quarta-feira, 5 de junho de 2019

Considerações sobre a RCC e o dom de orar em línguas...


É óbvio que muitos dos "carismáticos" e de seus simpatizantes têm um bom coração. Mas, é evidente também que, mesmo com boas intenções, eles estão colaborando - e muito! - com a protestantização da Igreja Católica. Se você ainda não é capaz de entender isso pela história e os desdobramentos dos fatos, basta comparar uma Missa celebrada sob a "inspiração" de um padre ou de uma comunidade de "carismáticos" e o culto de uma seita protestante ou "evangélica". Não há praticamente diferença alguma. A Sacratíssima Eucaristia ali, infelizmente, tornou-se apenas um "adorno" de maior pompa. O que mais importa é a suposta "ação" do Espírito Santo, que incendeia toda a barulheira, agitação, irreverência, abusos litúrgicos, profanações e até mesmo sacrilégios.

Sim, o dom de línguas é um dom do Espírito Santo (1Cor. 12, 10). Porém, será mesmo que todos os "carismáticos" e simpatizantes que dizem "orar em línguas" estão realmente tomados pelo Espírito Santo? Em dois mil anos de história da Santa Igreja, o fenômeno é raro na vida dos santos; mas, é de uma abundância no mínimo extravagante em círculos de "carismáticos" e simpatizantes, que em geral pregam uma concepção de "santidade" pelo menos exótica. Some-se a isso o ambiente de euforia, barulho, falatório e confusão desses círculos, e tudo fica ainda mais problemático.

Na sua carta aos Coríntios, São Paulo apresenta a "variedade de línguas" como um dom do Espírito Santo; mas, com esse dom menciona também o dom de "interpretar" essas línguas (1Cor. 12, 10). E o apóstolo alerta: [...] "suponhamos, irmãos, que eu fosse ter convosco falando em línguas, de que vos aproveitaria, se minha palavra não vos desse revelação, nem ciência, nem profecia ou doutrina?" (14, 6) [...] "Se há quem fala em línguas, não falem senão dois ou três, quando muito, e cada um por sua vez, e haja alguém que interprete. Se não houver intérprete, fiquem calados na reunião, e falem consigo mesmos e com Deus" - e conclui: "Deus não é Deus de confusão, mas de paz" (27-28; 33). Uma orientação de caráter prudencial que "carismáticos" e simpatizantes devem ter em mente e observar.

São Paulo, na primeira carta aos Coríntios, sugere que a "oração" e o "falar" em "línguas" não sejam fomentados em assembleias e reuniões, pois nelas o mais apropriado é que se diga o que é compreensível, exatamente para a edificação (caps. 12-14). Trata-se de uma orientação de caráter prudencial da própria Santa Igreja, e que tem o propósito de evitar a sugestão psicológica, o sensacionalismo, o estado de euforia, o emocionalismo e em muitos casos a própria histeria, - e não se descarta inclusive a influência diabólica (cf. Michael Hichborn) -, que "carismáticos" e simpatizantes sem o adequado discernimento e orientação podem confundir com a ação do Espírito Santo.

Uma orientação pastoral sensata e prudente da CNBB para "carismáticos" e simpatizantes, e que corrobora o que escrevi até momento sobre o assunto. Leia:

"ORAR e FALAR EM LÍNGUAS: O destinatário da oração em línguas é o próprio Deus, por ser uma atitude da pessoa absorvida em conversa particular com Deus. E o destinatário do falar em línguas é a comunidade. O apóstolo Paulo ensina: 'Numa assembleia prefiro dizer cinco palavras com a minha inteligência para instruir também aos outros, a dizer dez mil palavras em línguas' (1 Cor 14,19). Como é difícil discernir, na prática, entre inspiração do Espírito Santo e os apelos do animador do grupo reunido, NÃO SE INCENTIVE A CHAMADA ORAÇÃO EM LÍNGUAS E NUNCA SE FALE EM LÍNGUAS SEM QUE HAJA INTÉRPRETE". (CNBB. Documento 53. Orientações pastorais sobre a Renovação Carismática Católica. 63).

Mais uma orientação pastoral sensata e prudente da CNBB para os "carismáticos" e seus simpatizantes. Orientação importante para evitar que eles incorram na presunção sobre os seus eventuais dons, carismas - incluindo o de línguas -, e os de terceiros. Leia:

[...] "Os carismas devem ser recebidos com gratidão e consolação. E NÃO DEVEM ser temerariamente pedidos nem se TER A PRESUNÇÃO DE POSSUÍ-LOS (cf. LG 12).

"Haja muito DISCERNIMENTO na identificação de carismas e dons extraordinários. Diante das pessoas que teriam carismas especiais, O JUÍZO SOBRE SUA AUTENTICIDADE E SEU ORDENADO EXERCÍCIO COMPETE AOS PASTORES DA IGREJA. A eles em especial cabe não extinguir o Espírito, mas PROVAR AS COISAS para ficar com o que é bom (cfr. 1 Tes 5,12.19.21)". (CNBB. Documento 53. Orientações pastorais sobre a Renovação Carismática Católica. 57-58).

Para efeito de esclarecimento. Da mesma forma que não existe "missa afro", não existe também "missa carismática". Existe sim - e é a única - Santa Missa. Portanto, além das determinações gerais com relação à Liturgia, é importante observar as "orientações pastorais" especialmente dirigidas aos "carismáticos"e simpatizantes, para que os eventuais abusos, excessos e até profanações sejam evitados. Leia:

"Nas celebrações, OBSERVE-SE A LEGISLAÇÃO LITÚRGICA que, embora estabeleça normas precisas para certos momentos, abre amplo espaço para a criatividade. NÃO SE INTRODUZAM ELEMENTOS ESTRANHOS À TRADIÇÃO LITÚRGICA DA IGREJA ou QUE ESTEJAM EM DESACORDO COM O QUE ESTABELECE O MAGISTÉRIO ou AQUILO QUE É EXIGIDO PELA PRÓPRIA ÍNDOLE DA CELEBRAÇÃO.

"Na celebração da Missa, não se deve salientar de modo inadequado as palavras da Instituição, nem se interrompa a Oração Eucarística para momentos de louvor a Cristo presente na Eucaristia com APLAUSOS, VIVAS PROCISSÕES, HINOS DE LOUVOR EUCARÍSTICO e OUTRAS MANIFESTAÇÕES que exaltem de tal maneira o sentido da presença real que acabem esvaziando as várias dimensões da celebração eucarística.

"OS CANTOS e OS GESTOS sejam ADEQUADOS ao momento celebrativo e DE ACORDO COM OS CRITÉRIOS EXIGIDOS PARA A CELEBRAÇÃO LITÚRGICA". [...] (CNBB. Documento 53. Orientações pastorais sobre a Renovação Carismática Católica. 40-42).


Bruno Braga

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