segunda-feira, 21 de maio de 2018

Homilética: Solenidade do Sagrado Coração de Jesus - Ano B: "O Sagrado Coração é fonte inesgotável do amor de Deus para o mundo".


Na solenidade do Sacratíssimo Coração de Jesus, a Igreja oferece à nossa contemplação este mistério, o mistério do coração de um Deus que se comove e derrama todo o seu amor sobre a humanidade. Um amor misterioso, que nos textos do Novo Testamento nos é revelado como paixão incomensurável pelo homem. Ele não se rende perante a ingratidão, e nem sequer diante da rejeição do povo que Ele escolheu para si; pelo contrário, com misericórdia infinita, envia ao mundo o seu Filho, o Unigênito, para que assuma sobre si o destino do amor aniquilado a fim de que, derrotando o poder do mal e da morte, possa restituir dignidade de filhos aos seres humanos, que o pecado tornou escravos. Tudo isto a caro preço: o Filho Unigênito do Pai imola-se na cruz: "Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim" (cf. Jo 13, 1). Símbolo de tal amor, que vai além da morte é o seu lado traspassado por uma lança. A este propósito, a testemunha ocular, o Apóstolo João, afirma: "Um dos soldados perfurou-lhe o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água" (cf. Jo 19, 34).

Queridos irmãos e irmãs: O mundo de hoje, com as suas lacerações sempre mais dolorosas e preocupantes, precisa do Deus, que é Amor, e anunciá-lo é tarefa da Igreja. A Igreja, para poder executar esta tarefa, deve permanecer indissoluvelmente abraçada a Cristo e não deixar-se nunca separar dele: necessita de Santos que morem “no Coração de Jesus” e sejam testemunhas felizes do Amor Trinitário de Deus. E os Sacerdotes, para servirem a Igreja e o Mundo, precisam ser Santos! De fato, os sacerdotes não podem santificar-se sem trabalhar pela santificação dos irmãos, e não podem trabalhar pela santificação dos irmãos sem que primeiro tenham trabalhado e ainda trabalhem em sua própria santificação. Para isso, nós pedimos: rezai pelos sacerdotes. Pois, como dizia o Santo Cura d’Ars: O sacerdócio é o amor do Coração de Jesus! 


Comentários dos Textos Bíblicos

1ª Leitura: Os 11,1.3-4.8c-9

As breves linhas de Oséias reúnem ao mesmo tempo ternura e paixão vibrante, desprezo contido e vontade de salvar. Os homens amados por Deus, povo acumulado de amor e de cuidados, não corresponderam. Deus, que ama apaixonadamente, vencerá com seu amor a não-correspondência e a rebelião, reconduzirá a si os homens e fará com que amadureçam no amor. Os homens deverão entrar em si e compreender finalmente com que amor Deus os amou, como cuidou deles. 

Será que nos tornamos, hoje em dia, tão insensíveis, tão incapazes de ver e sentir, a ponto de não percebermos que em torno de nós, dentro de nós, há um amor do qual provém tudo o que é bom, belo, verdadeiro e válido em nossas vidas?

O capítulo 11 de Oséias se distingue pela amplidão de horizontes e a elevação de pensamento. É aí apresentado o amor de Deus por Israel sob a imagem de um pai que alimenta, guia e ama seu filho. Este amor é tão grande que, apesar de Israel se ter tornado indigno dele, Deus não quer a punição mas a misericórdia.

A festa do Coração de Cristo nos convida a refletir: a pensar mais em nós do que nele, para chegarmos a entrever seu amor; a ver que somos fruto do seu amor, e que por isso devemos também ser amor para Ele. Dessa reflexão brotará um canto de libertação (cf. Salmo Responsorial: Is 12).

2ª Leitura: Ef 3,8-12.14-19

O desejo mais profundo do homem é amar e ser amado. Um amor não correspondido é um tormento tão grande que pode levar à loucura e ao suicídio. Não sem motivo, o Concílio nos lembra que "Deus não criou o homem deixando-o só; desde o princípio criou-os homem e mulher" (Gn 1,27), e a sua união constitui a primeira forma de comunhão de pessoas (GS 12).

A sede de felicidade é uma sede de amor, mas só um amor verdadeiro, grande, profundo, duradouro, torna feliz. E os homens, infelizmente, fazem com muita frequencia duas constatações: um amor verdadeiramente pleno não existe ou não pode durar, porque sempre truncado pela morte; o amor sofre todos os atentados que o degradam, aviltam, ferem, matam. E então deverão os homens permanecer assim para sempre frustrados? Será insaciável sua sede? A história da salvação nos diz que, sobretudo neste ponto, tem o homem necessidade de ser libertado, reintegrado, restaurado, redimido; que o homem deve aprender a amar com sinceridade e plenitude, mas que seu amor só será assim se integrado no amor de Deus; e ainda mais, que Deus se fez homem para ensinar aos homens, o que é o amor, como se ama.

Apesar de tudo - pelo menos diante da morte -, o homem sente medo terrível. Quem nos dará segurança? Quem pode satisfazer-nos em nosso desejo ardente de amar e ser plenamente amados? São Paulo sente este drama humano e escreve a povos que o sentiam duramente, porque envoltos em ideologias nada confortadoras, entre cultos e divindades torpes, cruéis ou tolas. A magnífica carta aos Efésios, ao contrário, faz com que os cristãos - convertidos do paganismo - sintam-se totalmente envoltos em um imenso, terno e forte amor, que ultrapassa todo conhecimento, e que cumula os homens da plenitude de Deus.

Os vv.8-12 propõem siteticamente o conteúdo daquele mistério oculto durante séculos, de que Paulo foi feito ministro. Seu conhecimento nos dá a nós, cristãos, a possibilidade de chegar até Deus (v.12;2,18; Rm 5,1-2). A grandeza deste mistério, porém, é tal que só o Pai nos pode dar, a nós, seus filhos, um conhecimento profundo dele, por meio do Espírito. Esta é a finalidade da oração de Paulo (vv.14-19). Compreender esse mistério significa compreender em toda a sua amplidão (v.18) o amor de Cristo (v.19). Ora, isto não é possível sem a força que vem do Espírito e sem o dom da fé e da caridade (vv. 16-17; Rm 5,5).

Na primeira e última página da vida terrena do homem, e na trama de todo o seu desenrolar, está escrito: Deus te ama e te salva em Cristo; e o destino eterno do homem é: feliz para sempre na plenitude de Amor que é Deus. Este testemunho, o cristão pode e deve dar a todos os homens.

Evangelho: Jo 19,31-37

No Calvário, tudo parece acabado; e é verdade para os que crucificaram Jesus; mas o discípulo amado compreende que tudo começa agora num plano mais elevado. Vê o pleno significado daquele sacrifício; o verdadeiro cordeiro de Deus foi imolado na verdadeira Páscoa para a mais verdadeira e plena libertação dos homens da escravidão do ódio, do mal, do pecado: "Aquele dia era um dia solene"! É o amor que triunfa, que "se abre" (o coração traspassado é o símbolo disso) para derramar sobre os homens as fontes da graça (o sangue e a água, símbolo dos sacramentos), e finalmente os homens verão e compreenderão com que amor Deus os amou.

Porque o Pai preservou todos os seus ossos, o soldado fere-lhe o coração. O coração ferido de Cristo traduz o desígnio do Pai entregar o dom da vida do Filho até ao extremo, até à última gota de sangue e de água que ainda podia jorrar do seu corpo.

O golpe da lança depois da morte de Jesus é como o surgimento de todo o mistério pascal. Na ponta da lança se concentra e sintetiza toda a paixão e a cruz suportadas por Cristo. Ao gesto hostil, ofensivo e cruel, a resposta imediata do dom, do perdão, da graça. Uma fonte de vida nova, a gratuidade absoluta de Deus – misericórdia, perdão e redenção.

O sangue confirma a realidade do sacrifício de Cristo que, como cordeiro pascal, se ofereceu para a salvação do mundo (6,51). A água, símbolo do Espírito, atesta sua fecundidade espiritual (7,37-39). Com razão, muitos Padres viram na pagua o símbolo do batismo, e no sangue, o da Eucaristia. Em seguida, eles viram nos dois sacramentos o sinal da Igreja que, como nova Eva, nasceu do lado de Cristo.

O evangelista mostra todo o significado que vê naquilo que descreveu minuciosamente, afirmando que "o seu testemunho é verdadeiro e ele sabe que diz a verdade, para que vós também creiais". 

A celebração de hoje é uma exaltação do Amor; mostra que tudo é devido ao amor; da criação à redenção, o eterno destino de glória na plenitude do Amor-Deus. Nada mais viril, nada mais forte do que o amor divino-humano do Cristo, nada mais valoroso, mais nobre do que reconhecer e retribuir este amor. 

Para Refletir

A devoção ao Sagrado Coração de Jesus tem a sua origem na própria Sagrada Escritura. O coração é um dos modos para falar do infinito amor de Deus por você. Este amor encontra seu ponto alto com a vinda de Jesus.

A devoção ao Sagrado Coração de um modo visível aparece em dois acontecimentos fortes do evangelho: o gesto de São João, discípulo amado, encostando a sua cabeça em Jesus durante a última ceia (cf. Jo 13,23); e na cruz, onde o soldado abriu o lado de Jesus com uma lança (cf. Jo 19,34). Em um temos o consolo pela dor da véspera de sua morte, e no outro, o sofrimento causado pelos pecados da humanidade.

Estes dois exemplos do evangelho nos ajudam a entender o apelo de Jesus feito em 1675 a Santa Margarida Maria Alacoque:

"Eis este coração que tanto tem amado os homens...não recebo da maior parte senão ingratidões, desprezos, ultrajes, sacrilégios, indiferenças... Eis que te peço que a primeira sexta-feira depois da oitava do Santíssimo Sacramento (Corpo de Deus) seja dedicada a uma festa especial para honrar o meu coração, comungando neste dia e dando-lhe a devida reparação por meio de um ato de desagravo, para reparar as indignidades que recebeu durante o tempo em que esteve exposto sobre os altares; E prometo-te que o Meu Coração se dilatará para derramar com abundância as influências de Seu divino Amor sobre os que tributem esta divina honra e que procurem que ela lhe seja prestada."

O papa João Paulo II sempre cultivou esta devoção, e a incentiva a todos que desejam crescer na amizade com Jesus. Em 1980, no dia do Sagrado Coração, afirmou: "Na solenidade do Sagrado Coração de Jesus, a liturgia da Igreja concentra-se, com adoração e amor especial, em torno do mistério do Coração de Cristo. Quero hoje dirigir juntamente convosco o olhar dos nossos corações para o ministério desse Coração. Ele falou-me desde a minha juventude. Cada ano volto a este mistério no ritmo litúrgico do tempo da Igreja."

S. Bento Menni não se cansa de nos dizer: "O Coração de Jesus é nosso modelo, nossa força, nosso guia e nosso tudo… Descansemos n’Ele. O seu coração será o lugar do nosso repouso… Ele nos ensinará e nos dará força para imitarmos sua grande mansidão em todas as circunstâncias da vida".

No Coração de Jesus está expresso o núcleo essencial do cristianismo, em Cristo foi-nos revelada e comunicada toda a novidade revolucionária do Evangelho: o Amor que nos salva e nos faz viver já na eternidade de Deus. O evangelista João escreve: "Deus amou de tal modo o mundo, que lhe deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça mas tenha a vida eterna" (Jo 3,6). Então, o seu Coração divino chama o nosso coração; convida-nos a sair de nós mesmos, a abandonar as nossas seguranças humanas para confiar nele e, seguindo o seu exemplo, a fazer de nós mesmos um dom de amor sem reservas. Sim, o seu Coração está aberto por nós e aos nossos olhos; e deste modo está aberto o Coração do próprio Deus!

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