segunda-feira, 1 de maio de 2023

Papa adverte sobre a falsa ideia de liberdade compartilhada pelo comunismo e consumismo


O papa Francisco alertou durante um encontro com estudantes universitários em Budapeste que há uma falsa ideia de liberdade tanto no comunismo (liberdade freada) quanto no consumismo (liberdade desenfreada).

A Faculdade de Informática e Biônica da Universidade Católica Péter Pázmány de Budapeste foi palco do último ato da viagem apostólica do papa Francisco à Hungria, 41ª de seu pontificado, que começou na sexta-feira (28).

Nesta instituição acadêmica, são formados engenheiros de computação que aplicam seus conhecimentos no campo da biologia molecular e neuronal e da medicina.

O papa chegou ao local em cadeira de rodas e abençoou e beijou um bebê. Muitos aplausos acompanharam a entrada de Francisco no campus universitário, onde cerca de 250 pessoas, entre docentes e estudantes, o esperavam.

O magnífico reitor da Universidade, padre Géza Kuminetz, elogiou a presença do papa Francisco “como sinal do importante papel da ciência não só na vida eclesiástica, mas também na vida social”.

Ele também disse que nas universidades católicas se tenta “captar as sementes de Deus” que estão escondidas “na criação e na revelação”.

Assim, “com a ajuda da ciência, não queremos só compreender, queremos também fazer a coisa certa, ou seja, construir uma civilização humana e solidária”, disse.

Depois de ouvir atentamente o testemunho de um professor e de um aluno, o papa desfrutou de um breve intervalo musical.

O papa refletiu sobre a questão cultural, o perigo da técnica que instrumentaliza o homem, a missão da universidade e o risco de ideologias que distorcem a liberdade.

“De uma liberdade freada a uma liberdade desenfreada”

O papa citou a frase de Cristo “A verdade vos libertará” como introdução a uma dissertação sobre a autêntica liberdade a partir da própria história da Hungria que “viu uma sucessão de ideologias que se impuseram como verdade, mas não conseguiram dar liberdade”.

Francisco acredita que esse risco não desapareceu: “Penso na passagem do comunismo ao consumismo”, na qual “há uma falsa ideia de liberdade”.

Por um lado, "a do comunismo era uma 'liberdade' forçada, limitada de fora, decidida por outro" enquanto a do consumismo é "libertina, hedonista, achatada, que nos torna escravos do consumo e das coisas".

Para o papa é fácil passar dos “limites impostos ao pensamento” do comunismo ao “pensamento sem limites” das sociedades de consumo. Ou, de outra forma, “de uma liberdade freada para uma liberdade desenfreada”.

A resposta a ambas as interpretações é dada por Jesus, disse o papa: “A verdade é tudo aquilo que liberta o homem das suas dependências e dos seus fechamentos”.

A chave para alcançá-la é “um conhecimento que nunca se desvincula do amor relacional, humilde e aberto, concreto e comunitário, corajoso e construtivo” que é “o que as universidades são chamadas a cultivar e a fé a alimentar”, concluiu o papa.

Cultura segundo Guardini

O papa citou o pensamento de Romano Guardini para analisar o conceito de cultura: "é como um grande rio: percorre várias regiões da vida e da história, colocando-as em relação", permite navegar no mundo e abraçar países e terras distantes, sacia a mente, rega a alma, faz crescer a sociedade”.

O papa considera que Guardini teve “uma grande intuição cultural” quando entendeu que existem duas formas de conhecer. A primeira, “leva-nos a mergulhar nas coisas e no seu contexto” e, a segunda, a “tomar posse do objeto, dominá-lo”, escreveu o filósofo alemão.

A esse respeito, o papa diz que Guardini “não demonizou a tecnologia, que melhora a vida e a comunicação e traz muitas vantagens, mas alertou para o risco de que ela possa acabar controlando, senão dominando, nossas vidas”.

Essa técnica dominadora leva "à erosão dos laços comunitários", razão pela qual “a alienação e a ansiedade não são mais apenas crises existenciais, mas problemas sociais”.

“Quantos indivíduos isolados – muita rede social, mas pouco sociais – recorrem, como num círculo vicioso, às consolações da tecnologia para preencher o vazio que sentem”, lamentou o papa.

Tendo como referência o romance “Senhor do Mundo”, de Robert Hugh Benson, o papa continuou reiterando sua conhecida advertência sobre a colonização ideológica.

“Ideologias opostas convergem numa homologação que coloniza ideologicamente; o homem, em contato com as máquinas, achata-se cada vez mais, enquanto a vida comum se torna triste e rarefeita”, disse.

A universidade, “templo” do saber

O papa justificou “esta análise sombria” porque assim “resplandecem melhor os papéis da cultura e da universidade”.

Para o papa, a universidade é o local onde “o pensamento nasce, cresce e amadurece, aberto e sinfônico”.

“É o ‘templo’ onde o conhecimento é chamado a libertar-se dos limites estreitos do ter e do possuir para se tornar cultura, isto é, ‘cultivação’ do homem e das suas relações fundantes: com o transcendente, com a sociedade, com a história, com a criação”, disse.

O papa Francisco também refletiu sobre como “a cultura nos acompanha no conhecimento de nós mesmos”, com base nas famosas palavras do oráculo de Delfos, “conhece-te a ti mesmo”.

Para o papa, isso significa “saber reconhecer os próprios limites e, consequentemente, refrear a própria presunção de autossuficiência”.

Esta abordagem beneficia o homem "porque é antes de tudo reconhecer-se como criatura quando nos tornamos criativos".

“A frase do oráculo de Delfos convida a um conhecimento que, partindo da humildade do limite, descobre as suas maravilhosas potencialidades, que vão além da técnica”, disse o papa.

O discurso foi respondido pelos presentes com calorosos aplausos.

O encontro terminou com a oração do Pai Nosso e a entrega da bênção apostólica do papa.

Em seguida, alguns membros da comunidade acadêmica prestaram homenagem ao papa. Ao partir para poder ir ao aeroporto e voltar a Roma, muitas pessoas esperavam pelo papa e o saudaram com o grito de "Santo Padre!".
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Nicolas de Cárdenas
ACI Digital

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