quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

“Querida Amazônia”: Papa evita polêmica sobre ordenação sacerdotal de homens casados, pede novas formas de liderança e mais Missionários



O Papa apela no seu novo documento “Querida Amazônia” a uma maior presença de missionários neste território e a formas de liderança que envolvam leigos, religiosas e diáconos permanentes, sem abordar a possível ordenação sacerdotal de homens casados.

“Não se trata apenas de facilitar uma presença maior de ministros ordenados que possam celebrar a Eucaristia. Isto seria um objetivo muito limitado, se não procurássemos também suscitar uma nova vida nas comunidades”, escreve, na exortação apostólica pós-sinodal publicada hoje pela Santa Sé.

Após dois anos de consultas alargadas e três semanas de debate no Vaticano, em outubro de 2019, o documento final do Sínodo especial para a Amazônia sugeria a ordenação sacerdotal de diáconos casados, tendo em vista a celebração dominical da Eucaristia nas zonas mais remotas desta região.

Francisco evita comentar diretamente esta proposta, sem fazer qualquer referência, no seu texto, à palavra “celibato”.

A exortação, documento de caráter pastoral, admite que é “urgente fazer com que os povos amazônicos não estejam privados” dos sacramentos da Eucaristia e da Reconciliação.

“Esta premente necessidade leva-me a exortar todos os bispos, especialmente os da América Latina, a promover a oração pelas vocações sacerdotais e também a ser mais generosos, levando aqueles que demonstram vocação missionária a optarem pela Amazônia”, escreve.

Em nota de rodapé, o Papa comenta que o impressiona o fato de “haver, em alguns países da bacia amazônica, mais missionários para a Europa ou os Estados Unidos do que para ajudar nos próprios Vicariatos da Amazônia”.

A exortação apostólica pós-sinodal aponta para a necessidade de ordenar mais diáconos permanentes – o primeiro grau do sacramento da Ordem (diáconos, presbíteros e bispos), a que podem aceder homens casados.

Um diácono pode batizar, abençoar matrimônios, celebrar a Liturgia da Palavra ou pregar, por exemplo, mas, ao contrário do sacerdote, não pode presidir ao sacramento da Eucaristia, confessar ou administrar a unção dos doentes.

Francisco convida à valorização do ministério diaconal e do serviço das religiosas, leigos e leigas. 

Precisamos de promover o encontro com a Palavra e o amadurecimento na santidade por meio de vários serviços laicais, que supõem um processo de maturação – bíblica, doutrinal, espiritual e prática – e distintos percursos de formação permanente”.

O novo documento admite que a Igreja Católica tem uma “presença precária na Amazônia”, desejando “uma resposta específica e corajosa da Igreja”.

O Papa sublinha que, dentro das comunidades eclesiais, “o modo de configurar a vida e o exercício do ministério dos sacerdotes não é monolítico”, tendo como ponto comum que só eles estão “habilitados para presidir à Eucaristia”.

“Nas circunstâncias específicas da Amazônia, especialmente nas suas florestas e lugares mais remotos, é preciso encontrar um modo para assegurar este ministério sacerdotal. Os leigos poderão anunciar a Palavra, ensinar, organizar as suas comunidades, celebrar alguns Sacramentos, buscar várias expressões para a piedade popular e desenvolver os múltiplos dons que o Espírito derrama neles. Mas precisam da celebração da Eucaristia”, aponta.

A proposta de Francisco para o futuro da Igreja na região é a criação de uma “cultura eclesial própria, marcadamente laical”, que permita uma “presença capilar”, incluindo a criação de “grupos missionários itinerantes”.

O Papa deixa aberta à porta à criação de um “rito amazônico”, proposto pelo Sínodo de 2019.

“O Concílio Vaticano II solicitara este esforço de inculturação da liturgia nos povos indígenas, mas passaram-se já mais de cinquenta anos e pouco avançamos nesta linha”, indica.

A Amazônia desafia-nos a superar perspectivas limitadas, soluções pragmáticas que permanecem enclausuradas em aspetos parciais das grandes questões, para buscar caminhos mais amplos e ousados de inculturação”.

A exortação “Querida Amazônia” resulta da assembleia especial do Sínodo dos Bispos para a região pan-amazônica”, celebrada com o tema ‘Amazônia, novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral’, de 6 a 27 de outubro de 2019.

O Sínodo dos Bispos pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia consultiva de representantes dos episcopados católicos, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.

A região pan-amazônica tem uma extensão de 7,8 milhões de km2, incluindo áreas do Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa; dos seus cerca de 33 milhões de habitantes, 3 milhões são indígenas pertencentes a 390 grupos ou povos.
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Via Agência Ecclesia/ Centro Dom Bosco

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