domingo, 2 de junho de 2019

Papa Francisco: "Não deixemos que nos seja roubada a fraternidade".



VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO À ROMÊNIA
(31 DE MAIO - 2 DE JUNHO DE 2019)

SANTA MISSA

HOMILIA DO SANTO PADRE

Santuário Șumuleu Ciuc
Sábado, 1 de junho de 2019

Com alegria e gratidão a Deus, encontro-me hoje convosco, amados irmãos e irmãs, neste querido santuário mariano, rico de história e fé, tendo vindo aqui, como filhos, para encontrar a nossa Mãe e reconhecer-nos como irmãos. Os santuários, lugares quase «sacramentais» duma Igreja-hospital-de-campanha, guardam a memória do povo fiel, que, no meio das suas tribulações não se cansa de procurar a fonte de água viva onde avivar a esperança. São lugares de festa e celebração, de lágrimas e súplicas. Vimos aos pés da Mãe, sem muitas palavras, a fim de nos deixarmos olhar por Ela e para que, com o seu olhar, nos conduza Àquele que é «o Caminho, a Verdade e a Vida» (Jo 14, 6).

Não o fazemos de qualquer modo; somos peregrinos. Aqui vindes em peregrinação cada ano, no sábado de Pentecostes, para honrar o voto dos vossos antepassados e fortalecer a fé em Deus e a devoção a Nossa Senhora, representada na sua estátua monumental de madeira. Esta peregrinação anual pertence à herança da Transilvânia, mas honra conjuntamente as tradições religiosas romena e húngara; e participam nela também fiéis doutras confissões, sendo um símbolo de diálogo, unidade e fraternidade; um apelo a recuperar os testemunhos de fé tornada vida e de vida feita esperança. Peregrinar é saber que vimos como povo à nossa casa. É saber que temos consciência de ser um povo. Um povo, cuja riqueza são os seus mil rostos, mil culturas, línguas e tradições; o santo Povo fiel de Deus que, com Maria, caminha peregrino cantando a misericórdia do Senhor. Se, em Caná da Galileia, Maria intercedeu junto de Jesus para que realizasse o primeiro milagre, em cada santuário, vela e intercede não só diante do seu Filho, mas também diante de cada um de nós, para não deixarmos que nos seja roubada a fraternidade pelas vozes e as feridas que alimentam a divisão e a fragmentação. As complexas e tristes vicissitudes do passado não devem ser esquecidas nem negadas, mas também não podem constituir um obstáculo ou um argumento para impedir a ansiada convivência fraterna. Peregrinar significa sentir-se chamados e impelidos a caminhar juntos, pedindo ao Senhor a graça de transformar rancores e desconfianças, antigos e atuais, em novas oportunidades de comunhão; significa desligar-se das nossas seguranças e comodidades e partir à procura duma nova terra que o Senhor nos quer dar. Peregrinar é desafio a descobrir e transmitir o espírito de viver juntos, de não ter medo de se misturar, de nos encontrarmos e ajudarmos. Peregrinar significa participar naquela maré um pouco caótica que se pode transformar numa verdadeira experiência de fraternidade, caravana sempre solidária para construir a história (cf. Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 87). Peregrinar é ver não tanto aquilo que poderia ter sido (e não foi), como sobretudo aquilo que nos espera e não podemos adiar mais. Significa crer no Senhor que vem e está no meio de nós promovendo e estimulando a solidariedade, a fraternidade, o desejo de bem, verdade e justiça (cf. ibid., 71). Peregrinar é o compromisso de lutar para que, quantos ontem tinham ficado para trás, se tornem os protagonistas do amanhã, e os protagonistas de hoje não sejam deixados para trás amanhã. E isto, irmãos e irmãs, requer o trabalho artesanal de tecer juntos o futuro. Eis o motivo por que estamos aqui! Para dizer juntos: Mãe, ensinai-nos a esboçar o futuro.

Peregrinar a este santuário faz-nos voltar o olhar para Maria e para o mistério da sua eleição por Deus. Ela, uma jovem de Nazaré, pequena localidade da Galileia, na periferia do Império Romano e também na periferia de Israel, com o seu «sim», foi capaz de fazer partir a revolução da ternura (cf. ibid., 88). O mistério da sua eleição por parte de Deus, que pousa os seus olhos sobre o fraco para confundir os fortes, impele-nos e encoraja-nos também a nós a dizer «sim», como Ela, como Maria, para percorrer as sendas da reconciliação.

Irmãos e irmãs, não esqueçamos isto: a quem arrisca, o Senhor não decepciona. Caminhemos, e caminhemos juntos, arrisquemos, deixando que o Evangelho seja o fermento capaz de impregnar tudo e dar aos nossos povos a alegria da salvação, na unidade e na fraternidade.
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Santa Sé

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