadores, mergulhados na água em que deveriam ter encontrado a morte, saíam da piscina na mesma hora em que Cristo saíra do túmulo. A nossa Páscoa é o sangue de Cristo imolado que nos valeu a salvação. O cordeiro pascal que os israelitas compartilhavam num repasto sagrado em ação de graças pela sua libertação passada não era senão a figura do verdadeiro Cordeiro, cujo sangue nos redimiu e que tomamos como alimento na Eucaristia, sacramento da nossa redenção.

Seremos capazes de conter a nossa alegria? Éramos uns infelizes cativos, submetidos a Satanás, e Cristo abriu-nos as portas da nossa prisão. Fez-nos passar do campo de concentração para o país da liberdade. Éramos náufragos destinados aos abismos infernais e, quando nós nos debatíamos nas águas do dilúvio em esforços inúteis, o braço de um Barqueiro intrépido nos agarrou e nos arrancou ao sorvedouro. O nosso Libertador, o nosso Barqueiro, é Cristo que se imolou por nós.

O termo glorioso do seu sacrifício fez-nos passar do pecado para o amor, da sombra para a luz, da morte para a vida, da vida natural sempre tributária da morte para a vida sobrenatural que não conhece declínio. 

Via-Sacra: 14ª Estação: “Jesus é posto no sepulcro” (S. Mateus 27,59-61).


No lugar em que Ele tinha sido crucificado havia um jardim e, no jardim, um túmulo novo, foi ali que puseram Jesus. (João 19,40-42).

Um jardim, símbolo da vida com as suas cores, acolhe o mistério do homem criado e redimido. Num jardim, Deus colocou a sua criatura e de lá a expulsou depois da queda. Num jardim, teve início a Paixão de Jesus e, num jardim, um sepulcro novo acolhe o novo Adão que volta à terra, ventre materno que guarda a semente fecunda que morre.

É o tempo da fé que aguarda silenciosa, e da esperança que no ramo seco já vislumbra o despontar de um pequenino rebento, promessa de salvação e de alegria. Agora a voz de «Deus fala no grande silêncio do coração».

Olhar para o sepulcro é crescer na virtude da esperança Naquele que venceu a morte e o pecado. Quantas vezes nos sentimos mortos, porém estávamos vivos, andávamos como vivos, mas agimos como mortos e agora com Jesus que é levado para um sepulcro novo, enterremos com Jesus o nosso pecado, o homem velho e doente que é sustentado pelo pecado dentro de nós. Enterro com Jesus toda tristeza, depressão e falta de fé na vida nova que Ele nos deu. Espero a Vida Nova que virá com o Cristo ressuscitado, daí toda lagrima será enxugada, não haverá nem a morte e nem a dor. O sepulcro vazio será o grande e verdadeiro sentido de nossa vida.

“Depositou-o num túmulo novo”.

«Nicodemos, aquele que antes tinha ido ter com Jesus de noite, apareceu também trazendo uma mistura de perto de cem libras de mirra e aloés. Tomaram então o corpo de Jesus e envolveram-no em panos de linho com os perfumes, segundo o costume dos judeus». Nicodemos recebe o corpo de Cristo, cuida dele e depõe-no num sepulcro, no meio de um jardim que recorda o da Criação. Jesus deixa-se sepultar tal como se deixou crucificar, no mesmo abandono, inteiramente «entregue» nas mãos dos homens e «perfeitamente unido» a eles «até ao sono sob a laje do túmulo» (São Gregório de Narek). Aceitar as dificuldades, os acontecimentos dolorosos, a morte… exige uma esperança firme, uma fé viva. A pedra colocada à entrada do túmulo será removida, e surgirá uma nova vida. Na realidade, «pelo Baptismo fomos sepultados com Ele na morte, para que, tal como Cristo foi ressuscitado de entre os mortos pela glória do Pai, também nós caminhemos numa vida nova» (Rm 6, 4). Recebemos a liberdade de filhos de Deus, para não voltar à escravidão; a vida é-nos dada em abundância, para não mais nos contentarmos com uma vida sem beleza nem significado.

Senhor Jesus Cristo, na sepultura fizestes vossa a morte do grão de trigo, tornastes-Vos o grão de trigo morto que produz fruto ao longo de todos os tempos até à eternidade. Do sepulcro brilha em cada tempo a promessa do grão de trigo, do qual provém o verdadeiro maná, o pão de vida em que Vós mesmo Vos ofereceis a nós. A Palavra eterna, através da encarnação e da morte, tornou-Se a Palavra próxima: Colocais-Vos em nossas mãos e nos nossos corações para que a vossa Palavra cresça em nós e produza fruto. Dais-Vos a Vós próprio através da morte do grão de trigo, para que nós tenhamos a coragem de perder a nossa vida para encontrá-la; para que também nós nos fiemos da promessa do grão de trigo. Ajudai-nos a amar cada vez mais o vosso mistério eucarístico e a venerá-lo – a viver verdadeiramente de Vós, Pão do Céu. Ajudai-nos a tornarmo-nos o vosso «odor», a tornar palpáveis os vestígios da vossa vida neste mundo. Do mesmo modo que o grão de trigo se eleva da terra como caule e espiga, assim também Vós não podeis ficar no sepulcro: o sepulcro está vazio porque Ele – o Pai – não Vos «abandonou na habitação dos mortos nem permitiu que a vossa carne conhecesse a decomposição» (cf. At. 2, 31; Sal 16, 10 LXX). Não, Vós não experimentastes a corrupção. Ressuscitastes e destes espaço à carne transformada no coração de Deus. Fazei com que possamos alegrar-nos com esta esperança e possamos levá-la jubilosamente pelo mundo; fazei que nos tornemos testemunhas da vossa ressurreição.

Num horto muito perto do Calvário, José de Arimateia tinha mandado lavrar, na rocha, um sepulcro novo. E, por ser a véspera da grande Páscoa dos judeus, põem Jesus ali. Depois, José rolou uma grande pedra, para diante da boca do sepulcro, e retirou-se (Mt XXVII, 60).

Sem nada veio Jesus ao mundo e sem nada - nem sequer o lugar onde repousa - se nos foi.

A Mãe do Senhor - minha Mãe - e as mulheres que seguiram o Mestre desde a Galileia, depois de observar tudo atentamente, partem também. Cai a noite.

Agora consumou-se tudo. Cumpriu-se a obra da nossa Redenção. Já somos filhos de Deus, porque Jesus morreu por nós e a Sua morte resgatou-nos.

Empti enim estis pretio magno (I Cor VI, 20)!, tu e eu fomos comprados por alto preço.

Temos de fazer vida nossa a vida e a morte de Cristo. Morrer pela mortificação e a penitência, para que Cristo viva em nós pelo Amor. E seguir, então, as pisadas de Cristo, com ânsia de co-redimir todas as almas.

Dar a vida pelos outros. Só assim se vive a vida de Jesus e nos fazemos uma só coisa com Ele. 

A descida do Senhor à mansão dos mortos


Que está acontecendo hoje? Um grande silêncio reina sobre a terra. Um grande silêncio e uma grande solidão. Um grande silêncio, porque o Rei está dormindo; a terra estremeceu e ficou silenciosa, porque o Deus feito homem adormeceu e acordou os que dormiam há séculos. Deus morreu na carne e despertou a mansão dos mortos.

Ele vai antes de tudo à procura de Adão, nosso primeiro pai, a ovelha perdida. Faz questão de visitar os que estão mergulhados nas trevas e na sombra da morte. Deus e seu Filho vão ao encontro de Adão e Eva cativos, agora libertos dos sofrimentos.

O Senhor entrou onde eles estavam, levando em suas mãos a arma da cruz vitoriosa. Quando Adão, nosso primeiro pai, o viu, exclamou para todos os demais, batendo no peito e cheio de admiração: “O meu Senhor está no meio de nós”. E Cristo respondeu a Adão: “E com teu espírito”. E tomando-o pela mão, disse: “Acorda, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará.

Eu sou o teu Deus, que por tua causa me tornei teu filho; por ti e por aqueles que nasceram de ti, agora digo, e com todo o meu poder, ordeno aos que estavam na prisão: ‘Saí!’; e aos que jaziam nas trevas: ‘Vinde para a luz!’; e aos entorpecidos: ‘Levantai-vos!’

Eu te ordeno: Acorda, tu que dormes, porque não te criei para permaneceres na mansão dos mortos. Levanta-te dentre os mortos; eu sou a vida dos mortos. Levanta-te, obra das minhas mãos; levanta-te, ó minha imagem, tu que foste criado à minha semelhança. Levanta-te, saiamos daqui; tu em mim e eu em ti, somos uma só e indivisível pessoa.

Por ti, eu, o teu Deus, me tornei teu filho; por ti, eu, o Senhor, tomei tua condição de escravo. Por ti, eu, que habito no mais alto dos céus, desci à terra e fui até mesmo sepultado debaixo da terra; por ti, feito homem, tornei-me como alguém sem apoio, abandonado entre os mortos. Por ti, que deixaste o jardim do paraíso, ao sair de um jardim fui entregue aos judeus e num jardim, crucificado.
Vê em meu rosto os escarros que por ti recebi, para restituir-te o sopro da vida original. Vê na minha face as bofetadas que levei para restaurar, conforme à minha imagem, tua beleza corrompida.

Vê em minhas costas as marcas dos açoites que suportei por ti para retirar de teus ombros o peso dos pecados. Vê minhas mãos fortemente pregadas à árvore da cruz, por causa de ti, como outrora estendeste levianamente as tuas mãos para a árvore do paraíso.

Adormeci na cruz e por tua causa a lança penetrou no meu lado, como Eva surgiu do teu, ao adormeceres no paraíso. Meu lado curou a dor do teu lado. Meu sono vai arrancar-te do sono da morte. Minha lança deteve a lança que estava dirigida contra ti.

Levanta-te, vamos daqui. O inimigo te expulsou da terra do paraíso; eu, porém, já não te coloco no paraíso mas num trono celeste. O inimigo afastou de ti a árvore, símbolo da vida; eu, porém, que sou a vida, estou agora junto de ti. Constituí anjos que, como servos, te guardassem; ordeno agora que eles te adorem como Deus, embora não sejas Deus.

Está preparado o trono dos querubins, prontos e a postos os mensageiros, construído o leito nupcial, preparado o banquete, as mansões e os tabernáculos eternos adornados, abertos os tesouros de todos os bens e o reino dos céus preparado para ti desde toda a eternidade”.



De uma antiga Homilia no grande Sábado Santo

(PG43,439.451.462-463)               (Séc.IV)

Sábado Santo: Silêncio e Conversão


Hoje é um dia de silêncio na Igreja: Cristo jaz no sepulcro e a Igreja medita, admirada, o que fez este Senhor nosso por nós. Guarda silêncio para aprender do Mestre, ao contemplar o seu corpo destroçado.

Cada um de nós pode e deve unir-se ao silêncio da Igreja. E ao considerar que somos responsáveis por essa morte, esforçar-nos-emos para que as nossas paixões, as nossas rebeldias, tudo o que nos afaste de Deus, guardem silêncio. Mas sem estarmos meramente passivos: é uma graça que Deus nos concede quando a pedimos diante do Corpo morto do seu Filho, quando nos empenhamos por tirar da nossa vida tudo o que nos afasta dEle.

O Sábado Santo não é um dia triste. O Senhor venceu o demônio e o pecado, e dentro de poucas horas vencerá também a morte com a sua gloriosa Ressurreição. Reconciliou-nos com o Pai celestial: já somos Filhos de Deus! É necessário fazer propósitos de agradecimento, que tenhamos a segurança de superar todos os obstáculos, sejam de que tipo for, se nos mantivermos bem unidos a Jesus pela oração e pelos sacramentos.

O mundo tem fome de Deus, ainda que muitas vezes não o saiba. As pessoas estão desejando que se lhes fale desta realidade gozosa – o encontro com o Senhor –, e para isso viemos nós os cristãos. Tenhamos a valentia daqueles dois homens – Nicodemos e José de Arimateia –, que durante a vida de Jesus Cristo mostravam respeitos humanos, mas que, no momento definitivo, se atrevem a pedir a Pilatos o corpo morto de Jesus, para lhe dar sepultura. Ou a daquelas mulheres santas que, sendo Cristo já um cadáver, compram aromas e acodem para embalsamá-lo, sem ter medo dos soldados que guardam o sepulcro.

À hora da debandada geral, quando todo o mundo se sentiu com direito de insultar, rir e mofar-se de Jesus, eles vão dizer: dá-nos esse Corpo, que nos pertence. Com que cuidado o desceriam da Cruz e iriam olhando as suas Chagas! Peçamos perdão e digamos, com palavras de São Josemaria: “eu subirei com eles ao pé da Cruz, apertar-me-ei ao Corpo frio, cadáver de Cristo, com o fogo do meu amor..., despregá-Lo-ei com os meus desagravos e mortificações..., envolvê-Lo-ei com o lençol novo da minha vida limpa e enterrá-Lo-ei no meu peito de rocha viva, onde ninguém mo poderá arrancar; e, aí, Senhor, descansai!”

Compreende-se que pusessem o corpo morto do Filho nos braços da Mãe, antes de dar-lhe sepultura. Maria era a única criatura capaz de lhe dizer que entende perfeitamente o seu Amor pelos homens, pois Ela não foi causadora dessas dores. A Virgem Puríssima fala por nós; mas fala para nos fazer reagir, para que experimentemos a sua dor, feita uma só coisa com a dor de Cristo. 

São Bráulio


São Bráulio nasceu na Espanha, por volta de 585. Vinha de família religiosa e teve dois irmãos também com vocação religiosa. Um deles foi bispo de Saragoça, e a irmã, abadessa. Estudou em Servilha, teve como mestre e grande amigo Santo Isidoro, que era bastante reconhecido por sua sabedoria. Isidoro dirigia-se ao amigo chamando-o de "amadíssimo senhor meu e caríssimo filho".

Aos 20 anos entrou na abadia de santa Engrácia. Nessa abadia são Bráulio fez os estudos elementares, ajudado pelo seu irmão João, na vida ascética. Dez anos após foi para Sevilha aperfeiçoar-se com santo Isidoro.

Quando em 631 faleceu o bispo João, foi nomeado arquidiácono e lhe confiaram a administração dos negócios eclesiásticos. E num tempo terrível de pestes, flagelos, carestias, Bráulio, pedindo conselhos e ajuda, foi superando tanta crise. Foi nomeado bispo no lugar do irmão. Participou do quarto, quinto e sexto concílios de Toledo. Correspondia com o Papa Honório I. Sua primeira preocupação foi com a cultura, incentivou os estudos e formou bibliotecas.

Por volta dos anos 650 estava praticamente cego e esgotado e morreu no ano seguinte, provavelmente aos 66 anos.

São Bráulio foi um grande bispo, nascido numa família de santos que ajudou e muito na consolidação da Igreja no reino espanhol.



Ó Deus, que aos vossos pastores associastes São Bráulio de Saragoça, animado de ardente caridade e da fé que vence o mundo, dai nossos bispos, por sua intercessão, perseverar na caridade e na fé e participar de sua glória. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

sexta-feira, 25 de março de 2016

"Apenas misericórdia pode salvar o mundo", diz Cantalamessa



HOMILIA
Frei Raniero Cantalamessa

CELEBRAÇÃO DA PAIXÃO DO SENHOR
Basílica de São Pedro
Sexta-feira, 25 de março de 2016
 
“DEIXAI-VOS RECONCILIAR COM DEUS”

“Deus nos reconciliou consigo por meio de Cristo e nos confiou o ministério da reconciliação […] Suplicamo-vos em nome de Cristo: deixai-vos reconciliar com Deus. Aquele que não tinha conhecido o pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nos tornássemos justiça de Deus. Posto que somos seus colaboradores, exortamo-vos a não negligenciar a graça de Deus. Ele, com efeito, diz: ‘No tempo favorável te ouvi e no dia da salvação te socorri’. Eis agora o tempo favorável; eis agora o dia da salvação!” (2 Cor 5, 18; 6,2).

Estas são palavras de São Paulo na Segunda Carta aos Coríntios. O apelo do apóstolo a reconciliar-se com Deus não se refere à reconciliação histórica entre Deus e a humanidade (esta, ele acaba de dizer, já se realizou através de Cristo na cruz); tampouco se refere à reconciliação sacramental que acontece no batismo e no sacramento da reconciliação; refere-se a uma reconciliação existencial e pessoal, a ser vivida no presente. O apelo é dirigido aos cristãos de Corinto que são batizados e vivem há tempo na Igreja; é dirigido, por isso, também a nós, aqui e agora. “O tempo favorável, o dia da salvação” é, para nós, o ano da misericórdia que estamos vivendo.

Mas o que significa, em sentido existencial e psicológico, reconciliar-se com Deus? Uma das razões, talvez a principal, da alienação do homem moderno da religião e da fé é a imagem distorcida que ele tem de Deus. Qual é, de fato, a imagem “predefinida” de Deus no inconsciente humano coletivo? Para descobrir, basta fazer-se esta pergunta: “Que associação de ideias, que sentimentos e reações surgem em mim, antes de qualquer reflexão, quando, na oração do pai-nosso, chego às palavras ‘seja feita a vossa vontade’”?

Quem as diz é como se inclinasse interiormente a cabeça em resignação, preparando-se para o pior. Inconscientemente, vincula-se a vontade de Deus com tudo o que é desagradável, doloroso, com aquilo que, de uma forma ou de outra, pode ser visto como mutilação da liberdade e do desenvolvimento individual. É um pouco como se Deus fosse o inimigo de toda festa, alegria, prazer. Um Deus ranzinza e inquisidor.

Deus é visto como o Ser Supremo, o Onipotente, o Senhor do tempo e da história, isto é, como uma entidade que, de fora, se impõe ao indivíduo; nenhum particular da vida humana lhe escapa. A transgressão da Sua lei introduz inexoravelmente uma desordem que exige uma reparação adequada, que o homem sabe ser incapaz de lhe dar. Daí o medo e, às vezes, um surdo rancor contra Deus. É um resquício da ideia pagã de Deus, nunca erradicada de todo, e talvez inerradicável, do coração humano. É nela que se baseia a tragédia grega; Deus é aquele que intervém, através da punição divina, para restaurar a ordem perturbada pelo mal.

É claro que nunca foi ignorada, no cristianismo, a misericórdia de Deus! Mas a ela foi confiada apenas a incumbência de moderar os rigores irrenunciáveis ​​da justiça. A misericórdia era o expoente, não a base; a exceção, não a regra. O ano da misericórdia é a oportunidade de ouro para trazer de volta à luz a verdadeira imagem do Deus bíblico, que não somente tem misericórdia, mas é misericórdia.

Esta afirmação ousada se baseia no fato de que “Deus é amor” (1 Jo 4, 8.16). Só na Trindade Deus é amor sem ser misericórdia. Que o Pai ame o Filho não é graça ou concessão; é necessidade: Ele precisa amar para existir como Pai. Que o Filho ame o Pai não é misericórdia ou graça; é necessidade, mesmo queliberíssima: Ele precisa ser amado e amar para ser Filho. O mesmo deve ser dito do Espírito Santo, que é o amor feito pessoa.

É quando cria o mundo e, nele, as criaturas livres que o amor de Deus deixa de ser natureza e se torna graça. Este amor é uma livre concessão: poderia não existir; é hesed, graça e misericórdia. O pecado do homem não muda a natureza deste amor, mas provoca nele um salto de qualidade: da misericórdia como dom se passa à misericórdia como perdão. Do amor de simples doação se passa para um amor de sofrimento, porque Deus sofre diante da rejeição ao seu amor. “Eu nutri e criei filhos, diz o Senhor, mas eles se rebelaram contra mim” (Is 1, 2). Perguntemos aos muitos pais e mães que tiveram essa experiência se isto não é sofrimento, e dos mais amargos da vida.

'Feriadão' da Semana Santa?

 
Que bom seria se os cristãos católicos entendessem que a Semana Santa, em especial a Sexta-feira da Paixão, o santo Sábado de Aleluia e o Domingo da Ressurreição, não são apenas mais uma oportunidade para o lazer, nem para reuniões festivas com muita comilança e bebedeira! Em especial a Sexta-feira Santa não é, de modo algum, um dia para laudos banquetes a base de bacalhoada e bebidas alcoólicas. Não estamos vivendo agora, simplesmente, mais um "feriadão"! Para os verdadeiros cristãos não é assim, nem nunca foi.

Se a mídia laica entende assim esses dias, paciência. Trata-se, evidentemente, de uma outra visão, um outro olhar, desprovido de qualquer preocupação com a transcendência. Já para nós, católicos, é o outono santo, o tempo mais sublime e mais sagrado, de celebrar a Páscoa definitiva que Deus preparou e consumou, em nosso amado Cristo, Jesus, para toda a humanidade. Trata-se de preparação para a Páscoa e festa da Páscoa! Esperamos para celebrar Jesus que vence a morte e nos dá a prova definitiva de que Deus não desiste de nós. Com a vitória sobre a morte, fruto do pecado, temos garantida a mesma Vitória, se ouvirmos a santa Palavra e nos mantivermos no Caminho e na Comunhão.

A Semana Santa é, assim, um período maravilhoso, de graça indescritível e bençãos de valor espiritual inestimável. Sete dias de profundíssimo recolhimento, oração, meditação, contemplação. Jejum e penitência, depois tremenda, indizível, santa alegria. Mergulhamos fundo no Mistério da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor. Não transformemos, oh!, por piedade, não transformemos essas Celebrações tão sagradas e tão cheias de inefáveis significados em simples teatralização de episódios bíblicos, que no mais das vezes, apesar da boa vontade dos grupos de jovens, acabam por se converter em toscas comédias! Se o fizermos, estaremos nos expondo ao risco de olhar a Maravilha infinita de nossa fé como mero acontecimento histórico, distante e sem nenhuma ligação com o aqui-agora de nossas vidas. É aqui, é hoje que acontece a nossa salvação!