sábado, 2 de abril de 2016

Na Vigília Pascal, Papa indica o caminho para não perder a esperança


VIGÍLIA PASCAL NA NOITE SANTA

HOMILIA DO PAPA FRANCISCO

Basílica Vaticana
Sábado Santo, 26 de Março de 2016

«Pedro (…) correu ao sepulcro» (Lc 24, 12). Quais poderiam ser os pensamentos que agitavam a mente e o coração de Pedro durante esta corrida? O Evangelho diz-nos que os Onze, incluindo Pedro, não acreditaram no testemunho das mulheres, no seu anúncio pascal. Antes, aquelas «palavras pareceram-lhes um desvario» (v. 11). Por isso, no coração de Pedro, reinava a dúvida, acompanhada por muitos pensamentos negativos: a tristeza pela morte do Mestre amado e a deceção por tê-Lo renegado três vezes durante a Paixão.

Mas há um detalhe que assinala a sua transformação: depois que ouvira as mulheres sem ter acreditado nelas, Pedro «pôs-se a caminho» (v. 12). Não ficou sentado a pensar, não ficou fechado em casa como os outros. Não se deixou enredar pela atmosfera pesada daqueles dias, nem aliciar pelas suas dúvidas; não se deixou absorver pelos remorsos, o medo e as maledicências sem fim que não levam a nada. Procurou Jesus; não a si mesmo. Preferiu a via do encontro e da confiança e, assim como era, pôs-se a caminho e correu ao sepulcro, donde voltou depois «admirado» (v. 12). Isto foi o início da «ressurreição» de Pedro, a ressurreição do seu coração. Sem ceder à tristeza nem à escuridão, deu espaço à voz da esperança: deixou que a luz de Deus entrasse no seu coração, sem a sufocar.

As próprias mulheres, que saíram de manhã cedo para fazer uma obra de misericórdia, ou seja, levar os perfumes ao sepulcro, viveram a mesma experiência. Estavam «amedrontadas e voltaram o rosto para o chão», mas sobressaltaram-se ao ouvir estas palavras do anjo: «Porque buscais entre os mortos Aquele que está vivo?» (cf. v. 5).

Também nós, como Pedro e as mulheres, não podemos encontrar a vida, permanecendo tristes e sem esperança e permanecendo aprisionados em nós mesmos. Mas abramos ao Senhor os nossos sepulcros selados – cada um de nós os conhece -, para que Jesus entre e dê vida; levemos-Lhe as pedras dos ressentimentos e os penedos do passado, as rochas pesadas das fraquezas e das quedas. Ele deseja vir e tomar-nos pela mão, para nos tirar para fora da angústia. Mas a primeira pedra a fazer rolar para o lado nesta noite é esta: a falta de esperança, que nos fecha em nós mesmos. O Senhor nos livre desta terrível armadilha: sermos cristãos sem esperança, que vivem como se o Senhor não tivesse ressuscitado e o centro da vida fossem os nossos problemas.

Vemos e continuaremos a ver problemas perto e dentro de nós. Sempre existirão, mas esta noite é preciso iluminar tais problemas com a luz do Ressuscitado, de certo modo «evangelizá-los». Evangelizar os problemas. Não permitamos que a escuridão e os medos atraiam o olhar da alma e se apoderem do coração, mas escutemos a palavra do Anjo: o Senhor «não está aqui; ressuscitou!» (v. 6); Ele é a nossa maior alegria, está sempre ao nosso lado e nunca nos dececionará.

Este é o fundamento da esperança, que não é mero otimismo, nem uma atitude psicológica ou um bom convite a ter coragem. A esperança cristã é um dom que Deus nos concede, se sairmos de nós mesmos e nos abrirmos a Ele Esta esperança não dececiona porque o Espírito Santo foi infundido nos nossos corações (cf. Rm 5, 5). O Consolador não faz com que tudo apareça bonito, não elimina o mal com a varinha mágica, mas infunde a verdadeira força da vida, que não é a ausência de problemas, mas a certeza de sermos sempre amados e perdoados por Cristo, que por nós venceu o pecado, venceu a morte, venceu o medo. Hoje é a festa da nossa esperança, a celebração desta certeza: nada e ninguém poderá jamais separar-nos do seu amor (cf. Rm 8, 39).

O Senhor está vivo e quer ser procurado entre os vivos. Depois de O ter encontrado, cada um é enviado por Ele para levar o anúncio da Páscoa, para suscitar e ressuscitar a esperança nos corações pesados de tristeza, em quem sente dificuldade para encontrar a luz da vida. Há tanta necessidade disto hoje. Esquecendo de nós mesmos, como servos jubilosos da esperança, somos chamados a anunciar o Ressuscitado com a vida e através do amor; caso contrário, seremos uma estrutura internacional com um grande número de adeptos e boas regras, mas incapaz de dar a esperança de que o mundo está sedento.

Como podemos alimentar a nossa esperança? A Liturgia desta noite dá-nos um bom conselho. Ensina-nos a recordar as obras de Deus. Com efeito, as leituras narraram-nos a sua fidelidade, a história de seu amor por nós. A Palavra viva de Deus é capaz de nos envolver nesta história de amor, alimentando a esperança e reavivando a alegria. Isto mesmo nos lembra também o Evangelho que escutamos. Os anjos, para dar esperança às mulheres, dizem: «Lembrai-vos de como [Jesus] vos falou» (v. 6). Fazer memória das palavras de Jesus, fazer memória de tudo aquilo que Ele fez na nossa vida. Não esqueçamos a sua Palavra e as suas obras, senão perderemos a esperança e nos tornaremos cristãos sem esperança; por isso façamos memória do Senhor, da sua bondade e das suas palavras de vida que nos tocaram; recordemo-las e façamo-las nossas, para sermos sentinelas da manhã que sabem vislumbrar os sinais do Ressuscitado.

Amados irmãos e irmãs, Cristo ressuscitou! E nós temos a possibilidade de abrir-nos e receber o seu dom de esperança. Abramo-nos à esperança e ponhamo-nos a caminho; a memória das suas obras e das suas palavras seja a luz resplandecente, que orienta os nossos passos na confiança, rumo àquela Páscoa que não terá fim.
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Santa Sé

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