sábado, 26 de dezembro de 2015

Herodes, o Grande: um covarde com os dias contados


É abril do ano 750 de Roma (4 a.C.). Em Jericó, depois de seis meses de longa e dolorosa doença, morre o rei Herodes, o Grande.

Seu corpo, já em vida corroído por vermes, foi transportado com grandes honras ao Haerodium, o palácio-fortaleza que ele mesmo havia mandado construir.

Flávio Josefo nos diz que o funeral foi o mais esplêndido possível: "Herodes foi colocado numa liteira de ouro cravejada de pérolas e pedras preciosas de várias cores, coberta com um manto de púrpura; o morto estava vestido em púrpura e usava uma tiara sobre a qual fora posta uma coroa de ouro; à direita jazia seu cetro".

Foi por aquela coroa que Herodes causou o massacre dos inocentes.

Foi pelo poder que ele ordenou vinganças e assassinatos com crueldade sem limites. Era por isso que o povo o odiava e se regozijava com cada infortúnio que abalava a sua corte.

Durante toda a vida, Herodes foi um arrivista cruel e sem escrúpulos. Quando jovem, ele matou Malic, o homem que tinha envenenado seu pai (43 a.C.). Aprisionou Fasael, seu irmão, que, em desespero, cometeu suicídio. Tampouco teve escrúpulos para matar sua esposa Mariamne I (29 a.C.) e, anos mais tarde, os dois filhos que tivera com ela, Alexandre e Aristóbulo (7 a.C.). Não satisfeito, cinco dias antes de morrer, ele mandou executar seu outro filho, Antípatro, nascido de Dóris, outra de suas esposas.

Nem com a morte se aproximando brilhou na alma desse rei cruel algum escrúpulo de consciência. Ao contrário: ele projetou sua última crueldade ordenando que sua irmã Salomé reunisse em Jericó todos os poderosos do reino para que fossem assassinados assim que ele próprio morresse.

Josefo conta a assim o episódio: sentindo-se perto da morte, Herodes "deliberou uma ação que estava além de toda lei. Reunidos de todas as aldeias da Judeia os homens mais ilustres, ordenou que fossem encerrados no local chamado Hipódromo; chamando então sua irmã Salomé e seu marido, disse-lhes: ‘Sei que os judeus festejarão a minha morte; no entanto, ainda posso ser chorado por outras razões e obter um funeral esplêndido se seguirdes as minhas orientações. Esses homens que estão presos, quando eu expirar, matai-os todos depois de cercá-los por soldados, para que todos na Judeia e todas as famílias, mesmo não querendo, derramem lágrimas por mim".

Felizmente, a irmã não obedeceu; uma vez morto Herodes, ela fez libertar todos os dignitários. 

Nasceu para Vós o Salvador (cf. Lc 2,11)


O anúncio do nascimento de Jesus pelo anjo aos pastores trouxe alegria, paz, amor, salvação para toda a humanidade. Ele é acolhido pelos pobres e necessitados da sociedade. Em suas homilias, os padres da Igreja tiveram presentes as palavras divinas dirigidas aos pastores: "Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós o Salvador, que é o Cristo Senhor"(Lc 2,11). Esta grande notícia dá-nos a graça do Salvador estar conosco em tudo menos o pecado. A alegria de cada pessoa e de todos nós é imensa, porque Deus está com a humanidade. Vejamos alguns autores cristãos dos primeiros séculos do cristianismo que interpretaram a palavra evangélica do nascimento do Salvador à realidade humana.

1. O surgimento de um broto na casa de Jessé

Tiago, Bispo de Sarug, Síria(Homilia sobre a festa da natividade 11-14;18-22), lá pelos séculos V e VI tem presentes as palavras do profeta Isaias que falou sobre o surgimento de um broto, um ramo na casa de Jessé(cfr. Is 11,1) para ser forte galho ao mundo inteiro envelhecido. O bispo Tiago afirma que o nascimento de Jesus conduziu a abertura à boca de Eva, para que diga em alta voz que a sua culpa foi perdoada graças à segunda Virgem pelo pagamento do débito de seus pais com o precioso tesouro que nasceu à criação. O autor afirma em suas homilias, o hoje da salvação e da redenção. No momento cale a serpente, para que fale o anjo Gabriel. A mentira afasta-se para que reine a verdade. Passou aquilo que era antiquado, pela renovação do parto da Virgem Maria. Hoje a mão do querubim abandone a lança de fogo (cf. Gn 3,24) porque a árvore da vida não é mais guardada. Eis de fato, que o seu fruto é colocado na manjedoura para fazer alimento aos seres humanos que por sua vontade tornaram-se semelhantes aos animais, mas agora são abençoados pela presença divina do menino Jesus. 

2. O Natal revela o nascimento de Jesus

O Bispo Tiago continua a sua reflexão natalina, convidando as pessoas para contemplar a revelação do Senhor Deus pelo nascimento do Filho de Deus na carne à afirmação que a Virgem concebeu e deu à luz um menino como foi anunciado a muitos séculos antes de sua vinda(cf. Is 7,14). O testemunho manifestou-se, a lei foi sigilada e o segredo dos mistérios veio à luz para toda a humanidade. Hoje a gruta tornou-se um quarto nupcial para aquele esposo celeste que uniu-se à geração dos seres terrestres e sustentou-lhe a sua ascensão das profundidades da terra às alturas dos céus. Hoje veio às claras a revelação de Jacó: o Senhor que estava em cima da escada, desceu para fazer subir ao céu o ser humano, o homem e a mulher(cfr. Gn 28, 11-17). 

Hoje a aurora manifestou-se na gruta e o grande sol, Jesus Cristo iluminou com o seu fulgor as profundidades subterrâneas da realidade humana. Hoje o sol tornou atrás de doze graus de luz(cf. Is 38,8) que opunham resistência, para que fosse exaltado o verdadeiro dia que com o seu fulgor colocou em fuga e sufocou as sombras do pecado. 

3. A chegada do Salvador

O Papa Leão Magno(Homilia XXI), século V, também escreveu a respeito do nascimento de Jesus na realidade humana. Ele é a vê como a chegada da salvação em Jesus Cristo, de modo que reina a alegria na vida de cada um de nós. Não deve de fato ter lugar para a tristeza o dia em que nasce a vida. É a vida que, eliminando todo temor para a nossa condição mortal inspira-nos alegria para a eternidade que nos foi prometida. Nenhum ser humano é excluído em participar à esta alegria de amor e de paz; ao contrário, todos tem o mesmo motivo do comum júbilo, porque Nosso Senhor, Ele que destruiu o pecado e a morte como não encontrou nenhum ser livre da culpa, assim veio para a libertação de todos. O Papa Leão convida as pessoas para a alegria da presença de Jesus, dom de Deus para a humanidade. Exulte o santo porque já está próximo ao prêmio, mas goza também o pecador porque é solicitado ao perdão e reanima-se o pagão porque è chamado à vida.

O Filho de Deus, na chegada à plenitude dos tempos a qual era prevista a profundidade insondável do desígnio divino, assumiu a natureza que é própria do gênero humano para reconciliá-la com o seu Criador. 

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Onde será o Natal?


Natal vem, Natal vai, no calendário da história.
Há muitos que estão cansados do Natal.
A que serve o presépio? Cantos Natalinos?
A manjedoura, o menino Jesus, Maria, José?
O canto de paz, quando a música da guerra
Semeia a morte?

O mundo louco decretou
Não haja mais Natal, nem de Jesus
e nem nasçam crianças!
Vamos esperar que a morte destrua a vida.
Acabamos com o Natal, festa de luz e de paz.

Os loucos estão soltos por aí. Eles querem ser
Os últimos,
Fechar as portas,
Cantar e dançar a dança do nada.
Deus não é louco de dar a vitória aos loucos.

A vida surge e ressurge a cada momento.
A vida no silêncio nos visita.
“Do Verbo divino
uma Virgem grávida
Vem a caminho
Pede-vos pousada...”

Eis o novo Natal:
Jesus nasce e renasce
Onde?
Em ti.
Tu és o Natal;
Tu és meu Natal;
Eu sou o teu Natal;
Nós somos o Natal! 

Um Menino nasceu para nós: um Filho nos foi dado! O poder repousa nos seus ombros. Ele será chamado ‘Mensageiro do Conselho de Deus'.


Estas palavras, lidas na leitura da Missa da Noite, dão bem o sentido da presente celebração. Nasceu para nós um Menino; foi-nos dado um Filho! Vamos encontrá-lo pobrezinho e frágil, deitado na manjedoura, alimentado por uma Virgem Mãe, guardado por um pobre carpinteiro. Mas, quem é este Menino? Quem é este Filho? Agora, com o sol já claro e alto, podemos enxergar melhor o Mistério: meditemos bem sobre o que celebramos na noite de ontem para hoje, no que professamos neste dia tão santo!

Este menininho, a Escritura nos diz que ele é a Palavra eterna do Pai: esta Palavra “no princípio estava com Deus… e a Palavra era Deus”. Esta Palavra, que dorme agora no presépio, depois de ter mamado, é aquela Palavra poderosa pela qual tudo que existe foi feito, “e sem ela nada se fez de tudo que foi feito”. Esta Palavra tão potente, feita tão frágil, esta Palavra que sempre existiu e que nasceu na madrugada de hoje, esta Palavra que é Deus, feita agora recém-nascido, é a própria Vida, e esta Vida é a nossa luz, é a luz de toda humanidade. Fora dela, só há treva confusa e densa! Sim, fora do Deus feito homem, do Emanuel, não há vida verdadeira! O Autor da Carta aos Hebreus, na segunda leitura, diz que, após ter falado aos nossos pais de tantos modos, Deus, agora, falou-nos pessoalmente no seu Filho, “a quem ele constituiu herdeiro de todas as coisas e pelo qual também criou o universo”; somente a ele, o Pai disse: “tu és o meu Filho, eu hoje te gerei!” Por isso, somente eles nos dá o dom da vida do próprio Deus!

Eis o mistério da festa de hoje: nesta criancinha nascida para nós, Deus visitou o seu povo, Deus entrou na humanidade. Que mistério tão profundo: ele, sem deixar de ser Deus, tornou-se homem verdadeiramente. Deus se humanizou! Veio desposar a nossa condição humana, veio caminhar pelos nossos caminhos, veio experimentar a dor e a alegria de viver humanamente: amou com um coração humano, sonhou sonhos humanos, chorou lágrimas humanas, sentiu a angústia humana… Ele, Filho eterno do Pai, tornou-se filho dos homens para salvar toda a humanidade, “tornou-se de tal modo um de nós, que nós nos tornamos eternos!”

Sultão acha que o Natal “pode prejudicar a fé dos muçulmanos” e resolveu banir as celebrações de Natal…


Cinco anos de cadeia: esta é a pena que um pequeno país muçulmano da ilha de Bornéu pode aplicar a quem cometer o crime de… celebrar o Natal!

O sultão da monarquia absolutista de Brunei, Hassanal Bolkiah (foto), de 67 anos, estabeleceu esta pena para quem for descoberto aderindo de algum modo às festividades natalinas, ainda que seja apenas mediante o envio de augúrios de Natal a parentes e amigos (The Telegraph, 22 de dezembro).

Os não muçulmanos até podem celebrar o Natal no país, desde que seja apenas dentro das próprias comunidades e com a devida permissão das autoridades.

O Ministro de Assuntos Religiosos declarou que as medidas “antinatalinas” pretendem evitar “celebrações excessivas e abertas, que poderiam prejudicar a aqidah (fé) da comunidade muçulmana”. Dos 420.000 habitantes do país rico em petróleo, 65% são muçulmanos.

No início deste mês, um grupo de imãs divulgou mensagem aos fiéis islâmicos de Brunei advertindo contra celebrações “não ligadas ao islã”. Para eles, “os muçulmanos que seguem os atos daquela religião (o cristianismo) ou usam os seus símbolos religiosos, como a cruz, velas acesas, árvore de Natal, cantos religiosos, augúrios natalinos, decorações e sons que equivalham a respeitar aquela religião, vão contra a fé islâmica” (Borneo Bulletin). 

"Onde nasce paz, não há lugar para ódio e guerra", diz Papa


MENSAGEM URBI ET ORBI
DO PAPA FRANCISCO

NATAL 2015

Sexta-feira, 25 de Dezembro de 2015


Queridos irmãos e irmãs, feliz Natal!

Cristo nasceu para nós, exultemos no dia da nossa salvação!

Abramos os nossos corações para receber a graça deste dia, que é Ele próprio: Jesus é o «dia» luminoso que surgiu no horizonte da humanidade. Dia de misericórdia, em que Deus Pai revelou à humanidade a sua imensa ternura. Dia de luz que dissipa as trevas do medo e da angústia. Dia de paz, em que se torna possível encontrar-se, dialogar, e sobretudo reconciliar-se. Dia de alegria: uma «grande alegria» para os pequenos e os humildes, e para todo o povo (cf. Lc 2, 10).

Neste dia, nasceu da Virgem Maria Jesus, o Salvador. O presépio mostra-nos o «sinal» que Deus nos deu: «um menino envolto em panos e deitado numa manjedoura» (Lc 2, 12). Como fizeram os pastores de Belém, vamos também nós ver este sinal, este acontecimento que, em cada ano, se renova na Igreja. O Natal é um acontecimento que se renova em cada família, em cada paróquia, em cada comunidade que acolhe o amor de Deus encarnado em Jesus Cristo. Como Maria, a Igreja mostra a todos o «sinal» de Deus: o Menino que Ela trouxe no seu ventre e deu à luz, mas que é Filho do Altíssimo, porque «é obra do Espírito Santo» (Mt 1, 20). Ele é o Salvador, porque é o Cordeiro de Deus que toma sobre Si o pecado do mundo (cf. Jo 1, 29). Juntamente com os pastores, prostremo-nos diante do Cordeiro, adoremos a Bondade de Deus feita carne e deixemos que lágrimas de arrependimento inundem os nossos olhos e lavem o nosso coração. Disto todos temos necessidade.

Ele, só Ele, nos pode salvar. Só a Misericórdia de Deus pode libertar a humanidade de tantas formas de mal – por vezes monstruosas – que o egoísmo gera nela. A graça de Deus pode converter os corações e suscitar vias de saída em situações humanamente irresolúveis.

Onde nasce Deus, nasce a esperança: Ele traz a esperança. Onde nasce Deus, nasce a paz. E, onde nasce a paz, já não há lugar para o ódio e a guerra. E no entanto, precisamente lá onde veio ao mundo o Filho de Deus feito carne, continuam tensões e violências, e a paz continua um dom que deve ser invocado e construído. Oxalá israelitas e palestinenses retomem um diálogo directo e cheguem a um acordo que permita a ambos os povos conviverem em harmonia, superando um conflito que há muito os mantém contrapostos, com graves repercussões na região inteira.

Ao Senhor, pedimos que o entendimento alcançado nas Nações Unidas consiga quanto antes silenciar o fragor das armas na Síria e pôr remédio à gravíssima situação humanitária da população exausta. É igualmente urgente que o acordo sobre a Líbia encontre o apoio de todos, para se superarem as graves divisões e violências que afligem o país. Que a atenção da Comunidade Internacional se concentre unanimemente em fazer cessar as atrocidades que, tanto nos referidos países, como no Iraque, Líbia, Iémen e na África subsaariana, ainda ceifam inúmeras vítimas, causam imensos sofrimentos e não poupam sequer o património histórico e cultural de povos inteiros. Penso ainda em quantos foram atingidos por hediondos actos terroristas, em particular pelos massacres recentes ocorridos nos céus do Egipto, em Beirute, Paris, Bamaco e Túnis.

Aos nossos irmãos, perseguidos em muitas partes do mundo por causa da sua fé, o Menino Jesus dê consolação e força. São os nossos mártires de hoje.

Paz e concórdia, pedimos para as queridas populações da República Democrática do Congo, do Burundi e do Sudão do Sul, a fim de se reforçar, através do diálogo, o compromisso comum em prol da edificação de sociedades civis animadas por sincero espírito de reconciliação e compreensão mútua.

Que o Natal traga verdadeira paz também à Ucrânia, proporcione alívio a quem sofre as consequências do conflito e inspire a vontade de cumprir os acordos assumidos para se restabelecer a concórdia no país inteiro.

Que a alegria deste dia ilumine os esforços do povo colombiano, para que, animado pela esperança, continue empenhado na busca da desejada paz.

Onde nasce Deus, nasce a esperança; e, onde nasce a esperança, as pessoas reencontram a dignidade. E, todavia, ainda hoje há multidões de homens e mulheres que estão privados da sua dignidade humana e, como o Menino Jesus, sofrem o frio, a pobreza e a rejeição dos homens. Chegue hoje a nossa solidariedade aos mais inermes, sobretudo às crianças-soldado, às mulheres que sofrem violência, às vítimas do tráfico de seres humanos e do narcotráfico.

Não falte o nosso conforto às pessoas que fogem da miséria ou da guerra, viajando em condições tantas vezes desumanas e, não raro, arriscando a vida. Sejam recompensados com abundantes bênçãos quantos, indivíduos e Estados, generosamente se esforçam por socorrer e acolher os numerosos migrantes e refugiados, ajudando-os a construir um futuro digno para si e seus entes queridos e a integrar-se nas sociedades que os recebem.

Neste dia de festa, o Senhor dê esperança àqueles que não têm trabalho – e são tantos! – e sustente o compromisso de quantos possuem responsabilidades públicas em campo político e económico a fim de darem o seu melhor na busca do bem comum e na protecção da dignidade de cada vida humana.

Onde nasce Deus, floresce a misericórdia. Esta é o presente mais precioso que Deus nos dá, especialmente neste ano jubilar em que somos chamados a descobrir a ternura que o nosso Pai celeste tem por cada um de nós. O Senhor conceda, particularmente aos encarcerados, experimentar o seu amor misericordioso que cura as feridas e vence o mal.

E assim hoje, juntos, exultemos no dia da nossa salvação. Ao contemplar o presépio, fixemos o olhar nos braços abertos de Jesus, que nos mostram o abraço misericordioso de Deus, enquanto ouvimos as primeiras expressões do Menino que nos sussurra: «Por amor dos meus irmãos e amigos, proclamarei: “A paz esteja contigo”»! (Sal 122/121, 8). 

Natal hoje e sempre!


“Transcorridos muitos séculos desde que Deus criou o mundo e fez o homem  à sua imagem; - séculos depois de haver cessado o dilúvio, quando o Altíssimo fez resplandecer o arco-íris, sinal de aliança e de paz; - vinte e um séculos depois do nascimento de Abraão, nosso pai; - treze séculos depois da saída de Israel do Egito, sob a guia de Moisés; - cerca de mil anos depois da unção de Davi, como rei de Israel; - na septuagésima quinta semana da profecia de Daniel; - na nonagésima quarta Olimpíada de Atenas; - no ano 752 da fundação de Roma; - no ano 538 do edito de Ciro, autorizando a volta do exílio e a reconstrução de Jerusalém; - no quadragésimo segundo ano do império de César Otaviano Augusto, enquanto reinava a paz sobre a terra, na sexta idade do mundo: JESUS CRISTO DEUS ETERNO E FILHO DO ETERNO PAI, querendo santificar o mundo com a sua vinda, foi concebido por obra do Espírito Santo e se fez homem; transcorridos nove meses, nasceu da Virgem Maria, em Belém de Judá. Eis o Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo a natureza humana. Venham, adoremos o Salvador! Ele é Emanuel, Deus Conosco”. Este é o solene anúncio oficial do Natal, feito pela Igreja na primeira Missa da noite de Natal!

O Natal é a primeira festa litúrgica, o recomeçar do ano religioso, como a nos ensinar que tudo recomeçou ali. O nascimento de Jesus foi o princípio da revelação do grande mistério da Redenção que começava a se realizar e já tinha começado na concepção virginal de Jesus, o novo Adão. Deus queria que o seu projeto para a humanidade fosse reformulado num novo Adão, já que o primeiro Adão havia falhado por não querer se submeter ao seu Senhor, desejando ser o senhor de si mesmo e juiz do bem e do mal. Assim, Deus enviou ao mundo o seu próprio Filho, o Verbo eterno, por quem e com quem havia criado todas as coisas. Esse Verbo se fez carne, incarnou-se no puríssimo seio da Virgem, por obra do Espírito Santo, e começou a ser um de nós, nosso irmão, Jesus. Veio ensinar ao homem como ser servo de Deus. Por isso, sendo Deus, fez-se em tudo semelhante a nós, para que tivéssemos um modelo bem próximo de nós e ao nosso alcance. Jesus é Deus entre nós, o “Emanuel – Deus conosco”, a face da misericórdia do Pai. 

Vitória, perdão e vida junto ao Menino-Deus


“Exulte o justo, porque se aproxima da vitória; rejubile o pecador, porque lhe é oferecido o perdão; reanime-se o pagão, porque é chamado à vida” (S. Leão Magno).

Vitória. Perdão. Vida. Tudo isso nos é dado porque “o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos sua glória, a glória que o Filho único recebe do seu Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo 1,14). No dia 25 de março, a Igreja celebra a anunciação do Senhor e a encarnação do Verbo; nove meses depois, no dia 25 de dezembro, o Verbo encarnado nasce para que possamos ver a sua glória velada, mas real. O menino frágil e dependente de Maria e de José é o Filho de Deus encarnado, é ele e somente ele quem pode dar-nos a vitória, o perdão e a vida.

Vitória! Esta palavra me lembra daquele canto tradicional: “Vitória! Tu reinarás, ó Cruz tu nos salvarás!” A vitória vem pela Cruz! Mas o despojamento da Cruz já se prefigura em Belém. O Filho de Deus, desde o seu nascimento temporal, se deixa acompanhar pela pobreza, pela simplicidade e até pela perseguição. E aí se encontra a vitória? Para uma mentalidade hedonista, materialista e sem fé, tal coisa seria um absurdo. Malgrado, tal maneira de pensar está penetrando em muitos cristãos que, em nome de uma “corrente da prosperidade”, já não querem abraçar a cruz das tribulações nesta vida. Ao contrário, pretendem viver sem tribulações nesta vida e na outra. Na outra, tudo bem. Nesta vida, porém, a coisa é diferente! Jesus passou por muitas dificuldades e abraçou a cruz amorosamente desde o seu nascimento… E nós? Por que tanto medo da cruz? Por que tanto medo de encontrar-nos com o Cristo pobre e simples? Por que tanto medo da vitória de Deus que é, de maneira patente, vitória sobre o nosso egoísmo e aburguesamento?

Mas podemos recomeçar! O perdão de Deus se nos oferece constantemente para que, com alegria, vivamos a nossa fé. Por mais pecador que sejamos não tenhamos medo do Senhor, ele fez-se tão pequeno para que os pequenos deste mundo se aproximassem dele com a esperança da reconciliação com Deus e com todos os homens. Nem permitiremos que alguma falta de perdão aos outros invada o nosso coração neste dia santo. Abriremos de par em par o nosso ser a Deus e a todos os homens e mulheres, máxime àqueles que estão próximos a nós. Tais pessoas merecem a nossa atenção, gratidão e estima. Lembremo-nos da oração que o Senhor nos ensinou: “perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. Perdoemos! Perdoemos de coração a quem nos ofendeu e sentiremos um grande alívio, uma grande paz, uma restauração que vai do mais profundo ao mais periférico do nosso ser.