Há de se dar
plena razão aos que consideram a participação dos candidatos nos debates
veiculados pelos meios de comunicação inócua e pouco relevante para o processo
de discernimento dos eleitores. Também são coerentes os argumentos dos que
apontam a propaganda eleitoral como verdadeira enganação. Pode não chegar a
tanto, mas essas produções chamam a atenção pela exposição pouco nobre de
pessoas que, no afã de ganhar voto, por meio de seus discursos, se desenham
como “salvadoras da pátria”. Em suas falas, buscam aproximar-se dos heróis da
ficção. Talvez, possa até constituir objeto de estudo a semelhança entre os
personagens folclóricos da literatura e a imagem que a propaganda eleitoral
produz sobre candidatos. Eles aparecem como cidadãos e cidadãs com identidade,
trajetória e história não condizentes com o que, de fato, são; e sempre longe
do que podem vir a ser. Viver de miragens do próprio ego, incontestavelmente, é
uma das mais trágicas situações existenciais, com a produção de prejuízos para
a cidadania e comprometimentos sérios na vida política.
Neste sentido, o desempenho dos candidatos nos debates eleitorais não consegue
corresponder às demandas do processo eleitoral. Na busca pelo voto a todo
custo, sob a pressão das pesquisas, os candidatos à presidência da República
portam-se como se estivessem em um ringue de boxeadores, com uma platéia de
torcedores. O eleitor-torcedor, perdão se for exagero, não simplesmente movido
pelo grande desejo de que sejam encontradas saídas para os graves problemas sociais,
se deixa afetar por descompassos afetivos. Alegra-se ao ver seu candidato
desferir “um golpe certeiro” no adversário. Os comentários pós-debate
sublinham, sobretudo, como um “esfregar de mãos”, o discurso ferino, as
evasivas de uns, as conivências e posturas comprometedoras de outros. O saldo é
pouco educativo.