sábado, 21 de agosto de 2021

Afeganistão: ACN vê futuro sombrio para a liberdade religiosa



Quinta-feira, 19 de agosto, no 102º aniversário da independência do país do domínio britânico, Zabihullah Mujahid, porta-voz do Talibã, declarou o Afeganistão como o “Emirado Islâmico do Afeganistão” em sua conta oficial no Twitter.

Thomas Heine-Geldern, presidente executivo da ACN, expressa profunda preocupação com a tomada do poder e com a renomeação do país:

“Durante o governo do Emirado do Afeganistão anterior (1996 a 2001), o Talibã impôs uma versão estrita da lei sharia em todo o país. Podemos esperar que o islamismo sunita seja a religião oficial, a lei islâmica seja reimposta e as liberdades conquistadas a duras penas para os direitos humanos, incluindo uma medida relativa de liberdade religiosa, nos últimos 20 anos serão revogadas.

A ACN previu a deterioração da situação em seu recente Relatório sobre Liberdade Religiosa, publicado em abril de 2021. Ao longo dos 22 anos de história deste relatório, o Afeganistão sempre foi um dos países que mais violam esse direito fundamental. Especialmente nos últimos três anos, o relatório destaca os ataques repetidos e flagrantes contra locais de culto, líderes religiosos e fiéis.

Nossa análise, infelizmente, não deixa muito espaço para esperança. Todos aqueles que não defendem as visões islâmicas extremistas do Talibã estão em risco, mesmo os sunitas moderados. Os xiitas (10%), a pequena comunidade cristã e todas as outras minorias religiosas, já ameaçadas, sofrerão uma opressão ainda maior. Este é um grande revés para todos os direitos humanos e especialmente para a liberdade religiosa no país.

Infelizmente, vários países rapidamente declararam simpatia pelo novo emirado. Isso não apenas legitimará o Talibã, mas também incentivará regimes autoritários em todo o mundo, especialmente na região, estimulando crescentes violações das liberdades religiosas em seus próprios países. O reconhecimento internacional do Talibã também funcionará como um ímã para grupos islâmicos radicais menores, criando uma nova constelação de facções terroristas religiosas que poderiam suplantar formações históricas como a Al-Qaeda e o grupo Estado Islâmico. Entre outras, as áreas de preocupação incluem Paquistão, Palestina e a província de Idlib, na Síria. A situação dos cristãos e de outras comunidades religiosas minoritárias que já sofrem opressão se deteriorará ainda mais.

O conteúdo das negociações que vêm ocorrendo em Doha desde 2020 entre o Talibã e o Ocidente, e entre o Talibã e o governo afegão, permanece relativamente secreto. Assim, não podemos fazer uma avaliação mais precisa do que os acordos alcançados significarão para os afegãos que não defendem as visões islâmicas extremistas do Talibã.

Permanecem inúmeras questões diplomáticas espinhosas. A fuga inesperada e voluntária do poder pelo presidente Ashraf Ghani cria dificuldades éticas e morais para o Ocidente, já que os países que participam de negociações com o Talibã expressaram, semanas atrás, que nunca reconheceriam um regime que assumiu o poder pela força. Haverá uma resposta do Talibã sobre quaisquer reivindicações de direitos humanos sem canais formais? O fato de que a maioria das embaixadas ocidentais estão fechando e observadores internacionais estão saindo, como fizeram na Síria em 2011, não é um bom presságio.

A ACN incentiva a comunidade internacional a levantar a voz na proteção dos direitos humanos de todos os cidadãos do Afeganistão, especialmente considerando que estimamos que a liberdade religiosa estará particularmente ameaçada. Também chamamos nossos benfeitores e amigos para continuar a orar durante este período profundamente perturbador da história do Afeganistão”.

Mais de 99,86% da população do Afeganistão é muçulmana, o maior grupo é sunita e 10% são xiitas. Entre os 0,14% de outros crentes há um número relativamente igual de hindus, ba’hais, budistas e cristãos. Existem apenas 200 católicos registrados no país.


Por ACN Brasil

Nenhum comentário:

Postar um comentário