terça-feira, 12 de abril de 2016

Homilética: 4º Domingo da Páscoa - Ano C: "As minhas ovelhas me seguem e eu lhes dou a vida eterna".

 

O Quarto Domingo da Páscoa é o domingo do BOM PASTOR. Depois de várias aparições de Cristo ressuscitado às mulheres, aos apóstolos, aos discípulos, hoje Jesus se apresenta como o BOM PASTOR! É um título de Cristo muito familiar aos primeiros cristãos.

A liturgia deste domingo convida-nos a meditar na misericordiosa ternura de nosso Salvador, para que reconheçamos os direitos que Ele adquiriu sobre cada um de nós com a sua morte.

No Evangelho (Jo 10, 27-30) encontramos Jesus, o Bom Pastor, que diz: “as minhas ovelhas ouvem a minha voz, eu as conheço e elas me seguem…” (Jo 10,27). De todas as imagens atribuídas a Jesus, esta, sem dúvida alguma, é a mais querida. É uma imagem que transborda em ternura, cuidado, vida, salvação, confiança, amizade e intimidade. Estas e muitas outras características permitem à ovelha reconhecer a voz do Pastor em meio a tantas outras vozes; mas permitem, também , que o Pastor reconheça e conheça as ovelhas por seu próprio nome. Tudo isso nos faz ter uma certeza: todos temos um valor particular aos olhos do Senhor.

A porta do aprisco está aberta a todos e para passar por ela existe apenas uma única condição: ter a disposição para ouvir e reconhecer a voz do Pastor. E quem aceita as condições para passar pela porta do aprisco, será sempre muito bem acolhido e encontrará o dom da Ressurreição: “Eu lhes dou a vida eterna; elas jamais se perderão e ninguém vai arrancá-las da minha mão” (Jo 10,28).

Para os cristãos, o Pastor por excelência é Cristo: Ele recebeu do Pai a missão de conduzir o rebanho de Deus… Portanto, Cristo deve conduzir as nossas escolhas.

Quem nos conduz? Qual é a voz que escutamos? A voz da política, a voz da opinião pública, a voz do comodismo e da instalação, a voz dos nossos privilégios, a voz do êxito e do triunfo a qualquer custo, a voz da novela? A voz da televisão?

Cristo é o nosso Pastor! Ele Conhece as ovelhas e as chama pelo nome, mantendo com cada uma delas uma relação muito pessoal.

A existência humana é bem complexa para que se possa vivê-la com segurança absoluta. Jesus, porém, oferece a quem O segue a direção exata e a proteção eficaz para evitar os elementos que podem prejudicar. Afirma o Sl 22(23): “ Mesmo que eu passe pelo vale tenebroso, nenhum mal eu temerei;estais comigo…”.

O Divino Pastor é quem pode, realmente, ajudar, salvar e conservar a vida. Ele afirmou: “Eu vim para que todos tenham a vida e a tenham em abundância” (Jo 10, 10).

Para distinguir a Voz do Pastor é preciso três coisas: – Uma vida de oração intensa; um confronto permanente com a Palavra de Deus e uma participação ativa nos sacramentos, onde recebemos a vida, que o Pastor nos oferece.

COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS

Textos: Atos 13, 14.43-52; Ap 7, 9.14b-17; Jo 10, 27-30

“Vejam se vocês são as suas ovelhas, vejam se o conhecem”. Assim exortava São Gregório Magno numa homilia. Depois o mesmo Papa e Santo continuava dizendo que há duas maneiras de conhecer: pela fé e pelo amor, pela inteligência iluminada pela fé e pelo coração aquecido pela caridade.

O conhecimento que vem da fé diz respeito a verdades como a existência de um só Deus em três Pessoas realmente distintas: Pai e Filho e Espírito Santo; a encarnação do Filho de Deus, ou seja, o fato do Filho, a segunda Pessoa da Santíssima Trindade, ter se tornado homem por obra do Espírito Santo nas entranhas puríssimas da Virgem Maria para a nossa salvação; a vinda gloriosa de Jesus Cristo na consumação dos tempos, chamada Parusia; entre outras verdades. Mais a fé não é só um conhecimento intelectual, em primeiro lugar ela é uma entrega amorosa de todo nosso ser a Deus porque ele se mostra como é, Amor, porque a sua Palavra arrebatou o nosso coração, porque percebemos que não podemos ser felizes longe dele. A fé e o amor são virtudes que vão, portanto, juntas.

No entanto, enquanto o conhecimento que vem da fé se encontra mais relacionado com a nossa inteligência, o conhecimento que vem do amor eleva a nossa vontade, o nosso querer. Humanamente falando, quando nós sentimos alguma simpatia por uma determinada pessoa é muito mais fácil conhecê-la e saber por intuição aquilo que ela deseja. Uma mãe, por exemplo, sem estudar medicina, é capaz de detectar uma dor de ouvido do seu filhinho de poucos meses que não fala e apenas chora. As mães têm um amor que intui, elas sabem que quando a criança chora ou quer comer ou mamar ou tem alguma dor. Nós também, quando amamos a Deus, temos-lhe simpatia, sabemos por co-naturalidade o que ele quer de nós, qual é a sua vontade para a nossa vida. Nós também intuímos aquilo que Deus quer que façamos.

Agora podemos voltar às palavras de São Gregório: Será que nós somos, de fato, as suas ovelhas? Nós escutamos na passagem do Evangelho de hoje: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, eu as conheço e elas me seguem” (Jo 10, 27). Jesus Cristo, Bom Pastor, conhece a cada um de nós pelo nome, ele sabe o que há de mais íntimo em cada um de nós e que nem nós mesmos chegamos a conhecer. O conhecimento que Jesus tem de cada um de nós é perfeito. Nós, ao contrário, não o conhecemos perfeitamente. O que fazer? Ouvir a voz do Pastor e segui-lo!

É preciso ouvir! Mas, há tanto barulho ao nosso redor! Por outro lado, por mais que admiremos o silêncio, quando temos oportunidade de fazer um pouco de silêncio, fazemo-lo com música. Que pena! Há pessoas que não podem estar sequer cinco minutos em silêncio. Você já observou como algumas pessoas ficam inquietas quando o sacerdote guarda uns minutinhos de silêncio depois da proclamação do Evangelho ou depois da homilia, outras não sabem o que fazer na ação de graças depois da comunhão caso não haja um canto. O silêncio às vezes parece que nos incomoda! Outra coisa: você já notou que às vezes numa discussão todo mundo está de acordo, mas não se entende? Finalmente, quando chega alguém e diz que todos estão dizendo a mesma coisa e que a única diferença está na ordem dos fatores, então talvez alguns percebam que o problema é que eles não se escutavam.

Nós queremos seguir o Senhor e fazer a sua vontade. Não a realizaremos, porém, se não o escutarmos atenciosamente. Como? Com alguns propósitos concretos: escutar atentamente as leituras da Missa e a homilia, ler a Sagrada Escritura procurando entendê-la, evitar tanto barulho quando possível, fazer uns minutinhos de oração mental todos os dias. A oração mental não é nenhum bicho de sete cabeças, basta ler um trecho do Evangelho, por exemplo, e depois ficar uns minutinhos em silêncio conversando com Deus: pense naquela passagem, imagine-a, converse com Jesus sobre a cena do Evangelho, sobre a sua vida e a dos seus amigos, escute-o já que ele nos fala nesses momentos. Uma outra coisa: se soubermos escutar, também descobriremos a voz de Deus nas circunstâncias mais ordinárias da nossa vida: você vai ver como ele vai pedir que a sua ajuda para animar aquele companheiro de trabalho que está triste, para conversar um pouco com aquela pessoa que ninguém dá atenção, para sorrir para aquela outra que parece que está sempre amargurada. Esse conhecimento vem da fé e do amor; efetivamente, a fé atua pela caridade (cf. Gl 5,6).

PARA REFLETIR

Uma imagem muito comum neste tempo pascal é aquela do Cordeiro “de pé, como que imolado” (Ap 5,6). Este Cordeiro, eternamente diante do trono do Pai, é o Cristo no seu estado de perpétua imolação e glória, de entrega sacrifical e ao mesmo tempo vitoriosa, por nós. Mas, misteriosamente, este Cordeiro é também Pastor: “O Cordeiro que está no meio do trono será o seu pastor e os conduzirá às fontes da água da vida”. Que imagem impressionante: um cordeiro que é pastor que dá vida às ovelhas. Pois bem, Jesus afirmou: “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas suas ovelhas” (Jo 10,11). Estejamos atentos: este dar a vida possui dois sentidos: primeiro: Cristo nos dá a vida porque morre por nós, por nós entrega sua vida humana: “Eu dou minha vida pelas minhas ovelhas” (Jo 10,15). É, portanto, um pastor que ama profundamente o seu rebanho: “As minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e elas me seguem”. Num segundo sentido, Cristo dá a vida porque transmite às ovelhas a vida divina, a vida eterna, a vida glorificada que ele recebeu do Pai na ressurreição: “Eu dou-lhes a vida eterna e elas jamais se perderão. E ninguém vai arrancá-las de minha mão!” Que afirmações estupendas! Nosso Pastor, que por nós se fez Cordeiro imolado, dá-nos a vida eterna e imperecível, uma vida que nos saciará eternamente! Cristão, compreende: como é grande, como é concreta, como é verdadeira a tua esperança, como é certa a tua herança!

Esta vida, que o Cordeiro-Pastor nos prepara, é para todos, é em abundância. Isto já aparece na primeira leitura: diante da recusa dos judeus como um todo em acolher o Evangelho da salvação em Jesus, o Apóstolo volta-se para os pagãos: “Era preciso anunciar a palavra de Deus primeiro a vós, judeus. Mas, como a rejeitais e vos considerais indignos da vida eterna, sabei que vamos dirigir-nos aos pagãos”. E estes, cheios do Espírito Santo, ficaram cheios de alegria. Eis! A salvação que Cristo nos trouxe, com sua morte e ressurreição, com seu mistério pascal, é plena, é total e é para todos[1]!

É com estas idéias e sentimentos no coração que devemos, agora, contemplar a estupenda imagem que o Apocalipse nos apresenta na liturgia de hoje. Toda a humanidade, “uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas, que ninguém podia contar”… de pé, diante do trono e do Cordeiro”. Pensemos bem! É toda esta humanidade tão sofrida, de vida tão frágil, de esperança tão incerta, que é chamada a este momento tão grandioso: de pé (posição de quem venceu, de quem está vivo) diante do trono de Deus e do Cordeiro, o Cristo nosso Senhor, Aquele que venceu! Observem que nossa esperança nada tem de espírito de seita. A salvação não é para um grupinho de eleitos que excluem os demais farisaicamente! Não! Nunca! Deus quer “que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,4). Os cristãos têm o dever de olhar o mundo com amor benevolente. Nós, amados por Deus em Cristo, não podemos guardar só para nós esse amor e essa salvação: é preciso anunciá-la, comunicá-la, e com um coração bom, benévolo para com o mundo: nunca uma atitude de seita, de acusação, de fechamento! Dizer a verdade, sim; anunciar a verdade, sim; denunciar o erro e o pecado, sim; mas,com uma atitude de amor e respeito, de benignidade, como o coração do Bom Pastor, que deu a vida pelas ovelhas e quis morrer pelo rebanho!

Estes eleitos “trajavam vestes brancas” símbolos da glória, de vida, da pureza e da imortalidade; “traziam palmas na mão”, símbolo da vitória. Quem são eles? “São os que vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram as suas vestes no sangue do Cordeiro”. Que imagem fantástica! É a multidão dos cristãos de todos os tempos, que perseveraram e vencerão no combate das tribulações desta vida… às vezes, até à morte! Pensemos: somos nós, se formos fiéis no combate do Cristo; somos nós, se perseverarmos e guardarmos a fé e a esperança no Senhor nas lutas e provações desta vida! Estejamos atentos: “lavaram e alvejaram as vestes no sangue do Cordeiro!” Sangue bendito e precioso, que lava, que purifica, que alveja! Nenhum de nós chegará diante do trono limpo por sua própria limpeza, mas sim pelo sangue do Cordeiro que é nosso pastor! “Nunca mais terão fome, nem sede. Nem os molestará o sol, nem algum calor ardente”. Bendito Cordeiro, bendito Pastor, bendito Cristo-Senhor, que nos dá uma vida tão plena! Ele mesmo nos tinha prometido: “Quem vem a mim nunca mais terá fome e quem crê em mim nunca mais terá sede” (Jo 6,35). Bendito Jesus, que é tão fiel! “E o Cordeiro, que está no meio do trono, será seu pastor e os conduzirá às fontes da água da vida”. Aonde nos conduzirá o Pastor? Que lugar é este, com tanta vida e tanto frescor e consolação? Escutem a Palavra: “Aquele que está sentado no trono os abrigará na sua tenda… E Deus enxugará as lágrimas de seus olhos!” Eis, irmãos, aonde o Cristo imolado e ressuscitado nos conduz: à tenda do coração do Pai, para nos aconchegar, para nos consolar, para nos enxugar as lágrimas, para nos dar a vida em abundância: “Meu Pai, que me deu estas ovelhas, é maior que todos, e ninguém pode arrebatá-las da mão do Pai. Eu e o Pai somos uma só coisa!”

É por isso, caríssimos, que a Páscoa de Cristo é também nossa: sua vitória é penhor da nossa, é certeza de nossa esperança agora e plenitude um dia. Vivamos fielmente os combates do presente, deixemo-nos guiar pelo Bom Pastor, lavemos nossas vestes no sangue do Cordeiro e sejamos herdeiros da vida que ele nos prepara. Ele, bendito pelos séculos dos séculos. Amém.

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